Quando as Máscaras Caem escrita por Luana de Mello


Capítulo 4
Dura Realidade




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Depois do baque inicial, depois que anestesia e a incapacidade de sentir que a dor lhe causara, passara, Adrien foi voltando a sua rotina habitual, ou quase isso; e a medida que os dias iam passando, começou a perceber algumas coisas que deixara passar no meio da confusão. A primeira delas, foi que ele conhecia muito bem Marinette, sabia que ela não se abalaria a ponto de não deixar que ele se explicasse, ela era uma garota muito justa, e nunca a vira tomar uma decisão sem saber de todos os fatos; a segunda, é que as coisas que ela dissera a Tom e Sabine não condiziam com o que Kyoko dissera, e ele percebeu que Marinette arrumou uma desculpa convincente para dizer aos pais, e que a Tsurugi mentira quando disse o que acontecera; o terceiro ponto e mais importante, é que se Marinette fosse irresponsável a ponto de tomar uma atitude infantil dessas, ela não teria lhe enviado uma carta se explicando, uma carta anônima, mas ele reconheceria a letra dela e a forma como assinou, tudo naquele pedaço de papel gritava que era sua Marin, tinha até mesmo o perfume dela.

Ela escrevera em códigos, mas ele entendera bem o que o conteúdo principal dizia, em suma ela se desculpava por partir tão de repente, disse que não queria, mas que era necessário, ou outras pessoas se machucariam, mas que estava tomando providências para que pudesse voltar logo, e que se ele ainda estivesse disposto, voltaria para ele. Aquela revelação trouxe mais dúvidas a Adrien, o que poderia ter acontecido de tão grave, para que Marinette agisse daquela forma? E com essa dúvida, mais questões surgiram, e ele se pôs a investigar melhor a história, revisou incansavelmente tudo que ocorrera naquela manhã com Nathalie, mas a mulher não se lembrava de nada fora do comum, mas foi em uma noite fria do começo do outono, que ele teve a primeira pista, estava mais uma vez tentando desbloquear o celular dela, que ela deixara para trás junto com a bolsa, o vestido que agora ficava pendurado em um cabide no seu quarto e os sapatos. Ele conseguira desbloquear o celular, a tela brilhava com uma montagem de várias fotos dele, pipocavam mensagens de todos os tipos, de Alya, de Nino, de Nathanael, de Luka e até mesmo da Chloé, querendo saber onde ela estava; mas uma em especial lhe chamara a atenção, um correio de voz de um número desconhecido, estranhou e resolveu ouvir a mensagem, já que todos os outros eram de contatos salvos e aquele o único sem registro, e era de três dias depois de Marinette ter ido embora.

Quase caíra da cadeira quando ouviu a voz de sua Marin, ela fungava muito e parecia chorar desesperadamente, aquilo apertou seu coração, queria poder fazê-la parar de chorar, queria confortar sua linda garota; a mensagem era simples, poucas palavras, mas suficientes para convencer Adrien de que Marinette não foi embora por que quis, ela só lhe dizia: " Adrien, me perdoa, as câmeras, tenha cuidado, amo você!". Aquelas nove palavras deram novo animo ao jovem Agreste, ouvir a voz de sua amada, saber que tinha algo a mais acontecendo, era tudo que ele precisava saber, Marinette o amava e não fugira por motivos fúteis, como ouvira Lilá tagarelando no encontro da turma, ela tivera um motivo. Resolvera seguir o conselho dela e olhar as câmeras de vigilância da casa, as quais Marinette só sabia que existiam, por que o viu bisbilhotando seu pai certa vez, quando o mesmo desconfiava que Gabriel tinha uma namorada, nem mesmo Nathalie sabia da existência delas. Buscara a gravação do dia e colocara para rodar, se indignou com a audácia de Kyoko, com a forma como falara com sua Marin, mas ele realmente se espantou quando ouviu a ameaça feita a família de Marinette e a ele e seu pai; quase não acreditara no que ouvira, a mãe de Kyoko só viera para Paris fazer negócios com a Agreste, para fazer lavagem de dinheiro, dinheiro sujo do tráfico de drogas, onde as duas envolveram a empresa do seu pai como laranjas, o disfarce perfeito, e ainda deram um jeito de envolver a família de Marinette, montando falsas entregas e buscas, fazendo a padaria dos Dupain-Cheng parecer a distribuidora.

Adrien sentiu o sangue ferver quando ouvira a japonesa dizer a Marinette, que se ela não se afastasse, na segunda, toda a história estaria na mídia, que Tom e Sabine seriam presos, e ele e seu pai ficariam falidos. A garota só não contara que Nathalie veria Marinette saindo aos prantos da mansão, nem que Gabriel rescindiria o contrato com os Tsurugi's, atos involuntários, mas que frustraram os planos de Kyoko de se aproximar de Adrien, quando ele estivesse deprimido pela recente perda. Pelo que ele entendera de tudo, ela vinha planejando aquilo desde que notara, que Adrien era apaixonado pela Dupain-Cheng, e usaria os negócios criminosos da família a seu favor, antes mesmo dele saber disso, e quando vira a revista de fofocas, resolvera antecipar seus planos; diante disso, Marinette se afastou para proteger a todos, sem se importar no sofrimento que infligiria a si mesma. Adrien se desesperara tanto, que nem se importou de acordar seu pai as quatro da manhã para mostrar o que descobrira, fez Gabriel ouvir primeiro a gravação do correio de voz, depois mostrou as filmagens, e o homem teve a mesma reação do filho, depois passou a dar voltas e mais voltas pelo quarto, pensando no que fazer, como agir e o mais importante, não deixar que os Tsurugi's desconfiassem que descobriram tudo, ou estariam todos perdidos.

Essa descoberta ocorrera a mais de três meses, Gabriel contratara os melhores advogados e investigadores para o caso, ele prometeu a Adrien que resolveria tudo e traria sua nora de volta, afinal não aguentava mais ver o filho sofrendo daquele jeito; e ele achara particularmente a atitude de Marinette a mais bonita e altruísta de todas, ela se sacrificara para manter seu filho a salvo, e o Agreste teve mais certeza que aquela garota era a companheira ideal para Adrien, tal como sua amada Emille fora para ele um dia. Eles decidiram também, que não falariam nada a Tom e Sabine, eles estavam abalados, faziam quatro meses que Marinette saíra de casa, e por mais que garantissem que ela estava bem e estava cursando moda como queria, Adrien sabia que tinha algo de errado, alguma peça ainda estava faltando, mas ele descobriria o que era com certeza e no tempo certo.

— Presta atenção Cat! — Ladybug lhe chama atenção depois de puxa-lo com seu ioiô, e impedir que sofresse um golpe feio.

— Desculpa, eu me distraí. — ele responde, suspira frustrado.

Isso também estava acabando com ele, sentia que agora existia uma enorme barreira entre ele e Ladybug, não estavam em sintonia como antes, estavam perdendo aquela ligação diferenciada e especial, não que fosse tentar algo com ela agora, não isso não voltaria a acontecer, seu coração era de Marinette e de ninguém mais, ou pelo menos era isso que dizia a si mesmo toda vez que a via e o sentia se descontrolar no peito, do mesmo jeito que fazia com Marin; isso o deixava confuso, como poderia amar duas pessoas ao mesmo tempo? Essa situação acabaria o levando a loucura. E também, Adrien já tinha se desiludido, afinal não tinha como Marinette e Ladybug serem a mesma pessoa, não quando sua amada tinha ido embora, e segundo o que Tom deixou escapar, ela fora para fora de Paris. Tudo isso o estava matando aos poucos, era muita coisa para administrar, isso sem falar na faculdade de ciências contábeis que iniciara para tentar manter as aparências.

Depois de um plano elaborado, de um tombo de Ladybug, no qual ela batera com a cabeça, e de Cat Noir sentir mais algumas costelas quase trincando, conseguiram finalmente purificar o Akuma e salvar a cidade, e enquanto tudo volta ao normal, os dois ficam admirando a cidade de cima de um telhado, cada um perdido em seus próprios problemas, que ao seu ver, não tinham soluções imediatas. O bichano sai dos seus devaneios, quando vê a joaninha quase caindo do telhado, as pernas dela sedem e por pouco não despenca dali de cima, não fosse Cat Noir a segurar, teria morrido com certeza.

— Ladybug! — ele chama espantado, nunca a vira tão fraca assim, e agora que olhava mais de perto, percebia que estava pálida e mais magra que o normal, e nesse momento tinha os lábios levemente arroxeados — Ladybug, por favor fala comigo! Vamos, abra os olhos, vamos Bugboo.

Aos poucos a garota vai voltando a si, sente sua cabeça muito zonza e um pouco dolorida, ela sabia que isso aconteceria, tentou adiar o máximo que pode, mas agora estava pior, Marinette teria que falar com mestre Fu antes de voltar para a faculdade.

— Tudo bem? Consegue se sentar? — o gatinho pede preocupado, alguma coisa lhe dizia que aquilo não era normal.

— Sim, obrigada Cat. — ela fala e passa a mão na testa, limpando o suor gelado e grudento que ali se acumulava — Acho que vou indo já.

— Espera, você precisa se recuperar mais, é perigoso ir assim. — Cat Noir fala a puxando de volta para as telhas da casa.

— Eu sei, mas logo a transformação...

— Calma, só quero ter certeza que está bem, você é minha amiga, não posso deixar que se machuque. — ele rebate e senta ao lado dela, a vê suspirar alto e limpar algumas lágrimas dos olhos.

— Ladybug, por que está chorando? — Adrien pede alarmado, nunca a vira chorar.

— Por que eu tive que deixar alguém pra trás, alguém que eu amo muito e agora estou morrendo de saudade. — Marinette responde e escora a cabeça nos ombros do parceiro — Eu não queria fazer aquilo, mas foi preciso, e agora tudo está pior. O jeito como você falou agora, me lembrou muito dele, Cat.

— Tenho certeza que as coisas vão melhorar, você vai ver, logo estarão juntos de novo. — Adrien fala, repetindo a mesma coisa que seu pai lhe dissera pela manhã, ele se identificara com a dor da companheira, era a mesma que ele sentia afinal e nem notara o leve fisgar em seu coração, ao ouvir a joaninha falando de outro — Tudo vai ficar bem.

— Não é tão simples assim Cat, tem coisas que já estão fora do meu alcance. — Marinette chora mais ainda, ensopando a roupa de couro do gatinho.

— Você está doente, não está? Nem adianta negar, eu vejo o quanto está pálida e magra. — Adrien pede sério, aquilo estava começando a preocupa-lo muito.

— Estou, estou doente, mas já estou tratando. — Marinette responde, não adiantaria tentar esconder, não dele, que fora o único que lhe restara — Promete que não vai se afastar de mim Cat? Aconteça o que acontecer? Eu não suportaria perder mais ninguém!

— Claro que não vou Bugboo, já disse, somos parceiros, estamos juntos nessa, pode contar comigo! — Adrien promete prontamente, lhe cortava o coração ver Ladybug assim.

— Obrigada gatinho, você com certeza é meu melhor amigo. — a joaninha se levanta então, já mais calma e recuperada — Sabe que também pode contar comigo não é? Eu sei que tem alguma coisa te incomodando a meses, só não adivinhei o que é ainda.

— Eu acho que não estou pronto pra falar, pelo menos por enquanto, ainda estou pondo minhas próprias ideias em ordem. — ele fala e sorri amarelo, estava tão na cara assim? — Obrigado mesmo assim, Ladybug.

— Como quiser, Cat Noir. — ela responde e lhe estende o punho fechado, ao que ele imita, unindo as mãos — Zerou!

Ladybug então se afasta, mas não antes que Adrien visse novas lágrimas na face da garota, e quando pensou em segui-la para se certificar que estava bem, já não conseguia mais seguir seu rastro, tentou achá-la com o comunicador, mas ela o desligara, sinal que tinha desfeito a transformação; conformado, o gatinho preto faz seu caminho habitual dos últimos tempos, chega sorrateiro até o prédio, se esgueira pelos cantos e entra pelo alçapão. Tudo estava como da ultima vez que estivera ali, Sabine certamente mantém o lugar limpo e organizado para quando a filha voltasse, os manequins com alguns modelos que ela estava criando, o roupeiro vazio, a cama cheia de almofadas, os desenhos na sua mesa de trabalho, e o mais importante de tudo, o quarto ainda tinha o cheiro dela, era como se ela já fosse subir as escadas correndo apressada como sempre.

— Plagg, esconder as garras. — Adrien fala, e logo volta a sua forma civil.

— Adrien, você não deveria vir aqui assim, e se alguém te vê? — Plagg repreende, ele andava muito preocupado com seu portador.

— Ninguém vai me ver aqui Plagg, e eu preciso disso, ver o quarto da Marin é a única coisa que me mantém são, até consigo ver ela passeando por aqui com uma fita métrica nas mãos. — o rapaz responde apontando o vazio.

— Me desculpe garoto, mas isso não tem nada de sadio, você já está pirado. — o gatinho responde.

— Pode ser Plagg, mas não importa. — Adrien fala e se senta na cama dela.

— O que vai fazer com aquela Tsurugi? Você percebeu que ela vem se aproximando de novo né? Sempre nos mesmos eventos, sempre tentando uma conversa. — ele pergunta antes de devorar o seu camembert.

— Eu sei, mas não posso fazer muita coisa, posso evitá-la e mais nada, se eu falar qualquer coisa, ela pode perceber e isso colocaria a família da Marin em risco. — Adrien suspira, tudo aquilo era tão cansativo e tão idiota ao mesmo tempo.

Queria acabar com aquela farsa logo, queria prender aquelas duas sem vergonhas, mas segundo seu pai não podiam ainda, não sem provas físicas bem fortes, por que a confissão de uma adolescente enciumada, não pode ser considerada uma prova absoluta, por mais que fosse uma.

— E dizer que a Marinette te avisou sobre essa garota, não lembra? Ela disse isso logo que Kyoko chegou aqui, disse que não confiava nela. — Plagg comenta trazendo a lembrança a tona.

— O pior de tudo é isso Plagg, se eu tivesse ouvido minha Marin naquele dia, nada disso estaria acontecendo. — Adrien fala com as mãos no rosto, se assusta ao sentir seu celular vibrando no bolso.

— Alô? — ele atende o número desconhecido sentindo o coração falhar.

Adrien, você está ocupado? — se desanima um pouco ao ouvir a voz do pai do outro lado.

— Oi pai, não estou, pode falar. — ele responde tentando não mostrar o quanto se abalou — De onde está ligando?

Da nova fabrica de tecidos, meu celular descarregou. Escuta Adrien, hoje a noite tem um jantar beneficente, fomos convidados. — Gabriel fala e faz uma pausa, aquela seria a parte mais complicada — Só que é na residência dos Tsurugi's, elas ofereceram o convite como um pedido de desculpas. E antes que você negue, e eu sei que vai, é a chance perfeita para plantarmos as escutas, poderemos enfim ter provas maiores da armação deles.

— Tudo bem pai, eu vou, mas vou levar meus amigos comigo, ou nem sei o que sou capaz de fazer se aquela garota vier falar comigo. — Adrien concorda amargurado.

Eu sei que está difícil filho, mas logo tudo estará no seu lugar. Tenho outra coisa pra te contar. — Gabriel fala, despertando o interesse do dele — Recebi hoje, uma nova criação e tenho certeza que é de Marinette, junto dos desenhos, vieram duas Maria-chiquinhas.

Sério pai?! — Adrien fala animado, era a primeira notícia em meses que recebia de sua Marin — O que ela fez?

É apenas uma coleção de vestidos para o inverno, é estiloso e sofisticado, sem falar na elegância, ela me deu autorização de criar e lançar na Agreste. Vou mandar outra carta pelo Tom, quero que ela comece a trabalhar conosco desde já, assim mantemos o vinculo e também teremos uma forma de manter contato, já que ela usou um codinome na coleção, não seria difícil manter, afinal muitos criadores preferem assim e isso não levantaria suspeitas. — Gabriel explica e Adrien fica eufórico — Ela é talentosa filho, essa nova coleção vai ser um sucesso, tenho certeza. Você escolheu bem Adrien, Marinette é muito inteligente.

Qual o codinome que Marin usou pai? — Adrien pede com o coração apertado.

— Désir. — Gabriel conta e o rapaz sente as lágrimas embaçando sua visão — Sabe qual o nome da coleção? L'amour.

Acha que podemos descobrir onde ela está pela carta? Teríamos como rastrear o código postal?Adrien pede esperançoso.

— Já tentei isso filho, mas como eu disse, Marinette é muito inteligente, ela está usando um código de outro país, e sabemos pelo que Tom disse, que ela só está em outra cidade. Eu também comecei a fazer buscas pelo nome dela nos bancos de dados das universidades, se ela está cursando moda, certamente se registrou em alguma, mas não é tão rápido assim para obter essas informações, e tenho certeza que se ela se precaveu com a carta e o codinome, ela também encontrou uma forma de encobrir seu registro. — Gabriel explica e vai minando as esperanças do filho.

Mas que droga de teimosia Marinette! — Adrien fala frustrado — Mas não posso tirar a razão dela. Bom obrigado pai, eu tenho que ir estudar, amanhã tenho prova.

— Até a noite Adrien, hoje nós começaremos a puxar o tapete daquelas duas, não se preocupe. — Gabriel se despede.

Adrien olha para Plagg, que ouvia tudo grudado no seu celular, aquele gatinho conseguia ser mais curioso do que duas comadres fofoqueiras.

É, parece que a Dupain-Cheng não é fácil não. —  ele fala rindo.

Marin é demais mesmo, vamos pra casa Plagg, eu realmente tenho que estudar. Plagg, mostrar as garras! — ele fala e logo se transforma.

 

***

 

Do outro lado da cidade, Marinette entrava na casa de massagem de Wang Fu, ainda se sentia mal, quase não conseguira chegar ali, vinha se esquivando e se apoiando pelas esquinas, tentando evitar qualquer rota movimentada, para não correr o risco de encontrar alguém conhecido. Quando entrara na salinha de espera, não precisou chamar ou aguardar, mestre Fu já a estava esperando, seus pequenos olhinhos sábios perscrutaram o rosto da garota e não precisou de uma palavra para que soubesse o que acontecera. Ele apenas seguiu para sua sala e ela foi junto, ainda se sentia muito fraca, mal dava alguns passos direito, podia cair a qualquer momento e agradeceu imensamente, quando o mestre arrumou um pequeno pufe para que se sentasse de forma mais confortável; Tikki a olhava preocupada, queria que a portadora deixasse de teimosia e se ausentasse de suas obrigações por um tempo, mas Marinette não arredava pé.

— Pelo visto, as coisas só pioraram. — mestre Fu comenta analisando a garota — Devia seguir meu conselho e dar um tempo, Marinette.

— Não mestre, eu consigo fazer isso, só preciso de uma poção mais forte. — Marinette teima, estava decidida e não deixaria suas responsabilidades para outra, sem falar que outra Ladybug levantaria muitas suspeitas agora — Paris é minha cidade, é minha responsabilidade.

— Ah, pelo visto vou ter que trabalhar numa poção mais forte então! Você é a mais teimosa de todas as Ladybug's. — o mestre fala e ela ri de leve — Fica sentadinha ai, você precisa se recuperar, eu já volto.

Assim que ele sai, Tikki se posiciona a frente do rosto da garota, os olhinhos azuis transbordando de preocupação.

— Eu ainda acho que você devia deixar essa loucura de lado e procurar um médico. — a Kwami fala a repreendendo.

— Tikki, nada na medicina pode me ajudar melhor que as poções do mestre. — Marinette fala e alcança um cookie para ela — E se não se lembra, eu já fui ao médico.

— Estou com medo Marinette, essas lutas contra Howk Moth estão ficando mais sérias, hoje você se machucou feio, por pouco não caiu do telhado, se Cat Noir não estivesse lá, nem sei o que teria te acontecido. — Tikki fala exasperada — E ainda tem aquela ameaça daquela Tsurugi pairando sob sua cabeça, acha mesmo que é uma boa ideia se meter mais nessa história? Você devia estar fazendo um tratamento e não correndo atrás de japonesas criminosas.

— Eu sei Tikki, mas se eu não fizer nada, é bem provável que elas conseguirão falir a Agreste, elas são criminosas, e é dever da Ladybug manter essas pessoas longe de Paris, sem falar que quero ajudar Adrien e Gabriel, e também é a única maneira pra que eu volte para casa, sem que meus pais vão parar na cadeia. — Marinette se explica, já com a face banhada em lágrimas de novo.

— Ei, tudo bem, não fica nervosa ou vai passar mal de novo. — Tikki fala, encerrando o assunto por hora, não poderia fazê-la piorar.

Marinette tenta se acalmar, mas é em vão, tudo que ela consegue fazer é chorar, ela chora de saudade de Adrien, dos seus pais, dos seu amigos, da sua casa, chora por não poder ir para a escola de moda que queria, por ter que mudar sua vida tão drasticamente, chora de raiva daquela japonesa filha da puta e mais ainda pela situação que se encontra. Tudo estava desabando em sua cabeça, e ela não sabia quanto mais aguentaria, mas tinha que aguentar, tinha que ser forte, existiam muitas vidas em jogo, era mais do que hora de Marinette mostrar por que fora escolhida para ser portadora do miraculous da Ladybug. Ela só esperava que essa poção fosse mais forte que a outra, ou seu desempenho nas batalhas seria muito afetado, caso contrário, ela não colocaria só a si e Cat Noir em risco.

— Ei, você deixou aquele envelope para o Gabriel, não é? Por que fez aquilo?— Tikki pergunta para distraí-la.

— Deixei, espero que ele tenha gostado das criações, eu queria mandar um recado indiretamente a Adrien, queria que ele soubesse que não o esqueci. — Marinette fala, se distraindo dos seu pensamentos conturbados — Você acha que um dia eu e Adrien poderemos finalmente ficar juntos?

— Claro que sim Marinette, você pode não ver isso com clareza agora, por conta das dificuldades, mas vocês dois foram feitos uma para o outro, vão viver juntos para sempre! — a Kwami responde e faz o coração da portadora se acalmar.

A porta da salinha se abre e mestre Fu retorna com uma bolsinha em mãos, contendo vários frascos de poção, ele para a frente dela e a olha compadecido; qualquer um que visse Marinette agora, se assustaria, a pele pálida e opaca, os olhos quase sem brilho, os lábios rachados de tanto mordê-los em mais um tique nervoso. Marinette estava se esforçando para cumprir sua missão como Ladybug, sem deixar que seus problemas pessoais interferissem no seu desempenho, isso era nítido para Fu, ele só queria poder fazer mais por ela.

— Aqui Marinette, essas vão te ajudar, eu garanto. — Fu lhe entrega a bolsinha de couro — E essas aqui são para mascarar a sua aparência, acredite, vai precisar e se Howk Moth suspeitar disso, estaremos todos em perigo.

— Obrigada mestre, confesso que já estava me preocupando com isso. —  Marinette fala sinceramente — Mestre, será que posso ficar aqui? Tenho uma investigação pra fazer a noite e não queria ter que voltar para a universidade agora, ter que ir e voltar de Boulogne-Billancourt seria muito cansativo hoje, por mais que leve só vinte minutos.

— Claro que sim Marinette, você pode ficar o quanto quiser, também não acho prudente que fique se deslocando toda hora, já chega fazer isso por causa dos Akumatizados. — Fu se apressa em concordar, faria tudo ao seu alcance para ajudar aquela menina — Você já comeu alguma coisa hoje? 

— Não mestre, ela não se alimentou ainda! — Tikki dedura muito irritada.

— Marinette Dupain-Cheng, você sabe que precisa se alimentar direito! — Fu fala severo e ela se encolhe um pouco — Vou preparar uma canja, pode ser meio da tarde, mas é a melhor pedida nessa situação.

— Por favor mestre, eu não quero dar trabalho. — Marinette fala envergonhada.

— Não é trabalho algum, você e Cat Noir são como filhos pra mim. — Fu fala e leva a garota as lágrimas, mas dessa vez de alegria.

Tikki olhava a cena impressionada, não sabia como Marinette ainda possuía água naquele corpo, achava que ela já estaria seca de tanto chorar, afinal era só isso que fazia ultimamente, chorava dormindo, acordada, estudando; nesses quase cinco meses longe de casa, a garota ultrapassara o limite da tristeza que um ser humano pode sentir. Tiveram muita sorte de Howk Moth se concentrar apenas em Paris para achar suas vítimas, ou Marinette seria Akumatizada toda hora.

— Então, a Mod'art é boa como dizem? — Fu pergunta a garota.

— É sim, é ótima na verdade, mas eu não queria ter feito meus pais gastarem tanto, ainda mais que já tinha tudo encaminhado para cursar na Duperré, que tem um conceito ótimo no mundo da moda. — Marinette responde irritada, mudando totalmente seu humor, aquilo era culpa de Kyoko, mas ela faria aquela japonesa pagar por isso.

— Você está progredindo com a investigação? — o mestre pede interessado, servindo um copo de suco para ela.

— Estou sim, ser portadora de um miraculous ajuda muito nisso. — ela responde e pega o copo — Estou conseguindo reunir cópias de documentos, tirei algumas fotografias, o problema é que com a faculdade, os Akumas, e esse tratamento, eu não posso vir toda hora só pra investigar e acabo perdendo algumas coisas, e até encontrar as pistas de novo leva tempo, se não fosse isso, já teria colocado aquelas duas na cadeia.

— Tenha paciência, talvez seja bom que demore, agora elas ainda estão de olho nos passos da Marinette, mas depois de um tempo vão relaxar e cometer algum deslize. — Fu aconselha e Marinette acaba por pensar que ele tem razão — Foque no seu curso e na sua saúde principalmente, e quando você voltar, mesmo que não tenha concluído a investigação, as Tsurugi's não poderão fazer nada, você será um nome poderoso no mundo da moda, tenho certeza que elas não irão querer comprar uma briga com você.

— Sabe mestre, às vezes eu penso que o senhor vê o futuro, o senhor disse que Adrien me notaria e foi o que aconteceu. — Marinette fala pensativa e arranca um risinho de Fu — É bem reconfortante saber que as coisas darão certo, de um jeito ou de outro.

Ela não mudou muito afinal, ainda continua a mesma garota doce e bondosa que o salvara de ser "atropelado". Eles passam o final da tarde conversando, e quando a canja fica pronta, Marinette a devora, estava realmente faminta; com todos esses problemas, esse estresse e a pressão de resolver tudo logo, para poder voltar para casa e acabar com o sofrimento das pessoas que ela ama, Marinette por vezes esquecia de suas próprias refeições, lembrava apenas quando já estava na cama, cansada demais até mesmo para fazer um lanche rápido, só que esse habito tinha um preço e a cobrança já estava chegando, e o juros seria um pouco mais alto do que ela suportaria pagar, se não tomasse cuidado. Quando deu um horário razoável, que ela julgou que a festa já estaria no seu auge, ela acordou Tikki, que descansara bastante, pois sabia que aquela noite precisariam, e fez sua transformação; ela se despedira de Fu e como a joaninha mais querida de Paris, se pôs a saltar pelos prédios. 

Marinette precisava ter cuidado e discrição, andava se esgueirando nas sombras para não chamar atenção indesejada, sabia que se a vissem, seus planos iriam por água abaixo, e talvez a presença de Ladybug ali, alertasse as Tsurugi's do que Marinette andava fazendo. Com agilidade, ela entra por uma janela, em um ponto cego das câmeras de segurança, pisa com cuidado no assoalho do escritório e se coloca a procurar qualquer coisa que fosse uma pista, precisava ser rápida, qualquer um poderia entrar ali. Ela encontra um documento que parecia ser de um carregamento, mas estava em japonês, ela precisaria traduzir mais tarde para ter certeza, resolve então tirar uma cópia e estava se dirigindo a impressora, quando a porta se abre rapidamente; ela não podia acreditar nos seus olhos, achou num primeiro momento que estaria delirando, congelou no lugar, incapaz de se mover.

— Ladybug?! — Adrien e Gabriel falam juntos, espantados e igualmente estáticos.

— O-Oi... O que fazem aqui? — ela pergunta nervosa, saindo do seu transe inicial, depois de meses sem vê-lo, Adrien estava ali na sua frente e ela se segurava para não correr e lhe abraçar.

— A gente... bom... nós... — Gabriel fala nervoso, não sabia o que fazer.

— Nós estamos procurando pistas, Ladybug, qualquer coisa que incrimine essa bandida que ameaçou a minha namorada. — Adrien responde sério, tinha total confiança na heroína e parceira.

— Sua namorada? — Marinette pede, se fazendo de confusa.

— Sim, você a conhece não é? Me disse isso uma vez, Marinette Dupain-Cheng. — ele responde e sorri ao lembrar dela.

— Ah claro, a Mari. — Marinette fala e fica vermelha, mas precisava manter o foco deles longe de sua presença.

— Mas e você Ladybug? Por que está aqui? — Gabriel pergunta astuto.

— Bom. — ela fala tentando achar uma desculpa, mas suspira derrotada e resolve falar parte da verdade — Desculpem não falar de inicio, era pra ser uma missão secreta. Eu estou aqui por ela também, Marinette é minha amiga e me contou o que aconteceu, eu resolvi ajudar.

— Sério? Você viu ela Ladybug? Como ela está? Pode me dizer onde Marin está? — Adrien pergunta afoito e Marinette quase se entrega ao ouvir seu apelido.

— Desculpe Adrien, mas não posso, se eu contar te colocarei em perigo, vocês dois, e isso é tudo que Marinette não quer, ela se afastou por isso, para proteger vocês e a família dela, se eu te contar, será tudo em vão. — ela responde de coração partido, por que tinha que ser tão dificil?

Adrien murcha um pouco diante da recusa, mas não insistiria, conhecia sua parceira, sabia o quão obstinada Ladybug era, se ela disse que não contaria, nem sob tortura abriria a boca; mas ele quase entrega a própria identidade ao ouvir a próxima pergunta do pai.

— Cat Noir não está com você? — Gabriel pergunta confuso, sabia que os dois eram uma dupla e estranhou não ver o gatuno ali.

— Eu... — Adrien fala e gela por dentro e rapidamente conserta o estrago — Eu ia perguntar isso agora mesmo!

— Cat está passando por alguns problemas, resolvi não envolver ele nisso, ele pode ser um bichano com várias vidas, mas sei o quanto está cansado. — Marinette responde e Adrien fica comovido com o carinho da sua parceira com ele — Vamos então buscar as provas? Marinette conta comigo para poder voltar a Paris logo.

Assim os três passam os próximos minutos recolhendo e tirando fotos de tudo que parecia suspeito, Gabriel se impressionava com a agilidade e inteligência da heroína e a achava muito parecida com sua nora, e se espantava mais ainda, de ver como ela e seu filho trabalhavam em sintonia, era quase como se fizessem isso sempre, e então outra luz se acendeu em sua cabeça.

— Agora me dê a escuta. — ela pede estendendo a mão, estava pendurada de cabeça pra baixo no tubo de ventilação — Aqui vai ser perfeito, esses lugares nunca são revistados em uma busca.

Assim que colocam as escutas no tubo de ventilação, na luminária, por dentro do umbral da porta e dentro de um objeto de decoração da mesa, Marinette se prepara para ir embora, não poderia se arriscar e a transformação acabar ou que ela mesma acabasse se entregando, mas também não podia partir assim, sem aproveitar essa oportunidade para fazer algo que não pode meses atrás, mesmo que não fosse como ela queria.

— Adrien? — ela fala se virando para o rapaz que a observava ir até a janela por onde entrara — Eu não posso dizer onde ela está, mas posso te dizer que Marinette está sofrendo muito longe de você, ela sente saudade todo dia, e eu posso afirmar com toda a certeza do mundo que ela ama você e não teria partido se não fosse pelo bem de todos!

— Você pode dar um recado meu a ela, Ladybug? — Adrien pede com lágrimas pela face, ao que a joaninha apenas assente, não podendo mais falar — Diga a Marin que estou fazendo todo o possível pra que ela volte logo, eu e meu pai estamos trabalhando muito para por essas duas na cadeia, e quando isso tudo acabar, eu estarei esperando que ela volte pra mim, não importa quanto tempo passe, eu sempre vou esperar a minha Marin, pode entregar algo também? Eu queria ter entregado a ela naquele dia, mas nada saiu como eu queria, mas é dela de todo jeito. Diga que eu a amo e que ela sempre será a minha Lady!

Marinette apenas concorda, estava emocionada demais para falar qualquer coisa, estava quase soluçando ali e agradecia por o canto da janela estar escuro, ou eles veriam suas lágrimas; ela pega a pequena caixinha que Adrien lhe estendia, a qual ele sempre carregava consigo desde aquele dia, sobe no umbral da janela, atira seu ioiô e salta para a noite, deixando os dois Agreste's para trás, e um deles com mais um pedaço do seu coração. Sente o vento gelado lhe bater o rosto, pula e salta, corre e se atira entre as casas e os prédios; tudo isso ainda ouvindo as palavras do seu amado, tudo isso derramando lágrimas de profunda tristeza, enquanto ruma para o seu lar temporário, voltando apressada para sua nova e dura realidade.


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