A Tapeçaria escrita por CherryRed


Capítulo 3
Capítulo 2: Gibigianna


Notas iniciais do capítulo

Tô um pouco atrasada, mas terminei! Espero que gostem e perdão pelo capítulo longo, ficou maior do que o que eu esperava hahdushdush

Bjs,

Kitsu



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Estava sentada em um banco de madeira enquanto esperava o sol secá-la e ao seu lado se encontrava o homem que acidentalmente empurrara (e caíra junto) na Fontana di Trevi. Sério, quais as chances de uma bagunça como essa acontecer com uma pessoa no dia a dia? Não a parte de esbarrar em alguém sem querer, mas sim os eventos que antecederam aquela situação; como por exemplo, o maldito pombo, sua mãe doente e, ah, sei lá, talvez a parte de ver sua chefe ser sentenciada à morte por ser agente dupla? Bufou alto, visivelmente estressada, e passou as mãos pelo rosto. Viu com o canto dos olhos o homem encará-la com curiosidade e erguer uma sobrancelha. 

Ele era… ‘Delicioso’, pensou dando um sorrisinho. Novamente, quais eram as chances de encontrar um homem como aquele no dia a dia? Praticamente nulas. Ele era visivelmente mais alto do que Cora o que geralmente proporcionava às pessoas um ar desengonçado ou rudimentar, mas não tinha um jeito bruto, muito pelo contrário, todos os seus mínimos movimentos eram graciosos e pareciam extremamente calculados. Seus cabelos eram loiros e quando o sol da tarde incidia sobre eles, os fios adquiriam um tom levemente alaranjados e davam a ele um aspecto divinal, como se uma aura de fogo emoldurasse sua face e parte dos ombros; Cora sentia vontade de tocá-los só para ter certeza de que eram palpáveis, porque mais pareciam pura luz. O homem tinha um belo rosto, com maçãs do rosto altas e proeminentes, um nariz arrebitado e lábios delineados, e mesmo que não tão carnudos quanto geralmente via em italianos, ainda davam leveza à sua fisionomia. Mas os olhos, ah, os olhos eram magníficos; pareciam duas esmeraldas incandescentes, queimando tudo que mirassem de maneira lenta, mas muito prazerosa. As roupas negras ajustaram-se aos músculos definidos dele quando virou-se para falar com a jovem, que mordeu a parte interna do lábio inferior.

‘Puta merda, eu acho que meus ovários vão explodir’, suas pernas automaticamente cruzaram-se com força para controlar seus hormônios. Definitivamente esquecera-se de todos os problemas que estava enfrentando e do mistério de sua chefe, atenta ao homem à sua frente. 

—Está tudo bem? -indagou. Ele parecia mais curioso do que preocupado, diga-se de passagem, mas Cora se importava? Nem um pouco. 

—Só estou cansada, o dia foi…

—Estressante? -completou sorrindo suavemente.

—Pode-se dizer que sim, -concordou. -mas eu usaria o termo uma merda. -terminou, dando de ombros.

Ele sorriu.

—Damas não deveriam usar termos assim. -ela riu. 

—É mesmo? -indagou divertida pelo comentário. -Pena que não sou uma. Queria, mas não nasci com a bunda pra lua, então sou só uma plebeia. -brincou.

Ele a encarou por alguns segundos antes de tornar a sorrir.

—Você parece de muito bom humor para alguém que aparentemente teve um dia estressante. -disse e ela pôde sentir uma alfinetada, não parecia ter gostado muito da resposta de Cora (que basicamente era um ‘foda-se’ disfarçado). Gostoso e sarcástico? Excelente.

—Só uso essa fachada bobinha quando estou flertando com alguém. -piscou e ele ergueu uma sobrancelha, o sorriso educado ainda fixo em seus lábios.

Ele balançou a cabeça e voltou a olhar para frente, será que ela tinha constrangido o estranho? Achava um pouco difícil, gente sarcástica dificilmente ficava encabulada, mas sempre tinha uma exceção ou outra e ele poderia ser uma delas. Ele virou-se para Cora novamente, colocou seu braço sobre o encosto do banco e apoiou o rosto em suas mãos, levando a outra aos cabelos e passando os dedos por eles.

—Bom saber que gosta de caras que caem em fontes turísticas. -brincou rindo.

Ela fechou os olhos com força, já tinha esquecido do ocorrido.

—Ah… Sabe, não foi proposital, me desculpa mesmo. -comentou. -Meu dia foi tão complicado que eu nem vi aquele pombo desgraçado voando. -disse enrolando os fios ruivos e os prendendo em um coque. -De verdade, mil perdões, senhor…?

—Giovanna. -respondeu. -Giorno Giovanna. -franziu o cenho brevemente; que estranho, jurava ter ouvido aquele nome em alguma ocasião, mas como não conseguia se lembrar simplesmente ignorou a sensação. -Mais uma vez, está tudo bem, se tivesse sido proposital você não teria caído comigo. -respondeu. -Como se chama, signorina?

—Cora Murrey. 

Giorno levou sua mão livre até o queixo da jovem, fazendo eletricidade percorrer seu corpo, e movimentou-o de um lado para o outro suavemente, analisando com atenção o rosto corado. Os grandes olhos verdes lhe davam uma sensação de astúcia, como se por trás daquela faceta divertida houvesse algo sombrio e ardiloso pronto para atacar, mas ao mesmo tempo, era algo ligeiramente dúbio, pois aquele brilho malicioso poderia ser apenas ocasionado por seu flerte. De qualquer maneira, Giorno a considerou interessante. Sua pele era dourada e assemelhava-se às dos sulistas Italianos, contrastando com o cabelo ruivo escuro de maneira magnífica, tal qual uma pintura renascentista. Era bem menor do que ele, coisa que o homem achou engraçado por só conhecer uma outra pessoa tão baixinha quanto Cora, e essa seria Trish. Observou o piercing dourado no septo da jovem e nas orelhas; não era exatamente o que Giorno achava adequado para uma mulher usar -achava-os demasiadamente degradantes-, todavia, eles pareciam combinar com ela de alguma maneira curiosa. Abaixou o olhar para as mãos delicadas e pequenas e sorriu ao ver as unhas esmaltadas levemente manchadas por tons colorido, típico de alguém que lidava com tintas frequentemente. 

                Ele tinha encontrado uma artista, algo definitivamente comum de se ver na Itália, mas ela era bizarramente divertida, então resolveu continuar a conversar com ela. Era refrescante conversar com alguém que não estivesse interessado em si por conta de sua posição ou mesmo amedrontado por ela.

—Não é Italiana, pelo visto… -falou, por fim. -Americana? -indagou enquanto soltava o rosto dela.

Ela suspirou e voltou a encarar o cenário à sua frente.

—Por parte de pai. -disse friamente. Giorno percebeu o ar tornar-se mais denso quando ela comentou sobre o homem, mas não disse nada, afinal, ele próprio tinha problemas familiares e também não gostava de tocar no assunto. -Pelo lado de mamãe, sou metade Brasileira… 

—Já visitou o país? 

—Muitas vezes! -exclamou sorrindo novamente. -Eu amo de paixão o meu Brasil, foi lá onde nasci então eu me sinto mais Brasileira do que Americana. -confidenciou, fazendo-o sorrir genuinamente por conta de sua contagiante energia.

—Você nasceu na capital? -questionou curioso. -Brasília, certo? -não se lembrava muito das suas aulas de geografia, mas sabia que a capital do país tinha Brasil no nome, só torcia para ter acertado-o.

Ela fez uma careta engraçada.

—Não. Tipo, não me leve a mal, eu simplesmente adoro Brasília, mas a umidade baixa me mata. -ela ajeitou a bolsa ao seu lado. -Nasci no Rio de Janeiro, sou carioca da gema. -Cora parecia orgulhosa daquilo, então ele sorriu sem entender o que ela tinha dito. 

—Mas você mora lá e está de passagem por Roma ou...?

Cora negou com a cabeça.

—Eu morava no Texas, mas me inscrevi para um programa de intercâmbio e fui aceita em uma Universidade daqui. 

—E está aqui há muito tempo?

—Um ano e sete meses.

Giorno franziu as sobrancelhas. 

—Por que nunca vi você por aqui durante todo esse tempo? Eu sem dúvida me lembraria de uma mulher tão bela e divertida quanto a senhorita. -Cora sentiu o rosto aquecer rapidamente, ela não esperava um flerte tão clichê justo agora que estava “desarmada”... Ou ainda teria uma carta em sua manga?

Deu de ombros, levantando-se graciosamente do banco de madeira e se apoiando no encosto dele para ficar face a face com Giorno Giovanna. Semicerrou os olhos e inclinou-se em sua direção, o encarando fixamente. Pôde sentir o calor que o corpo dele emanava e sua respiração ficar levemente pesada e descompassada, não tão diferente da sua.

—Se eu não estivesse tão ocupada hoje, pode ter certeza de que você ia se lembrar de mim a todo o momento e seria impossível me esquecer. -sussurrou, afastando-se tão graciosamente quanto se aproximara logo em seguida. Colocou a bolsa atravessada sobre o corpo e a segurou firmemente, sorrindo travessamente para ele. -Foi um prazer conhecê-lo, Signore. -antes que ele pudesse despedir-se, Cora se pôs a andar e pegar as chaves de sua lambreta. 

+++

Quando chegou em seu quarto, a primeira coisa que fez foi tirar o tênis ainda molhado e colocá-lo para secar no banheiro. Olhou ao seu redor, dando graças a Deus pelos dormitórios serem distantes do campus e não terem sido afetados pelos sprinklers, caso contrário ela teria se ferrado pra caramba, já que todo o seu material de Artes estava ali. E ficou aliviada ao checar dentro da bolsa e ver que o celular estava funcionando perfeitamente, uma vez que tinha sido protegido por estar em um compartimento de couro com zíper; se perdesse o smartphone, perderia dados importantes para sua vida acadêmica e pessoal. Consequentemente, lembrou-se de Giorno e sorriu de canto, ele tinha sido o ponto alto de seu dia, uma luz em meio à situação tenebrosa em que se metera, verdadeiramente a gibigianna da semana. Começou a despir-se ali mesmo, precisava se livrar daquelas roupas sujas e tomar um banho decente -os sprinklers e a Fontana di Trevi não contavam-, queria relaxar um pouco antes de ir atrás do mapa de Bianca na coordenação de Geografia. O ar frio chocou-se contra sua pele nua e gerou uma onda de arrepios por todo o seu corpo, fazendo Cora checar se a janela estava de fato fechada e despreocupando-se quando viu-a trancada e com as persianas fechadas.

Já no banho, achou curioso o fato de ainda não ter visto Rosalinda. Geralmente ela entraria no banheiro dando um sermão sobre como Cora tinha que parar de ficar andando pelada pelo dormitório porque ela podia levar alguma visita de surpresa e isso seria desagradável, mas até agora nada. Para falar a verdade, o bloco inteiro parecia vazio e quieto demais, entretanto, apenas deu de ombros e continuou a massagear o couro cabeludo, tentando livrar-se das lembranças a respeito de Bianca e os membros da Passione. ‘Olha onde você se meteu, Harpia.’, pensou suspirando profundamente. 

—E ainda acabou me fodendo junto. -bufou. -Agora sou eu quem toma no cu pra descobrir seja lá o que você estava escondendo. -resmungou terminando de se ensaboar. Ouviu um barulho vindo do quarto e franziu o cenho. -Minha bolsa deve ter caído da poltrona. -afirmou enquanto afundava na banheira para tirar o shampoo e o sabão do corpo.

Ao fechar os olhos e imergir, viu um cômodo escuro e uma silhueta alta de costas para si. Sentia tudo ao seu redor de maneira tão tangível que por um momento pensou de fato estar ali, até lembrar que estava em seu banheiro há alguns segundos. Provavelmente estava alucinando por conta do estresse, mas alucinações não poderiam feri-la diretamente, então resolveu dar corda à situação. O chão do cômodo era macio, parecia carpete ou veludo, mas não poderia ter certeza já que o único ponto de iluminação ali era o homem. Apesar de confusa e ligeiramente nervosa, aproximou-se da figura, algo nela atraía Cora de maneira bizarra; percebeu que ele tinha cabelos escuros e era mais alto ainda de perto. Todavia, não conseguiu se aproximar mais quando chegou a um limite de um metro e meio, e por mais que tentasse ver sua face, era impedida. Cora quis chorar; por que não podia ver o rosto do homem cuja aura era tão calmante e doce? 

‘Avise-os.’ ouviu a voz suave falar em sua mente. ‘O perigo está voltando. Avise-os, Cora.’ ele tinha um tom de urgência em sua voz.

—Avisar quem? Quem é o perigo? -ela estava nervosa, queria saber do que aquele homem dócil falava. -Por favor, senhor, me diga a quem alertar. -caiu de joelhos, nua e frágil, implorando pela resposta dele.

‘Avise-os assim que puder.’, foi tudo o que respondeu.

                O cômodo iluminou-se a ponto de ser impossível manter os olhos abertos, então Cora os fechou com força, sentindo o calor envolvê-la. Quando abriu os olhos novamente estava emergindo da banheira, água caindo por sua face e borrando sua visão. Respirou com dificuldade até conseguir normalizar sua respiração e se dar conta de que haviam respingos d’água por todo lado; suspirando, levantou e enrolou a si e o cabelo em uma toalha, pegando um pano para secar o chão logo em seguida.  Tinha quase toda a certeza de que não havia alucinado a respeito do homem de costas e sua mensagem, parecia uma visão... Há quanto tempo não tinha uma visão? Uns seis, se bobear, dez anos. Tinha um histórico a respeito delas, e toda vez que ocorriam eram como presságios do que estava por vir; da última vez, havia tido uma visão a respeito de um acidente de carro com sua melhor amiga na época, Emma Johnson, e dois dias depois ela e a família se acidentaram severamente ao saírem de um jantar de família. Todos morreram. Aquilo perturbou Cora de tal maneira que ela se achou culpada de não ter avisado e precisou de acompanhamento psicológico por alguns anos para se recuperar, afinal, Emma havia sido sua melhor amiga desde a pré-escola.

             Sacudiu a cabeça, tentando esquecer daquilo um pouco porque não queria ativar seu lado paranoico, ainda mais quando tinha outras coisas para fazer. Quem dera pudesse, de fato, esquecer-se de todas as suas memórias ruins com um simples balançar de cabeça. Respirou fundo e levantou-se, garantindo que o chão não estava mais molhado e propício a um escorregão, destampando o ralo da banheira e esperando até que ela estivesse vazia para tampá-lo novamente. Soltou o cabelo e olhou-se no espelho; parecia cansada e fúnebre.

—Graças a Deus maquiagem faz milagres. –comentou para si própria, rindo em seguida ao imaginar o tal Giorno vendo-a com essa cara de Vandinha Addams, pálida e com olheiras profundas. Sem dúvida ele nem chegaria perto dela para começo de conversa.

             Calçou suas pantufas de raposa e caminhou em direção ao quarto com uma escova e um creme de pentear em mãos, pronta para desembaraçar aquele “ouriço morto” como costumava chamá-lo, dando de cara com Rosalinda, que inclinava-se sobre as persianas cor de marfim. Ela olhava pelas frestas do objeto e virava a cabeça para diversas direções, como se estivesse preocupada com algo lá fora. Sorrateiramente, Cora se aproximou da amiga e quando estava atrás dela, deu-lhe um pescotapa, sobressaltando Rosalinda, que colou o corpo contra a janela e a encarou com olhos arregalados.

—MA CHE CAZZO, CORA! –ela esbravejou, dando um soco no ombro da outra, que ria sem parar. –Quer me matar do coração? –levou as mãos ao peito e respirou fundo para se acalmar. –Sua peste.

—Aw, Rosie, fica assim não, mozona –disse ainda rindo. –Você sabe que eu só te irrito porque te amo! –concluiu abraçando Rosalinda.

—SAI, VOCÊ TÁ MOLHADA E QUASE PELADA. –ela ria e tentava se desvencilhar dos braços de Cora, o que não era muito difícil já que era mais alta do que a outra. –Fiquei preocupada com você, sua peste. –falou afagando o cabelo ruivo. -Não nos falamos pela manhã porque você tinha que sair mais cedo, depois teve o falso alarme de incêndio e tudo que a senhorita me manda é uma mensagem dizendo que me encontrava depois. –olhou severamente para a amiga.

Cora bufou.

—Ah, Rosie, não começa, tá? –disse ligeiramente irritada. –Você sabe que eu detesto sermões e, olha, eu to ótima. Eu só tive que resolver umas coisas no centro... –comentou.

             Rosalinda tirou a jaqueta pesada e jogou-a sobre a cama, lançando-se sobre o colchão conforme Cora começava a aplicar o creme de pentear em seus cabelos com cuidado. Ela sentou-se ao lado da amiga e começou a desembaraçar os fios, sentindo o olhar de Rosalinda ainda fixo na janela.

—No meio do seu expediente na biblioteca? –perguntou sarcástica.

—Na verdade, Bianca meio que me dispensou hoje. –comentou dando de ombros. Considerando tudo o que tinha ocorrido, poderia considerar o seqüestro de sua antiga chefe como uma dispensa, certo?

             Rosalinda a encarou confusa.

—Ué, como assim?

—Sei lá, já te falei que ela é louca, Rosie. –disse se levantando e tirando a fina toalha de seu corpo. –Uma hora ela tá neutra, na hora seguinte ela quer comer meu fígado. Ela é maluca. –concluiu, tentando não levantar muita suspeita acerca do assunto. –Ei, você viu onde está aquela minha calcinha rosa boxer? –perguntou enquanto escolhia as roupas no armário. Queria usar algo confortável para sua “aventura” na coordenação de Geografia.

—Você a jogou na gaveta de meias, então eu te fiz o favor e coloquei perto das roupas de ginástica. –falou rindo. –Você vai correr agora?

—Primeiro eu vou dar uma passada no refeitório, tô morrendo de fome. –comentou. –Depois eu tenho que passar pela coordenação de Artes, a professora Tielle pediu para que eu buscasse um material para a próxima aula, um tipo de mapa, sei lá... –mentiu, precisaria de um álibi caso o mapa fosse muito grande e tivesse que guardar em seu quarto.

—Ainda bem que eu não tenho que lidar com isso. –implicou.

—Claro, até porque você tem que lidar com números, bolsa de valores e os caralho a quatro, o que é bem pior. –zombou Cora enquanto terminava de se vestir.

—Economia é uma arte para poucos. –concluiu Rosalinda rindo.

             Cora revirou os olhos, se tinha uma coisa que detestava era lidar com o pessoal de Economia da Universidade, eles eram uns babacas –exceto Rosie, ela era um amor. Pegou um par de sapatilhas pretas e calçou-as, indo prender seu cabelo em um rabo de cavalo para não ser atrapalhada.

—Já vai? –questionou a morena encostada ao portal do banheiro.

—Vou sim, quero resolver essa questão o mais rápido possível. –caminhou em direção à saída do quarto.

—Então espera que eu vou contigo. –disse apressadamente, levantando suspeita da parte de Cora.

             A ruiva assentiu, confusa pelo comportamento incomum de sua amiga. Primeiro, ela estava monitorando algo pela janela apreensivamente, e agora queria ir com ela ao refeitório? Não seria algo importante se Rosalinda não costumasse ir ao centro de Roma para jantar todas as noites, chegava a parecer um rito religioso; sempre que Cora indagava a respeito do motivo de não comer no refeitório à noite, a morena apenas desconversava e a deixava com uma pulga atrás da orelha. Todavia, continuaram andando em direção ao bloco do refeitório, passando pelo belo jardim que servia de área comum para todos os setores da Universidade.

             Com o canto do olho, percebeu Rosalinda encarando os arbustos, pilastras, árvores e diversos outros objetos freneticamente, mordiscando o lábio inferior amedrontadamente. Ok, tinha caroço nesse angu e Cora tinha que desvendar o que raios estava sendo mantido em sigilo pela Cantuccini. Ao entrarem no refeitório, ouviu um suspiro de alívio por parte dela, que tratou de correr para os pratos a fim de comer. Cora seguiu-a com cautela, não estava com tanta fome devido aos eventos bizarros que haviam acontecido, entretanto, achou necessário comer ao menos o mínimo para não desmaiar com a pressão baixa. Preferiu comer um Fetuccini, uma das refeições mais leves entre a quantidade de massa presente ali, e pediu uma pequena garrafa com suco de maçã para acompanhar. Observou que Rosalinda parecia um pouco mais tranquila enquanto comia, o que a tranquilizou momentaneamente. Ambas terminaram de comer em silêncio, até que a outra decidiu rompê-lo:

—Então... Vai pra coordenação agora?

—Mhmm... –confirmou enquanto bebia seu suco. –Vai ficar aqui com a galera de Economia? –Rosie apenas assentiu suavemente. –Tá bom, te vejo mais tarde no quarto então. –despediu-se dando um beijo em sua testa.

             Esperava que ninguém viesse perguntar o porquê de estar sozinha após as 18:00 em uma coordenação que não era a de seu curso, caso contrário, provavelmente teria que tentar desacordar a pessoa. A Coordenação de Geografia praticamente não era visitada por alunos, grande parte devido ao pequeno número de inscritos e também por ser em uma ala mais vazia da Universidade. Sinceramente, nem mesmo Cora sabia o que estava fazendo ali; por que tinha que procurar o tal mapa de Bianca? Ela quem tinha se envolvido em assuntos fora da lei, então ela quem lidasse com as consequências... Mas ao mesmo tempo, algo em seu interior a instigava a continuar ali e procurar saber o que ela escondia e por qual motivo Bianca confiaria justamente nela, uma das pessoas que mais detestava. Bufou alto. Era frustrante ser tão curiosa. Ao chegar na coordenação, estranhou a porta aberta, mas a cavalo dado não se olha os dentes, então entrou rapidamente na grande sala e fechou rapidamente a porta atrás de si.

         ‘Busque por Harita’, uma voz ecoou em sua mente. Parecia a voz do homem em sua visão, o que a assustou; algo sobrenatural estava acontecendo, e ela não tinha mais certeza se queria descobrir. Respirou fundo e começou a procurar em todos os locais qualquer mapa que tivesse conexão com Bianca, todavia, sem sucesso. Enfurecida, deu um soco em uma prateleira, abafando o grito que o seguiu com a própria mão machucada.

—Puta que pariu, puta que pariu... –repetia quase chorando. –Que ideia de merda. –ao virar-se de lado ainda resmungando, vislumbrou um brilho dourado entre o fundo da prateleira e algo que parecia servir como um fundo falso, deslocado pelo soco revoltado da jovem.

             Cora franziu o cenho e se aproximou, retirando a peça falsa de madeira e retirando um cordão de ouro com um pingente enorme que se assemelhava a uma bússola devido ao tamanho. Sorrindo, retirou a poeira que o cobria e continuou a examiná-lo detalhadamente. Tinha detalhes desenhados à mão por toda sua extensão, algumas pedras azuis e vermelhas cravejadas em alguns pontos e, na parte de trás, a palavra Harita grafada graciosamente. Estava tão entretida que nem percebeu a arma encostar em sua cabeça, e só se deu conta de que não estava sozinha na sala quando ouviu o barulho do revólver sendo engatilhado.

—Passa o mapa para cá ou eu atiro. –disse friamente a mulher.

             Aquela voz. Seu coração parou brevemente, seu corpo gelou, sua boca ficou seca e trêmula. Aquela voz era de Rosalinda. Com os olhos arregalados, virou-se de frente para ela com a mão estendida. Que merda era essa? Sua melhor amiga estava com a arma apontada para sua cabeça e pronta para atirar?

—Não é nada pessoal, Cora, mas eu... –foi interrompida antes de terminar, o barulho do tiro que atravessara sua cabeça ecoou pelo local e fez a jovem gritar.

             O corpo de Rosalinda pendeu para frente e ela se afastou aterrorizada. O sangue quente tinha respingado sobre sua face e, bem, a parte superior inteira de seu corpo, além, claro da prateleira, que agora estava manchada de sangue e perfurada pela bala que havia transpassado sua amiga. Tremendo, Cora ergueu os olhos e os viu. Os responsáveis pelo sequestro de Bianca. Os assassinos de Rosalinda. Os três membros da Passione.


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