Estranha Sensação escrita por Loreh Rodrigues


Capítulo 14
A personificação do demônio




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***

Não era do feitio de Victoria, mas ela caminhou até perto do suporte onde treinava as modelos para o desfile e respirou fundo contando internamente até dez. Aquela mulher era seu maior pesadelo e, não havia dúvidas, havia voltado à sua vida para atormentá-la. Como faziam todos!

— Eu ainda não entendi o que você está fazendo aqui. Heriberto te mandou... — Virou-se desconcertada.

— Heriberto não sabe que eu estou aqui. Não sabe sequer que eu sei dessa... aproximação de vocês. — Explicou a mulher olhando de um lado ao outro com aquela expressão de desprezo e desdém.

— E isso ainda não explica o que te dá o direito de vir aqui! — Exaltou-se Victoria já ficando impaciente.

— Ora, Victoria, todo esse seu excesso de raiva precisa ser controlado. Mas, claro, com o tipo de vida pecaminosa que você levou... não me estranha. Vai saber o tipo de demônio que te atormenta. — Debochou a mulher até com um meio sorriso nos lábios.

— Você me pegou num péssimo dia. E, acredite, eu não costumo ser muito melhor nos dias bons, mas você não vai querer ver do que eu sou capaz em um dia como hoje! Vá embora de minha empresa, você não tem nada que fazer aqui.

— Heriberto é meu filho! Meu filho que está dedicado a Deus e você não vai desviá-lo de seu caminho com sua tentação do demônio!

Victoria caminhou até ela aparentemente calma. Mas antes que ela chegasse até ela podia se ver a transfiguração em seus olhos que já estavam completamente dominados pela raiva. Victoria segurou a mão esquerda de Ana Joaquina e encarou-a com todo o furor que ela lhe provocava.

— Acredite, você não vai querer se enfrentar com meus demônios! Saia imediatamente da minha empresa ou eu não respondo por mim! E agradeça porque eu não acho que seja apropriado que eu agrida uma velha como você!

— Você não me põe medo, Victoria! Deus é maior e ele está do meu lado. — Esbravejou Ana Joaquina puxando seu braço da mão de Victoria violentamente. — Eu o vi em seu evento de moda. Vi na televisão, que inclusive ele estava perto de você. Escute bem o que eu vim te dizer. Afaste-se de Heriberto, afaste-se do meu filho! Se você estragar a vida que Deus determinou para ele, eu juro que te destruo e te esmago. Nem que seja a última coisa que eu faça nessa vida!

Victoria caminhou até perto da mesa em que Pipino costumava trabalhar e apertou um botão. Em menos de trinta segundos, três seguranças estavam no salão acompanhados de Antonieta.

— Tirem essa mulher daqui! — Ordenou Victoria. — E que fique claro que ela não é bem-vinda na Casa Victoria. Se essa mulher voltar a pisar um pé em minha empresa, toda a equipe de segurança estará sumariamente demitida, espero que sejam entendidos.

Os seguranças a agarraram pelo braço e a acompanharam até a saída. Ainda que ela estivesse de costas, Victoria podia sentir que ela estava sorrindo e isso a matava por dentro. Antonieta se aproximou percebendo que sua amiga estava precisando de apoio, mas Victoria se afastou sem conseguir controlar todo o ódio que havia dentro dela.

— Maldita! Maldita desgraçada! Essa mulher diz falar em nome de Deus, mas é a própria personificação do demônio!

— Quem era, Victoria? Eu nunca te vi assim. — Antonieta se interessou.

— Essa é Ana Joaquina Ríos Bernal. A mãe do Heriberto. A mulher que destruiu minha vida, Antonieta. — O ódio fez com que lágrimas corressem pelo rosto de Victoria.

Definitivamente aquela mulher era capaz de tirar o pior dela. E ela sabia disso, assim como a própria Ana Joaquina. E uma pessoa como Victoria não gostava de mostrar o pior de si porque tinha consciência de que talvez não pudesse arcar com as consequências de liberar todas aquelas feras que a habitavam.

***
O táxi que levava Ana Joaquina ainda não havia virado a esquina quando o carro de Heriberto parou diante do imenso Ateliê que sediava a famosa Casa Victoria. Uma vez ele já havia fugido daquele turbilhão de sentimentos que teve por aquela mulher, mas agora já não podia, não estava conseguindo.

Ele sabia que depois de apresentada sua carta de renúncia ao sacerdócio, ele precisava da apreciação do bispo para estar, finalmente, liberado de seus sacramentos como padre, mas já não podia esperar para falar com Victoria depois daquele beijo. Estava confuso com tudo o que sentiu naqueles dias e, mais do que isso, muito mais cheio de dúvidas do que de respostas.

Entretanto, todas as perguntas e dúvidas de seu coração levavam-no, invariavelmente, a um único caminho: aquela mulher. Essa, que provocava em seu coração as sensações mais estranhas e incompreensíveis. Essa, que apesar de assustá-lo, o atraía a si como um ímã para o qual não havia maneira de oferecer resistência. Essa, que ele não precisava de nenhum motivo para ver, apesar de desejar tê-la o tempo todo diante de seus olhos.

Ele não conseguiu esperar muito tempo dentro de seu carro antes de descer e se dirigir à entrada da Casa Victoria. Os empregados da recepção estavam agitados, preocupados depois do incidente com Ana Joaquina, e com medo de deixarem-no passar, pediram que ele esperasse ali. Ao mesmo tempo, nem Lucy, nem nenhum dos seguranças tinham a coragem de ligar para a sala de Victoria e dizer-lhe que tinha um novo visitante que eles não conheciam.

Lucy decidiu ligar para Antonieta, que ainda estava com Victoria e dizer-lhe que um tal Heriberto queria falar com ela. Antonieta autorizou a entrada do homem e Victoria nem se deu conta, continuava praguejando a Ana Joaquina, Heriberto e a todo seu passado. Quando finalmente ela deu uma pausa para respirar, Antonieta disse que ia se retirar.

— Vai me deixar aqui sozinha? — Indagou ela como uma cobrança.

— Não. Vou te deixar com a pessoa com quem você tem que resolver todas essas pendências. Vou te deixar com a causa de seu mau-humor inexplicável, Victoria.

— De quem você está falando? — Victoria se assombrou ao entender a referência que sua amiga fazia.

— Da única pessoa que você realmente precisa ver agora, Victoria. Estou falando de Heriberto e de tudo o que vocês têm mal resolvido. Você precisa recebê-lo.

***

 


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