Estranha Sensação escrita por Loreh Rodrigues


Capítulo 13
Demônios




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/781654/chapter/13

***
Oscar chegou ansioso ao prédio da Casa de Modas, pois um contrato aguardado e negociado por meses finalmente havia se consolidado. Queria dar a notícia à Victoria porque sabia que ela ficaria feliz. Além disso, imaginava que desde que seu casamento acabou, o trabalho era tudo à que ela se dedicava e se ele se mostrasse imprescindível naquele campo, talvez ela finalmente pudesse enxergá-lo como ele desejava. Antes de chegar ao salão onde Victoria fazia a prova de algumas peças com as modelos, se esbarrou em Antonieta que estava bufando no meio do corredor.

— Ei, calma, que ansiedade é essa? — Ela notou a agitação dele.

— Tenho que falar com Victoria. Fechamos o contrato internacional, faremos um desfile em Miami! — Disse ele empolgado.

— Boa sorte! — Ela disse suspirando ao final. — Ela está com um humor do cão, se prepare para o coice. Nada está bom, as peças não lhe agradam, os tecidos, as modelos e todos são incompetentes... Você acredita que ela cismou porque uma modelo tinha uma espinha, Oscar? Algo facilmente coberto com maquiagem, mas ela fez um verdadeiro show.

— Você acha que nem essa notícia deve animá-la? — Oscar foi diminuindo a agitação, pois percebeu que estava criando expectativa.

— Talvez... Quem sabe... Algo aconteceu no dia do desfile, mas ela se fechou em copas.

— Mas sabemos o que aconteceu, o plágio de Bernarda e... — Oscar tentava se iludir.

— E algo mais, Oscar! Você sabe que ela tirou de letra aquilo e os modelos coringa foram ovacionados. Nossas encomendas triplicaram nesses dois últimos dias, mas ela parece que foi picada por uma cobra peçonhenta. — Antonieta sabia que Victoria não se alteraria tanto por nada do trabalho. Porque naquele campo ela não tinha dificuldade em atingir a perfeição.

— Ainda assim... Dever ser algo do trabalho. Vou dar essa notícia a ela que tenho certeza que vai animá-la! — Decidiu.

— Boa sorte! — Desejou-lhe Antonieta sabendo o que Oscar encontraria.

Chegando lá, da porta ele já percebeu que Antonieta tinha razão. Uma das modelos estava chorando enquanto Victoria ralhava irracionalmente com a jovem. Quando o viu, aproveitou a oportunidade para fugir dali dizendo-lhe que iria provar outros modelos e voltava em seguida. Passou por Oscar como um tiro, tão rápido que ele chegou a duvidar se aquela jovem não se demitiria imediatamente.

— Victoria! — Ele disse tímido, mas com um tom empolgado. — Tenho uma ótima notícia para você.

— Pelo amor de Deus Oscar, eu preciso de boas notícias, estou cercada de incompetentes. — Ela disse quase em desespero.

— Fechamos o desfile de Miami para o próximo mês! — Ele falou sorrindo até esperando que ela quisesse abraçá-lo, mas logo viu que esse era só o seu desejo e não tinha nada a ver com a vontade de Victoria.

— Que maravilha! — Comemorou ela. — Revise imediatamente o contrato e, por favor, não deixe passar nada, nenhum mínimo detalhe porque não aceito nenhuma surpresinha inesperada.

— Imediatamente? Pensei que íamos comemorar, é que você sabe... foi muito trabalho até esse acerto final. — Arriscou-se ele.

— Comemorar? — Gargalhou ela. — Não me faça rir, Oscar. Talvez você tenha esquecido, mas isso aqui é minha empresa e todos vocês são meus empregados! As funções estão muito bem delimitadas e a sua é garimpar, negociar e revisar contratos! Será que é tão difícil ser competente? — A empresária desalmada apareceu.

— Está bem, eu já vou. É que, depois de tudo... pensei que éramos amigos, mas vejo que me enganei. Alguém como você... jamais será amiga de alguém como eu.

— Ah, por favor! Não venha se fazer de vítima que eu não suporto! Vá trabalhar e me deixe sozinha. — A presença de toda e qualquer pessoa sufocava-lhe ao mesmo tempo em que lhe aterrava a simples ideia de ficar sozinha.

Oscar saiu dali decepcionado como Antonieta lhe advertiu que seria. Victoria, obviamente percebeu e não se importou. Desde aquela maldita noite em que bebeu tanta champanhe, de qual se arrependia de cada taça, não conseguia mais sequer saber o que era paz. A traição de Osvaldo, a perseguição de Bernarda, nada disso conseguia capturar nada de suas emoções porque tudo o que conseguia pensar era naquele beijo.

Mal conseguia esperar amanhecer para fugir para a empresa porque seu quarto, sua casa, a opacidade da noite eram ingredientes que não lhe permitiam deixar de pensar no turbilhão de sensações que aquele toque lhe provocou. Pouco lhe importava a batina, as decepções com Heriberto, seu casamento fracassado, a glória como empresária. Nada!

Durante todo o tempo que não estava trabalhando, e em muitos momentos ali na empresa também, só pensava em estar na cama com ele, consumar aquele desejo incontrolável que a matava e consumia. Mas, na casa Victoria ainda tinha a possibilidade de extravasar esses sentimentos que ela era incapaz de processar. Para o azar de todos os seus funcionários sem nenhuma exceção.

O problema é que seu humor intragável estava lhe tirando inclusive essa válvula de escape para tantos sentimentos encontrados, pois ninguém suportava ficar perto dela e ela acabava, como naquele momento, sozinha com seus pensamentos infames de momentos intermináveis de paixão com um homem que, primeiro lhe rejeitou para, então, consagrar-se a Deus. Era um pecado grave demais, ainda que para ela, que não se reportava à ninguém, nem mesmo a Deus.

Decidiu usar o material de Pipino, que costumava trabalhar naquele ambiente para criar modelos já pensando no desfile de Miami e, de alguma maneira, fugir daqueles pensamentos, pois não queria ir para sua sala e correr o risco de distrair-se e perder-se em tudo aquilo que ela se recusava a sentir. Sentada, desenhando, ouviu passos no corredor que dava para aquele salão e pensou se tratar de um de seus funcionários.

Entretanto, antes mesmo de que ela entrasse, Victoria pôde sentir toda a toxicidade de sua presença e entender que aquela pessoa traria uma alteração na sua vida para a qual ela, talvez, não estivesse preparada. E não havia para o que Victoria não se sentisse preparada. Era Ana Joaquina. Ela caminhou lentamente, mas confiante e se pôs de frente à empresária, com um olhar tão matador que, bem no fundo, intimidava a Victoria.

— O que você está fazendo aqui? — Indagou Victoria levantando-se e caminhando até ela.

— Que você era um demônio, eu sempre soube. — Respondeu a mulher debochada. — Mas eu nunca pensei que você se prestaria a enredar um homem de Deus. Um homem que é padre há mais de 10 anos. O que você quer com Heriberto além de seduzi-lo e atraí-lo para seu inferno?

***


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Estranha Sensação" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.