A canção de Sakura e Tomoyo: melhor chamar Sakura escrita por Braunjakga


Capítulo 5
Conversas com a família




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Capítulo 3

Conversas com a família

 

Hong Kong, terra da liberdade

29 de agosto de 2010

 

I

 

Fazia um dia nublado de verão, típico do sudeste asiático. Em algumas horas, com certeza choveria.

Encostado no parapeito, Syaoran olhava para o mar enquanto a tempestade não vinha. Seus olhos estavam cheios de melancolia e tristeza, tal como as nuvens cinzas acima dele. Uma leve brisa agitava sua a camisa de botões e o seu cabelo rebelde. Ele não ligava.

Atrás dele, Meiling se aproximava aos poucos. A mulher de olhos rubis segurou os ombros dele e acariciou levemente aqueles cabelos castanhos macios e rebeldes.

— Sabia que essa casa tem mais de cem anos? Só os parentes dos fundadores tem esse direito! Tem muita gente vivendo aqui hoje, muita casinha como essa virando prédio…  

Syaoran virou-se e abraçou a prima, sem deixar de reparar no distinto uniforme militar que ela usava.

— Virou a casaca é? 

— Você sabe que eu sempre vou ser de Hong Kong, Shoran… 

— Mas você tá com a farda do exército comuna. 

— Não é bem assim! Minha vida é mais fácil como uma oficial do exército popular de libertação… 

— Sei… Se você queria virar guerreira, podia ter entrado pra polícia que nem minhas irmãs fizeram. — disse Syaoran, seco. Os dois ficaram em silêncio por um tempo, apenas escutando o farfalhar das palmeiras produzido por aquele vento que anunciava uma tempestade.

— Você nunca vai deixar de ser chinês, Syaoran, por mais que você apoie os separatistas dessa ilha… 

— A Tomoyo já me disse isso uma vez…Mas a China e a Espanha são duas regiões muito grandes pra serem uma coisa só… 

— Eu não vim falar de política… Vim falar de você! Sua família é importante aqui, Syaoran, lembre-se disso, por mais que você se sinta sozinho nessa hora, com esse assédio todo que a Sakura tá sofrendo… Agora vocês tem um filho pra criar, né? 

Syaoran silenciou por um tempo. Meiling continuou:

— E também… Eu tô sendo transferida pra Osaka. Vou servir como adido no consulado. Vai dar pra ajudar a Sakura a cuidar do Chi… Eu vou poder proteger vocês! 

O chinês finalmente se voltou para a prima e prestou mais atenção às suas palavras.

— Eu não quero que os comunistas saibam das cartas… Isso é uma coisa só entre a gente e o governo japonês! Já parou pra pensar no inferno que vai virar minha vida se mais gente souber disso? Já basta meus tios querendo que as cartas venham pra cá e… 

Meiling segurou as mãos do primo e olhou fixamente nos olhos dele. Ele parou de falar na hora.

— É por isso que eu resolvi entrar na inteligência do exército mais poderoso da Ásia! Pra impedir que essa informação chegue até eles! 

— Eu tenho meus receios… — Syaoran soltou-se das mãos da prima e andou para outro canto dos jardins do casarão azul da família Li.

Meiling estava paralisada diante da melancolia do primo.

— Eu sei que tem alguma outra coisa te preocupando… Não é só a Sakura ou o Chi! Você não me engana! Vou descobrir o que é!— gritou a morena.

 

II      

 

A xícara de chá estava um pouco quente, mas nada era tão quente para Syaoran naquele momento em que sentia a alma um pouco fria e distante.

Yelan Li, sua mãe, estava sentada do outro lado da mesa e olhava para o único filho homem com preocupação. A mulher de cabelos negros deixou o chá um pouco de lado e olhou diretamente para ele. 

— Filho, eu sempre falei pra você que eu tenho todos os recursos a minha disposição pra proteger essas cartas, não disse?

— E eu disse pra senhora que eu tô cansado de ouvir isso, que não adianta fazer isso, a Sakura ia sentir falta dessas cartas e os guardiões dela não iam concordar com isso… E outra: eu tenho uma carreira no Japão! Vou deixar o Gamba Osaka do nada e vir pra cá? 

— Mas isso está te preocupando! Eu tô vendo! Até seu rendimento no time está caindo! 

— Independente de cair ou não… Eu não pretendo tirar as cartas do Japão… Não agora! A Sakura tem faculdade pra terminar e eu tenho medo de ficar mais vulnerável aqui… Ao menos os japoneses já sabem das cartas… — Syaoran pegou o bule de chá na mesa e se serviu com mais uma xícara de chá quente de hibisco.

Yelan olhou mais séria ainda para Syaoran, como se estivesse prestes a repreender o filho.

— É aquela outra coisa que você me contou, não é? Um assunto tá ligado com o outro, não?

Syaoran parou de levar o chá até os lábios e ficou olhando para o reflexo do seu rosto na superfície da xícara de chá.

— Aquela “outra coisa” tá mais segura que a Sakura, disso eu tenho certeza… 

— Mas é típico de você se preocupar… não é?

O chinês não falou mais nada. Yelan entendeu que ele não queria falar daquilo com a mãe e mudou logo de assunto. 

— O que me deixa mais tranquila é que a Meiling está indo pra Osaka… 

— Que não seja pra me espionar pro governo… 

— Pensa que os comunistas estão interessados em magia? A não ser que a gente seja uma ameaça pra eles. Daí, a história é outra… 

— Eu espero que sim. O meu medo é que o resto da família saiba o que aconteceu com a gente há oito anos atrás… Gente como o Zhang, sabe?

Yelan parou de tomar sua xícara de chá de hibisco e olhou séria para o filho.

— Ele sabe que você quem ganhou o duelo para ver quem iria pegar as cartas… Ele não é idiota de tentar nenhuma gracinha! 

— Não se ele arranjar um parceiro forte do lado dele… — Syaoran parou de beber o chá e foi até as janelas amplas daquele escritório. Ficou olhando o sol se pôr e viu uma figura que não queria ver tão cedo por ali. Seu primo Zhang andava pelos jardins do casarão azul. O homem olhou para o cardcaptor, e ele fechou as cortinas na hora. 

 

III

 

30 de agosto de 2010

 

Nos jardins do casarão azul, Syaoran treinava movimentos rápidos com um bastão com os olhos fechados. Naquela manhã nublada de verão, estava sozinho, praticando katis de kung fu e respirando um pouco de ar puro. Usou até mesmo as roupas leves de treino feitas de seda. De repente, sentiu que seu bastão bateu num outro. Abriu os olhos e viu que era Zhang. 

— Você nunca mais vai deixar esses cabelos crescer de novo? — perguntou Syaoran.

— Não enquanto eu não derrotar você… — respondeu Zhang. 

Os dois trocaram golpes e mais golpes de bastão até que a ponta do bastão de Syaoran quebrou. 

— Eu tô vendo que isso não vai acontecer tão cedo… — disse o cardcaptor.

— Não vai pensando que vai ser tão fácil… — respondeu Zhang.

Os dois continuaram a trocar golpes com o bastão até que o jogador de futebol deu um chute no bastão de Zhang, quebrando-o em duas metades. 

— Não é o que eu tô vendo… — disse Syaoran. 

Mesmo com o bastão quebrado, Zhang insistiu e atacou Syaoran com tudo. O chinês largou seu bastão e enfrentou o primo com os braços nus. Conseguiu desarmá-lo, mas saiu com o braço cheio de hematomas e cortes. Yelan e Meiling passavam na hora e correram para separar a briga antes que piorasse.

— Vocês dois! — gritava a matriarca do clã Li, correndo as escadas úmidas de chuva. 

— Tia… Todo mundo da família sabe que tentaram pegar as cartas há oito anos atrás e há três anos tentaram fazer a mesma coisa. Isso vai continuar até quando? 

— Você sabe muito bem, Zhang, que nas duas vezes que isso aconteceu, a Sakura conseguiu se virar muito bem!  

— Hunf! — Zhang jogou os tocos no chão com desdém. — Isso não vai ser por muito tempo… 

Só de ouvir o primo falar daquele jeito, Syaoran agarrou furioso o colarinho da veste chinesa dele, sem se importar com a dor no braço.

— Tá me ameaçando? — disse ele. Zhang se livrou daquele aperto com um rodopio simples. 

— Quem tenta uma vez, tenta outra! Escuta o que eu digo… — Zhang saiu de lá com um sorriso no rosto, zombando do primo.

— Zhang, seu merda! Não pensa que a gente vai deixar isso barato! — gritou Meiling.

Syaoran só ficou olhando Zhang como se não tivesse engolido o que ele falou. Yelan, preocupada, chegou perto do filho e tocou no ombro dele.

— Syaoran… 

— Já passei tempo demais em Hong Kong! Vou voltar pra Osaka! — disse o cardcaptor, se desprendendo do toque da mãe.

— Mas você nem ficou uma semana direito aqui… — disse Meiling, olhando o primo partir.

 

Continua… 


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