A canção de Sakura e Tomoyo: melhor chamar Sakura escrita por Braunjakga


Capítulo 39
A semente (parte I)




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Capítulo 37 

A semente, parte 1

 

San Sebastián, País Basco, Espanha

17 de janeiro de 2011

 

I

 

Era um dia claro de inverno com poucas nuvens e um sol de calor tímido.

No campo de treino da Real Sociedad, uma bola voava em arco sobre um gramado verde. Gotzone matou a bola de peito, e ela foi parar nos seus pés. Ela correu, driblou uma colega e chutou no gol. Comemorou o lance e bateu a palma das mãos com algumas colegas. De repente, o apito da treinadora soou, indicando que o treino acabou. Todas elas saem de campo. 

— Neskak (meninas), é só uma pausa de 30 minutos, depois, todas de volta! — dizia a mulher.

Enquanto mexia em sua mochila esportiva, a loira olhou o celular e viu uma mensagem que dizia.

 

“Já estou aqui. Será que a gente pode se ver?”

 

A jogadora guardou o celular na bolsa e vestiu um abrigo esportivo por cima da camisa suada do treino.

— Treinadora, me desculpa, não vou poder continuar mais… Tenho um assunto urgente a tratar lá em casa…   

— Que assunto é esse, Goti?

— É o pai dos gêmeos, sabe? Ele quase não vem ver os meninos faz tempo… Nem eu falo muito com ele… — disse a jogadora, fazendo uma cara triste que só. A veterana treinadora entendeu o lado dela.

— Não esquenta, eu seguro as pontas aqui! Vai lá resolver seu problema! — disse ela. Gotzone correu até o estacionamento e ligou a moto. 

 

II

 

Já dentro da imensa casa que tinha na beira da praia, Gotzone dava uma papinha para seus dois rapazinhos quando a campainha tocou. Os meninos logo deixaram a mãe de lado e caminharam para a porta aos tropeços, ansiosos pela visita. 

— Calma gente! Já vou abrir! — disse Gotzone. Ela se levantou e girou a maçaneta da porta. Era Syaoran.

— Oi. Seus tios tão aqui? — perguntou o chinês.

— Liguei pra eles me darem licença assim que você me mandou a mensagem, mas meu tio Koldo já sabe sobre a gente… Ele vai vir falar com você… — disse a loira de tranças, sem jeito.

— Sei… Não deu pra esconder por muito tempo, né? — disse Syaoran, cabisbaixo.

— Toda a minha família é especialista em ler mente… Ele não pode ter lido a minha, mas viu a dos meninos… — disse Gotzone.

— Então, é melhor eu me apressar… — disse o cardcaptor, entrando na casa. Antes que ele trocasse os sapatos, os meninos agarraram o pé dele, gritando:

— Aita! (Pai) Aita! Colo! — disse um dos meninos, segurando um cachorro de pelúcia.

— Abraço! Abraço! — dizia o outro menino, quase escalando as calças do jogador para subir no colo dele. 

— Iñaki! Iñigo! Mais respeito! Eu não ensinei vocês assim! — disse a loira de tranças, repreendendo os gêmeos. Eles logo pararam de azucrinar e sorriram com uma expectativa grande no rosto. Syaoran atendeu o pedido deles e colocou os dois no colo. 

— Não tem problema meu tio vir aqui, né? — perguntou a jogadora.

— Não, não tem problema. Eu quase não venho aqui… Eu fico feliz só de saber que eles ainda gostam de mim… — disse Syaoran, com uma lágrima escorrendo pelo olho. Gotzone ficou tocada com as palavras dele. Iñigo, o rapaz mais agitado, passou a mão sem jeito no rosto dele e disse:

— Chora não! Gente aqui! Abraço, abraço! — O rapazinho agarrou o pescoço dele com tanta força que quase o sufoca.

— Deixa o pai de vocês! A gente precisa conversar.

 

III

 

Gotzone levou Syaoran até a varanda da casa. De lá, dava para ver o mar da baía de biscaia batendo nas rochas embaixo do casarão. Fazia um dia de sol e a brisa fria do inverno balançava o cabelo dos dois.

— Você tá incomodado com outras coisas também, né, Shorancito? Tô percebendo… 

— A Ordem não apareceu até agora, né? 

— Nem vai aparecer… Eles tão muito exposto depois dos ataques e outra: Euskadi é o lugar mais seguro da Espanha. Aqui, não tem ninguém que queira destruir a Ordem… 

Os dois ficaram em silêncio, apenas ouvindo as gaivotas e as ondas do mar quebrando no barranco. 

— Você não veio aqui só falar disso, né?

Syaoran sorriu.

— Está lendo minha mente? 

— Eu te conheço… — disse Gotzone, passando a mão delicadamente pelo rosto dele. O cardcaptor ficou tão sentindo com o gesto que seu rosto ficou vermelho. Para piorar a situação, Goti não usava roupa de frio, não completamente. Estava com um vestido leve branco, com bordados em azul. Só dentro de casa que colocava sua jaqueta da Real Sociedad, mas fora não. Seus seios ficavam tão bem destacados naquela peça de roupa que parecia que ela fazia aquilo só para ele. Se é verdade ou não, o chinês não soube responder, mas o fato é: Gotzone era muito bonita e reservava toda aquela beleza só para ele.

— Se a Sakura tivesse metade da sua percepção, ela já teria descoberto tudo… 

— Quer que ela saiba?

— Não mesmo. Não agora…

A jogadora acercou-se dele e pousou a cabeça nos ombros dele. Syaoran não falava nada, apenas olhava o mar. Preocupada, ela disse:

— Você sabe que eu estou aqui pra tirar um pouco desse seu estresse, não sabe? — disse ela, agarrando a mão dele. O chinês respirou fundo e começou a falar:

— Eu ganhei a copa do imperador, sabe? 

— Eu vi… Eu sempre tô te acompanhando, Shorancito! Você é muito bom mesmo! Não sei como nenhum time daqui não…  

— O Eibar… o Eibar me fez uma proposta. Eu recusei… 

— O Eibar? Você recusou uma proposta deles? Era a sua chance de dar um salto na carreira!

— Sabe o que isso significa também, né? Eibar fica aqui em Euskadi!

— Você tem medo que a Ordem te ataque? Eu já te disse, Shorancito! Aqui, em Euskadi, é o lugar mais seguro da Espanha! Pode vir pra cá que eu te protejo!

Os dois voltaram a ficar em silêncio, só ouvindo as ondas do mar indo e vindo.

— Eu tenho medo é que a realidade me ataque,Goti! Essa é a verdade! Como eu vou vir pro País Basco com os meninos sentindo a minha presença há poucos quilômetros daqui, hein? Eles já tem magia dentro deles, eles sabem que eu sou o pai deles, agora, imagina se eles crescem e veem o pai com a camisa do Eibar, você acha mesmo que eles não vão vir atrás de mim? Você acha mesmo que eles não vão ficar magoados quando verem que eu tenho um filho que exponho junto comigo na mídia enquanto os outros dois eu nem toco no assunto? — disse Syaoran, com lágrimas nos olhos. Goti abraçou-o com força e encostou a cabeça dele nos seus ombros.

— Que caia sobre mim essa maldição, Shorancito! O mesmo amor que concebeu meus filhos é o mesmo amor que eu tenho por você! Se eles te odiarem, eles também vão me odiar! — disse Gotzone, chorando também. 

— Ora, ora, não precisa tanto assim… — disse um senhor de cabelos finos e loiros, olhos azuis claros, como os da jogadora, abrindo a porta de vidro da varanda.

— Tio Koldo! O senhor chegou mais cedo! — disse Gotzone.

 

IV

 

Na cozinha, Gotzone serviu um copo de café para os dois e serviu uma xícara para si também. Ela se sentou na mesa e fechou uma portinhola para evitar que os meninos saíssem da sala e interrompesse a reunião dos três.

— Syaoran… você sabe muito bem que foi amaldiçoado pela Torre, não sabe? — disse Koldo.

— Eu nem fazia ideia o que era essa Torre Negra até vestir aquela luva… — respondeu Syaoran, olhando cabisbaixo para o copo de café.

— A Torre Negra foi a organização que enviou aquela luva para você, quando você lutou contra o dragão vermelho há oito anos atrás. Por mais que você tivesse jogado elas fora, a luva colocou o selo deles em você, nas suas espadas… — explicou Koldo.

— Como é que eu ia saber… — disse Syaoran. 

— Não tem como saber… Agora o que eu acho engraçado é que você teve um sonho com um homem loiro de olhos azuis… — questionou Koldo. 

— “Osaba” (tio), essa é a mesma descrição do Enric Miró, o Interventor da Catalunha de 300 anos atrás… a história diz que ele usava uma luva preta nas mãos. A gente nunca soube por que ele fez isso, mas… Têm trechos da história não oficial que fala que ele tentou pegar o escudo "lua cheia" da Galícia e a nossa espada "eguzki"… — disse Gotzone.

— Se ele realmente fez isso, faz sentido, as armas mágicas não o consideraram digno de usá-las e destruíram as mãos dele. E, também, parando para pensar do jeito que ele morreu… Eu não duvido que desde aquele tempo os Interventores da Catalunha tenham uma ligação com a Torre. — disse Koldo.

— Isso é, se não foram eles mesmos que criaram a Torre… — disse Gotzone.

— Eu não quero pensar nisso por enquanto, sobrinha, é absurdo demais a tese do Zigor… — disse Koldo.

— Por que vocês temem tanto essa torre? — perguntou Syaoran.

— A Torre é inimiga da Ordem há quase trezentos anos… Muita gente morreu nas mãos da Torre, inclusive interventores. A gente acha que ela é uma criação do ministério dos assuntos especiais pra deter a gente, mas nunca se sabe… É só uma suspeita… Zigor já pensa diferente, mas ele nunca se abriu comigo… — explicou Gotzone. 

— Então… Eles queriam me usar pra ter as cartas? Muito estranho, pois esse é o objetivo da Ordem… Pelo menos a Ordem que a gente conhece… — disse Syaoran. 

— É por isso que a gente pensa, ou melhor, o velho Zigor pensa, que metade da Ordem do Dragão é da torre agora! Usar você pra pegar as cartas pra Ordem é o mesmo que fazer isso pra Torre. — disse Koldo. Syaoran e Gotzone se assustaram. 

— O problema é o pergaminho que ele mostrou… O acordo foi com a Ordem, Osaba.

— Ou com o Enrico Miró… Era ele quem comandava a Ordem naquele tempo… — disse Koldo.

— Será que ele tá vivo até agora? Não é possível! — questionou Gotzone. — Sou mais pensar que os Interventoes da Catalunha continuaram o trabalho dele… 

De repente, a atenção dos três saiu daquela discussão para os dois rapazes que escalavam a portinhola da cozinha e diziam:

— Ama! Aita! — disse Inãki.

— Ama! Aita! — disse Iñigo.

Gotzone pulou da cadeira e correu para acudir os rapazes.

— Ai, minha Mari! Vocês vão se machucar! 

 

V

 

Gotzone pegou os meninos e foi brincar com eles nos jardins do casarão. Koldo e Syaoran olhavam ao longe a diversão deles. O chinês sorria melancolicamente. Koldo reparou e chamou a atenção dele:

— Syaoran, você tem uma bela família pra ficar com essa cara, não tem? 

— O problema é me explicar sobre essa família. Antes, na China, era comum um pai de família ter duas esposas, mas os tempos são outros… Eu não posso ter duas famílias… 

— Mas foi a única chance que a Goti achou para te salvar… Colocando um pouquinho do poder dela dentro de você, pra inibir o crescimento da semente que a Torre colocou em você…  

  — Às vezes eu me sinto enganado por ela… Só tinha um jeito só? 

— Aqui, em Euskadi, ser um pai, um Aita, é uma grande benção. E você foi pai de duas crianças! Apesar de você carregar essa maldição dentro de si, a maldição de ter usado aquela luva negra, sentir as dores que você sente e sonhar com os sussurros da Torre esmagando sua cabeça, não se culpe! Você era a pessoa mais próxima da neska (menina) Sakura que eles podiam ter arranjado na época… 

— Eu já sabia disso… 

— Mas pensa que eles acertaram? Eles erraram e erraram feio. Você é a pessoa com mais fibra e força de vontade que eu tive o prazer de conhecer… Pois, se fosse de outro jeito, você já teria sucumbido aos poderes deles… — disse Koldo, apertando amistosamente as mãos do chinês. Ele sorriu um pouco mais.  

— “Orain, goazen txikia jolas egin zure umeaekin?” — disse Koldo. (agora, vamos brincar um pouco com os seus meninos?) 

— “Ona, ona, goazen, goazen”… — repetiu Syaoran. (bom, bom, vamos, vamos)

Iñaki e Iñigo, os dois gêmeos de cabelos castanhos bagunçados como os do pai e olhos azuis como os da mãe, correram até a mesa e agarraram cada um a mão do jogador, chamando-o:

— “Aita! Goazen, Goazen!” (pai, vamos, vamos!)

 

Continua… 


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