O Sacrifício Doloroso escrita por Miss Siozo


Capítulo 5
Pânico


Notas iniciais do capítulo

Adiantei o dia da postagem! Não me aguentei, o capítulo estava escrito e só precisava ser revisado e eu fiz isso no final de semana. Aproveitando o espírito do 10 que eu recebi na primeira prova vou dar de presente esse capítulo adiantado.
Boa leitura!



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Estar em um lugar que as coisas ocorrem fora de seu controle, isso poderia ser chamado de vida real, mas, para Shun o mundo dos sonhos não era mais uma terra segura, acordado já tinha suas incertezas sobre o seu próprio autocontrole e ali tinha a certeza de que poderia esperar o pior do deus Hades. A paisagem de vegetação destruída parecia que foi vítima de uma grande queimada, podia observar restos de árvores, flores e a carcaça de animais. Aquela visão já deixava entristecido o santo de Andrômeda até avistar o deus dos mortos, ele tremia enquanto recebia o olhar imponente do deus que parecia divagar em seus próprios pensamentos.

— Até que não demorou muito – disse a voz grave – Eu esperava um pouco mais de ti cavaleiro – levantou-se da rocha que estava sentado – Venha para mais perto – chamou-o com o dedo indicador que movimentou o garoto para perto de si -Deixe-me ver como foi esse breve tempo em que não nos víamos – aproximou sua mão da fronte de Shun.

— O-o que vai fazer?

— Vasculhar suas memórias – disse como se fosse algo óbvio – Sua mente é fraca o suficiente para fazer essa tarefa parecer demasiadamente fácil.

— Não tens esse direito! – gritou enquanto se debatia – Isso é trapaça!

— Por acaso eu prometi que não vasculharia suas memórias enquanto dormes criança insolente? – o menor se calou – Então não é trapaça. Eu não sou mentiroso.

—Mas, não seria justo.

— Há tanta injustiça no mundo de vocês humanos tolos. Acabar com a humanidade traria paz ao planeta – olhou para a paisagem – Essa paisagem que vês parece uma parte de meu inferno, mas, é uma imagem de uma floresta real do mundo humano que sofreu uma queimada. Tu a viste em um noticiário humano antes de partir para a guerra e no mundo inferior recebemos inúmeras pessoas que foram afetadas por esse incêndio e morreram, culpados e inocentes. Terrível, não?

— Sim – foi a primeira vez que concordava abertamente com algo que o imperador do submundo dizia – Mas, por favor, não vasculhe minha mente, saber meus passos não deixará essa disputa justa e por mais injustiça que haja no mundo, e isso fere-me profundamente, não devemos nos igualar com quem as pratica.

— Apenas com tua morte se livrarás de mim criança tola, eu já havia dito isso antes e ainda não aprendeste – disse em tom de reprovação – Saber o que fazes não interferirá em nada os meus planos e limitações. Será apenas uma diversão extra saber como estão sendo suas débeis tentativas -riu-se – Mostre-me esses últimos dias menino assustado.

Uma luz brilhou e em pouco tempo o imperador do submundo conseguiu ver através da mente de Shun. A invasão as memórias do cavaleiro não haviam sido feitas de forma nada cuidadosa e agressiva, o pequeno se sentia enjoado e nauseado, aquilo para ele era como reviver o que havia passado, as sensações dolorosas e o remorso que ainda sente em seu peito. Hades apenas ria ao ver as inusitadas tentativas do menor para ficar acordado, quanto a pesquisa ele ficou entediado com aquilo que os humanos escreveram sobre os deuses e avançou um pouco as lembranças para ver se capitava algo interessante, apenas o livro budista poderia ser um empecilho caso sua criança insolente conseguisse o autocontrole a partir desses ensinamentos e aquilo o irritou. Quando que Ikki foi o motivo de fazer Andromeda ser entregue em uma bandeja de prata em seu atual domínio não deixou de rir outra vez.

“Se os amigos desse menino ficarem preocupados, eles não o deixarão sozinho tão facilmente, não seriam negligentes” – pensava – “Ele precisa voltar logo para o meu domínio e os cavaleiros tolos hão ajudar-me sem que ao menos percebam”.

— Acho que já vi tudo – com o dedo fez o cavaleiro cair no chão – Foi realmente divertido ver-te em suas inúteis tentativas para no final seu querido irmão mais velho mandá-lo direto a mim.   

— Ele...não sabia... -apoiava-se nos joelhos tentando se levantar – Ninguém...sabe... – como poderia ser possível aquelas sensações serem tão reais em um pesadelo – Por que... eu sinto... tanta dor? Não são...pesadelos?

— Isso faz-me pensar no que fariam caso descobrissem que tu me ocultas de todos, não é possível remover-me sem que tu morras – caminhava tranquilamente a rondar sua presa – Este não é um sonho comum, estamos em tua mente criança e a dor que sentes é seu espírito a ser lentamente destruído.

— Meu... espírito? – abraçava seu próprio corpo enquanto tentava se manter de pé.

— Sim e quanto mais danificado nunca mais terias chances de retornar a ser quem eras caso eu resolvesse deixá-lo em paz, o que claramente não o farei, isso faz-me recordar de que quanto mais danificado menor será o controle que terás sobre si mesmo – passou a mão pelos próprios cabelos negros – Estou com dúvidas de qual parte do inferno serás atormentado hoje – fechou os olhos levitando enquanto a paisagem se transformava – O segundo vale da sexta prisão combinaria com a condição de violento suicida que estás a tornar-se – o cavaleiro estava sendo transformado numa árvore sombria quando Hades parou na metade – Porém seria demasiadamente tedioso, o primeiro vale do rio flegetonte da sexta prisão seria bem mais interessante – estalou os dedos mudando a paisagem – Bem melhor – disse ao ver o menino se debater e gritar em meio ao sangue escaldante – Se bem que o Cocyto da oitava prisão seria mais adequado por ter se rebelado contra um deus, teu dono – estalou os dedos – De um extremo calor ao extremo frio, qual preferes criança?

— Eu...vou...acordar- sussurrava o cavaleiro tremendo de frio – Todos... estão... bem...não posso...esquecer – entoava como um mantra de fé.

— És demasiadamente irritante tua atitude – desdenhou do cavaleiro coberto de gelo até o pescoço – Estás aqui a sofrer algumas das piores torturas de meu inferno e ainda pensas naqueles inúteis? A paz deles estão com os dias contados.

— Com a... minha morte...a dor passará... com o tempo – esforçava-se para conseguir falar – Eles disfrutarão da paz...após o luto... eu sei.

— Antes de morrer o teu descontrole levará danos a todos, talvez mates algum companheiro por acidente – plantava suas sementes de incerteza e temor no coração do jovem – Tu retornarás e chorarás tua culpa como a criança assassina que és. Vejo que não há punição maior a ti do que machucar e matar pessoas, de ver o sofrimento delas – estalou os dedos e desfez o inferno congelante – Quanto tempo manterás tua sanidade pequeno Shun?

...

Shun abriu os olhos ainda trêmulo, ele estava no quarto com Ikki e já era manhã. Sentia o seu coração pesar, procurou segurar seus sentimentos mais profundos para não preocupar ninguém. Quando se dirigiu ao café da manhã notou alguns olhares estranhos sobre si e ficou preocupado, até mesmo Seiya não estava lá tagarelando como sempre fazia. Saori pediu para que ele fosse até o jardim após o dejejum e assim ele o fez.

— Senhorita Saori – fez uma reverência educada a deusa.

— Quando pretendia contar-me a verdade? – foi direta – Melhor dizendo, quando voltou a controlar o meu cavaleiro tio Hades?

— Eu não sou Hades – seu tom denunciava preocupação – Sou o Shun, seu cavaleiro.

— Esse cosmo esquisito desde o hospital, eu sinto o meu tio em você – materializou seu báculo de deusa – Não minta para mim, ele está aí? Não está?

— Ele está – confessou – De uma forma diferente, mas, está – ajoelhou-se – Se puder me ajudar mais uma vez terás minha eterna gratidão. Eu tentei resolver sozinho para não os preocupar, mas, foi inútil – falava entre lágrimas, aquele sentimento de vergonha perante sua deusa o sufocava.

— Não sei se seria possível e ainda sim escondeste algo grave – apontou o báculo para o cavaleiro – Poderia ferir os outros e esconder algo assim de mim é considerado uma traição grave.

— Eu compreendo – abaixou a cabeça – Não sou digno de pedir tua misericórdia. Aceitarei minha punição sem resistir.

“Tolo! Eu disse que não aceitaria que fosse tão rápido e fácil” – a voz de Hades ecoou em sua mente – “Meu desejo é que tu tires tua própria vida, não quero que minha sobrinha tenha que ceifá-la. Eu avisei-te que resistiria”.

— Não! Por favor, permita que isso acabe – o cavaleiro de Andrômeda pôs a mãos na cabeça que doía – Athena! Por teu amor, acabe logo com minha vida, não sei quanto tempo aguentarei segurar!

Os outros cavaleiros sentiram a mudança no cosmo do companheiro e de Athena e seguiram para o jardim. Inicialmente estavam relutantes em atacá-lo, tentando apenas neutralizar a ameaça que o cavaleiro de bronze mais novo havia se tornado.

— Estamos exatamente onde quero – a voz forte de Hades se fez presente emitida por Shun – Se esse fraco não consegue seguir minhas ordens e entregou-se a ti Athena, não há outra escolha a não ser levar o máximo de seus cavaleiros ao mundo dos mortos – emitiu seu ataque utilizando apenas o olhar -Morram!

...

 O jovem virginiano levantou-se da cama sobressaltado sendo acompanhado de seu irmão com que dividira a cama aquela noite. Sua consciência parecia não ter acompanhado a rapidez do despertar de seu corpo. Ele não conseguia conter toda a dor e desespero que sentiu em relação ao que viveu em seu inconsciente. Shun chorava muito e alto, não conseguiu disfarçar aqueles sentimentos avassaladores. Ele sentia o sangue do flegetonte e de seus companheiros tocar-lhe a pele, que parecia real demais para o jovem que alucinava, então começou involuntariamente a esfregar seus braços e pescoço a fim de debilmente limpar-se daquela sensação. Ikki estava preocupado, seu irmão estava num estado semiconsciente e se machucava.

— Shun! Acorde! – tentava segurar os braços do menor que fazia muita força para continuar – Eu estou aqui, vai ficar tudo bem meu irmão.

— “Eu não quero mais lutar. Largo minha arma e proteção. Antes que haja um novo conflito. Não aguento mais ouvir os gritos e ver o sangue e miséria toda vez que fecho os olhos” – ele entoava novamente entre lágrimas aquilo que parecia um poema fúnebre de despedida – “Eles me chamam de santo. Mas não pude ser sempre misericordioso”.

— O que está dizendo? Eu não entendo.

— “(...) Não quero ser um santo temido ou amado. Não desejo ser louvado em meio a desgraça”.

— Pare de se ferir e falar bobagens sem sentidos – deu um tapa no irmão que acordou do estado de transe – Me desculpe... eu precisei fazer aquilo para te acordar.

— Ikki...- chamou o mais velho com sua voz doce e chorosa – Obrigado... por estar... aqui – abraçou-o entre lágrimas com a respiração acelerada.

— Tente se acalmar, respire com calma – disse como se fosse um lembrete a si mesmo também – Faça junto comigo – o mais novo observava o irmão – Inspire... solte...inspire...segure um pouco...solte... – ficaram assim por alguns minutos até a respiração do jovem de cabelos verdes acalmar.

O cavaleiro de Fênix não decidiu perguntar mais nada, apenas ofereceu seu abraço para acalentar o menor. Aquele era um momento de confortar e não fazer questionamentos, o cavaleiro conversaria com os médicos que atenderam seu irmão para saber de seu estado de saúde. A pele dos braços e pescoço, antes alvas, ficaram vermelhas com os arranhões feitos de forma selvagem.

Shun estava agora sentado encolhido nos braços do irmão, seus olhos estavam fechados, mas, sua mente estava bem ativa processando tudo o que viu. As torturas do mundo de Hades nada se comparavam a última cena que viu antes de acordar. Athena e os seus amigos cavaleiros contra si e Hades o usando para destruir a todos, aquilo foi mais doloroso e aterrorizante a sua alma. Ele entendeu o aviso do deus e suas esperanças de conseguir se recuperar junto aos seus companheiros estava a minar. O deus do submundo estava certo ao dizer que a alma do cavaleiro estava sendo deteriorada. Os olhos que atravessaram o submundo envoltos de esperança e fé estavam perdendo o seu puro brilho natural.

...


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Notas finais do capítulo

Deixo aqui o agradecimento ao apoio que tenho recebido nessa fanfic (spirit), vocês me inspiram a querer escrever mais e mais.
Hades apelou muito no final, dói mais na alma de Shun ferir os outros (seus amigos) do que toda a tortura infernal que o deus o proporcionara.
No próximo capítulo chamado "Tentativas pt.1" veremos um Ikki bem preocupado e a Saori finalmente tomando uma atitude.
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Notas: A crise de ansiedade que Shun teve no capítulo me baseei nas informações desse site. Por mais que eu já tenha vivenciado esse tipo de situação é difícil pôr em palavras algo que você não consegue nem racionalizar em palavras depois que sentiu.
https://www.minhavida.com.br/saude/temas/ansiedade



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