O Sacrifício Doloroso escrita por Miss Siozo


Capítulo 13
Sopro de Vida (season finale – parte 2)


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal! Cheguei mais cedo do que eu esperava com essa parte 2, vamos dizer que é um presentinho de Natal. Sei da ansiedade em saber o que acontece no final. Sem mais delongas, boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/781389/chapter/13

Athena e seus cavaleiros chegaram a Grécia no final da tarde e foram recepcionados por um pequeno grupo de cavaleiros. Shun já estava acordado e pensativo sobre a conversa do sonho, sua cadeira de rodas era empurrada por Ikki, já que um certo cavaleiro de Pégaso foi impedido por querer enfiar o rapaz em uma corrida perigosa. Hyoga e Shiryu tentavam ser mais pacientes para conseguir conversar melhor com o amigo cuja mente divagava sobre a morte.

“O que será de mim quando eu chegar ao submundo outra vez?” – pensava – “Hades se não foi completamente destruído por certo ainda está com raiva do que fiz, lançaria a minha alma ao Tártaro ou ao Cocyto” – teve um calafrio só de pensar na ideia – “Eu realmente preciso aproveitar esse tempo como aquele senhor do sonho me disse, pelo menos guardarei essas lembranças para me consolar enquanto for torturado no inferno” – uma lágrima teimosa caiu e não passou despercebida por Hyoga que caminhava ao seu lado.

— Está tudo bem Shun?

— Eu estou sim Hyoga – deu um sorriso ao amigo para disfarçar – Quero aproveitar bem o final desse dia, já que amanhã não teremos tanto tempo juntos.

— Alegra-me muito vê-lo bem-disposto assim após o coma – falava o libriano – Mesmo assim acho melhor irmos devagar, ainda precisa se recuperar.

— Eu preciso recuperar o tempo que perdi, nada melhor do que sentarmos em volta de uma fogueira sob o céu estrelado – sugeriu em tom urgente – Por favor, meus amigos, não é um pedido complicado. Não pedi para fazermos um triatlo pela Grécia – brincou.

— ‘Tô vendo que o nosso amigo acordou com a corda toda – disse o sagitariano – É esse o espírito! Pelo visto os outros ainda estão molengas da viagem.

— Molenga vai ficar sua cabeça oca Seiya! – Ikki acomodou Shun dentro do carro – Não alimente as minhocas da cabeça do meu irmão, ele está se recuperando e...

— Não são minhocas Ikki – resmungou o menor – Eu preciso ter esse tempo com vocês – o mais velho sentiu a angustia por trás do tom doce nas palavras do caçula – Por favor.

— Tudo bem, acho que até pode ser bom para a sua recuperação – sentou lado do irmão após colocar a cadeira de rodas no porta malas do carro – Você ficará na cadeira de rodas e não poderá se esforçar muito, entendido? -já estava rendido aos caprichos do caçula.

— Está bem meu irmão, eu prometo! – sorria por ver seu pedido ser atendido – Só teremos essa noite para aproveitar antes do ritual.

— Então Saori já contou tudo para você?

— Acredito que não contou tudo – viu Hyoga se acomodar no banco da frente – Acho que pela manhã já iniciarão com os preparativos.

— Eu não acho que isso seja certo – comentou o aquariano – Você acabou de despertar de um coma difícil e ainda está fraco, mal se aguenta em pé, deveríamos ter mais tempo.

— Não há mais tempo – lembrou-se do ancião – Nossa deusa tem os motivos dela e eu sinto o meu cosmo forte, não é isso que importa? Nós não vamos lutar em uma guerra... – Fênix e Cisne trocaram olhares preocupados que passaram despercebidos por Andrômeda que sentia as dores de cabeça novamente e viu uma imagem horrível passar como um flash de câmera.

— Ei Shun, o que houve?

— Só um pouco de dor de cabeça e um breve enjoo, já passou, deve ser a “jet lag” * pela viagem longa – não sabia se o que disse era uma mentira completa, afinal para quem mal despertou de um coma e fez uma viagem internacional isso é mais do que compreensível, mas, tinha a questão de que sua alma estava morrendo como soubera pelo sonho que teve – Não se preocupem, vamos aproveitar bem essa noite.

— Pode ser qualquer outra noite meu amigo, após o ritual você vai descansar e quando tiver condições comemoraremos sem hora para acabar – tentava animar o amigo que parecia estar divagando outra vez – Descanse mais um pouco hoje.

— Eu não posso – apertava suas mãos para conter seu próprio nervosismo – Melhor, eu não quero outra noite, precisa ser essa.

— Ok, depois de tanta insistência, não tenho como convencê-lo mesmo – Hyoga se rendeu também ao pedido do mais novo – Alguma razão especial para ser hoje?

— Intuição – procurou ser breve e voltou sua atenção para a paisagem pela janela.

— As suas intuições às vezes me assustam, sabia? – o aquariano falou em um tom mais descontraído para não deixar o amigo mais ansioso do que estava – O pangaré que vai adorar uma festinha em volta da fogueira.

— Será divertido, não tem como não rir com o Seiya – riu ao lembrar do irmão de armas – Não há nada com que se preocupar por hora Hyoga, desejo que essa noite se torne memorável e quanto ao amanhã ninguém sabe, precisamos ter fé que tudo ocorrerá bem – e ele desejava de todo coração isso.

— Meu irmão voltou enigmático após o coma. É claro que dará tudo certo! Eu tenho fé em Athena, e principalmente em você – envolvia o seu braço ao redor do caçula em um meio abraço zeloso – Avisaremos aos outros e você vai descansar mais um pouco para estar bem-disposto para a festinha.

— Não queria que fizessem tudo por mim, mas, sei que não estou em condições de protestar, não é mesmo?

— Sem dúvidas – respondeu o loiro – Dessa vez não vai adiantar ser teimoso Shun.

...

Em pouco tempo já estavam no santuário, os cavaleiros e a deusa foram para suas instalações primeiramente para depois realizarem o pedido do amigo. Seiya reencontrou a irmã mais velha Seika, os irmãos estavam muito felizes e aproveitariam bem a festa idealizada por Shun para comemorarem bastante esse reencontro. Eles tiveram a ajuda de Kiki para comprar as comidas e bebidas, por já conhecerem bem a Grécia realizaram essa tarefa. Ikki e Hyoga cuidaram da organização do lugar, precisava ser acessível para que o cavaleiro de andrômeda pudesse se locomover bem com a cadeira de rodas. Hyoga armou a fogueira e Ikki a acendeu. Shiryu e Jabu foram cuidar da música, não demorou para conseguirem um rádio, o problema estava no gosto musical, o libriano queria por músicas calmas pensando em seu amigo que está em processo de recuperação, já o escorpiano quer músicas para “levantar defunto” ao colocar uma das fitas do Michael Jackson. Então Shun sugeriu ter um pouco de cada e que o Seiya tocasse um pouco de violão do jeito que ele fazia quando não tinham a preocupação de serem guerreiros em sua época no orfanato.

— Está se divertindo meu amigo? – Saori sentou-se na cadeira que estava ao lado de Shun.

— Estou sim, sou muito grato por tudo o que fizeram por mim – o virginiano sorria em meio ao clima descontraído – Apesar de estar nessa cadeira de rodas, essa foi uma das noites mais felizes que eu tive em minha vida.

— Com tudo o que passamos eu não tenho como duvidar de suas palavras – a jovem deusa pensava em todo sofrimento que tiveram que passar, principalmente seus cavaleiros – Está se sentindo melhor? Recordou-se de algo?

— Apenas uma dor de cabeça incômoda, mas, que não tarda a passar – confessou – Mas, pode contar comigo para amanhã. Já me sinto melhor de minhas forças, estou nessa cadeira por insistência do médico e do meu irmão que usou como condição para ter essa pequena festa – queria passar otimismo para sua deusa, mesmo tendo consciência de seu fatídico destino – Não me lembro de nada, continuo a ver algumas imagens sem sentido quando tenho as dores de cabeça, só que não tem nada que eu consiga conectar, sabe?

— Amanhã cedo começaremos com os preparativos, preciso que esteja realmente bem para fazer isso – tocou a mão do cavaleiro – Posso te ajudar com essas imagens na hora que formos meditar juntos, combinado? – o virginiano anuiu – Ótimo! Vamos aproveitar antes que haja outra discussão por causa de música.

— Acho que já começou – apontou para o centro – O Seiya quer cantar.

— E isso é ruim?

— Ele é um pouco desafinado.

— Um pouco?! Pior do que ouvir os roncos dele é ouvi-lo cantar – disse Hyoga que passava próximo e ouvia a conversa – Vou congelar aquela matraca antes que meus tímpanos sejam destruídos! – o comentário do aquariano fez com que os dois virginianos caíssem no riso.

— Vocês são muito divertidos, foi uma pena não ter conhecido esse lado de vocês antes – ela sorria, mas, carregava culpa em seu olhar e o cavaleiro de andrômeda percebeu isso.

— Nós vivemos para sermos seus cavaleiros e o fardo é grande, todos sabemos disso, cada um aqui tinha uma motivação diferente e nossos destinos se entrelaçaram – olhou para o céu limpo e estrelado que foram abençoados de ter aquela noite – Saori, você não tem culpa de ser Athena, você foi agraciada para uma missão importantíssima e seu fardo é mais pesado do que o nosso – voltou seu olhar para a deusa – Então o que custa dividir um pouco? Momentos como esse serão mais frequentes nos tempos de paz que os aguarda.

— Obrigado pelas palavras meu amigo mais doce – levantou-se para abraçá-lo e segurando as lágrimas em seus olhos se despediu – Eu preciso ir, tenham uma boa festa – corria para seu quarto no décimo terceiro templo.

Shun questionava-se se havia se excedido em suas palavras para com a deusa. Ele foi sincero como a moça esperava há algumas semanas, então por que ambos se sentiam tão afetados? Saori não conseguiu ver o olhar do cavaleiro, pois estava escuro e ele contemplava o céu enquanto falava, apenas por sua voz percebia que o seu amigo sentia que seu final se aproximava e tentava confortar seu coração. O que diferenciava os dois virginianos no momento era a pequena luz de esperança que Shun carregava consigo apesar do destino parecer jogar contra si, enquanto Saori teve as esperanças minadas por seu tio e esperava que a bela alma de seu gentil cavaleiro fosse levada aos Elísios após completado o ritual.

— Ei Shun! Já está com sono?

— Estou sim Seiya, eu acho melhor ir dormir já que amanhã o dia promete ser longo – bocejou levemente – Obrigado por tudo o que fizeram por mim, essa festa em volta da fogueira foi maravilhosa!

— Não há de que meu amigo – deu uma tapinha de leve nas costas de seu companheiro – Isso que foi um improviso, a festa maior será dada depois de amanhã – o sagitariano falava empolgado – Quer que eu te leve para o alojamento?

— N-não precisa se incomodar com isso, o meu irmão já ficou de me levar – estava preocupado com o que o amigo estabanado poderia fazer – Vou ficar mais um pouquinho, quero aproveitar o máximo que eu puder.

— Então sacuda o esqueleto que eu vou pedir para o Jabu colocar uma música animada para a gente!

— Melhor não, já está ficando tarde e não queremos incomodar ninguém. As amazonas de prata e os cavaleiros sem patentes estão gentilmente fazendo a guarda, seria bom levar um pouco dos comes e bebes para eles, não é?

— Você pensa realmente em todo mundo – bagunçou o cabelo do Amamiya mais novo – Eu e Shiryu podemos cuidar disso. O Ikki te leva e deixamos a bagunça para o Jabu e o Pato limparem já que os outros foram embora antes para escaparem dessa parte – ria.

— Você é mesmo incorrigível Seiya – o virginiano não conseguiria brigar com o amigo – Por favor, ajude-os depois, eu o faria se tivesse condições, mas, não levo jeito com essa cadeira de rodas... – sentiu uma leve vertigem e o Pégaso percebeu.

— Acho melhor chamar o seu irmão – o cavaleiro amparou o outro com o máximo de cuidado que conseguia ter – Ô Ikki! Vem aqui!

— Espero que não seja outra piada sem graça pangaré! – se aproximou e o viu com o irmão – O que aconteceu aqui? – perguntou preocupado.

— Eu só estou um pouco indisposto, acho melhor ir dormir para recuperar as minhas energias – tranquilizava o irmão – Seiya se ofereceu para me levar, mas, eu disse que nós vamos juntos, certo?

— Claro que eu vou te levar! Com o pangaré você iria se acidentar feio – Seiya iria protestar, mas, o leonino continuou – Vamos lá, espero que tenha se divertido – saiu com o irmão ignorando a presença de Pégaso.

— Obrigado Seiya! Boa noite! – Shun olhava para trás acenando – Sair desse jeito não é educado meu irmão.

— E deixar de responder a minha pergunta também não é educado – rebateu – Você está bem? Se divertiu? Seja sincero.

— Eu me diverti muito, só estou cansado e isso é perfeitamente normal – chegavam ao alojamento – Se quiser voltar para a festa pode ir.

— Eu não vou te deixar sozinho – ajudou o caçula a trocar suas roupas – Também estou cansado.

— Deita do meu lado na cama igual quando éramos crianças? – os olhos verdes pidões foram irresistíveis para o leonino.

— Você ainda é uma criança – sorriu – Chega pra lá – se ajeitou – Boa noite Shun – fazia um cafuné nos cabelos do irmãozinho.

— Boa noite Ikki – naquele momento poderia se sentir como um menino, apenas um menino comum e estava feliz por isso.

...

Já havia amanhecido e o Amamiya mais novo já estava acordado e tentava se desvencilhar dos braços do irmão zeloso, apesar do pouco espaço na cama, Shun estava feliz de ter esse contato com Ikki e seu sorriso morria aos poucos em seus lábios ao pensar no desafio que o aguardava. O cavaleiro da constelação de andrômeda passaria por mais um sacrifício e é uma tarefa difícil se manter otimista quando se depende de um milagre para sobreviver. Shun levou a sério as palavras do ancião do sonho, ele estava consternado, havia chorado consigo e consolado sua dor.

— Ikki... – chamou-o baixinho – Não queria te incomodar, mas, preciso que me dê licença. Eu não posso me atrasar.

— Mais dez minutinhos não farão diferença... – resmungava o leonino ainda de olhos fechados – Acredito que Saori não se incomodará com isso, ela sabe o quanto esperei por um momento desses...

— Ai meu irmão, vou ficar mais um pouco então – disse rendido a vontade do mais velho e não poderia dizer que era diferente da sua também – Terei que me arrumar mais depressa para compensar.

— Não precisa ser sempre certinho o tempo todo, relaxe – com a mão livre Ikki fazia um cafuné maravilhoso nos cabelos esverdeados do mais novo – O dia será longo e cansativo. Eu não concordo com o que farão hoje, ainda acho cedo demais para te exigirem tanto.

— Ok, eu não vou correr – começou a sentir seu coração pesar pela culpa do que estava por fazer – Quanto ao que farei hoje não está mais em discussão, eu sinto o meu cosmo forte e sei que conseguirei cumprir com a minha missão – falava com o máximo de confiança que conseguia.

— E eu já disse que confio em você pirralho – esboçava um sorriso – É você que precisa confiar mais em si mesmo, seus olhos contradizem suas palavras.

— Só me abraça forte mais um pouco? – apertou-se mais no abraço escondendo o seu rosto contra o peito do irmão – Eu te amo muito meu irmão, não se esqueça disso.

— Eu também te amo muito – Ikki não costumava dar esse tipo de declaração em palavras, o seu cuidado com o caçula já era sua forma de falar “eu te amo”, mas, dessa vez sentiu que precisava falar – Está chorando? – sentia sua camisa ficar molhada – Não importa o quanto reclame, sempre será o meu pequeno – deu um breve riso para descontrair aquele momento que havia se tornado emocional demais para o gosto do leonino.

Passados alguns minutos Shun estava mais calmo, pôr para fora parte da tempestade de seu coração o fizera bem. Suas pernas estavam respondendo melhor e ele aproveitou para realizar as coisas simples como ir ao banheiro sozinho e arrumar-se sem ajuda. O virginiano estava satisfeito por sentir-se mais independente, porém seu irmão insistiu em leva-lo para o décimo terceiro templo depois de comerem o dejejum no refeitório. Quando chegaram os cochichos entre os cavaleiros cessaram. Hyoga, Shiryu e Seiya não estavam lá, Shun não saberia o que foi dito porque iria se preparar para o ritual e o cavaleiro de fênix apuraria a história para se fosse o caso defender a honra de sua família.

Passado o silencioso dejejum os cavaleiros irmãos rumaram até o local de encontro. As pernas de Shun começaram a fraquejar ainda na segunda casa e por mais que o irmão mais velho insistisse para que eles retornassem ao alojamento, o caçula insistiu que precisaria cumprir com o seu dever e então Ikki o carregava nas costas. As dores de cabeça de Shun se intensificaram após a passagem da sexta casa. O cavaleiro viu flashes de seu desespero dentro do hospital quando tentava se manter acordado.

— Shun...Shun! – chamava o irmão – Já chega! Vamos dar meia volta! – disse visivelmente nervoso – Não posso permitir que vá nesse estado.

— Ikki, por favor, me ponha no chão... – em meio a dor de cabeça o virginiano procurou se concentrar na posição de lotus – Um muro... – sussurrou – “Preciso pensar em um enorme muro para que eu não veja o outro lado para que eu não desvie de meu dever” – meditava.

— Acho que já deu o tempo de você tomar um ar para irmos embora – já iria pegar o irmão no colo quando Kiki surgiu entre eles.

— Oi Shun! Oi Ikki! – disse o ruivinho sorridente – Está tudo bem aqui?

— Não muito, vamos voltar para o alojamento. O que faz aqui pirralho?

— Não seja grosseiro com ele Ikki – Shun se levantou com certa dificuldade – Oi Kiki! Eu já estou melhor, obrigado. Por favor, diga-nos o que está fazendo aqui.

— A deusa me chamou pelo cosmo e me pediu para vir buscá-lo com o meu teletransporte. Parece que ela estava certa afinal.

— Foi uma breve indisposição, ela vem e passa rápido – tentou acalmá-los – Então vamos?

— Ainda acho melhor você não ir.

— Eu vou ficar bem Ikki – não conseguia dizer isso olhando o mais velho nos olhos – Cumprirei com o meu dever – abraçou-o forte deixando algumas lágrimas escaparem – Adeus. Vamos logo Kiki, por favor.

— É pra já! – segurou a mão de Shun e se teletransportaram para o décimo terceiro templo deixando Ikki para trás.

O cavaleiro de fênix estava furioso com a teimosia do irmão que mal havia se recuperado e se colocava em risco novamente. Ikki ainda se sentia em débito com o irmão pelo sofrimento que o fizera passar, por mais que Shun já tenha dito o quanto o ama e que isso não importava mais, o cavaleiro não se esquece de quando desejou matá-lo. Ele viu brevemente os olhos do caçula e isso o deixou inquieto, parecia que Shun sabia que algo ruim estava por vir e por mais que Ikki tenha brincado no dia anterior sobre o fato do irmão estar enigmático o mais velho estava incomodado.

— Aquele teimoso! – esbravejou – Por que ele tem tanta urgência em cumprir com essa porcaria de ritual? – começou a subir as escadas atrás de Shun – Será que aquele maldito do Hades voltou a fazer algo contra o meu irmão? – subia correndo com urgência – Será que... não! Não pode ser... – no ritmo que corria já estava em capricórnio – Ele não pode morrer!

— O que está acontecendo Ikki? Senti seu cosmo muito aflito – disse Marin que trocava a guarda na casa de peixes para auxiliar Athena com o ritual – Pare para respirar um pouco e nem tente me ignorar!

— Eu preciso ver o meu irmão! – disse visivelmente alterado- Deixe-me passar por bem, não tente me impedir.

— Eu senti seus cosmos juntos até a casa de virgem, nesse momento ele já começou a se preparar para o ritual e não pode ter distrações – continuou obstruindo a passagem de Fênix – Eu entendo a sua preocupação com Shun, mas, ele também é um cavaleiro como você e tem suas responsabilidades. Deixe-o crescer!

— Amazona de água, você não entende a situação – o leonino tentava se acalmar lembrando de como Shun falava sempre com ele sobre ser educado e gentil – Eu não teria corrido até aqui se não fosse importante. O teimoso do meu irmão sabe que algo ruim está para acontecer com ele e mesmo assim insiste em continuar.

— Essa é a sina de sua constelação guardiã que é Andrômeda – a pisciana disse com pesar – Por mais que doa a decisão é dele e não podemos impedir. Acredite em nossa deusa, ela pode impedir que o pior aconteça.

— Eu acho que ela também sabe. Eu a vi conversando com Shun ontem à noite na festa e sair de lá correndo apressada, se não estivesse escuro diria que chorava pelo cosmo aflito que senti brevemente – Ikki unia as peças desse mistério – Acredito que ela sabia antes mesmo dele despertar... – apertou os punhos furioso – Pela última vez vou lhe pedir com o que resta da minha educação Marin, por favor, deixe-me passar.

— Eu não posso deixá-lo passar Ikki – a amazona refletia sobre as informações – Eu preciso confiar neles e você também deveria fazer isso também. Eu sinto muito – a pisciana aproveitou da guarda baixa do cavaleiro para golpeá-lo com seus meteoros deixando-o inconsciente – Não posso deixar que os impeçam – chamou por ajuda com seu cosmo – “Preciso que me ajudem a conter o cavaleiro de fênix na casa de peixes”.

...

Shun sentia o cosmo de seu irmão aflito e aquilo mexia muito consigo, mas, não poderia deixar de fazer o que precisa fazer. Kiki havia desaparecido repentinamente de seu lado e Saori o recebera junto das servas do santuário. Primeiro teria que passar por uma purificação de ervas e sais em seu banho e seguiria para a meditação junto a deusa. Athena se recuperava das emoções geradas pela conversa da noite anterior com seu cavaleiro de bronze. Ela precisava estar centrada para conseguir cumprir com o ritual. Não muito tempo depois a jovem deusa já aguardava seu cavaleiro no salão para a meditação, ela o ajudaria com as questões que lhe foram relatadas na noite anterior.

— Estava o aguardando para começarmos a meditar – estendeu a mão para o cavaleiro a acompanhar – Aquelas dores de cabeça continuaram?

— Sim, mas, não será isso que me desviará de meu dever. Não precisa se incomodar – falava em mansidão – Vamos?

— Eu preciso de você bem, não precisa me esconder nada, sabes disso – ela o olhava com a compaixão de uma boa amiga, não uma deusa. Então sentou-se sobre uma almofada – Segure em minhas mãos -pediu.

— Eu sinto que meu tempo está acabando – confessou o que deixava o seu coração pesado e isso deixou a deusa em choque – Então desejo ser-lhe útil pela última vez – não queria ter mais segredos para com sua deusa.

— Shun... – ela estava a chorar – Lembrou-se de tudo o que aconteceu? – questionou-o.

— Então aquilo foi mesmo real? – suas mãos ficaram trêmulas – Eu vi algumas coisas horríveis durante as minhas dores de cabeça – deixou-se cair em lágrimas também – Então você já sabia?

— Infelizmente sim meu amigo – ela saiu de sua posição e se ajoelhou para abraçá-lo – Por isso que ontem foi tão difícil ficar na festa. Eu acho que nunca conseguirei perdoar meu tio Hades...

— Foi ele? – sua respiração começou a ficar pesada e estacada – Eu... – sentiu uma pontada em sua cabeça – Me desculpe... – urrava de dor.

— Não se desculpe, apenas tente se acalmar – deitou a cabeça de Shun na almofada e emanava seu cosmo para ajudá-lo – Eu que preciso te pedir perdão – o virginiano parecia entrar em colapso, suas mãos estavam sobre a cabeça e se contorcia em meio a dor – Acabei dizendo o que eu não devia.

As dores foram aliviadas aos poucos pelo cosmo da deusa e o cavaleiro de andrômeda acabou adormecido em meio ao cansaço. Quem não gostou nada disso foi Hades que estranhou aquele sono repentino de Shun. Ele havia decidido não interferir até que chegasse o momento certo, tanto que na noite anterior deixou o menino sonhar e não apareceu para ele, apenas conversou com sua esposa as escondidas e estava um pouco mais otimista quanto ao destino do cavaleiro. Dessa vez o virginiano não veio como uma criança pequena que brincava feliz revivendo suas memórias mais remotas, ele estava deitado em um solo infértil de uma paisagem sombria e carregava feridas em seu corpo espiritual, o jovem definhava novamente.

O deus do submundo pensou que pudesse ser a “melhora da morte” que encerrava o seu efeito, mas, sua intuição apontava para que tivesse sido alguma perturbação ou emoção forte que tivesse causado essa piora repentina, exatamente o que havia falado para que sua sobrinha tentasse evitar. Hades precisava verificar o que acontecia, mas, precisava deixar a alma do menino, que abriu seus olhos para algo que negava, protegida e assim o fez.

— O que acontecera aqui? – disse o deus ao despertar no corpo do cavaleiro – Athena?

— Vejo que retornou Hades – havia percebido quem se comunicava com ela pelo tom de voz e a presença do cosmo– Como está o Shun? Por que retornou tão cedo?

— Acredito que tenhas sido tu a causar a perturbação nos sentimentos de teu cavaleiro. Como acreditas que ele está? Em frangalhos novamente! – Hades ainda estava se acostumando a conduzir aquele corpo novamente, estava menos debilitado graças ao recurso que utilizara – Retornei para saber o que houve e de certa forma para conseguir preservá-lo mais um pouco.

— Shun já estava aflito e eu lamento por ter ajudado a confirmar os seus anseios – a jovem deusa enxugava suas lágrimas – Eu tenho perguntas para fazer ao senhor.

— Então faça-as – sua voz soava cortante e gélida, completamente diferente da doce e gentil do cavaleiro, estava visivelmente com raiva da deusa por colocar as chances do plano de Perséfone abaixo.

— Ele não se lembrava de nada, estava bem até pouco tempo atrás, apesar das dores de cabeça. O que fizestes com ele? – estava preocupada.

— Eu temia que não tivéssemos mais tempo para cumprir com o ritual, já que demoraram a tirar-nos daquele hospital – levantou-se para movimentar-se um pouco pelo salão – A alma de Shun estava aflita demais, então deixei que pedisse algo que estivesse dentro do meu alcance para realizar.

— E o que ele pediu?

— Pediu para se despedir das pessoas amadas – apertou os punhos ao se lembrar da conversa – Dei-lhe então a “melhora da morte” e nosso tempo está acabando. Perséfone conseguiu contatar-me ontem pelos sonhos e disse que havia encontrado uma solução para o ritual, mas, minha estimada sobrinha - falou com ironia – ajudou a colocar tudo a perder.

— Então ele está realmente com os dias contados – Saori já havia perdido sua postura imponente de deusa com aquelas informações – Shun...

— Horas contadas – corrigiu a informação – Acredito que com o choque, o tempo do seu cavaleiro deve ter se reduzido em algumas horas. Farei ao máximo para suportarmos até o ritual terminar. Ele deve estar a recordar-se de tudo no íntimo de sua alma – o deus do submundo estava triste e não queria admitir – Vamos continuar com a preparação de nossos cosmos para o ritual, não digo apenas pelas vantagens que teremos, devemos isso a ele.

— Eu concordo – Athena realinhou sua postura para voltar a meditação – Sente-se para meditarmos – e o deus em seu receptáculo sentou-se em frente a sua sobrinha e deram as mãos – Posso vê-lo? – perguntou um pouco ansiosa – Posso emanar meu cosmo para ajudar a acalmá-lo.

— Por certo que sim – Hades concentrou-se – Veja criança, sua deusa está aqui. Sei o quão atordoado estás, mas, tente concentrar o seu cosmo com o meu para reconstruirmos o Submundo e o Santuário. A esperança de que tanto falavas a mim existe, continues a acreditar nela – falava com uma ternura desconhecida por Saori.

— Hades está certo, meu querido, ainda há esperança – emanava seu cosmo – Acredite em nós e em si mesmo. Essa dor há de acabar.

— “Obrigado” – a voz de Shun respondia a mente dos deuses – “Eu continuarei resistindo” – mesmo cansado não se dera por vencido.

...

Era chegada a hora do ritual e os deuses estavam preparados para receber Perséfone que se juntaria a eles. O receptáculo do deus dos mortos começava a dar os primeiros sinais de sua piora, mas, tanto o deus quanto o humano resistiam aos efeitos. Shun não queria ser um empecilho durante o ritual, mesmo que suas chances fossem mínimas, ele não queria comprometer o ritual, seria egoísta de sua parte e Hades entendia bem o que a alma do rapaz desejava.

O templo de Athena estava adornado para a recepção dos deuses, haviam dois vasos com flores de Giánkea, as lindas e pequenas flores roxas que crescem somente no Monte Olimpo, uma grande façanha que é pegá-las nessa época do ano para agradar a Perséfone. A decoração para o ritual estava ótima se fosse contar o pouco tempo hábil que tiveram para isso. Na parte interna Shiryu, Seiya e Hyoga faziam a guarda junto das amazonas de prata Marin e Shaina. A parte externa do templo estavam aos cuidados dos outros cavaleiros de bronze, com exceção de Ikki que havia sido teletransportado por Kiki para um ponto da Grécia mais distante do Santuário, o pequeno sabia que quando o cavaleiro de fênix acordasse ficaria furioso, o que de fato aconteceu.

O leonino acordou praguejando a todos que o atrapalharam de impedir seu irmão de fazer uma loucura. Ele se concentrou para rastrear o cosmo de Shun que estava misturado com o imperador do submundo, estava bem distante, mas, sentia aquele cosmo forte e isso era o sinal de que o ritual havia começado. Ikki então partiu, em velocidade sobre-humana para o Santuário.

Um canto começou a ser entoado por Athena e Hades a convocar Perséfone do mundo dos mortos e a imperatriz do submundo apareceu. Ela estava acompanhada de duas figuras femininas, a deusa Hecate e sua amiga fiel Mégara. Os presentes não esperavam aquelas presenças extras, nem Hades havia sido avisado sobre Hecate e estava igualmente surpreso.

— É ótimo recebe-la minha estimada esposa – estendeu sua mão para pegar a da deusa com delicadeza – Apenas não compreendo o que Hecate e Mégara estão a fazer aqui, então por favor, diga-nos.

— Está fazendo desfeita de minha presença imperador? – disse a deusa bruxa ofendida – Não estaríamos nesses extremos se não fosse por imaturidade sua e de Athena com essas guerras santas. Se estou aqui é porque tenho algo de importante para fazer, apenas.

— Não quero que discutam, por favor, não temos tempo para uma briga de família – a deusa da primavera tentava acalmar os ânimos dos deuses – É bom revê-la Saori – sorriu – Adorei a decoração, adoro as giánkeas, gostaria de aproveitar mais, mas, preciso retornar logo ao submundo.

— Compreendo minha irmã – sorriu de volta para ela – Então podemos começar pelo submundo.

Os deuses começaram a elevar seus cosmos, com exceção de Hecate que estava com os olhos atentos no receptáculo de Hades. Eles começaram pelo Submundo, as irmãs auxiliavam apenas com o cosmo enquanto o deus dos mortos era o verdadeiro engenheiro e arquiteto responsável pelo projeto, por mais que muito tivesse se mantido de forma igual, as deusas notaram diferenças importantes o que era a prova de como o cavaleiro de andrômeda conseguiu tocar o coração sem vida do imperador conhecido por ser impiedoso.

— Terminamos com o submundo... – a voz de Hades estava cansada, havia usado bastante de seu cosmo atrelado com o de Shun e sentia que começava a perder a alma do rapaz – “Continuar será perigoso para tua alma criança, tens certeza? Serás extinta antes mesmo que tentemos salvá-la” – falava com ele em seus pensamentos – “Compreendo tua escolha, faremos tua vontade” – respondia-lhe com pesar – Vamos com a segunda parte!

— Tem certeza meu tio? – o tom de Saori demonstrava que ela sabia que algo de errado estava acontecendo.

— Ele tem, se ele tem certeza eu assumirei como minha também – respondeu o deus que atraia mais olhares curiosos por suas palavras – Vamos! – os olhares cúmplices trocados com a esposa denotavam a real situação de seu estado e do cavaleiro, ela compreendeu que talvez não haja tempo.

Shun já havia doado uma quantia generosa de seu sangue e cosmo para a reconstrução do Submundo, com o estado lastimável que sua alma se encontrava mesmo acreditando na esperança estava cada vez mais deteriorada e seu corpo já mostrava as dificuldades em continuar, porém ele seguiu. O rastro do que havia restado das armaduras de ouro foram encontradas e do pó tomaram forma novamente, as doze haviam sido reconstruídas e abrilhantaram o templo ainda mais reluzentes do que todos ali se recordavam.

— Eles conseguiram! – Seiya falava empolgado para os seus companheiros – O que há de errado com vocês? Por que estão com essas caras?

— Você não percebeu, não é? – Shiryu apontou para onde os deuses estavam – Olhe para o Shun, ele... – não conseguia completar a frase.

— Não pode ser?! Ele está morrendo?! – o cavaleiro de Pégaso correu, mas, foi impedido de chegar mais próximo por causa da barreira feita pela deusa da bruxaria – Shun!!!

— Ele já sabia dos riscos Seiya – disse Marin com pesar – Era isso o que Ikki tentava impedir.

— Peço que os humanos se afastem se ainda desejam que o cavaleiro tenha chances – disse Hecate sem muita paciência – Hades, me permita ver a alma do rapaz.

— Qual é o seu interesse nisso? – tossia sangue já caído ao chão amparado por Perséfone – O que estão tramando?

— Eu disse que procuraria uma solução e ela está com Hecate, meu querido – ela fazia carinhos em sua face – Não seja orgulhoso agora... – a deusa foi interrompida por um barulho estrondoso no templo de Athena.

—Ikki? – Hyoga não poderia crer em como o leonino havia chegado tão rápido – O seu irmão...

—Eu percebi Hyoga. Esse teimoso! – apertou os punhos com força – Hades seu deus maldito, saia daí e me deixe falar com o meu irmão – ordenou.

— Esse cavaleiro é bem petulante – comentou Mégara – Senhora Hecate – chamou a deusa.

— O cavaleiro é insolente, mas, infelizmente nessa situação ele não está errado Mégara – suspirou – Hades, tu sabes bem que o garoto não dispõe de mais tempo, deixe-me ajudar.

— Está bem – ele fechou os olhos para chamá-lo – “Seus amigos querem ver-lhe pequeno cavaleiro”.

— “Eles estão chateados comigo...” – respondia a voz fraca em sua mente.

— “Hecate tem um plano para salvá-lo, por mais que não agrade a mim, eu desejo que tenhas a tua chance” – o deus dos mortos tentava convencer um humano a lutar pela vida – “Tente! Ou ao menos haja como um homem e despeça-se como um”.

Aquele minuto parecia ser uma eternidade aos presentes até Shun abrir seus olhos verdes que carregavam um brilho que se esvaía. Hecate agachou-se para avaliar o estado do cavaleiro amparado pelos braços de Perséfone enquanto os outros encaravam as ações da deusa com aflição.

— Ikki...- sua voz fraca chamou seu irmão – Me perdoe... me perdoem... meus amigos...

— Vá com calma rapaz, tua alma está por um fio de se arrebentar – a bruxa chamou Mégara com um gesto urgente – Traga aqui o que eu lhe pedi, será como um tiro no escuro, mas, não vou desistir agora.

— Sim senhora – a serva grega se aproximou com um pequeno embrulho nas mãos – Foi difícil, mas, encontrei – entregou a deusa.

A deusa retirou de suas vestes um cantil e abriu o embrulho que continha uma mecha de cabelo verde. Hecate colocou a mecha dentro do cantil e usava seu cosmo enquanto entoava em uma língua antiga o seguinte: “Restaura a alma, sopres a vida, repara a pureza e retorne o brilho”, e assim repetiu algumas vezes até dar de beber ao cavaleiro de andrômeda.

— Não temas criança, apenas beba – inclinou o cantil e Shun sentiu o líquido descer por sua garganta – Isso... beba até o final!

— Hecate, esse brilho vindo de Shun o que é? – perguntou Saori.

— Apenas torçam para dar certo – respondeu a deusa.

— O brilho está mais intenso – comentou Shaina de longe – É de cegar os olhos – desviou o rosto para deixar de vê-lo.

— Shun...- Ikki o chamou baixo e suplicante – Não se entregue, apenas lute – rogava baixinho com o que restava de sua fé.

Poucos minutos se passaram até o brilho vindo de Shun se apagar. Hecate desfez o seu escudo e permitiu a aproximação dos outros cavaleiros. Ikki foi o primeiro se aproximar, mas, não conseguia ver o irmão.

— Onde ele está? – olhou para a deusa da primavera que ainda estava ajoelhada segurando os tecidos da túnica manchada de sangue que o irmão vestia.

— Agora eu entendi minha amiga – olhou para a outra deusa – Será uma bela lição – ria-se – Seu irmão está aqui – levantou-se carregando um bebê nos braços.

— O Shun é esse bebê?! – perguntou incrédulo – Não pode ser!

— Seja menos barulhento, isso não é bom para um bebê, ainda mais um bebê humano que é mais frágil – a criança que aparentava ter uns dez meses pegava nos cabelos de Perséfone e soltou uma risada encantadora em sinal de divertimento – Acho melhor explicar-se Hecate.

— Não temos muito tempo para isso, então serei breve – respirou fundo – Meus poderes estão limitados, eu não dei uma nova vida para o cavaleiro, apenas o estabilizei em um tamanho que ele ficasse bem para a quantidade de sangue que ainda possuía em seu corpo, por isso retornou ao tamanho de um bebê, temporariamente.

— Enquanto a Hades? Ele poderá causar algum dano para o meu amigo? – perguntou Hyoga.

— Não precisa preocupar-se com isso cavaleiro de cisne. O senhor do submundo não será mais um problema – riu – Apenas preparem essa criança para o retorno de suas memórias, isso sim poderá ser destrutivo para a sua alma – abria o portal para o Submundo – Dei a ele um pouco das águas do Rio Lete modificadas com meu cosmo e uma mecha de seu próprio cabelo de sua época mais pura. Fortaleçam a mente dele e boa sorte! – atravessou o portal.

— Não lembrava de ter tantas emoções no mundo humano – comentou a grega – Senhora Perséfone, vamos? – estendeu a mão.

— Claro! – abraçou aquele pequeno ser humano – Eu desejo que nessa segunda chance possas ser mais feliz pequeno, brinque e cresça com a graça das flores. Cuidem um do outro, até breve – sussurrou aos ouvidos da criança – Ele é uma gracinha, cuidem bem dele – entregou- o para o irmão zeloso – Adeus minha irmã! Adeus cavaleiros e amazonas! – acenou em despedida e entrou no portal para o Submundo junto com a grega de cabelos castanhos.

Um silêncio sepulcral se instalou no ambiente. A mente dos presentes processava todos os acontecimentos que presenciaram. Ikki estava com o irmão em seus braços sereno e alheio do que acontecia ao seu redor. Alguém ali precisava romper aquele silêncio para dizer qualquer coisa que fosse.

— O que faremos agora? – perguntou o libriano – Temos as doze armaduras douradas e uma criança que apresenta um cosmo surpreendente.

— Acho melhor que todos descansem por hora – disse Saori – Ikki, eu pedirei para que uma serva o acompanhe para que possam cuidar melhor de Shun, ele não pode vestir esse manto sujo de sangue – fechou os olhos enquanto massageava as têmporas – Quanto as armaduras douradas é melhor que fiquem bem guardadas aqui. Eu preciso recuperar as minhas forças por causa desse ritual e enquanto isso pensarei em nossos próximos passos – andava em rumo aos seus aposentos – Quero dois para o revezamento da guarda das armaduras de ouro, o restante está dispensado – abriu o bilhete que havia sido entregue pela serva do Submundo – “Chame o Oráculo” – era a caligrafia de sua irmã – “O que ela quis dizer com isso?”- pensou.

As amazonas de prata também se retiraram do local junto com Ikki que carregava o pequeno Shun. O cavaleiro de fênix estava apreensivo pelas palavras da deusa bruxa, mas, ao mesmo tempo sentia-se feliz por ter o seu irmãozinho vivo e novamente aos seus cuidados. Havia sido um dia de fortes emoções, Hyoga e Shiryu finalmente compreenderam quais foram as intenções de seu amigo no dia anterior.

— Shun queria se despedir de nós – o aquariano limpava uma lágrima teimosa que surgia – Por isso ele tinha tanta urgência em festejar ontem.

— Ele sempre foi tão calmo e reservado, estava muito diferente do comum e nós pensávamos que ele queria recuperar o tempo perdido do coma – Shiryu também refletia – Shun queria ter momentos felizes antes de sacrificar-se novamente – também estava emotivo.

— Mais uma vez eu não havia percebido o que se passava com o meu amigo – o Pégaso chorava apertando os punhos – Agora ele está conosco novamente, temos uma nova chance – sorria em meio as lágrimas.

— A deusa Hecate disse que Hades não seria mais um problema, mas, mesmo assim ficarei de olho – disse Hyoga – Precisamos falar com Shaina e Marin, me ocorreu uma ideia agora.

— Que ideia? – perguntou o sagitariano.

— Vocês ouviram os burburinhos dos cavaleiros sem patentes sobre o Shun mais cedo?

— Já entendi o que quer dizer – respondeu o cavaleiro de dragão – Não quer que ninguém saiba dos detalhes do ritual para que Shun não sofra uma discriminação, não é?

— Exatamente – lembrava do rostinho do bebê – Ainda mais agora que ele crescerá novamente e não terá o entendimento pleno das coisas por ser uma criança, Shun não merece sofrer assim.

—Não mesmo! – Seiya se dirigiu para a saída – Eu irei conversar com as duas.

...

Já no Submundo, Hecate olhava para seu espelho enquanto Perséfone estava encantada com as mudanças feitas pelo esposo. Os escritos talhados na entrada estavam diferentes da versão anterior que dizia em grego “Aqueles que aqui entrarem, devem perder todas as esperanças”, mudou para “Aqueles que merecerem aprenderão como sair daqui envoltos de esperanças”.

— O que tanto vês nesse espelho senhora? – perguntou a morena curiosa – O submundo está tão igual ao mesmo tempo, isso causa um estranhamento, não é?

— Deveras Mégara – disse a imperatriz – Também estou curiosa sobre o que tanto a minha amiga olha nesse espelho.

— O pequeno humano – respondeu – Agora está limpo e a dormir, uma pena não conseguir ver a cara do seu marido quando ele perceber o que aconteceu.

— Por certo que será um choque – riu-se – Farás a primeira parte do acordo?

— Dentro de um mês, preciso me recuperar – respondeu a deusa – Quanto a parte que lhe compete terás tempo, precisamos recuperar o nosso exército de espectros.

— Estou sobrando aqui, acho melhor ir ao salão de julgamentos – despedia-se Mégara, mas, foi impedida por Hecate que segurou seu braço – Senhora?

— O que achas de uma companhia Perséfone? – inquiriu – Assim perdoarás uma dívida e manterás uma amiga.

— Hades me permitiu libertá-la Mégara – sorriu – Estás livre agora, posso contar-lhe o que está para acontecer por ter sido a minha amiga mais fiel nesses séculos e decidirás se queres ou não o que Hecate propôs.

— Te agradeço por isso minha amiga – sorria radiante – Certamente a ouvirei.

— Enquanto as duas conversam eu continuarei a observar a criança pelo espelho – se transportou para Giudecca – Pequena e inocente criança, tu não fazes mais ideia da maldade do mundo, ensines a esse deus soberbo as melhores coisas que a humanidade trouxe e Hades, por favor, fortaleça-o e o cuide como um filho – mexia nas bordas do espelho – Estamos em fase de testes, mas, tenho uma bons pressentimentos – via Saori deitada a dormir – Seja iluminada pela sabedoria, minha jovem, precisarás para os tempos que a aguardam – o espelho passou a refletir o próprio reflexo – Ainda há muito para acontecer, como as águas dos rios que desaguam para os mares e oceanos, há muita história para ser escrita e contada – chegou em seus aposentos sorrindo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

*Jet Lag - é uma palavra que representa aquele mal-estar causado pela troca de fuso horário, ou melhor, fadiga de viagem. O jet lag ocorre por diferentes tipos de sintomas. Dentre os mais comuns estão enjoo, irritação, fadiga, insônia ou sonolência, variações de humor entre outros problemas fisiológicos. https://segredosdomundo.r7.com/jet-lag/
** “Melhora da morte”, termo usado pela primeira vez no capítulo 11, significado: é um termo comum quando falamos de uma pessoa (paciente) que estava muito enferma, à beira da morte e tem uma melhora súbita, mas, temporária. Achei nesse link de um site que fala sobre espiritismo interessante. Link: https://www.kardecriopreto.com.br/melhora-da-saude-nos-momentos-que-antecedem-morte/
*** Giánkea, flor roxa encontrada na Grécia. Achei interessante colocar como adorno no ritual por Perséfone também ser a deusa da primavera, que custa fazer um pequeno agrado, né? Link: https://br.blastingnews.com/ambiente/2016/05/conheca-a-pequena-flor-roxa-que-so-existe-no-monte-olimpo-na-grecia-00905653.html
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
Agora vamos a parte que eu comento sobre a história e agradeço o apoio de vocês rsrs

Eu prometi emoção e acho que consegui cumprir com essa missão. Deu para perceber que a história na verdade não terminou e não será com um epílogo que eu conseguirei resolver toda essa confusão. Espero que tenham pegado as pistas que eu soltei nos últimos capítulos para adivinharem o que espera a série nova que começarei a escrever no próximo ano.
Sei que foi o maior capítulo que publiquei, isso que o dividi em duas partes, então peço que releiam com calma, já que a primeira vez foi na ansiedade rs.
Meus agradecimentos especiais para Hanami-sama e Thamires, duas amigas que me incentivaram a escrever essa história quando ela apenas uma ideia na minha cabeça. GodTsu que me acompanhou nessa aventura mesmo sendo de um fandom diferente. A Darkshun que tem um bom trabalho para compreender essa história para sua língua nativa e a todos os outros que comentaram e favoritaram essa fanfic.

Desejo a todos boas festas de final de ano e até o próximo ano ;)



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Sacrifício Doloroso" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.