Eu tomei a poção pela manhã e esperei que ela voltasse. Mas a noite caiu e eu não a vi, ela não veio e não viria. Eu sabia disso, sempre soube, mas alguma parte de mim não queria aceitar que ela tinha ido embora. 

Ela iria para sempre. 

Quando a noite caiu e só havia eu e o silêncio, sentei-me de frente para tela, no mesmo local onde ficamos juntos pela primeira vez. Eu teria que fingir não me lembrar de nada, mesmo que boa parte eu tivesse esquecido, os primeiros três dias com ela, que foram regidos pela poção no seu sistema. O grande problema com poções de amor como Amortentia é que elas evaporam de seu sistema com a mesma força e rapidez de seu efeito. 

Astória não sabia disso. E eu precisava agradecer que ela perdesse tanto tempo com a cultura trouxa que tivesse esquecido coisas tão essenciais. 

— O que está fazendo com sua vida? - Pergunto para o quadro na minha frente, troco a tela e começo um novo rascunho. 

Somos ela e eu, nus no tapete com suas costas salpicadas de tinta. Melhor eternizar a lembrança antes que ela deixe de existir. 

***

Dois meses se passam antes que eu precise ir até o Sr. Greengrass e pedir sua filha em casamento. Sei que Dafne é a escolha certa, tenho certeza disso agora. Tenho certeza enquanto escovo meus dentes, enquanto me visto, tenho certeza enquanto aparato até a rua da casa deles, mantenho minha certeza quando o portão se abre e se fecha. Ainda estou com certeza quando abrem a porta da mansão para mim, mantenho minha própria fé de que vou casar com Dafne enquanto meu coração salta de ansiedade. É natal, ela vai estar aqui também, mas tenho certeza da minha escolha. 

Tenho certeza enquanto sento no sofá e bebo o drink que a sra. Greengrass me oferece. E redobro a minha certeza quando Dafne desce as escadas, em seu vestido longo de alças finas, as costas e braços nus, o cinza impecável realça seu cabelo loiro. 

— Sr. Malfoy. - Ela cumprimenta, me lançando o mesmo sorriso de meses atrás. 

— Srta. Greengrass. - Eu estendo a mão e seguro a dela, deixando um beijinho no dorso. — Magnífica como sempre. 

— E você está sempre gentil. Que prazer tê-lo aqui para o jantar. 

E eu tenho mais certeza ainda da minha escolha enquanto a noite corre sem dificuldades, sem sinal de Astória até que o jantar seja servido e o clima está tão bom que nada poderia arruinar minha certeza. 

Exceto por ela. Ela entrando, molhada da chuva e com botas sujas de lama, as camadas de cabelo preto caindo por cima dos ombros, ela está sorrindo e puxando alguém pela mão. 

Eles são um casal? Sinto meu estômago revirar enquanto ela se desculpa com os pais apresenta o homem. Ele é negro, tem olhos castanhos bonitos e não parece ser um bruxo. Ele aceita o convite para sentar e eu estou apertando meu garfo quando ele menciona se casar. Não com ela, não com Astória e toda minha certeza se vai. 

***

Quando ela volta, o jantar transcorre sem incidentes, o homem que se chama Jonnah está perto da lareira conversando com sua mãe quando ela finalmente me olha, do alto de seus saltos temos a mesma altura. Ela está usando calças largas de tecido esvoaçante, uma blusa com mangas puxadas até o cotovelo com um decote que vai de um ombro ao outro. A corrente de ouro que segura um diamente pequeno aponta para o meio de seus seios. 

A ideia inoportuna de correr minha boca para dentro do decote vem para minha mente quando ela se aproxima. 

— Bom, Malfoy, sem querer apressar, mas você precisa fazer seu pedido de casamento agora. - Ela está sorrindo, mas eu não estou. — Pode ser que não haja uma chance depois dessa noite, Dafne tem um homem que a ama e está disposto a resolver isso. 

— Dafne tem? - Ergo uma sobrancelha e quando sigo seu olhar percebo o que ela está dizendo. Jonnah não esconde que está caído por Dafne, então faço a pergunta de um milhão de libras. — Ele não está com você? 

Ela ri tão alto que parece que eu contei uma piada, seu batom vermelho escuro deixa o sorriso ainda mais chamativo, eu queria beijar essa boca. 

— Não, ninguém em sã consciência iria querer algo comigo quando tem Dafne. - Ela bebe o vinho e não diz aquilo como um lamento. — E eles claramente se amam.

Mas eu lamento, eu a quero. 

— Então, quem sou eu para ficar no caminho do amor verdadeiro? - Inclino minha taça na sua direção, propondo um brinde. Ela toca a taça na minha e ali está, quando ela me olha nos olhos e seu rosto fica vermelho, ela se lembra dos nossos dias. — Astória. 

— Sim? 

— Você me deu uma poção de amor. 

Ela afirma desviando o olhar. 

— Não era para você, sinto muito. Fico... Fico feliz que seu pé esteja melhor. 

Ela pisca atordoada enquanto fala, segurando a aste da taça com mais força do que deveria. 

— Sua contra poção não fez efeito. Eu ainda me lembro de cada detalhe seu, principalmente quando estou na minha cama. 

— O que você está dizendo...? 

— Que penso em você, mesmo que tenha tomado todo o caldeirão da contra poção, penso em você durante boa parte dos meus dias e noites e pinto você. E estou dizendo, Astória, que não tenho muito para oferecer e que esse casamento resgataria meu nome da lama, mas posso desistir de Dafne se você me quiser, o mínimo que seja. Sou seu, você me tomou desde o primeiro olhar. 

Não estou tão perto quanto gostaria, mas falo com intensidade. 

— Se você me quiser, caso com você. E não me importo se você não permitir que ninguém saiba, eu poderia morar numa caverna e ser esquecido para sempre desde que tenha você. 

— Eu não  posso fazer isso. — Ela gagueja.

— Sim, você pode. Mas, o questionamento é: você quer? 

— Sim, por favor. 

Fim.