O Sol e A Lua escrita por Luana de Mello


Capítulo 9
Até Logo Sensei


Notas iniciais do capítulo

Oi pessoal, mais um capítulo pra vocês!!



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Três semanas se passaram desde a ultima visita do Hokage a cabana, e como dito por ele, a vila toda estava agitada e envolvida com os exames Chunin e os novos talentos do ano, as pessoas já tinham seus favoritos e torciam por eles fervorosamente, os examinadores, auxiliares e seguranças corriam de um lado a outro, tentando manter a ordem na vila, sem deixar o caos se espalhar; e como avisado a Naruto e Hinata, alguns dos seus senseis não puderem lhes treinar durante esse período, mas eles compensavam bem esse deficit treinando por conta própria, se organizaram durante os dias para retomarem algumas lições básicas que não eram praticadas há tempos, outras tardes tiravam um tempo apenas para estudar, buscar novas técnicas e Jutsus nos muitos livros de sua casa, e assim a primeira neve caiu na véspera do dia das finais.

Naquela manhã fria, os dois levantaram um pouco mais cedo que o normal, precisavam deixar tudo pronto para ir a vila ver as batalhas, e queriam chegar ao estádio um pouco antes, para assim poderem rever Kurenai e matar um pouco da saudade que sentiam dela; além disso, Hinata queria estender algumas roupas que haviam lavado na noite passada, para que pegassem o sol da manhã até o meio dia, ou não secariam direito, não com aquela umidade no ar, e ali na floresta era muito úmido. Assim que ela saiu para fora naquela manhã, seus olhinhos de lua brilharam ao ver a primeira neve acumulada pelos cantos, Naruto que vinha logo atrás carregando o cesto de roupas, admirava sua amiga, que em sua opinião, ficava muito mais bonita quando estava satisfeita ou contente com algo, e nesse momento, Hinata estava felicíssima; por mais que ela adorasse a primavera e todas as suas flores tão belas, a estação que ela amava mesmo, era o inverno e toda aquela neve branquinha e perfeita.

 Para o menino que conhecia tão pouco da vida ainda, ele achava que não poderia ser mais feliz do que era com Hinata, ele que já havia provado o amargo da vida, a dor e a solidão, ter aquela menina para dividir seus dias, para ser sua amiga e companheira, era o melhor presente do mundo, e ele nunca se cansaria daquela vida que levava com ela, era em sua opinião, a mais perfeita de todas, mesmo sendo tão incompleta; por que mesmo quando sentia uma profunda tristeza e uma saudade sem tamanho dos pais, que nem chegara a ver os rostos, ou quando se perguntava como deveria ser bom o aconchego dos braços de sua mãe, por mais que Kurenai tenha suprido esse papel parcialmente, por que por mais amorosa que a tutora fosse, sua mãe tinha um lugar especial e só dela em seu coração, e isso fazia Naruto sentir falta do que nunca teve, e nesses momentos eram os braços de Hinata que ele sentia o acolhendo e consolando, era ela quem lhe sussurrava baixinho que tudo ficaria bem, e para seu coração de criança ansioso por amor, aquele era um balsamo para acalmar suas dores, aquilo o aquecia por dentro e lhe dava toda certeza de que era feliz, mesmo que lhe faltassem partes importantes. Com Hinata não era diferente, em todas as vezes que teve medo, todas as vezes que se sentiu insegura e uma inútil, como seus pais lhe disseram, era Naruto quem a acalmava, quem cuidava dela, quem lhe dizia o quanto ela era incrível, forte e corajosa, como ela era a garota mais fantástica que conhecia, e dizia isso com toda sinceridade que seus olhinhos azuis podiam transparecer, e era ele quem lhe prometia toda noite antes de dormirem, que sempre estariam juntos, que nunca a deixaria só; e para ela, com toda a incerteza plantada em seu coração pela maldade alheia, aquilo era mais que suficiente para fazê-la seguir adiante e se manter em pé por ele, por Naruto.

Essa relação de cumplicidade dos dois, existente desde o primeiro contato, só se intensificou com a partida da sua tutora, e agora com sua nova rotina estabelecida, os reflexos desse companheirismo eram notáveis, tanto nas tarefas diárias e nos treinos, como em pequenas coisas, como os carinhos trocados, as palavras gentis, coisas que crianças normais se retraem muito para conseguir demonstrar e muitas vezes não o faziam, mas que para os dois, que receberam isso pela primeira vez muito recentemente, era algo tão necessário como respirar. Era natural para Naruto estar sempre de mãos dadas com Hinata, sempre lhe acariciando a face ou lhe dando um beijo carinhoso na testa sob a franjinha bem cortada dela, assim como era natural para Hinata ter Naruto com a cabeça em seu colo, enquanto ela lhe afagava os cabelos, ou abraçá-lo com frequência para demonstrar sua alegria por uma conquista dele, ou simplesmente lhe dizer palavras gentis de incentivo a cada obstáculo sobreposto a sua frente. Eles descobriram esse lado mais necessitado um do outro, principalmente e por que todos os seus senseis lhes explicaram, que quando começassem a sair em missões, seus inimigos poderiam usar essa ligação especial deles, para os atingir; então o medo de perder um ao outro se fez presente, mais presente até do que quando o clã Hyuuga ameaçava levar Hinata de volta, agora era diferente, eles sabiam que esses missões representavam um risco maior do que qualquer outro que já enfrentaram, e isso os fazia querer estar sempre perto um do outro, como se fosse para se certificar que ainda estavam ali.

Então depois de ajudar Hinata a subir na sua escadinha, que ela usava para alcançar o varal, Naruto disse que tinha algo para fazer do outro lado da cabana, ao que ela deu de ombros e concordou que não precisava mais de sua ajuda ali; após ouvir isso, Naruto correu de volta a cabana e entrou no quarto, puxou de baixo da cama as cordas e a tabuleta que tinha trabalhado por dias durante a madrugada, durante toda essa semana, o menino insistira que ele devia varrer a casa, mesmo sabendo do acordo que os dois tinham de se revesar nas tarefas domésticas, mas ele não queria correr o risco de Hinata ver o que escondia e estragar a surpresa. Aquele seria mais um dos mimos que ele preparara para ela, para demonstrar todo seu carinho pela menina, Naruto só queria ter terminado o entalhe antes, para que ela pudesse aproveitar bem antes do frio. Ele correu até a grande árvore que ficava mais próxima da cabana, era um lindo pé de cerejeira, enorme e dava muitas frutas suculentas e apetitosas; Naruto concentrou o chakra na sola dos pés e se pôs a subir na árvore, achou o galho perfeito, era grande e ficaria com uma altura razoável, se colocou então a prender as cordas no galho, essas que ele fizera questão de trançar para dar um detalhe a mais no trabalho, assim que terminou, deixou a tabuleta pender abaixo do galho e ficou um bom tempo admirando sua obra, tempo que foi suficiente para Hinata terminar a tarefa e ir procurá-lo, para irem a vila.

— Naruto-kun? Cadê você? — Hinata o chama, parando a frente da cabana.

— Aqui em cima. — ele responde e ela olha na direção de sua voz, e assim que o faz, o menino pula da árvore, aterrissando com graça no chão — Que acha Hinata-chan? Gosta do balanço?

A pequena alterna seus olhinhos do amigo para o balanço, ficou muito surpresa com o mimo.

— Você que fez? — Hinata pergunta, admirando os entalhes na madeira.

— Sim, demorou um pouquinho pra terminar, mas se não gostou, eu posso fazer outro Hinata-chan. — Naruto fala, angustiado pela possibilidade dela não ter gostado.

— Eu amei, Naruto-kun! Obrigada. — Hinata fala e o abraça tão subitamente, que eles quase caem no chão, e riem com gosto disso — Acha que dá tempo de eu experimentar só um pouco?

— Claro que sim, se for o caso eu te levo nas costas, sabe como sou rápido. — Naruto concorda e já se posiciona para empurrá-la no balanço.

Hinata então se acomoda feliz na tabuleta, sente o amigo lhe empurrando as costas suavemente e balança os pés no ar, quando se sente subindo alto, ela gargalha muito ao sentir o vento lhe batendo no rosto e bagunçando seus cabelos; a verdade era que Hinata ficou morrendo de vontade de usar o balanço que vira na Academia dias atrás, tinha ficado curiosa depois de ver outras meninas se divertindo, e fitara o brinquedo por tanto tempo, que Naruto notara o desejo em seus olhos e decidira fazer um balanço só para ela. O que não fora muito difícil, já que ele mesmo tinha descoberto cerca de um ano atrás, que gostava e tinha a habilidade de entalhar objetos ou figuras na madeira. Os dois ficaram assim por mais quinze minutos, com Naruto empurrando a amiga e se deliciando ao ouvir suas gargalhadas, e Hinata se divertindo a valer com o presente, que a fez se sentir a menina mais especial do mundo. Depois que ela teve um gostinho do seu mimo, eles alimentaram suas gatinhas, que descobriram a poucas semanas através de Gai-sensei que eram fêmeas, fecharam bem a cabana e partiram para a vila correndo entre as árvores; chegaram ao centro em poucos minutos, agora que conheciam o caminho e sabiam correr de verdade, nada era muito longe para eles. Na vila, foram caminhando com calma em direção ao estádio, avistaram vários conhecidos pelo caminho, que os acenavam felizes, até que chegaram aos portões do estádio, se impressionaram com a imponência do local, era imenso de tão grande; do lado de dentro, encontraram seus quatro amigos os esperando, tinham combinado dias atrás de irem ver as finais juntos.

— Vocês demoraram. — Shikamaru comenta assim que se cumprimentam.

— A culpa foi minha Shikamaru-kun, eu quis experimentar o balanço que Naruto-kun fez pra mim. — Hinata conta caminhando ao lado de Naruto.

— Vê se não vai se machucar nee-chan. — Neji fala apreensivo.

— Eu cuido dela Neji, não vou deixar que Hinata-chan se machuque. — Naruto fala, já estava mais conformado com o jeito de Neji com a menina, sabia que o amigo se preocupava com ela tanto quanto ele.

— Vocês vão querer comprar guloseimas? — Chouji pergunta aos amigos, quando vê o vendedor passar com um carrinho no meio da multidão.

— Espera ele passar aqui Chouji. — Ino repreende, estava muito mal humorada aquela manhã.

— Deixa ele Ino, aqui Chouji, vá lá e compre os melhores pra todos, nós já voltamos. — Naruto fala puxando Hinata pela mão, tinha avistado Kurenai conversando com o Hokage — Não esquece os rolinhos de canela da Hinata-chan!

Ele grita ao amigo por sobre o ombro e chama a atenção dos adultos a volta, alguns o olham com raiva, outros poucos riem, já conheciam o garoto e seu jeito espalhafatoso. Eles correm por entre as pessoas, e Hinata ri da pressa de Naruto, mas o acompanha em pé de igualdade.

— Com licença, desculpe, dá licença tio, foi mal aí tia. — ele ia dizendo por quem passavam.

Logo os dois se colocaram a saltar por entre as arquibancadas, para subirem mais rápido até o Hokage, quem ainda prestava atenção neles, se surpreendeu pela agilidade dos dois. Alguns ANBUS que estavam a postos se preocuparam e se puseram em guarda perto do Sandaime, mas Kakashi vendo quem eram, fez um sinal de que poderiam descansar; assim que chegaram a frente dos acentos de honra, encontraram o velho senhor sorrindo abertamente para os pequenos, que correram e o abraçaram, podiam tê-lo visto a poucos dias, mas sentiam saudade do seu vovô. Alguns líderes políticos que estavam presentes, se surpreenderam com o gesto, jamais imaginaram que o sério e compenetrado Sarutobi Hiruzen pudesse agir de forma tão jovial e brincalhona, ainda mais em público.

— Vocês estão bem? Já guardaram lenha para o frio? Estão se alimentando e se agasalhando direitinho? — o Hokage questiona os pequenos, por mais que eles soubessem o que fazer, seria o primeiro inverno que passariam sozinhos na floresta, e isso afligia o pobre homem.

— Estamos bem vovô, não se preocupe, já sou um homem, vou cuidar de tudo! — Naruto fala, deixando os presentes mais embasbacados ainda, tanto pelo tratamento ao Hokage-sama, quanto pela sua fala tão adulta.

— Que bom, e já imagino o que os dois vieram fazer aqui. — o Hokage fala sorrindo e faz um sinal para Kurenai se aproximar, ela quase não estava se aguentando no seu lugar.

— Oh meus pequenos, como senti saudades de vocês! — Kurenai fala os abraçando, os olhos vermelhos cheios de lágrimas — Olha só como cresceram rápido, como você está linda minha princesa! E você meu doce menino, está tão maduro e forte, os dois estão muito fortes, só tenho ouvido elogios dos outros senseis!

— A gente sentiu tanto sua falta, Kurenai-san. — Hinata conta, acariciando o rosto da mulher com suas mãos delicadas, tinha os olhos transbordando de saudade.

— Não queria que tivesse vindo embora, queria que ficasse pra sempre com a gente Kurenai-san. — Naruto confessa segurando o choro, queria se manter forte por Hinata.

— Eu sei meus amores, eu também não queria vir, mas a vida é assim, as vezes acontecem mudanças que não queremos, mas temos que aceitar, já expliquei isso a vocês. — Kurenai fala com a voz embargada, e limpa com carinho as lágrimas do rosto da menina.

Os políticos que assistiam a cena logo entenderam que os dois deveriam estar sob a tutela da mulher, e que pela lei, tiveram que se separar a pouco tempo, entenderam que não deviam ser irmãos, visto que eram tão diferentes, e a menina claramente uma Hyuuga, mas supuseram que eram duas crianças sem família. Não tinha quem não se emocionasse vendo todo amor e carinho que era trocado entre aqueles três, alguns ANBUS se aproveitavam das máscaras, para deixar suas emoções vazarem; principalmente aqueles mais próximos, que conheciam a história das duas crianças, e sabiam o que os dois estavam treinando para ser, esses já sentiam profundo respeito e admiração pelos pequenos. Depois de conversarem mais um pouquinho com a tutora, eles se preparam para voltar as arquibancadas, negando o convite do seu vovô para ficarem ali com ele, alegando que seus amigos os aguardavam nas arquibancadas, e não queriam atrapalhar o andamento dos exames, mas antes de partirem, o Hokage os para e pede um favor.

— Eu sei que não devia pedir isso a vocês, mas são quem eu mais confio pra isso. — o Hokage se explica, mas na verdade aquilo era só mais um teste proposto por Kurenai — A ama de Konohamaru adoeceu e não encontrei uma substituta a tempo, ele poderia ficar aqui, mas sendo um bebê agitado, atrapalharia alguns assuntos, acham que podem cuidar dele durante o exame pra mim?

— Podemos sim, não é, Hinata-chan? — Naruto fala olhando a amiga, que concorda de pronto e pega o bebê dos braços de Asuma que se aproximou com o sobrinho no colo — Deixa com a gente vovô!

— Que bom, no final, levem ele até o prédio Hokage. — ele instrui os dois, que já se viram para partir com o bebê rindo.

— Ah, vovô? O Kono pode comer doces? — Hinata pergunta, lembrando que os amigos os aguardavam com guloseimas.

— Rolinhos de canela e dangos. — ele permite, e os demais ficam impressionados pela perspicácia dela.

Os mais velhos assistem maravilhados, Hinata descendo as escadas com o bebê no colo, enquanto Naruto a cercava com os braços, para que possa a auxiliar se ela tropeçar, e leva a mochila de Konohamaru nas costas, ao mesmo tempo que faz gracinhas para ele rir.

— Itachi tinha razão, eles estão prontos. — Hiruzen fala a Kurenai, enquanto assistem os dois se afastando.

O jovem Uchiha que assistia tudo escondido entre os pilares das arquibancadas, sorriu satisfeito, aquele era o sinal que aguardava, tinha carta branca, só esperaria as provas começarem e todos se entreterem com os novos Chunins, e depois de falar com seus queridos alunos é claro, ele agiria.

Enquanto desciam as escadarias, visto que não podiam saltar pelas grades como antes, já que estavam com Konohamaru junto, os dois riam e mostravam o seu lado crianças sem preocupações, então iam caminhando da maneira convencional mesmo. Caminhavam e gargalhavam dos barulhos que o bebê fazia ao tentar falar, o pequeno por sua vez, parecia muito contente com a atenção que recebia; quando estavam no meio da escadaria do segundo andar abaixo do Hokage, Hinata viu, sentados em cadeiras de honra, acima dos demais Shinobis e habitantes da vila, os seus pais sentados imponentes com sua pequena irmã nos braços. Eles já observavam os dois, desde que ouviram suas gargalhadas ecoando pelo corredor, Hizashi, que sempre acompanhava o irmão onde fosse, ficara contente de ver a sobrinha ali, e de constatar que ela estava muito bem; já Hiashi e Hiromi, ficaram surpresos ao constatarem que o bebê que a menina trazia no colo, era ninguém menos que o neto do Hokage, o patriarca Hyuuga se irou com isso, não podia acreditar nos seus olhos, como podia aquela garota estar ali? Seria mais uma afronta para lhe causar mais vergonha! Rapidamente se dirigiu até os dois, ainda sentia bem viva a dor do golpe que levara no rosto, quando o garoto raposa o atacou, aquilo tinha ferido seu ego de uma forma que jamais pensou ser possível.

— O que pensam que fazem aqui?! — Hiashi fala baixo, e se irritou mais ao ver Hinata o encarar como um igual.

— Não devemos explicação alguma ao clã Hyuuga, Hiashi-sama. — Hinata responde sem perder a educação e se vira para sair dali, mas é segurada pelo braço, o homem estava mais irado do que nunca.

— Não me afronte desse jeito, sua pirralha inútil. — Hiashi ameça baixo, não queria chamar atenção para a cena.

Mas ele mal nota quando Naruto encosta uma kunai infundida em chakra no seu quadril, de forma tão discreta, que nem seus olhos puderam captar o movimento sutil do garoto.

— Se não soltar o braço dela agora, vai ficar sem andar pro resto da vida. — Naruto ameaça e ri cínico para o Hyuuga, que pela primeira vez, se assusta com alguma coisa em sua vida.

Aquele garoto não podia ser normal, ele estava ali, o ameaçando com uma arma, tinha o rendido sem que visse e ainda parecia que não estava fazendo nada demais, ninguém notava o que acontecia ali, nem mesmo seus guardas pessoais. Quando olhou para Hinata, a encontrou o encarando do mesmo modo despreocupado do garoto, a diferença é que ela estava com seu byakugan ativo, e uma de suas mãos também segurava o braço do pai, a qual estava cheia de chakra, pronta para explodir os Tenketsus do seu braço.

— Vocês não teriam coragem. — Hiashi desdenha para manter a pose e sente a kunai afundando em sua carne como um aviso, e vê o garoto sorrir mais.

— Ah eles teriam sim. — Hiashi se assusta ao ouvir a voz de Morino Ibiki ali — Sabe, eles fazem parte da minha divisão agora, o que significa que sabem como fazer um homem contar seus segredos mais escondidos, e tudo sem deixar o menor vestígio. Tudo bem por aqui Uzumaki, Hyuuga?

Hiashi se espantou mais ainda, aquela garota fraca e chorona fazia interrogatórios? Mas isso justificava a postura e a forma fria como o olhavam, sentindo um frio na espinha, soltou o braço de Hinata e sentiu o aperto da kunai sumir do seu corpo, Naruto se afastou como se nunca tivesse feito nada, a arma nem estava mais em suas mãos. Era assombroso ver como agiam e imaginar o que poderiam fazer, e mais assombroso ainda, era ver que em nenhum momento fizeram movimentos bruscos ou precipitados, agiam com sutileza e discrição, tanto que nem o bebê no colo da garota notou qualquer mudança, continuava rindo e comendo a mão.

— Está tudo bem, Ibiki-san, estamos indo encontrar nossos amigos, deseja alguma coisa? — Hinata pergunta, ignorando totalmente o Hyuuga que assistia tudo estático.

— Hoje a noite temos trabalho, só vão para casa buscar os equipamentos e se dirijam para a sede. — Ibiki ordena sério.

— Certo, só vamos deixar Kono com o vovô e iremos pra lá. — Naruto concorda de pronto, mesmo que estivesse curioso sobre o que seria dessa vez, sabia que não deviam falar disso entre os civis.

Eles voltam a caminhar e deixam Hiashi para trás, ele ainda continua parado ali, encarando o vazio, até um dos guardas lhe avisar que suas vestes estavam sujas de sangue. Quando finalmente os dois chegam até os amigos, as primeiras batalhas já haviam começado, e estes últimos os aguardavam com impaciência, assim que se acomodam, os amigos os bordeiam de perguntas, ao que os dois só respondem com um 'depois explico', queriam prestar atenção nas batalhas, sabiam que tinham que se concentrar nisso por hora. Konohamaru logo se entreteve em sugar um rolinho de canela que Hinata segurava em sua boquinha, às vezes ficava impaciente e tentava tomá-lo das mãos da garota, mas ela não deixava e segurava firme, ele então tentava fazer manha, mas Naruto intervinha e o mandava se comportar, o que parecia surtir efeito, pois ele logo voltava a ficar calminho; quando Hinata sentiu os braços dormentes, passou o bebê gorducho para Naruto, e ele logo passou a sua maior diversão, puxar os cabelos loiros do garoto, Konohamaru tinha verdadeiro fascínio pelos cabelos de Naruto, era até engraçado de ver, o bebê trocava qualquer brincado pelos fios do Uzumaki. Os outros quatro, que nunca tinham visto um bebê tão de perto, estavam encantados, mesmo Neji tendo uma prima com a mesma idade no clã, e para eles, era muito hilário ver o amigo tentando manter o bebê no seu colo, enquanto este tentava fugir para caminhar bambo pelo local, já estava começando a sentir sono e ficava manhoso com isso.

— Para quietinho Kono, não vai ser Hokage se continuar assim. — Naruto fala pra ele com toda a calma do mundo.

— Nana. — o bebê balbucia e Naruto sorri grande pra ele, adorava ver Konohamaru tentando falar.

— Ele chamou seu nome, Naruto-kun? — Ino pergunta admirada.

— Não, Kono não sabe falar ainda, mas acho que quando faz esse barulho, ele chama a Hinata-chan. — Naruto explica vendo a amiga balançar um chocalho para entreter o bebê.

— Vocês se dão muito bem com ele, esse bebê até obedece vocês. —Shikamaru observa a cena pasmo.

— Não exagera Shikamaru-kun, qualquer bebê obedece se você der comida pra ele. — Hinata contesta e faz caretas para o menino rir.

— Acho que comigo, isso era verdade. — Chouji comenta risonho, com o tempo aprendera a se aceitar como era, graças aos dois amigos.

— Com você não dava certo nee-chan, papai me contou que uma vez você me mordeu por que estava brava. — Neji conta e todos dão risada e Hinata acaba ficando muito vermelha.

— Espero que ela nunca me morda, já é muito assustadora sem isso. — Naruto fala espantado e olha para a amiga como se pedisse piedade.

— Vou morder sim, é só você deixar bagunça no quarto de novo. — Hinata brinca e faz Naruto estremecer com o pensamento.

Os outros garotos riem do azar do amigo, já tinham testemunhado o quanto Hinata podia ser assustadora quando estava brava, e se divertiam ao pensar como devia ser engraçado ver Naruto em apuros com ela; a única que parecia ter ficado incomodada com a interação dos dois, foi Ino, que nem entendia o que sentia, mas sabia que aquela afinidade a incomodava de algum jeito, a pequena menina até tentou rir junto, mas não foi tão sincera como os demais. Eles voltam a prestar atenção nas batalhas, e Naruto começa a ninar o bebê, que logo está ressonando em seus braços, dormiu agarrado a gola da blusa de frio do garoto; as vezes dava gostosas gargalhadas durante o sono, o que fazia as seis crianças rirem baixinho da fofura do bebê. Em dado momento, Naruto sento uma mão em seu ombro e ao se virar para trás, se depara com Itachi na fileira de cima, o sensei os observara um tempo, estava admirado com a responsabilidade dos dois, sabia que podia contar com os pupilos para continuarem seu legado, e mesmo sem ter partido ainda, já sentia a saudade o castigando, tinha se apegado aos dois durante esses dois anos, os tinha como se fossem seus irmãos também, essa sem dúvidas seria uma das partes mais difíceis de sua missão; fez um sinal discreto para que fosse seguido e Naruto logo atendeu, chamando Hinata também.

— Queria falar com vocês antes de ir. — Itachi fala quando já estão seguros.

— Ir a onde sensei? — Naruto pergunta, sentia que aquilo era uma despedida.

— Eu tenho uma missão importante, aquela que falei que teria que fazer pela vila. — Itachi explica e vê os dois compreenderem.

— Precisa da nossa ajuda? — Hinata pergunta, já se prontificando a fazer o que Itachi lhes pedisse.

— Preciso apenas que sirvam a vila como os ensinei a fazer, preciso que confiem em mim e não me julguem mal quando souberem, preciso que os dois cuidem um do outro e que se mantenham seguros em todas as missões, quero que se fortaleçam mais e que continuem fazendo o bem para os outros. — Itachi fala com a voz embargada, já estava difícil se controlar vendo os rostinhos tristes dos dois — Se tudo der certo, um dia eu volto, vou proteger a vila de fora agora, e vou proteger você Naruto, o Hokage vai explicar tudo mais tarde, mas até que esse dia chegue, quero que saibam que sinto orgulho dos dois, do quanto cresceram, de como são responsáveis, inteligentes e fortes!

— Itachi-sensei. — Hinata fala chorosa e o abraça, Naruto também o faz, mas com mais cuidado pelo bebê que segurava, o jovem Uchiha sentiria falta de ser chamado assim — A gente também quer que se cuide sensei, não se arrisque muito e volte logo pra vila!

— Temos orgulho de você sensei, vamos sentir sua falta. — Naruto fala, dessa vez não consegue conter o choro, sabia que aquele adeus seria um pouco mais longo.

— Agora preciso ir, se recomponham e voltem para as arquibancadas normalmente, sempre que puder mandarei algum recado, estejam atentos. — Itachi fala e respira fundo, tinha que se manter frio dali em diante — Queria pedir que vigiassem meu irmão, Sasuke pode se revoltar quando souber, impeçam que ele trilhe um caminho errado, a todo custo!

— Ele não vai. — Naruto afirma sério, era um pedido do seu sensei e ele com certeza cumpriria.

— Até logo pirralhinhos! — Itachi se despede e bagunça pela ultima vez os cabelos dos dois.

— Até logo, Itachi-sensei! — Naruto e Hinata falam o vendo sumir entre as sombras.

Depois que as lágrimas de ambos secaram, e que já se consideravam mais calmos, os dois voltaram para as arquibancadas, viram seus amigos os procurando e se apressaram em voltar aos seus lugares.

— Onde estavam? Saíram e ninguém viu pra onde. — Shikamaru pede desconfiado.

— A gente tinha que trocar a fralda do Kono. — Naruto responde depressa e vê os amigos se acalmando.

Os dois se obrigaram a ficar ali, mesmo que agora os exames Chunin não tivessem mais nenhuma importância, a única coisa que queriam saber era se Itachi estava bem, se tinha concluído a missão e se saíra da vila em segurança; agora entendiam por que Ibiki dissera que teriam trabalho a noite, devia ser assunto muito sério e provavelmente a situação viraria um caos. Se perguntavam quem mais sabia dessa missão de Itachi, provavelmente seus outros senseis, visto que estavam todos tão sérios há dias, suspiraram resignados, agora só podiam aguardar. Assim que a ultima batalha acabou, Naruto e Hinata tiveram que se segurar para não saírem correndo dali, ao invés disso, aguardaram as comemorações acabarem e o Hokage congratular os novos Chunins, e depois todos começaram a sair, seguiram o fluxo de pessoas, como Itachi instruíra, tinham que agir com naturalidade. Se despediram dos amigos, negando um convite para ir na casa dos Nara's, alegando que deixariam o bebê com o vovô e depois iriam para casa, estavam cansados e ainda teriam lições de casa pra terminar; era final de tarde quando deixaram os amigos no centro e saíram  correndo até o prédio Hokage, passaram pelos guardas que já pareciam os aguardar, foram direto a sala do Sandaime e entraram afoitos, encontrando lá dentro Ibiki, Ebsu, Anko, Kurenai, Asuma, Kakashi e Gai, além do próprio Hokage. Era estranho ver aquele grupo reunido sem o seu mais jovem sensei, e o peso daquela conversa pareceu atingir os pequenos assim que fecharam a porta atrás de si, eles tinham noção da gravidade da situação. Hiruzen faz um sinal para que a ama levasse o bebê dali, ao que a mulher prontamente atende, pega o pequeno e sua mochila, e assim que ela sai, Naruto e Hinata se sentam nas cadeiras a frente da mesa do vovô, aguardando que este começasse a falar.

— Eu sei que estão confusos agora, ainda mais que Itachi foi se despedir de vocês, mas antes de explicar o que aconteceu hoje, tenho que explicar algumas coisas que aconteceram bem antes em Konoha. — Hiruzen fala e suspira cansado — Primeiro de tudo, vocês precisam entender o que ocorreu no dia que a raposa de Nove Caudas atacou a vila, há exatos sete anos atrás.  A Kyuubi estava selada em sua mãe, Naruto, que estava em dias de dar a luz a você, e no dia do seu nascimento, alguém instigou a Kyuubi a atacar a vila, não sei bem os detalhes do que aconteceu aquela noite, isso apenas seu pai poderia nos dizer. Mas nesse dia, a desconfiança se instalou na vila, os Uchiha's não ajudaram a conter a raposa, muitas vidas se perderam, incluindo seus pais, que morreram protegendo você e a vila; depois disso nada foi como antes, e pela desconfiança que alguns membros do conselho de Konoha tinham de que os Uchiha's tinham orquestrado o ataque da raposa, eles começaram a montar uma rebelião em segredo. Nós os monitoramos de perto, mantínhamos um espião dentro do distrito, alguém que era leal a vila, acho que já sabem de quem eu falo.

O Hokage faz uma pausa, para dar tempo dos pequenos assimilarem as informações e então prossegue.

— Com a ajuda de Itachi, descobrimos os planos reais do clã, e quem mais estava envolvido nisso, então soubemos quem estava agindo pelas nossas costas; aquele assassino que vocês interrogaram junto com Ibiki, foi alguém contratado por um dos meus conselheiros, Shimura Danzou, ele vinha instigando o clã a se rebelar fazia tempo, sabia do desejo de vingança do clã, pela vila ter desconfiado deles e usava o fato para manipular os mais propensos a isso, e tinha até mesmo um acordo com Uchiha Fukaku, líder dos Uchiha's; Danzou tinha cede de poder e queria ser Hokage a todo custo, o plano deles era que os Uchiha's deveriam atacar a vila, e tomar o poder e assim ele viria como um apaziguador e se tornaria o Hokage que trouxe paz a Konoha, era bem simples na verdade. Eles conseguiriam poder se aliando a Orochimaru, antigo Shinobi de Konoha, um dos três Sannins Lendários, e agora um Nukenin procurado que quer atacar a vila de todo jeito, e também fizeram um acordo de entregar algo muito valioso a uma organização criminosa, chamada Akatsuki, assim se manteriam fortes contra as outras Quatro Grandes Nações, que certamente os atacariam vendo o momento de fraqueza, enquanto se reerguiam após o ocorrido, e tudo que Fukaku tinha que fazer, era entregar os olhos sharingan dos ninjas abatidos na rebelião a Danzou, além de você, Naruto. — Hiruzen explica cansado.

— Eu? Mas o que querem comigo? — Naruto pergunta confuso.

— Não sabemos ao certo seus planos, mas é quase certeza que isso é por que você tem a Kyuubi selada, Naruto. — Kakashi fala pela primeira vez — Itachi se juntaria a eles assim que saísse da vila, a essa altura, já deve ter os encontrado, ele será nosso espião lá.

— Mas o problema é que Itachi teve que fazer uma escolha muito difícil pelo bem da vila, algo que o tacharia como um Nukenin mais procurado entre as nações, agora em qualquer lugar que ele vá, correrá grande risco de vida, qualquer Shinobi do mundo, pode tentar capturá-lo. — o Hokage explica e sente pesar por aquele garoto tão jovem — Itachi sempre colocou a vila acima do clã, ele considera o bem de todos os habitantes, maior que o dos integrantes de sua família, por isso ele escolheu fazer algo difícil, que tenho certeza, o atormentará pelo resto da vida. Depois de descobrir que Danzou assassinou seu melhor amigo, Shishui, Itachi veio até nós nos contar sua decisão, e hoje a tarde ele colocou tudo em prática, ele eliminou Danzou e todos os líderes de famílias Uchiha's que conspiravam contra a vila, para os jovens que assumirão o comando em breve, ele revelou os planos dos executados, mas fez um acordo com eles, os deixaria vivos em troca de um selo de sangue que os impedirá de revelar a verdade e de se rebelarem contra a vila novamente; para que ele pudesse ser classificado como Nukenin, Itachi precisava que as pessoas pensassem que ele assassinou todos a sangue frio, ou nunca poderia se infiltrar na organização criminosa.

— Itachi-sensei eliminou Fukaku, não foi? — Hinata pede baixinho, sentindo dor ao pensar no que o jovem sensei teve que fazer.

— Foi sim, minha criança. — o velho concorda mais cansado ainda, eles tinham entendido tudo muito bem.

— Por isso ele achava que o irmão se revoltaria. — Naruto comenta perdido, não sabia o que pensar direito.

— Ele não faria isso se não tivesse descoberto algo novo, como membro da ANBU, Itachi estava a serviço de Konoha, poderia eliminar Danzou e acabar com as armações sem prejudicar o clã e não teríamos o risco de retaliações por parte dos habitantes, bastava que o Hokage anunciasse que o conselheiro cometera traição e que ordenara que fosse eliminado, mas ontem ele acabou sabendo que assim que tomassem a vila, Fukaku iria assassinar Danzou, o Hokage e os demais conselheiros, além de todos os líderes dos outros clãs, seria uma matança sem fim, como nos tempos de Uchiha Madara, eles subjugariam os demais habitantes e matariam você Naruto. — Kakashi conta com desgosto — Não sabiam como desfazer o selo que prende a raposa, mas sabiam que se o Jinchuuriki morre, a Bijuu renasce e assim que isso acontecesse, eles usariam o sharingan para controla-lo.

— Itachi-sensei escolheu me proteger? — Naruto pergunta amargurado, por que as pessoas davam suas vidas por ele?

— Itachi fez o que qualquer um de nós faria, Naruto. — Kurenai fala, adivinhando os pensamentos do menino — Só contamos isso a vocês, por que não queríamos que pensassem mal de Itachi.

— Vocês não devem falar isso para ninguém, mantenham tudo que ouviram em segredo, até para que não coloquem a vida de Itachi em perigo, se a organização descobre que ele é um espião, ele será eliminado. — Ibiki explica aos dois — Precisamos agir como se ele fosse mesmo um Nukenin.

— Sei que vai ser difícil, ainda mais quando ouvirem alguém falando mal dele, mas precisam se manter fortes e agirem como dois Shinobis devem ser. — Gai se pronuncia e os faz lembrar das palavras de despedida do sensei.

— Nós vamos. — Naruto fala e segura a mão de Hinata para buscar apoio.

— Também contamos isso, por que vocês terão que ser integrados mais cedo. — Anko explica de forma simples — Como Itachi teve que agir mais cedo do que pretendia, as coisas vão ficar mais complicadas agora e achamos que mais Nukenins vão tentar agir contra a vila, vocês estão prontos pra isso?

Naruto e Hinata se entreolham, sabiam que esse dia chegaria, já estavam se preparando para ele desde que começaram o treinamento, e agora que sabiam o que seu sensei tinha feito pela vila, o sacrifício pessoal que fora capaz de cometer pelo bem maior, eles não tinham dúvidas, estavam prontos e seguiriam todos os ensinamentos do seu querido Itachi-sensei, bem como os dos demais sete senseis que ainda estavam com eles.

— Estamos! — eles respondem em uníssono.

O Hokage sabia que era demais para um dia só, mas se orgulhou imensamente ao ver como eles administraram tudo, a maneira como encararam a situação, era algo que poucos adultos fariam.

— Muito bem, passem em casa e peguem o material, me encontrem na sede, temos muitos interrogatórios pela frente, provavelmente vamos adentrar a madrugada. — Ibiki fala indo até a porta — A partir de agora vocês são oficialmente Neko e Kitsune no esquadrão e nas missões.

— Pela manhã passarei na sede para buscá-los e apresentá-los a todos, passarão por alguns testes e terão sua marca tatuada. — Kakashi fala e também se retira.

— Acho que agora estamos todos em pé de igualdade. — Kurenai brinca para descontrair o clima pesado.

— Achei que nunca chegaria o dia que eu trataria fedelhos dessa forma. — Anko entra na onda — Já bastava o Uchiha, agora esses dois!

— Eu acho que eles tem muito poder da juventude. — Gai se pronuncia animado e consegue arrancar um sorriso dos dois, mesmo que fraco.

— Vocês vão conseguir dar conta, tenho certeza. — Asuma dá apoio.

— Se o honorável Hokage acha que é o certo. — Ebsu fala dando de ombros.

— Lembrem-se de não contar sua função para ninguém, nem mesmo seus amigos devem saber disso. — Hiruzen instrui os vendo se dirigir para a porta, sabia que precisavam sair para digerir todas as informações.

— Não se preocupe vovô, vamos manter tudo aqui, agora temos trabalho a fazer. — Naruto fala e mostra toda sua determinação.

Eles saem do prédio apressados, já começava a escurecer, e naquela época do ano, as noites duravam mais; viam pessoas cochichando pelos cantos e entenderam que a notícia já deve ter se espalhado, em breve os rumores voariam aos quatro cantos do mundo, eles só torciam para que o sensei se mantivesse em segurança. Chegaram em casa rapidamente, enquanto Naruto recolhia as roupas que deixaram no varal, Hinata alimentava as gatas e trancava as janelas por dentro; eles se trocaram e vestiram o uniforme que usariam a partir dali nas missões, colocaram o capuz sob os cabelos, as luvas, as tornozeleiras e braçadeiras, assim como o colete, fixaram as máscaras em seus rostos, para Naruto a máscara com marcas laranja formando o rosto de uma raposa, para Hinata a máscara com marcas azuis formando o rosto de um gato, pegam também todo seu equipamento ninja, sabiam que a partir dali, precisariam dele bem abastecido. Quando estavam prontos, fecharam bem a cabana e partiram na noite, os dois evitavam passar por ruas movimentadas e se deslocavam nas sombras, para não serem vistos por ninguém, sabiam que quando estivessem em missão, os civis não deveriam saber que estavam ali, chegaram a sede e entraram sem problemas, os guardas já os conheciam e os aguardavam. Ibiki ficou satisfeito ao notar que os dois não demoraram, levaram menos de vinte minutos para ir em casa e voltar a vila, estavam sérios e compenetrados, nem pareciam as crianças que ele vira rindo e fazendo graça para um bebê mais cedo. Ao entrarem na sala de interrogatórios, encontraram além de Ibiki, Shikaku e o pai de Ino, Inoichi, este último já trabalhava em um dos prisioneiros.

— Que bom que já chegaram, aqui a ficha dele. — Ibiki fala e chama atenção dos demais para os dois — Inoichi, Shikaku, esses são Neko e Kitsune, nossos mais novos integrantes e vão nos ajudar nos interrogatórios de hoje.

Shikaku sente o ar fugir de seus pulmões quando reconhece aquela estatura e aquele jeito de andar, mas antes que fale alguma coisa, recebe um olhar repreendedor de Ibiki e se cala. Os dois ignoram totalmente o que acontece a sua volta e se concentram em ler a ficha do interrogado, era um membro da ANBU Ne, organização comandada por Danzou e provavelmente caiu quando ele foi morto, tinha um histórico impressionante de missões concluídas, e era um dos membros mais letais listados ali. Os dois olham para Inoichi, que tinha até se esquecido do que fazia ali, para analisar os novos integrantes, tinha vaga impressão de conhecê-los; Naruto e Hinata por sua vez, adivinharam de pronto o que o Yamanaka estava fazendo ali, visto que o clã tinha habilidades muito especificas e uteis para interrogatórios, e mesmo reunindo pouca informação, pesquisaram o que podiam sobre os clãs de Konoha, e isso incluía aquele.

— Algum progresso, Inoichi-san? — Naruto pergunta calmo, sabia que pelo protocolo, quem não usava máscara poderia ser chamado por seu nome real.

— Ain... ainda não. — Inoichi gagueja, estava lívido ao reconhecer a voz do garoto — Ele tem a mente cheia de selos.

— Pode começar, Neko. — Naruto fala a Hinata e ela abre seu estojo sob a mesa.

Ela pega então, uma pequena espátula, era perfeita para retirar partes, e começaria por isso; Hinata era sistemática em seu modo de agir, começava por coisas pequenas e ia aumentando gradativamente. A menina retira as luvas do ninja que acabara de despertar do torpor induzido que Inoichi o deixara, ele sorri perverso quando vê o instrumento na mão dela, achava que aguentaria qualquer coisa, afinal fora isso que aprendera na ANBU Ne, mas o que ele não sabia, é que a situação que a Hyuuga e o Uzumaki vivenciaram mais cedo, os deixara mais obstinados do que nunca, eles tinham que descobrir todos os planos, armações e segredos que Danzou podia ter confidenciado aos seus subordinados, essa era a forma que tinham de ajudar seu sensei, mesmo que de longe, além de obedecer o pedido dele, de servir a vila no que quer que fosse. Hinata passou os próximos minutos, arrancando as unhas do ninja, intercalando o processo com perguntas sobre o que ele sabia dos planos de Danzou, a ANBU Ne, o clã Uchiha, Orochimaru ou a Akatsuki; ela não se alterou em nenhum momento do processo, mantinha a voz calma e neutra, nem quando o ninja lhe cuspiu o rosto, ela se descontrolou, mas os dois homens que assistiam tudo, estavam estupefatos com a frieza da menina, e ficaram muito nervosos com os gritos que ouviam, não que não soubessem o que Ibiki fazia, mas aquilo era diferente vindo de uma menina que tinha a idade dos seus filhos.

— O que vai acontecer com ele depois daqui? — Naruto pergunta, descendo da mesa que ele sentara para assistir.

— O mesmo de sempre, esse ai, pelo que descobri com uns comparsas mais dispostos a falar, é tão ordinário quanto aquele homem do outro dia, cometia crimes em igual escala em vilas mais pobres, sem falar no que fazia para algumas camponesas. — Ibiki explica, não entrando em muitos detalhes, não sabia se Kurenai já tinha tido esse tipo de conversa com o garoto.

— Então tudo bem se eu tentar uma coisa? — Naruto pergunta sem revelar muito.

— Se fizer ele falar, sim. — Ibiki concorda e ele anda a frente, trocando de lugar com Hinata.

— Ele vai falar. — Naruto fala se concentrando com as suas mãos segurando os braços do homem.

— O que ele... — Inoichi pergunta perdido e recebe uma reprimenda de Hinata.

— Façam silêncio, Kitsune precisa se concentrar. — ela adverte e fixa seus olhos no menino, com certeza aquilo era novo em um interrogatório.

No instante seguinte, o interrogado se vê a frente de uma enorme grade com dois olhos vermelhos o fitando impiedosos, sente suas pernas cederem e nem sabe como está vivo, já que nem respirar direito ele consegue; o menino a sua frente está escorado de forma despreocupada na grade, o rosto neutro, sem demonstrar qualquer emoção.

— Você podia colaborar comigo e me contar o que sabe, ou pode virar o jantar do meu amigo, sabe ele está com fome há muito tempo. — o garoto fala sem pressa e logo um rugido ensurdecedor é ouvido, fazendo eco pelas paredes.

O homem se treme inteiro com a visão da Raposa de Nove Caudas, e mais ainda com a menção de ser jogado dentro da jaula; tomado pelo pavor, ele desata a contar tudo, nomes, esconderijos, alianças, o diabo a quatro. Quando Naruto volta a se mexer no seu corpo físico, onde não se passara nem cinco minutos que se ausentara, ele executa o homem sem dar tempo que o mesmo começasse a implorar, ato que deixa os dois que não conheciam esse lado do garoto surpresos.

— O que você fez? — Inoichi pergunta aturdido pela atitude dele.

— Já temos o que precisamos. — Naruto responde de forma mecânica e se dirige ao mapa na parede atrás deles  e passa a marcar diversos pontos e escrever diversos nomes — Aqui são os esconderijos da ANBU Ne, todos os que estão no País do Fogo, ele disse que para saber sobre as outras nações, precisamos pegar alguém das fronteiras. Esses são os membros que podem ter informações relevantes.

— O que fez para ele falar, Kitsune? — Shikaku pergunta com medo da resposta.

— Apenas o levei para conhecer a Kyuubi. — Naruto responde indiferente, a raposa tinha dado a ideia e ele achou que valia a pena tentar.

Ibiki ficara satisfeito com o resultado e já mandava um guarda buscar o próximo da lista que o garoto fizera.

— Pelo visto, a noite não vai ser tão longa quanto pensei. — o Morino comenta entusiasmado, ao que os outros dois só se retraem.

— Acho que devia usar seus olhos Neko, pode ver as oscilações de chakra quando mentirem. — Naruto recomenda e Hinata apenas concorda em silêncio.

Ambos se preparam para o novo interrogado, lendo a ficha dele, enquanto dois guardas retiram o corpo do último dali. Aquela noite fria do inicio do inverno, estava moldando os dois, moldando suas convicções e a maneira como viam o mundo; mas não de um modo que fosse ruim, pois depois de ver tanta maldade, eles aprenderam a valorizar, a prezar as coisas boas, as boas amizades, a família, o amor e o carinho, aquela noite definiu tudo que Naruto e Hinata mais queriam proteger em sua vila, em suas vidas.


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