O Sol e A Lua escrita por Luana de Mello


Capítulo 2
Minha Amiga


Notas iniciais do capítulo

Oi pessoal, mais um capítulo quentinho pra vocês! Espero que gostem!



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O sol já despontava no céu azul, iluminando toda Konoha, fazendo os pássaros saírem de seus ninhos para saudarem o novo dia, mas na cabana mais afastada da vila, naquela clareira que os raios de sol invadiam por entre os galhos das árvores, para beijar as flores silvestres que ali cresciam; duas crianças dormiam serenas o sono dos justos, mas uma delas logo acordaria mais agitada que nunca. E bastou o canto dos pássaros, para fazê-lo abrir os olhos, estava eufórico e não conseguiria dormir mais, um sorriso gigante logo tomou conta do seu rosto rechonchudo, que ainda continha muitos traços do bebê que fora um dia; Naruto pensava em todos os anos que esteve sozinho ali, somente com Kurenai-san por companhia, todas as vezes que tentou se aproximar das crianças da vila, mas sempre sendo excluído e humilhado por essas, e tudo sem nunca entender o motivo. Ele só queria brincar, dizia suplicando, não era um menino mal, Kurenai-san garantira isso a ele muitas vezes, mas ainda assim era deixado de lado; com o tempo parara de tentar se aproximar, apenas os observava de longe, enquanto eles corriam e brincavam de pega, queria ser como eles, queria ter muitos amigos, amigos que quisessem brincar com ele sem chamá-lo de monstro, que ele nem sabia o que era direito, apenas entendeu, depois de ouvir que só chamavam a ele assim, deduziu que deveria ser alguma coisa ruim, e de fato era, já que Kurenai-san não quis lhe explicar o significado daquela palavra difícil, ela só garantiu que Naruto não o era.

Mas hoje seria um dia diferente, sabia que seria, hoje seria o primeiro dia com sua nova amiga e estava ansioso por brincar com ela, queria mostrar para a menina os seus poucos brinquedos, para que ela escolhesse o que lhe agradasse mais; Kurenai-san o ensinou a ser gentil com as pessoas, a ser hospitaleiro, e mesmo que não tivesse muito o que oferecer para a menina, faria o que estivesse ao seu alcance para ela ser sua amiga para sempre. Na noite passada, estava tão exultante de alegria, que não se importou nem um pouco de dividir sua cama com ela, Kurenai-san lhes dissera que seria até o vovô mandar uma cama para Hinata, mas ele não se importaria, deixaria ela dormir o quanto quisesse ali, só para que não fosse embora como todos faziam; assim a mulher os colocou na cama, depois de fazer um prato para a menina, que estava faminta por sinal, e cada um em uma ponta da cama, os dois pegaram no sono ao ouvir sua tutora contar uma história de contos. Agora Naruto estava impaciente, queria que sua amiga acordasse logo para poderem aproveitar o dia, mas esperaria, já que Kurenai-san se zangaria com ele por acordar a menina.

Kurenai se espantou ao entrar no quarto dos pequenos, e encontrar Naruto muito acordado, ele apertava as cobertas e demonstrava toda a sua impaciência, mas se mantinha quietinho na cama. Riu ao notar o desespero que seu pequeno menino estava sentindo, se bem o conhecia, ele queria muito brincar de todas as coisas que fora privado durante esses anos; a mulher se aproximou da cama com calma, passou a mão sobre os cabelos negros da menina e lhe fez um afago, a pobrezinha parecia estar tão cansada e abatida, estava fora do peso normal para sua idade e ainda tinha todos aqueles hematomas. Com todo aquele trauma, Kurenai até pensou que ela não falava mais, e se surpreendeu quando a ouviu desejar um singelo boa noite, foi então que percebeu que a menina não falava por receio, era nítido o medo em seus olhos tão belos; Hinata se retraia inteira a menor elevação de voz, mas o engraçado é que isso era apenas para os adultos, com Naruto ela se soltou um pouco mais, deu leves risadas e não se assustava com os súbitos surtos de alegria do garoto. Foi com uma grande dor no coração que notou que Hinata morria de medo dos adultos, e isso era suficiente para fazer Kurenai espumar de raiva, só de imaginar o quanto de maldade tinham feito àquela menina. 

Sentindo o carinho em seus cabelos, Hinata foi despertando, abriu lentamente seus grandes olhos e encontrou Kurenai a fitando, mas era de uma forma que a menina nunca fora fitada antes, era um olhar de carinho, de ternura. A pequena sentou seu corpinho na cama e esticou os bracinhos, viu sua tutora sorrir com seu gesto e se envergonhou por parecer tão a vontade, se seu pai a visse agora, com certeza seria repreendida ou talvez até castigada, por que a herdeira de um clã não devia se portar daquela forma tão desleixada, devia ser firme e séria o tempo todo para impor respeito; mas logo sua atenção foi desviada para a outra ponta da cama, onde encontrou um par de olhos muito azuis a fitando e um sorriso maior que o mundo, isso a acalmou, estava começando a se sentir em casa e queria passar o resto da vida ali. A menina, mesmo com seu raciocínio infantil, sabia que estava segura ali, sabia que nunca mais teria medo; a única hora que se sentiu triste naquela casa, foi quando acordou no meio da noite, sentia falta da sua mãe e isso a fez ter um pesadelo, acordou chorando e sentindo uma enorme saudade da mãe e ficou com muito mais medo quando viu o quarto escuro; foi então que ela ouviu o garotinho sentar na outra ponta e perguntar sonolento o que ela tinha, e como ela não respondia, prometeu que tudo ficaria bem, e como se fosse mágica, a menina conseguiu ficar calma e voltou a dormir, acreditando na promessa dele.

— Bom dia Hinata! — saudou a mulher gentilmente, recebendo um cumprimento tímido em resposta — Bom dia Naruto! Você meu pequeno homenzinho, já conhece as regras da casa, ensine sua amiga como as coisas funcionam, eu vou preparar o café.

Os dois pequenos pulam da cama, e tocam seus pezinhos descalços no piso gelado. Hinata se sentia perdida, não sabia o que fariam a seguir, não sabia que regras eram essas e tinha medo que fossem tão rígidas quanto as do clã que veio, ela estava tremendo, tinha medo de que Kurenai se zangasse com ela e a mandasse de volta para seu pai. Mas apesar disso, seus olhos se fixaram em Naruto, curiosa com o que ele fazia.

— Que eu faço? — pediu baixinho, quase num sussurro.

— A primeira regra Hinata-chan, sempre arrumar a cama. — disse o menino.

Ele então se pôs a retirar as cobertas da cama, as estendeu no chão com muita dificuldade e então passou a dobrá-las, quando virou-se para a cama, a menina já havia esticado os lençóis e arrumado os travesseiros. Feliz que sua amiga tinha entendido a primeira regra, Naruto lhe deu seu sorriso gigante; apesar de ser muito bagunceiro por natureza, o garotinho sabia a importância da organização e aprendeu desde cedo com sua tutora, a nunca deixar bagunça pela casa.

— Agora vamos tomar café, Hinata-chan. — disse e já saiu puxando a menina pela mão.

Quando entraram na cozinha, encontraram Kurenai já terminando de por a mesa, a mulher os ergueu um de cada vez, e os colocou sentados em seus banquinhos, servindo em seguida seus pratos. Os pequenos devoraram a refeição sem reclamar de nada, para a satisfação de Kurenai, Naruto porquê sabia que não se deve desperdiçar comida, mesmo quando não gostava do prato, a mulher se condoía quando lembrava que a antiga tutora do menino, por vezes o deixava com fome; quando assumiu os cuidados do garoto, há exatos dois anos, o encontrou em uma situação deplorável, todo sujo e muito desnutrido, qualquer aproximação que tentava era prontamente recebida com gritos e um choro sentido, Naruto tinha verdadeiro pânico de ser tocado, hoje ainda tem medo de estranhos, mas já aparenta uma grande melhora. Já a menina delicada a sua frente, parecia encantada com a refeição, e Kurenai já adivinhando a dieta rígida e totalmente ridícula que ela, com toda certeza, teve que seguir durante esses anos por causa do clã, decidiu preparar algo especial para o primeiro café da manhã da pequena na nova casa. Os dois terminaram a refeição em silêncio, Naruto ansioso como estava, logo tratou de tirar seu prato da mesa, saltou do banquinho e foi em direção da pia, Hinata vendo o que ele fez, o imitou e foi levar seu prato também; Kurenai ficou satisfeita ao notar o quanto ela era observadora e perspicaz, e a ideia de seu sogro de torná-los uma dupla especial parecia cada vez mais acertada para a mulher.

— Agora os dois vão se lavar e se trocar para começarmos as lições do dia. — a mulher fala com calma e percebe que a menina já não se retrai tanto com sua voz.

Os dois saem a passinhos curtos e ligeiros até o banheiro, Naruto divide o banquinho que usa para alcançar a pia, ele está muito satisfeito de dividir tudo com ela. Enquanto arruma a sala para as lições, Kurenai escuta pequenas e gostosas risadas vindas do banheiro, isso era um bom sinal, os dois precisam se dar muito bem juntos, para que os planos do Hokage funcionem. Naruto e Hinata foram então para o quarto que dividirão de agora em diante, a menina procurava suas pequenas malinhas para achar uma roupa, mas não as encontrava em parte alguma, começou a temer que as tivesse esquecido na sala do vovô; Naruto vendo que ela ficara parada indecisa no meio do quarto, achou que estava chateada com algo.

— O que foi Hinata-chan? — perguntou chamando a atenção da menina.

— Eu não tenho roupas. — disse num fio de voz.

— Eu te deixo usar as minhas, pode ficar com esse pijama pra você. — o menino fala animado e vai até o guarda roupas pegar peças para os dois, mas quando abre a porta, encontra coisas que não eram suas ali — Ei Hinata-chan, acho que suas roupas estão aqui, Kurenai-san deve ter guardado pra você!

A menina sorri aliviada, não gostara de saber que estava tirando coisas do seu amigo, por mais que ele se mostrasse feliz em dividir; ela escolhe sua roupa e se troca, e enquanto faz isso, outra dúvida surge em seus pensamentos, e mesmo com vergonha por perguntar, mas querendo muito uma resposta, resolve questionar seu amigo.

— Ainda posso usar esse pijama? Eu não tenho nenhum. — ela fala com as bochechas vermelhinhas de vergonha.

— Claro que sim Hinata-chan! Mas por que não tem pijama? — ele pede curioso enquanto veste sua camisa.

— Meu papai não deixava, eu tinha que dormir com uma veste diferente, ele dizia que uma líder não devia se vestir como uma pessoa comum. — ela conta e se surpreende, nunca falou tanto de uma vez só.

Outra dúvida surge, e dessa vez Hinata não sente medo de perguntar, ela já tinha percebido que aqui ninguém ralharia com ela por falar qualquer coisa, estava aos poucos se soltando.

— Onde sua mamãe dorme? Não vi outro quarto aqui. — pede e calça sua sandália.

Ela tinha achado essa casa tão diferente, não era grande e intimidante como as grandes mansões Hyuuga, era pequena e aconchegante, só vira um banheiro, esse quarto e a cozinha junto da sala, estava começando a deixar sua curiosidade falar mais alto, e a primeira coisa que queria descobrir, era tudo que pudesse sobre seu primeiro amigo.

— Kurenai-san dorme na cama que ela monta na sala, ela disse que não poderá viver aqui pra sempre, então não teria sentido outro quarto. — ele conta e já a puxa pela mão para voltarem para a sala — E Kurenai-san não é minha mamãe, eu não tenho mamãe e nem papai!

Sempre que pensava nisso, Naruto se entristecia, quando conheceu Kurenai-san pensou que ela era sua mamãe, mas ela lhe explicou que seu papai e sua mamãe já haviam morrido e por isso ela cuidaria dele, ficou feliz que pelo menos teria Kurenai-san; mas ainda assim, toda vez que via as crianças da vila junto de seus pais, Naruto sentia uma pontada no peito, ele não sabia o que era aquilo que sentia, mas doía tanto que tinha vontade de chorar, por vezes se perguntava se era por isso que ninguém gostava dele, só por que não tinha os pais e pensava como seria bom ter os dois, como seria divertido brincar com seu papai, igual os outros meninos faziam, ou como seria gostoso receber um abraço da sua mamãe, como todas as outras crianças. Vendo a tristeza estampada no rosto do garoto, Hinata também se sentiu triste, ela sabia o que ele sentia, mesmo tendo os pais, nunca recebeu nenhum carinho dos dois, nem um abraço ou sorriso, aquilo lhe causava uma dor tão grande, ela não sabia explicar o que sentia, mas sentia mesmo assim. Num ato tão inocente quanto os dois eram, ela abraça Naruto, sem saber por que fez aquilo, ou como conseguiu fazer, mas parecia o certo no momento; mas quando o abraçou, um pouquinho da sua dor foi embora, sentiu segurança e tranquilidade, decidiu ali, que queria sempre abraçar seu amigo. Naruto por sua vez, sentiu seu peito aquecido, não tinha mais aquele peso que embolava sua garganta, agora podia respirar e nunca mais queria soltar aquela menina.

— Eu acho que agora eu também não tenho mais papai ou mamãe. — conta triste, pequenas lágrimas se formam em seus olhos — Ouvi o vovô dizendo ao meu papai que eu não era mais sua filha!

Naruto pensou sobre aquilo um pouco, não entendia como isso podia acontecer, se seus papais eram vivos, por que ela não podia mais ser sua filha? Por outro lado o pequeno sabia que aquilo não devia ser uma coisa boa, e no seu entendimento, achou a pior coisa do mundo, ainda mais quando viu que a menina se entristecia muito e parecia querer chorar com aquela situação. Em sua cabecinha, se formavam várias estratégias para deixa-la feliz, e com isso em mente, lhe deu um grande sorriso, daqueles que faziam seus olhos se fecharam de tão grande.

— Mas agora tem eu, Hinata-chan! Eu sou seu amigo para sempre! — disse eufórico, tentando mostrar para a garota, o quanto suas palavras eram verdadeiras.

Hinata sentiu uma alegria sem igual com essa pequena declaração, mesmo sem poder mensurar nada ainda, sabia que para sempre era muito tempo.

— Eu também sou sua amiga para sempre, Naruto-kun! — decidiu declarar também, para a alegria do garoto, que sorriu mais ainda.

Os dois voltaram para a sala, onde Kurenai os aguardava e ficou encantada com os sorrisos que viu em seus rostinhos, Naruto parecia que iria explodir de alegria, e Hinata estava tão leve, que nem aparentava a menina retraída e amedrontada da noite passada. Já sabendo o que fazer, ele senta em sua cadeira e a menina o acompanha, se sentando ao seu lado, os dois pares de olhos, azuis e perolados, se voltam então para sua tutora, curiosos e ávidos por descobrir o que ela tinha lhes preparado.

— Hoje crianças, vamos praticar a leitura e a escrita, sei que já fez algumas aulas no clã Hinata, então vou passar a atividade e ver o que já sabe, o que tiver dúvida, você me pergunta. — a mulher explica e entrega aos dois, cadernos e lápis, e logo se volta para seu quadro desmontável atrás de si.

Naruto suspirou entediado, não gostava de leitura e muito menos de escrever, mas se esforçaria, afinal Kurenai-san havia lhe dito uma vez, que se queria se tornar um grande ninja um dia, teria que aprender a ler e a escrever muito bem. Já Hinata achava divertida essa lição, Kurenai-san explicava tudo com tanta calma, que ela não demorou a entender e fazer as formas corretas das letras; tão diferente dos seus professores no clã, que só gritavam e xingavam, tanto que ela nunca conseguiu escrever mais que algumas linhas por aula. Os dois pequenos seguiram assim por mais da metade da manhã, entretidos e empenhados em fazer a lição corretamente; pararam um pouco, para que a tutora fosse preparar o almoço, mas a seguiram para a cozinha e se sentaram a mesa para ver o que ela faria.

— Quando souberem ler e escrever direitinho, o que não deve demorar muito visto o esforço que estão fazendo, eu vou ensiná-los a cozinhar, tenho só dois anos para ensinar-lhes tudo que precisam para viver sozinhos. — a mulher fala amável, mas se ressentia por ter que deixar as duas crianças em breve, odiava essas leis absurdas, mas não tinha muito o que fazer além de cumprir sua missão — Vamos usar esse tempo também, para iniciar seu treinamento como Shinobis de Konoha, mas quando eu for embora, nós vamos focar somente nisso.

As crianças não entendiam direito o que implicava ser um Shinobi de Konoha, mas já eram maduros o suficiente, para entender que isso era algo grande e que seria trabalhoso e talvez até perigoso; mas independente disso, os dois estavam empolgados e ansiosos para começar, queriam se provar e provar aos outros o quanto eram capazes. Hinata queria provar ao seu clã que não era uma inútil e que poderia ser forte, já Naruto queria provar a todos que o rejeitaram, que não era um monstro e merecia ser respeitado. Assim se formavam sonhos e ideias naquelas cabecinhas inocentes, sem muita certeza de que direção tomar ou de que esses sonhos seriam concluídos, a única certeza que os dois pequenos tinham, era que percorreriam aquele longo caminho juntos.


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