Pretérito Imperfeito escrita por Fe Damin


Capítulo 3
Capítulo 02


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoal!
Mais um capítulo para vocês, vamos ver o que aconteceu com as meninas!
Espero que gostem :)



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Da mesma forma repentina com a qual foram puxadas de onde estavam, Hermione e Ginny voltaram a ver o mundo sólido em seu entorno. A cabeça de ambas ainda rodava, permanecendo incertas de que tinham qualquer tipo de firmeza em seus corpos. O susto com a ação inesperada do vira-tempo, as deixou num leve estupor, a mão da Ginny continuava presa ao ombro da Hermione, e esta não fora capaz de quebrar o olhar hipnotizado para o objeto que tinhas entre os dedos.

O único barulho que escutavam eram suas próprias respirações aceleradas. A imobilidade durou por mais alguns instantes, até que as sensações estranhas começaram a desaparecer. O estômago não parecia mais querer sair pela boca, nem tampouco a cabeça parecia alvo de um balaço raivoso. A Ginny foi a primeira a reencontrar a voz.

—O que aconteceu? - essa era a pergunta do momento.

—Não faço a mínima ideia… vira-tempos não funcionam dessa maneira - as palavras da garota denunciavam sua preocupação.

—Pelo jeito esse daí não funciona de jeito nenhum, só se for para deixar os usuários tontos.

—É… - a morena começou a concordar, porém olhou mais atentamente em volta e o que viu fez um arrepio percorrer sua espinha - não!

Ela andou de um lado para o outro, confirmando a cada passo suas suspeitas.

—O que foi, Mione? - a amiga se assustou com a reação súbita.

—Esse não é o meu quarto, Ginny!

—Isso é algum efeito colateral do vira-tempo? Claro que é o seu quarto, olha ali - ela começou a apontar em volta - a lareira, sua mesa, o sofá…

—Sim, sim… o lugar é o mesmo, mas não é! - ela se aproximou da escrivaninha - essas não são as minha coisas! 

De fato, os materiais muito bem  organizados naquele móvel, não eram os mesmos que repousavam ali apenas momentos antes.

—Calma, Mione vamos ver o resto - sem esperar pela amiga, Ginny se adiantou para a porta do quarto apenas para constatar que a teoria estava certa.

Não era um porta retrato com a foto do Harry, Ron e Hermione que estava no criado mudo, e sim a de um casal mais velho que elas não reconheciam. Na cama, as diferenças iam da quantidade de travesseiros, ao jeito diferente do qual a Hermione arrumava - invariavelmente - seus lençóis. Se elas tivessem se demorado mais no cômodo, achariam ainda muitas evidências de que realmente não se encontravam no mesmo local de antes.

—Você acha que nós…

—Viajamos no tempo? - a Mione perguntou - por hora me parece a explicação mais plausível, mas isso não importa agora.

—E o que é mais importante do que saber onde estamos? - a Ginny estava se controlando ao máximo para não perder o controle da situação, apesar de no fundo estar sentindo uma onda de empolgação.

—Temos que sair daqui, dar um jeito de voltar de onde viemos - a Hermione declarou no modo habitual de resolução de problemas.

—Voltar sem nem saber o que nos trouxe até aqui, aliás, sem nem saber onde é aqui? E a mensagem escrita no vira-tempo? - ela olhou incrédula para a amiga.

—Qualquer que sejam as respostas, não interessa, Ginny, nós temos que voltar o quanto antes.

—Mas se você estiver certa, nós viajamos no TEMPO, Mione e não foram apenas algumas horas - Hermione olhou desconfiada para o brilho suspeito nos olhos castanhos da amiga - lê pelo menos o que está escrito..

Se rendendo ao pedido, até porque foi a razão de todo esse problema para começo de história, Hermione aproximou novamente o vira-tempo do rosto. Dessa vez conseguiu decifrar as letras que diziam apenas:

Quem guarda o passado, mantém o futuro intocado

—O que isso significa? Parece meio vago…

—Porque é! Provavelmente só alguma coisa que o dono quis gravar no objeto, sem significado algum - Hermione estava exasperada pela razão de terem se metido numa enrascada ter sido algo tão estúpido.

—Tem que ser algo mais do que isso, Mione. É muita coincidência para não ser! - a ruiva insistiu.

—Você está gostando disso não está? - ela levou as mãos à cintura - Provavelmente muito mais do que deveria

—Deixa disso, Mione, você não me engana, também quer saber o que está acontecendo - ela deu um sorriso de lado -  além disso é uma aventura.

—Primeiro, isso não é um aventura, está mais para ser um erro, e segundo, você não entende, Ginny, se realmente voltamos, mexer com o tempo - nem que seja um pouco - pode ser muito perigoso. Por que você acha que nem o Voldemort tentou? Ele podia ter retornado e impedido o ataque que fez aos pais do Harry, isso evitaria sua primeira derrota, mas ele não o fez - como sempre, ela buscava em seus argumentos, a força para conseguir o resultado que queria, mas a Ginny não era nenhum de seus amigos, tinha mais teimosia envolvida ali.

—Isso não quer dizer que não temos um motivo importante para estar aqui - ela retrucou.

—Um louco deixou um vira-tempo enfeitiçado no alcance de estudantes, esse é o motivo, temos que descobrir uma maneira de voltar.

—Mione, presta atenção - ela pegou os ombros da amiga e a virou em sua direção de modo a encará-la - Todas as vezes que você teve que participar das loucuras junto com o Harry e o Ron, o que teria acontecido se você não estivesse lá?

—Hã? - por que ela deveria pensar sobre isso no momento?

—Vou te dizer o que teria acontecido, uma bela de uma lambança, você tinha que estar lá tanto quanto eles, e foi assim para que tudo desse certo até hoje. E se agora é mais um desses momentos? - Hermione começou a sentir um aperto no estômago à medida que as palavras da amiga começavam a fazer mais sentido.

—O Harry e o Ron não estão aqui…

—Mas nós estamos, essa é uma aventura das meninas! - o sorriso da Ginny era impossível de não ver.

—Ginny, isso não é brincadeira, podemos acabar comprometendo todo o futuro, e nem sabemos exatamente quando estamos.

—Não é brincadeira mesmo, eu passei anos observando de longe as escapadas que vocês três davam, os cochichos para compartilhar os segredos que descobriram, as pequenas peças do quebra cabeça que no final vocês sempre conseguiram resolver. Olha bem pra mim e me diz que você não sente que está na mesma situação agora? - ela cruzou os braços esperando a resposta.

—Talvez… - sua intuição infelizmente concordava com a Ginny, era coincidência demais todos esses pontos se alinharem por um erro qualquer.

—Vamos pelo menos descobrir em que época estamos, quem sabe essa mensagem não faz mais sentido - ela pediu mais uma vez.

—Tudo bem… não é como se eu já tivesse alguma ideia de como voltar de qualquer maneira, mas não podemos ser reconhecidas! Temos que passar despercebidas - elas podiam até tentar descobrir algumas coisas, mas quanto a maneira mais segura de fazer isso, Hermione não colocaria em debate.

—Isso vai ser fácil, estamos de uniforme - com um sorriso travesso, ela correu para a porta e a abriu.

—Espera um pouco -  Hermione apoiou a bolsa que ainda carregava consigo e colocou o livro ali dentro, agradecendo mentalmente por não ter se desgrudado de sua fonte quase inesgotável de coisas úteis. O vira-tempo, ela preferiu colocar em volta do pescoço, enfiando-o por debaixo das roupas - pronto, vamos.

Ginny passou a cabeça pela fresta e olhou várias vezes para ambos os lados, se certificando de que o corredor estava vazio antes de saírem. Elas não tinham exatamente elaborado um plano, o que ia totalmente contra os príncipios da Hermione, mas ela parecia não estar conseguindo pensar muito bem, a possibilidade assustadora de estarem metidas em uma situação delicada, tomou conta de toda a sua mente. As garotas foram andando sem pressa pelos corredores que conheciam tão bem, O nervosismo crescia a cada passo, poi aumentava também a probabilidade de encontrar pessoas que não deveriam - ou não gostariam - de ver.

—Não fica olhando para os lados, ande normalmente, senão vai dar na cara, Gin - ela tentou acalmar a sua companheira, por mais que soubesse que não faltava coragem à Ginny, não dava para dizer que a ruiva estava exatamente acostumada a se encontrar nesse tipo de situação inusitada.

—Ninguém passou pela gente ainda - ela observou.

—Provavelmente ainda está no horário das aulas, a maioria dos alunos deve estar dentro das salas.

—Não podemos ir até a sala comunal - a ruiva eliminou a primeira possibilidade.

—O salão principal é muito arriscado também - completou a Hermione.

—Tem que ser algum lugar onde possamos observar sem chamar atenção.

—A biblioteca, é claro! - como ela não tinha pensado nisso antes? - E sempre tem algum exemplar do profeta diário, podemos ver a data.

—Ótima ideia!

Seus pés as levaram quase que automaticamente pelo caminho que terminava na porta da biblioteca. Durante o percurso, viram alguns poucos alunos que andavam apressados sem prestar muita atenção em volta, pelo que elas agradeceram silenciosamente.

—Tudo parece exatamente igual…

—Tenho impressão de que o castelo não mudou muito desde que foi fundado, então não é um bom indicativo de que época estamos - Hermione explicou, já tinha lido o livro sobre a história da escolas vezes o suficiente para saber com detalhes sobre as alterações que ocorreram ao longo do tempo.

—Você tem razão, os uniformes são idênticos também.

—Não podemos ter voltado mais do que um século então, foi a última vez em que fizeram alterações.

Ginny deu uma risadinha ao escutar a última informação. Ao ser indagada pela amiga sobre o que era engraçado, ela respondeu que a única pessoa no mundo que sabia datas de alterações de uniformes de Hogwarts devia ser ela, pois nem os pessoas que os confeccionavam deviam se lembrar mais. Hermione deu de ombros, esse era o tipo de coisa, que uma vez em sua cabeça, não saia mais. Ela era boa em lembrar detalhes e informações precisas, e já que conhecimento nunca era demais, ela não se importava em saber.

Pelos próximos minutos, Hermione percebeu que a garota ao seu lado tinha assumido um tom pensativo. O rosto ganhou alguns vincos de preocupação, e a falta de interação a deixou em alerta. Já estava a ponto de perguntar o que afligia a amiga, quando ela se voluntariou a compartilhar seus pensamentos.

—Mione, você acha que podemos estar na época em que você-sabe-quem estudava aqui? - foi estranho escutar de novo o antigo apelido usado para Voldemort, mas rapidamente Hermione entendeu o receio de ser escutada, se realmente fosse uma época em que ele já era conhecido.

—Eu sinceramente espero que não, mas não seria impossível. Nunca ouvi falar de um vira-tempo que conseguisse fazer viagem por anos, mas também nunca ouvi de um que funcionasse sozinho.

—Se ele estiver aqui… - a voz da Ginny morreu, e o tremor pouco característico em suas palavras clareou a razão de sua preocupação.

Sabendo que aquele não era um assunto leviano para a sua amiga, Hermione a puxou de leve até que parassem num canto parcialmente escondido do corredor em que estavam. Não faltava muito para chegarem à biblioteca, mas ela não deixaria a companheira lutando sozinha contra seus demônios pessoais.

—Ginny - ela segurou a mão da garota, exigindo toda a sua atenção -  ele não está mais na sua cabeça, nem que a gente de de cara com ele, não tem como ele te afetar daquele jeito - ela usou o tom mais confiante, desejando passar uma sensação de segurança.

—Você tem razão, eu estou sendo idiota - a ruiva chacoalhou a cabeça, dispensando suas besteiras.

—Não é idiotice ter medo, Gin.

—Se temos alguma tarefa para realizar aqui, não posso ter medo - ela argumentou.

—Quem falou? Você acha que eu não estive medo desde o primeiro momento em que nos vimos de frente para aquele cão de três cabeças? - parecia até uma outra vida, mas cada momento estava gravado permanentemente na memória da Hermione.

—Então você é muito corajosa - a amiga tentou levantar um pouco o astral daquela conversa, um sorriso pequeno aparecendo em seus lábios.

—E você também é, coragem e medo não se excluem, na verdade andam lado a lado.

—Agora você está soando sábia demais, andou lendo algum livro de citações do Dumbledore?

—Talvez eu tenha prestado atenção nos discursos dele - a morena disse divertida.

—Obrigada, Mione - a sinceridade estava estampada no castanho de seus olhos.

—Vamos, falta pouco para a biblioteca.

Sem parar mais nenhuma vez, elas entraram na biblioteca com a serenidade de quem tinha todo o direito do mundo de estar ali. Por se tratar de uma manhã em dia de semana, as várias mesas e cadeiras do local se encontravam - em sua maioria - vazias, o que elas não puderam deixar de agradecer. Quanto mais pessoas encontrassem, maiores eram as chances de alguém realmente prestar atenção e perceber que se tratavam de duas desconhecidas. O primeiro indício concreto de que realmente estavam no passado, veio com a falta de fios brancos e de rugas no rosto da Madame Pince. A bibliotecária tinha o mesmo ar austero de sempre, porém eram visíveis os anos a menos.

As duas não ousaram nem respirar muito alto ao passar pela mesa da bibliotecária, se acabassem chamando sua atenção, seria o fim, aquela mulher conhecia de cor o rosto de todos os estudantes que perambulavam entre os seus queridos livros e - por mais que no futuro fosse ser diferente - Ginny e Hermione não faziam parte da lista. Elas percorreram as prateleiras sem pressa, até chegar à mesa perto do canto esquerdo, onde geralmente estavam as cópias do jornal do dia.

—Droga, não tem nenhum jornal aqui! - Hermione praguejou baixinho ao encontrar o local vazio.

—Será que é um costume que começou depois?

—Duvido muito, acho que está mais para má sorte da nossa parte.

—Você está sendo um poço de otimismo, não? - Ginny zombou, mesmo sabendo que o mau humor da amiga se devia a todas as preocupações que se passavam em sua cabeça.

—É a minha especialidade - a outra respondeu com ironia.

—Bom, esse plano falhou, o quão suspeito é simplesmente perguntar a alguém que dia é? - a ruiva não perdeu tempo em procurar logo uma nova tática, hábito desenvolvido pelos anos jogando quadribol, onde o pensamento tinha que ser o mais rápido possível.

—Não seria muito se o nosso interesse não fosse o ano… como alguém pode não saber em que ano está?

—Hogwarts podia muito bem ter um calendário gigante flutuando em algum lugar - parecia uma coisa tão simples, uma informação tão básica, saber a data do dia, Ginny estava começando a se irritar com a dificuldade em conseguir a informação.

—Mas o fato é que não tem, vamos ter que dar outro jeito.

—Então é de volta para os corredores, espiando para ver se achamos alguma coisa que nos situe.

—Não gosto muito dessa ideia, Gin - as duas ainda cochichavam dentro da biblioteca - muitas coisas podem dar errado, já pensou se damos de cara com alguém que conhecemos? Ia ser um desastre!

—E você propõe o que? A gente fica aqui escondidas para sempre? Também considero isso um desastre…

O tom exasperado da ruiva fez Hermione engolir uma risada.

—Eu nunca tive tantas réplicas para as minhas decisões antes, acho que vou ficar com saudade dos meninos - ela provocou.

—Aprenda logo que eu sou mais teimosa do que o Ron e o Harry - a mais nova dos Weasley se endireitou em uma pose presunçosa.

—Juntos, você quer dizer, né? 

—Exatamente! - o sorriso em seus lábios dizia que sabia muito bem dessa sua característica e se orgulhava dela.

—Então vamos, daqui a pouco os alunos devem começar a trocar de aula, os corredores vão ficar cheios.

Andando sempre discretamente pelas bordas dos corredores, a dupla começou a percorrer sem rumo os vários caminhos onde as salas de aula ficavam situadas. Tinham acabado de passar por um grupo de alunos que saia de uma aula quando Ginny - que estava um pouco mais para trás - escutou atrás de si.

—Até mais, Potter, se prepare para uma revanche na próxima aula - uma voz masculina declarou.

Ao ouvir o nome conhecido, a ruiva se virou imediatamente, seu coração palpitando com a possibilidade de ver o namorado. Só teve tempo de registrar os característicos cabelos pretos revoltos se afastando antes de virar no próximo corredor.

—Harry? - ela chamou sem nem perceber.

—O que? - a parceira tinha notado sua falta e voltado para encontrá-la

—Eu acho que era o Harry, Mione, você não escutou? - sentia como se nenhum problema pudesse ser grande demais se estivessem numa época em que conheciam.

—Não escutei nada.

—Eu o vi virando o corredor, era ele, vamos - ela puxou a mão da Mione para que a acompanhasse, mas essa se prostrou firme no lugar.

—Não podemos simplesmente conversar com alguém do passado, Ginny! Principalmente que conhecemos. 

—Claro que não, isso eu já entendi - ela revirou os olhos para o excesso de zelo da garota a sua frente - mas dá para ver se reconhecemos o que está acontecendo.

—Bem pensado.

—Então vamos logo antes que a gente o perca de vista.

Tiveram que apertar o passo, transitando por entre os grupinhos de alunos, até encontrar de novo o garoto que seguiam até o primeiro andar. Ele se direcionou para a porta da sala - que ambas sabiam ser onde eram ministradas as aulas de transfiguração - e se encostou no batente, virando de frente para o corredor como se esperasse por alguém. Assim que as duas conseguiram enxergar inteiramente a pessoa que achavam ser o Harry, a primeira coisa que sobressaiu aos olhos de Ginny, foi a cor errada das íris que observavam distraidamente o ambiente.

—Não é ele… os olhos… - ela murmurou mais para si do que para Hermione, além disso notou o ar mais descontraído e seguro do estranho, não combinando muito com o seu namorado - aquele é…

Seu cérebro sabia que não era o Harry ali a poucos metros de distância, mas as semelhanças eram tão impressionantes que Ginny sentiu seu coração contrair com a saudade que já sentia dele.

—Acho que acabamos de descobrir a época em que estamos - Hermione declarou, também impressionada com o rapaz que poderia se passar por uma cópia quase idêntica do seu melhor amigo.

—É o pai dele, não é? - era a única explicação pertinente.

—Sim, aquele é o James - Hermione concordou, já tinha visto várias fotos dos pais de Harry, mas ao vivo eram ainda mais surpreendentes as similaridades - O que estamos fazendo aqui?

Aquilo não fazia sentido nenhum na cabeça da garota. Não existia nenhum tipo de problema relatado naquela época em Hogwarts, então o que poderia requerer uma viagem no tempo? Provavelmente elas tinham se precipitado ao assumir que estavam ali por alguma razão que não um mero acaso, aliás um perigoso acaso, pois pior do que mexer com o tempo tentando consertá-lo, seria, estragar eventos que estavam corretos.

As duas continuavam hipnotizadas observando  - por detrás de uma estátua - James Potter. Viram quando um de seus amigos chegou, eles começaram a trocar gracinhas numa conversa animada sobre acontecimentos que elas não reconheciam.

—Aquele só pode ser o Sirius - Hermione observou, mas a sua companheira nem prestou muita atenção.

—Ele realmente era muito bonito - o comentário admirado saiu do nada dos lábios da ruiva, fazendo a amiga dar uma risadinha.

—Quem, o Sirius? - ela provocou.

—Hã? - os olhos da Ginny se viraram para ela - também, mas estou falando do James…

—Claro que está, porque você olha o pai e vê o filho - ela zombou com um sorriso sugestivo.

—Sorte a minha que o Harry herdou todas as melhores partes, apesar que assim de longe não consegui avaliar muito direito - ela frisou as sobrancelhas - ele bem que podia dar uma viradinha…

—Ginny! Não estamos aqui para você ficar avaliando o pai do seu namorado - ela riu do absurdo - temos que ir.

—Estraga prazeres! - a ruiva torceu o nariz contrariada e saiu detrás da estátua sem prestar a mínima atenção, acabando por esbarrar numa aluna que vinha na direção contrária.

—Oh, me desculpa! - ela pediu a garota, que tinha se abaixado para pegar o livro que pulou de sua mão com o impacto.

—Sem problemas - a menina sorriu com gentileza e continuou apressada o seu caminho em direção à sala que antes observavam.

Tudo o que ficou registrado na mente da Ginny foram os olhos verdes, ao longe ela prestou atenção no tom vermelho vibrante dos cabelos, mas aqueles olhos, ela reconheceria em qualquer lugar.

—Por Mérlin, eu acabei de falar com Lily Potter! - sua mão voou para a boca que formava um O em surpresa.

—Lily Evans nessa época - Hermione a corrigiu -  Ginny, isso está confuso demais…

A mais velha fez menção de partir, retomando o plano inicial de sairem dali, porém sua companheira a impediu.

—Ah, não! Vamos ver só mais um pouco, que mal tem?

—Pra que, Ginny? 

—São os pais do Harry, você nunca imaginou como eles eram? - mais uma vez a curiosidade brilhava no fundo de seus olhos.

—Ouvi muitas histórias, tenho uma boa ideia…

—Ah, mas aqui é ver ao vivo, não é a mesma coisa, só um pouquinho, vai Mione! Assim a gente pode ter alguma coisa legal para contar ao Harry quando voltarmos, ela vai ficar feliz - a menção de uma possibilidade de deixar o amigo feliz,quebrou toda a resolução da garota em ir embora.

—Por que eu tenho impressão de que estou sendo muito facilmente convencida? - ela respondeu de mau gosto, mas mesmo assim consentiu em ficarem olhando mais um pouco.

Lily tinha chegado à porta onde James e o amigo se encontravam, sem nenhuma cerimônia, ela se virou apenas para um deles, ignorando claramente o garoto de cabelos bagunçados.

—Olá, Sirius - seu cumprimento foi carinhoso.

—E aí, Lily? Veio correndo? - ele fez alusão ao passo acelerado com o qual ela havia chegado.

—Acabei ficando pra tirar algumas dúvidas na aula passada - ela explicou - vou entrando.

A ruiva se virou em direção a porta sem nem reconhecer que o Sirius não estava sozinho. Ao perceber a completa falta de atenção da garota, o James deu um sorriso cheio de escárnio e se posicionou de forma a lhe impedir a passagem completamente, abrindo os braços para ocupar o espaço da porta.

—Continua educada como sempre - provocou olhando Lily de cima.

—Sou educada com quem merece, Potter, agora saia da minha frente! - as meninas se sobresaltaram com a resposta dura saindo dos lábios da pessoa que parecia ser feita apenas de gentileza. Não conseguiram evitar se encarar com os olhos arregalados, agora completamente fisgadas pela cena que se desenrolava.

—E eu só concedo “pedidos” de quem merece também - o sorriso debochado se estreitou, e ele abaixou a cabeça para aproximar mais da dela, que acabou dando um passo para trás -  e você sabe que pode até enganar os outros, mas a mim não, Evans.

Foi possível ver que a Lily se preparava para dar uma resposta em cheio, mas seus planos foram frustrados pela voz severa que os repreendeu.

—Posso saber que comoção é essa na minha sala de aula? - a professora McGonagall seria reconhecível em qualquer época, claro que era um rosto mais jovem que aparecia ali, porém o trajes característicos, seu coque apertado e os óculos quadrados a tornavam singular.

—Nenhuma, é claro, Minnie! - num piscar de olhos, James tinha se endireitado, saindo do caminho e assumindo sua melhor cara de inocente.

—Sr Potter, aconselho mais cuidado com suas atitudes, sua semana já está bem atribulada sem precisar de detenções - ela o advertiu.

—Longe de mim, isso é coisa do passado - ele sorriu para a professora que crispou os lábios e entrou na sala, seguida por todos que aguardavam do lado de fora.

Até para Ginny e Hermione que o viam pela primeira vez, ficou claro que James Potter sabia ser charmoso e carismático. Mais claro ainda, era o fato de que a Professora McGonagall não acreditava num pingo do que ele dizia e de que Lily Evans tinha tentado com muito afinco fingir que ele não existia.

—Nossa, quando fiquei sabendo que o James e a Lily não se bicavam pela maior parte do tempo na escola, nunca achei que fosse nada tão hostil - Hermione comentou assim que não tinham mais cena nenhuma para presenciar, o corredor novamente se encontrava vazio.

—Nem eu… pensei que estivesse mais no nível Ron e Hermione

—E o que você quer dizer com isso? - ela levantou as sobrancelhas com a gracinha da amiga.

—Dois cabeças duras que implicaram por anos quando na verdade queriam é estar se agarrando - ela deu de ombros.

—Ginny!

—Alguma mentira, por acaso? - a ruiva nunca foi dada a enrolações.

—Não é por isso que você tem colocar nessas palavras…

—Sem estresse, vocês são uma graça juntos agora, do mesmo jeito que aqueles dois vão ser um dia - ela apontou em direção ao local onde antes os pais do Harry brigavam.

—Até fiquei curiosa para saber como, ela parecia mais com vontade de amaldiçoá-lo do que de chegar perto dele…

—Quer que eu vá perguntar?

—Que pergunta idiota, Ginny - ela torceu o nariz para a amiga.

—Só estava me oferecendo para acabar com a sua curiosidade - respondeu com descaso.

—Bom, já que eles estão aqui devemos estar entre 1971 e 1978

A memória de Hermione valia para números e datas também, além de não ser nenhum desafio fazer as contas necessárias para saber em que anos James e Lily frequentaram Hogwarts. Podiam não saber precisamente, mas já tinham ao menos uma faixa de tempo.

—Olhando pela aparência deles, devem ser o últimos anos - ponderou a Ginny. As feições que viram, não combinava com ninguém com menos de quinze anos.

—A Lily tinha o Livro Padrão de Feitiços número 7 na mão, não era? - Hermione perguntou, se referindo ao volume que a garota deixara cair no chão.

—Acho que sim, não prestei muita atenção…

—Eu reconheci a capa, deve ser o último ano deles.

—Não, tem que ser o sexto - Ginny a corrigiu, sentindo um ligeiro nervosismo -  no último ano eles já eram um casal.

—Tem certeza disso, Ginny?

—Absoluta, o Harry ainda falou sobre isso há pouco tempo comigo - ela declarou convicta.

—Mas… aquele era o livro do sétimo ano! - Hermione não estava gostando nada da imagem que os pequenos pedaços de informação estavam formando.

—Será que ela pode estar estudando à frente? - a esperança se mostrava difícil de desconsiderar.

—Ginny, isso está me soando como uma péssima notícia…

—Calma, primeiro temos que confirmar o ano!

Hermione não aguentaria ficar mais um minuto naquela agonia de não saber. As engrenagens do seu cérebro se colocaram a funcionar, pensando na melhor maneira de descobrir o que precisavam. Naquele instante, dois alunos - que certamente eram do primeiro ano ao julgar pelas caras infantis e os olhares de admiração - passaram no lado mais afastado do corredor, era agora ou nunca.

—Por Mérlin, seja o que tiver que ser - sem dizer nada a Ginny, ela correu até os alunos, fazendo sua melhor cara de responsável.

—Olá querido, você foi escolhido para um teste de rapidez e aptidão, está pronto? - o aluno da Lufa-Lufa a olhou arregalando os olhos, parecia mais inclinado a fugir do que passar por qualquer tipo de teste, mas apenas chacoalhou a cabeça amedrontado - É só responder uma pergunta o mais rápido possível, ok?

—S-sim - ele gaguejou, a garota nem deu tempo para que ele pensasse no absurdo daquela cena.

—Qual é a data completa de hoje?

—Três de outubro de 1977! - ele respondeu de uma vez só, fazendo o estômago da Hermione afundar.

—Parabéns, a sua casa vai ganhar 10 pontos, pode ir - ela acenou para que a dupla continuasse, e eles não perderam tempo em se afastar, olhando-a como se fosse uma doida.

—O que foi isso, Mione? - a amiga perguntou quando ela voltou a se esconder atrás da estátua.

—Improviso… - a primeira coisa que tinha lhe chegado à cabeça eram os programas de perguntas e respostas que os trouxas tanto amavam, não adiantava tentar explicar para a Ginny, e no momento nem importava, tinham coisas mais sérias para se preocupar.

—Pensei que você disse que seria suspeito… - a brincadeira morreu quando ela notou o semblante fechado que a encarava - Que cara é essa?

—1977, Ginny, exatamente o mesmo dia em que estávamos, o que quer dizer…

—Último ano!

—Por que eles estavam brigando daquele jeito? - a Hermione colocou as mãos nas têmporas, tentando afastar a dor de cabeça que ela sentia se aproximando.

—Não faz sentido…

—Tudo bem que estamos no começo do ano letivo, mas eles não me pareceram prestes a começar a namorar.

Hermione torcia para estar completamente errada em suas conjecturas, mas as evidências não apontavam para resultados muito animadores.

—Mas pode ser só uma briguinha passageira, certo? Casais brigam, é normal - Ginny tentou racionalizar o problema.

—Você viu a cara que ele fez pra ela? Aquilo não foi uma briga qualquer de namorados.

Não vou com uma expressão de irritação, ou mera implicância que eles se encararam. Hermione classificava o que viu mais como raiva contida, o que não nascia de nada que fosse passageiro.

—Temos que ter certeza, Mione, não podemos ir embora assim... - ela começou a juntar argumentos para convencer a amiga, porém foi interrompida.

—Concordo!

—Essa foi fácil - Ginny arregalou os olhos admirada.

—O difícil vai ser como fazer isso - ela ignorou totalmente a gracinha da outra.

—Vamos ter que observá-los por mais um tempo.

—Exatamente, mas como sem sermos descobertas? - a Hermione buscou os olhos da amiga a procura de uma resposta.

—Você é a pessoa dos planos, não olha pra mim…

—Na pior das hipóteses, nós sabemos onde fica a cozinha, então temos como comer, mas onde vamos nos esconder… - se tivesse mais espaço, ela estaria andando de um lado para o outro.

—Não esquece que temos que conseguir acompanhar os dois… mas chegar perto da sala comunal da Grifinória vai dar errado.

—Talvez não tenha necessidade de ir até a sala comunal, se eu não me engano, os dois foram monitores chefes, e a localização dos quartos nós sabemos, espero que eles durmam lá… - um plano estava se formando em sua cabeça, as chances de dar errado eram grandes, mas precisavam agir rápido e não dava para elaborar mais do que aquilo.

—Bem pensado, Mione!

—Vamos voltar e nos esconder lá por perto, desse jeito vai ser mais fácil segui-los pelas aulas amanhã.

—E ver como eles se comportam - completou a Ginny, animada com o prospecto do plano.

—Não acredito que eu estou realmente sugerindo isso… - Hermione chacoalhou a cabeça -  parece que a culpa não era só dos meninos com todas as loucuras que fizemos.

Durante todos os anos na escola em que acompanhou o Harry e o Ron nas atividades “extracurriculares”, sempre se sentia levada pela corrente, mas se parasse para pensar mais honestamente, grande parte das vezes, fora ela a fomentadora das ações do grupo. Foi uma realização que chegou tarde, porém impossível de negar.

—Nunca achei que fosse - Ginny riu - esse é o motivo de você estar na Grifinória e não na Corvinal.

—Tarde demais para mudar agora - ela se rendeu com um sorriso torto no rosto - vamos.

Era melhor que fossem o mais cedo possível procurar um local adequado para se esconderem durante a noite, provavelmente uma das salas que ficassem mais próximas ao corredor dos dormitórios dos monitores. O nó que tinha se formando no estômago da Hermione, começava a se afrouxar com a percepção de que tinham um quase plano e que precisavam apenas segui-lo. Parecia que tudo funcionaria bem, se não fosse a voz ranzinza e familiar que chegou aos seus ouvidos.

—Ei, vocês duas! Parem aí! - elas não precisavam se virar para saber que era uma versão mais nova do Filch que gritava.

—Corre - Hermione sussurrou para Ginny.

As meninas ainda tentaram escapar virando no próximo corredor, mas se esqueceram de que onde estava Argus Filch, outro ser também acompanhava. Madame Norra as aguardava com seus olhos afiados, e pose ameaçadora.

—Não acredito que essa gata pavorosa já existe! - vociferou a ruiva.

Na manobra que tiveram que fazer para fugir do animal que as encarava, acabaram sendo encurraladas de vez pelo zelador que já tinha sua cara mal-humorada.

—Intrusas no colégio! Vamos ver o que fazer com vocês - com sua carranca impassível, ele puxou as duas pelo colarinho das capas, levando-as para sabe-se lá onde.




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Notas finais do capítulo

Socorroooo! Muitas informações nesse capítulo! Como assim ela foram parar em 1977? E que história é essa da Lily e do James estarem quase se matando?
Pra piorar a história, ainda foram pegas pelo Filch... o que será que vai acontecer com essas duas??
Não deixem de me contar lá nos cometários o que vocês estão achando.

Até o próximo capítulo
Bjus



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