Toda vez que o menino “traquinas” vinha para a creche a mesma cena acontecia. Ele se agarrava nas roupas da mãe e chorava horrores para que ela não o deixasse ali. Eu não conseguia entender... Era legal ir pra creche. Tinha massinha, tinha tinta guache, dava para brincar com outras crianças e bagunçar os brinquedos, além de que as tias eram muitooo legais.

Quando a mamãe dele saiu eu levei meu boneco do homem aranha preferido para o Gêmeos e lhe dei meu melhor sorriso, mas ele não ligou, continuou amuado na mesinha, rabiscando no papel.

Outro dia, mais chororô, mais comoção, e uma nova tentativa da minha parte. Levei meus tazos mais legais e o convidei pra jogar, porém ele pouco me olhou e continuou chorando enquanto rabiscava.

Decidi mudar minha estratégia. Trouxe a caixa de lápis de cor ultra mega blaster da mana (tive que pegar escondido) e rabisquei do lado dele. Estava frenético, bobão, usando três lápis de cada vez pra ficar muito colorido e bonito. Vi Gêmeos me olhando de maneira disfarçada, curioso.  Quando terminei minha arte eu levei o desenho muito animado para mostrar pra ele, o mesmo não conseguiu esconder que também queria ver. E foi aí que vi pela primeira vez o Gêmeos rindo, e não foi pouco.

— Esse troço verde é o Hulk??! – Perguntou.

Respondi quase ofendido. – Nãoooo, ele é o Picculo! Não tá vendo as anteninhas?

— Mas não parece! Ele tá gordão! – Riu.

— São os músculos, os músculos! – Falei, mas realmente não pareciam músculos. Era um Picculo GG. - E o que você tá desenhando?!

— Papai... – Falou baixinho, voltando a ficar amuado.

— Acho que nunca vi ele. Ele nunca te trouxe pra creche né?

— Não...

Olhei pro Leão e pro Sagi e eles estavam correndo pela sala, então vi que era ali que iriamos nos juntar.

— Vamos brincar de Pega-pega!! – Puxei pela mão e saí correndo atrás dos dois, dessa vez o outro me acompanhou.