Dragão Escarlate escrita por Hayata


Capítulo 9
Capítulo 8 - O lobossauro




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Enquanto andávamos até o refeitório, me arrependi de não ter procurado o diretor no meu momento de raiva na arena. Apesar de não estar prestando atenção, fui capaz de medir o poder de grande parte dos alunos da turma, só notando o tipo de energia que liberavam, queria muito ver que tipo de aura o diretor tinha.

—Vocês dois são mais fortes do que eu imaginava. – Eu disse, olhando para Dandara e G. – Quando eu estava indo regaçar a cara do Spike, pude ver um pouco do poder de vocês, até que é grande.

Dandara parecia um pouco confuso, mas G acenou positivamente com a cabeça:

—De fato, ainda temos muita energia para aprender a usar. Mas você sempre nos surpreende com a sua, só deveria ser mais cuidadosa. – Ele respondeu, me encarando com um olhar enigmático.

—Espera, vocês conseguem ver o nível de poder dos outros? – Dandara parecia completamente confusa. – Como faz isso? Eu quero ver também.

—Bom, eu só vi enquanto estava indo bater no Spike... mas eu estava liberando bastante energia, talvez se você fizer a mesma coisa, também consiga. – Eu disse, tentando animá-la.

—Acho que ninguém consegue liberar tanta energia assim, Alicia, pelo menos não tão cedo. – G respondeu, desaprovando minha ingenuidade. – É questão de tempo mesmo, se treinarem bastante vão conseguir enxergar com um pouco de concentração.

Chegamos ao refeitório e comemos como sempre. Dessa vez, Blair não estava conosco e eu não pude pegar pudim, realmente um almoço triste. Nos levantamos e fomos para a sala de aula, no horário certo, por incrível que pareça.

Nos sentamos e esperamos o resto da turma, sendo o professor o último a chegar dessa vez. Ele não fez sinal de que ia escrever no quadro, e como não tínhamos materiais, não nos importamos com esse detalhe, mas ele começou a dar a aula:

—Como vocês provavelmente já sabem, um número considerável de pessoas nesse mundo adquiriu poder. Estudos já apontam que grande parte disso advém de alguma modificação genética que permitiu que essas pessoas pudessem liberar uma forma de energia, frequentemente apresentando uma aura.

As informações que ele estava dando eram bem interessantes, e a aula não estava chata de forma alguma, mas eu ainda estava entediada por estar parada na sala de aula ouvindo ele falar. Acho que me acostumei com o movimento da arena, e isso aqui era o oposto.

—Cada pessoa expressa essa energia de forma diferente, podendo ter diversas mani... – Ele se interrompeu, ao ouvir um sonoro ronco. – Blair, pode acordar a sua colega? Francamente, era de se esperar um pouco mais de respeito.

Blair sussurrou para a menina à sua frente e ela acordou, bocejando alto. Não pude ver o seu rosto, mas ela tinha o cabelo num tom quase prateado, era só um pouco mais alta que eu e não era magra, seu pijama era azul-celeste. Não me lembrava de ter visto ela ali antes, mas considerando que também tinha alguns rostos novos, considerei que ela tinha chegado recentemente.

—Continuando, a energia pode ter diversas manifestações, gerando poderes extravagantes ou mudanças corporais interessantes. Algumas pessoas podem controlar elementos, objetos ou até mesmo fazer mudanças corporais acentuadas. – Ele olhou diretamente para Lina. – Outras pessoas podem se adaptar, fazer ilusões ou até mesmo acessar outras dimensões nunca antes vistas.

Ele continuou nos explicando a variedade dos poderes, citando formas já estudadas de como a energia era moldada pelo indivíduo que a manifestava, até que chegou em outro aspecto importante.

—Além disso, já discutimos sobre os monstros anteriormente, mas não nos aprofundamos o bastante neles, e vocês precisam saber. – O tom do professor ficou muito mais sério, chamando imediatamente a atenção da turma inteira. – Quando os monstros vão subindo de rank, eles ficam mais fortes e inteligentes. Um monstro nível alto não necessariamente vai ser grande ou liberar quantidades infinitas de energia, mas é bem provável que seja muito mais inteligente.

Ele fez uma pausa para respirar e aproveitou o momento para beber um pouco de água, pegando uma garrafinha azul com adesivos que nunca imaginei que poderia ser dele.

—Muitos desses monstros aparentam ser passivos de alguma forma, quase como animais da natureza, mas não são eles o problema que eu realmente preciso comentar agora. Nem todas as pessoas que adquiriram poder são boas, mas muitas delas ainda são fortes. Recentemente notaram-se muitos assassinatos feitos por pessoas com poderes.

A temperatura da sala pareceu cair 20 graus, os tijolos nas paredes agora me lembravam becos escuros em dias nevados, completamente frios.

—Vocês estão sendo treinados para lidar com os monstros, mas também com essas pessoas. Já sabemos que há pelo menos alguns grupos rank A e B, mas há a possibilidade de estarem sendo controlados por um rank superior, o que nos assusta. Por isso estamos treinando vocês tão arduamente, não podemos perder tempo. – Ele terminou o discurso, a sala estava em silêncio total. Até a menina que estava dormindo parecia tensa e atenta às palavras do professor.

O professor olhou em volta, procurando ver se alguém gostaria de perguntar algo. Vendo que ninguém apresentava dúvidas, ele quebrou o clima tenso e pesado da sala com uma pergunta nem um pouco relacionada:

—Para finalizar a aula, antes de irem embora, peço que escolham um representante de turma. Se é que dá para chamar isso de turma. – Ele sussurrou a última parte para si mesmo.

—Eu, eu aqui! – Imediatamente levantei a minha mão, era óbvio que eu era a melhor representação da turma, já que era a mais legal. – Eu vou ser uma ótima representante, vou representar a gente legal, o diretor vai até me dar uma medalha de representante de tão representante que eu vou ser.

Grande parte da sala deu risadas de mim, aparentemente não compartilhavam com a minha visão. Spike e alguns outros também levantaram a mão, mas quem falou foi o G:

—Acho que deveríamos escolher a Blair. – G disse, surpreendendo a todos nós. – Afinal de contas, ela é quem acalmou a Alicia anteriormente, ela realmente tem jeito com as palavras.

Blair pareceu corar de vergonha, nem mesmo tinha levantado a mão. O argumento do G foi bem válido, pois a maior parte da turma (excluindo algumas outras pessoas e Spike, obviamente) concordou com ele.

—Então é isso, Blair é a representante de vocês, estão dispensados. – O professor Fierce saiu da sala, sem deixar a possibilidade de ter algum argumento contra.

A maior parte dos alunos saiu da sala, mas pude ver Blair se aproximando da menina dorminhoca.

—Oi, meu nome é Blair, você é nova por aqui? – Blair falou cordialmente, ela realmente foi uma boa escolha para representante.

—É, sou, pode me chamar de Mia. – Ela falou de forma sonolenta, pude ver que seus olhos eram cinzas. – Eu cheguei recentemente, o professor já me atualizou da maior parte das coisas.

—Que ótimo! Espero que sejamos bem amigas, esses são G, Dandara e Alicia, são muito legais também. – Blair parecia contente, nos apresentou para ela.

—O que você pode fazer? Qual o seu poder? – Eu perguntei, ignorando enrolações.

—Nossa, apressadinha você... – Ela parecia um pouco incomodada com o meu jeito, mas não com a pergunta em si. – Eu posso fazer... isso!

Quando ela disse “isso”, ela tirou uma colher de metal do bolso da calça, nos mostrando ela de forma orgulhosa.

—Uau, G, olha só, ela consegue fazer colheres de ferro. – Eu falei animada e surpresa. – Se ela fizer uma para cada, não vamos precisar mais comer com aquelas porcarias de plástico!

—Não, sua anta, eu não faço colheres, o meu poder é o que eu consigo fazer com elas.

Eu me incomodaria com o comentário, mas a colher começou a flutuar e a se contorcer no ar, amassando rapidamente até ficar quase irreconhecível. Todos encaramos o objeto contorcido que agora estava sobre a mesa dela.

—Interessante, Metalocinese. – Era o G falando, eu achei que o poder dela era controlar colheres, mas ele explicou. – Você é capaz de manipular metais, bem interessante, vejo bastante potencial nisso.

—É, o pessoal me perguntou se eu precisava de algo para treinar, pedi coisas metálicas para eles, acho que vou precisar de objetos mais resistentes do que colheres. – Nós começamos a andar em direção ao setor dormitório.

—Ainda assim, me parece bem legal. – Dandara comentou. – E você realmente não vai precisar usar os utensílios de plástico, já é algo bem positivo.

Estávamos bastante cansados, então seguimos direto para os quartos para dormir. Dessa vez, escrevi em um dos formulários que precisaria de um livro de monstros e criaturas para estudar e conhecer mais sobre os meus oponentes, além de talvez descobrir um pouco mais sobre mim mesma (o G uma vez disse que minha energia lembra a de um dragão). Mas era óbvio que eu também queria saber se já existiam unicórnios ou coisas do tipo, só não deixei claro no pedido.

Ao chegar no quarto, fui tomar banho e dormir, extremamente cansada pela manhã complicada e todo o resto que tinha acompanhado (incluindo não poder comer pudim).

Na manhã seguinte, acordei e me surpreendi com o grande livro na minha escrivaninha, ele era volumoso e nem um pouco prático, possuía o desenho de um monstro gigante na capa, com certeza ainda era mais útil que uma pilha. Dei uma folheada nele, sem prestar muita atenção nos monstros. Infelizmente, não tinha nenhum unicórnio lá, mas achei uma página sobre dragões quase em branco, só continha algumas habilidades conhecidas, mas nada de fotos, ranks ou relatos eficientes.

Olhando um pouquinho mais, encontrei relatos do lobossauro. Aparentemente, ele não era apenas rank H, mas bem comum, sua carcaça valia bastante dinheiro (nem de perto do que valiam os ranks superiores). Lá também mostrava algumas de suas fraquezas: ele era rápido e um pouco inteligente, mas não esperto o bastante para ver através de uma boa estratégia. Além disso, seus sentidos eram aguçados demais, em um nível que dava para abusar disso. Força bruta pura também seria eficiente, caso o seu rank fosse mais alto que o dele, mas não era nosso caso.

Esse dia e os três subsequentes foram bem parecidos, nós basicamente continuamos treinando e melhorando constantemente. O maior diferencial foi que eu contei as fraquezas do monstro para os meus amigos, que armaram uma estratégia e discutiram-na com a turma. O professor não parecia informado do que estávamos fazendo, e se estava, não parecia se importar, apenas nos deixou armar o nosso plano. No final do quarto dia, fui dormir cansada do treinamento e contente com o plano.

Acordei com a sirene do refeitório e me vesti rapidamente, saindo do quarto em direção ao local onde os outros já estariam comendo. Peguei a minha comida e me juntei aos meus amigos, animada.

—Meu plano está muito bom, podem admitir. – Eu falei orgulhosa, com a boca cheia de ovos mexidos.

—Seu plano? Mas você nem participou direito da confecção! – Era Mia falando, ela tinha ficando mais próxima do grupo nos últimos dias.

—Como assim? Quem achou as fraquezas do lobossauro fui eu. – Eu falei, questionando o argumento dela.

—Mas só isso também, você não fez mais nada. – Ela replicou, mas desistiu de argumentar quando viu o G balançando negativamente a cabeça.

—Não adianta, você não vai conseguir argumentar com ela. – G disse, mas ignorei, pois estava concentrada na comida.

Nós terminamos de comer e fomos para a arena treinar, não deveria demorar muito para termos que enfrentar o monstro, o professor disse que tínhamos uma semana, certo? Alô, Alicia, esqueceu do seu incrível azar por acaso? Chegamos na arena limpa e pudemos ouvir o rugir do animal, já preso à parede do fundo. Era hoje.

—Professor, não faz nem uma semana direito, não está meio cedo? – Dandara perguntou para o professor Fierce.

—Talvez, mas o diretor pediu para que lutassem contra ele hoje. – Ele disse, sem demostrar questionamento. – Ele com certeza tem algum plano ou motivo, então respeitem e calem-se.

Nos sentamos nas arquibancadas conversando, até a chegada dos outros alunos. Quando chegaram todos, o professor sinalizou para que nos aproximássemos e começou a falar:

—Não quero ouvir reclamações, hoje vocês lutarão contra o monstro. – Ele olhou para os nossos rostos confiantes e continuou. – Eu tenho plena noção de que vocês têm algum plano, mas espero que lutem com tudo, se ele não morrer, morrem vocês. Eu não vou intervir.

Okay, esse último argumento nos deu um pouco de medo, principalmente quando ouvimos o tilintar das correntes e observamos a criatura, que parecia espumar de raiva. Mas acho que no geral estávamos prontos, ou será que estávamos?

O professor se afastou para a arquibancada e as correntes imediatamente se soltaram do lobossauro. Ele realmente estava espumando, os olhos pareciam brilhar mais vermelhos do que da última vez.

O monstro preparou-se para investir em nossa direção, mas parou por um segundo para desviar de volumosas lâminas de água: Steve estava ganhando tempo para entrarmos em posição. Enquanto corríamos para os lugares combinados, pude ver o animal se aproximando de nós, irritado pelo pequeno contratempo.

Assim que chegamos em posição, ele começou a tomar um caminho estranho e circular, olhei para o G e pude ver seus olhos brilhando, suas ilusões estavam funcionando, até certo ponto. Dandara se aproximou do bicho e começou a desviar de seus ataques, com uma agilidade incrível que aumentava a cada segundo, distraindo-o completamente do seu objetivo anterior.

—Cuidado, você está em perigo, prepare-se! – Blair gritou para o animal, que imediatamente entrou em estado de alerta, dilatando a pupila e abaixando-se para um estado mais instintivo.

Era essa a deixa. Mia estendeu os braços em direção às paredes e arrancou dois canos metálicos, chocando-os bem na frente do animal, o que produziu um retinido muito agudo. O monstro imediatamente abaixou a cabeça e tampou os ouvidos, extremamente aguçados pelo comando de Blair. Corri em direção ao animal e pude ver Spike e Lina carregando seus poderes: uma espada de osso incrivelmente perfeita e uma esfera de fogo concentrada.

 A esfera flamejante foi atirada em minha direção, chocando-se com o chão bem no momento em que pulei. O impulso da explosão foi o suficiente para me atirar contra o teto da arena, talvez um pouco mais forte do que esperávamos, mas não fazia diferença, Lina já tinha jogado a sua espada para cima. Peguei impulso no teto, que chegou a rachar com a minha energia, e desci em direção a espada de osso, chutando-a pelo cabo na direção do monstro, que estava bem abaixo de mim. A espada desceu como um foguete, extremamente rápida, e todos na sala prenderam a respiração.

Infelizmente, parece que demoramos demais para fazer essa última parte, pois o animal se recuperou do som e investiu para o lado, fazendo com que a espada pegasse apenas de raspão em seu braço. Apesar de não ter pego completamente, o osso produzira um rasgo significativo, que derramava um sangue vermelho escuro e mais viscoso do que de humanos. O animal imediatamente virou-se para a pessoa mais perto, rugindo, e desferiu um rápido golpe com suas garras gigantes. Dandara estava chocada demais para notar o movimento do monstro, ela estava imóvel no caminho do ataque, em perigo mortal.


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Notas finais do capítulo

Desculpem a demora, ultimamente meu tempo está quase negativo, de tão escasso. Todo feedback é bem-vindo.



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