Meu coração em suas mãos escrita por Eduardo Marais


Capítulo 7
Capítulo Seis




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Regina caminhava pela areia dura da praia, como fazia sempre pelas manhãs ao terminar seu período de corrida. Gostava de fazer aquilo para desacelerar os batimentos cardíacos e relaxar para o dia que iria começar e trazer todos os problemas da administração de uma cidade com habitantes bizarros e melindrosos.

Precisava daquele momento sozinha, perdida em seus pensamentos e na organização de seus planos de ações. Conseguia realizar todas as tarefas do cotidiano sem maiores problemas, quando as posicionava por ordem de importância. Beirava a comicidade, mas surtia efeito.

Para diante do mar e observa sua imensidão majestosa, imponente e alheio aos olhos pequenos dos pequenos meros mortais. Como amava aquele momento em que o sol matutino, recém-chegado, vinha beijar as águas. Era assim que seu amigo Killian sempre dizia.

Fecha seus olhos e aguça seus sentidos para conseguir ouvir o máximo de sons ao seu redor. Era uma brincadeira que fazia desde criança: aguçar sua audição e identificar os mais variados sons naturais. Os anotava para que a lista fosse aumentada no dia seguinte.

E mal começa a perceber a variedade sonora, quando é impactada por uma força estranha, que provoca uma queda. Havia sido empurrada a alguns metros em queda livre, terminando por estatelar-se contra um pequeno monte de areia.

Antes que pudesse se restabelecer do efeito do tombo, Regina é tomada de assalto com a abertura de um círculo arroxeado no ar, semelhante a um pequeno redemoinho, de onde um vulto grande surge e se materializa na forma de um homem. Um homem saído do túnel e atirado no chão de areia da praia, a alguns metros de distância.

Depois de expulsar o homem, o túnel se fecha rapidamente como se nunca tivesse existido. Um portal, obviamente.

Pouco mais de uma hora...

— Eu estou bem, Dr. Whale. Foi apenas um tombo. – Regina afasta a mão do médico, com um toque estranhamente delicado. – Não vou fazer exames e quero saber sobre o homem que veio pelo portal.

Ela desce da maca e ajeita a blusa de moletom que usava para correr. Mesmo em roupas esportes, sua aristocracia continuava intacta e admirável.

— Ele ainda está desacordado. – o médico cruza os braços e desiste de insistir com suas recomendações. – Não tem ferimento, mas creio que houve algum trauma ocasionado pela viagem pelo portal.

— Quero vê-lo.

Alguns passos depois, noutro quarto do hospital, vigiado por alguns policiais...

— Por que isso?

— Ordens de Emma. Ela não quer ter surpresas quando o desconhecido acordar.

Regina observa os homens sem expressão. Antigos soldados do Rei Arthur que haviam sido transportados para Storybrooke num período confuso de aberturas de portais. Eram agora habitantes da cidade e precisavam ter uma vida normal, por isso estavam a serviço da segurança local. Ruby e outras garotas haviam adorado a ideia!

Abrindo a porta e autorizando a passagem da Presidenta, o médico a acompanha para dentro do quarto.

— Fizeram exames nele? – ela se aproxima da cama e para ao lado do paciente, olhando interessada os detalhes do rosto dele. Era familiar. Não resiste e começa a mexer nos longos cabelos escuros dele. - Há algo que o identifique?

— Ele carregava uma mochila com um livro dentro. Há dois anéis e um bracelete que não conseguimos retirar dele.

Com toques suaves, Regina acaricia os anéis. Olha os desenhos com curiosidade e depois se dedica a admirar o bracelete sem emendas. Já havia visto aquilo nos braços de jovens escravas em um reino qualquer, num passado distante. Um escravo?

— Ele tem mãos fortes, mas sem calos. É um trabalhador braçal...mas a pele do rosto não tem cicatriz e os cabelos são bem cuidados. Trabalhador braçal algum teria cabelos tão bem cuidados...

— Não há cicatriz alguma pelo corpo, Majestade. Não deve ser um soldado ou teria marcas de batalhas.

— Onde está o livro dele? Quero analisar para saber se descubro algo. – ela se vira para o médico.- Por favor, cuide bem deste homem, porque sinto que ele é familiar. E se veio por um portal, não é uma pessoa vulgar. Sob hipótese alguma, deixe-o sair daqui quando acordar.

Por favor? A Presidenta pedindo por favor? O que estava havendo com Regina e sua arrogância natural? A queda teria afetado sua cabeça?

Ao final daquele dia...

Concentrada em sua investigação, Regina não percebe a chegada macia de sua mãe. Cora coloca uma bandeja com o jantar sobre a mesa do escritório e vai sentar-se.

— O que descobriu?

Um sorriso de boas-vindas é a primeira resposta de Regina. Ela estava feliz e radiante com a volta de sua mãe. Depois de um confronto frustrado com o Sr. Gold, a rainha de Copas havia partido da cidade tão misteriosamente quanto havia chegado. Muita coisa tinha sofrido mudanças e isso apenas facilitara a aceitação de Cora, pelos habitantes da cidade.

— Zelena me disse sobre o visitante. E também me falou que você está obcecada por este livro por horas. Pelo menos decifrou algo?

Retirando os óculos e espreguiçando-se, Regina espreme os lábios e nega com a cabeça.

— Negativo. É uma incógnita. – ela abre as mãos com as palmas para cima. – Não conheço este idioma e nem consigo sentir se há magia nisso.

— Certamente há. E apenas saberemos quando o misterioso acordar.

— Sabe, mãe. Eu sinto que o conheço, mas não há nada em minhas memórias para ser evocado.

— Para que ele tenha caído aqui, deve conhecer o lugar ou alguém daqui. – a mulher mais velha sorri e levanta-se, caminhando para a porta. – Não se demore nesse estudo, porque já é tarde. Boa noite!

— Prometo!

Mas a promessa não pode ser cumprida. Um telefonema do hospital estava avisando que o desconhecido havia despertado e que Emma o estava querendo levar preso para prestar esclarecimentos na delegacia.

Ah! De jeito nenhum! E como Rainhas não perdem a majestade, bruxas não perdem o hábito de usar seus poderes quando acuadas. E Regina era uma bruxa!

Minutos depois, materializa-se dentro do quarto do desconhecido, tomando a todos de assalto pela inesperada aparição.

— Regina! – grita Emma saltando para trás e chocando-se com David. – Não faça isso!

— Foi preciso. Peço desculpas, porém, queria estar o mais rápido...- ela se cala ao se deparar com aqueles olhos escuros e furiosos fixos em sua direção. Não pareciam surpresos ou assustados com a pirotecnia dela. – Olá!

O homem não responde. Mantém o vinco entre suas sobrancelhas.

— Ele despertou há horas. Não está ferido ou debilitado, portanto, iremos levá-lo conosco para uma conversa formal na delegacia. – Emma não demonstra estar disposta a negociação.

— Não.

— Como não? – David e Emma falam ao mesmo tempo diante da negativa da Presidenta.

— Eu o encontrei. Eu o trouxe para cá. Eu decido onde ele ficará. Eu decido o momento certo de fazer as perguntas sem amedrontá-lo. – a voz de Regina é irritantemente calma.

Por alguns segundos, o silêncio se torna absoluto dentro do quarto. David decide argumentar:

— Ele veio por um portal. Sempre que isso acontece aqui em nossa cidade, somos presenteados com alguma surpresa pouco agradável. Por que deveríamos crer que seria diferente, agora? Olhe para ele. O que sabemos? Quais garantias teremos de que não seremos atacados?

Regina dá de ombros.

— Nenhuma garantia. Mas também não poderemos afirmar que ele nos atacará. Muitos vieram e foram convertidos em nossos aliados.

— Não iremos pôr a cidade em risco, baseados em suposições. – Emma é assertiva. – Ele virá conosco e teremos uma conversa oficial. Saberei se está mentindo...

O som de passos se aproximando atrai a atenção de todos. O Dr. Whale entra no quarto e traz uma prancheta nas mãos. Ele sorri cinicamente e todos reconhecem que era a maior autoridade ali dentro.

— O nosso visitante não será liberado esta noite. Vou examiná-lo e fazer muitas perguntas. Quando eu terminar meu serviço, podem levá-lo desde que a cela ofereça melhores acomodações do que este leito.

— Como assim? – a voz de Emma sobe um tom. Mostra-se irritada.

O médico gesticula apontando a porta. Mantém o sorriso.

— Sugiro que saiam daqui e vão dormir. O meu paciente está sob minha responsabilidade e somente sairá daqui quando eu decidir. Tenho exames e muitas perguntas para fazer, portanto, sirvam-se da porta de saída.

— Putz... – Regina é a primeira a obedecer a ordem. Estava cansada e queria estar cedo no hospital, na manhã seguinte.

E não acontece diferente. Pouco depois das seis da manhã, Regina chega ao quarto do desconhecido e desta vez usa a porta. Não iria afugentar o homem.

— Bom dia!

— Bom dia. – ele responde sem entonação.

— Por que não come seu desjejum? Vai hipnotizar o pão, primeiro?

— Por que aquela mulher quer me levar preso? Qual é o perigo que represento para este lugar? Nem sei que lugar é esse e nem como vim parar aqui...- ele afasta a bandeja e vira o rosto, mostrando-se enjoado.

Para conversar melhor, Regina apanha uma cadeira e a aproxima da cama. Senta-se ali e tenta sorrir para quebrar as barreiras do homem.

— Eu sou Regina Mills. Quem é você?

— Já disse ao homem de branco que não sei quem sou. Creio que repeti isso várias vezes. Não sei quem sou e nem sei como cheguei aqui! Por que tenho de responder sempre as mesmas perguntas e por que querem me encarcerar? – ele altera o tom de voz.

Levantando-se e segurando delicadamente as mãos do desconhecido, Regina consegue provocar uma súbita calma nele.

— Tudo bem, moço. Não será necessário ficar irritado. – ela sorri ao ver os ombros dele ficarem menos tensos. – Mesmo que eu tenha de pedir ajuda ao juiz da cidade, vou impedir que você seja preso. Eu não o sinto como ameaça...

— Não sou. O que há de ameaçador em mim? Tenho armas? Sou um soldado? Sou um ogro ou um pirata? O que poderei fazer contra a cidade, estando sozinho?

— Você somente sairá do hospital, quando o Dr. Whale determinar. Enquanto isso, vou providenciar sua guarda para minha família. Concorda? – ela sorri.

Libertando as mãos das mãos de Regina, ele cobre o rosto e abaixa a cabeça, protegendo-se atrás da cortina espessa de cabelos. Era o sinal de que não iria falar mais nada e nem cooperar.

Um tempo passado, na prefeitura...

— Regina, pense bem no que está propondo. – Emma apoia as mãos sobre a mesa. – Tivemos muita sorte com algumas invasões, mas nem tanto, com outras. O cara veio por um portal diferente do que é aberto com feijões e isso deve ser preocupante. Por que as joias não puderam ser tiradas? É obvio que estão protegidas por magia! E se a magia for negra?

A Presidenta permanece com a cabeça apoiada em uma das mãos e com os olhos fechados. Não responde.

— Eu saberei se ele mentir. Ainda tenho essa capacidade! Seja razoável e deixe o desconhecido conosco para uma conversa formal. Um interrogatório!

Silêncio.

— Não serei rude ou assertiva demais. Apenas quero respostas para acalmar a população.

Silêncio.

— Você sabe que Leroy já começou a criar um clima bélico e de pavor entre as pessoas. Em breve, seremos cobradas e você sabe como todos reagem quando o assunto é um estranho entre nós.

A porta da sala é aberta e uma jovem entra no local após pedir licença. Emma e Regina a observam deixar uma pasta sobre a mesa e sair tão serena quanto havia entrado.

— Vê isto, Emma? – a pasta é empurrada na direção da loira. – É a resposta do juiz Albert Spencer ao meu pedido de guarda do desconhecido. Pode ler a decisão.

Sem hesitar, a xerife apanha a pasta e a abre, começando a ler o que estava escrito no documento. Várias expressões passam pelo seu rosto.

— Aqui diz que amanhã haverá uma audiência de conciliação. O desconhecido será ouvido e somente depois, o Juiz Spencer decidirá com quem ficará a guarda do homem. O Dr. Whale também pediu a guarda sobre o paciente.

A Presidenta encolhe os ombros e sorri.


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