Meu coração em suas mãos escrita por Eduardo Marais


Capítulo 30
Capítulo Vinte e Nove




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— Vocês têm pouco tempo para entrar na sala de estudos e procurar pelas plantas esquisitas, cujos frutos são pérolas coloridas. Elas podem abrir um portal. – Hileia entrega um papel para Emma. – Este é um desenho da planta que devem procurar lá dentro.

— Como conseguiu isso?

— Eu conheço os gêmeos desde que cheguei aqui. Tenho livre trânsito naquele palácio e sei de detalhes que sempre me foram sem importância. Mas me lembrei disso e sei que será mais rápido do que procurarem por novos feijões.

— Sobretudo, com toda a guarda real atrás de nós. – Emma se mostra nervosa.

Killian a abraça com força.

— Mesmo que não nos vejamos mais, quero que saiba que a amo.

— Não percam tempo. Encontrem a pérola e partam de lá mesmo. Abram o portal e voltem para salvar sua amiga. Vão!

Emma se despede da mulher mais velha. Depois vai aconchegar-se nos braços de Killian e é envolvida pela nuvem de fumaça que os levaria até a sala de estudos dos gêmeos magos.

Neste mesmo momento, no quarto do Rei Olavo...

Danna estava histérica e não cansava de beijar o rosto do filho. Finalmente iriam observar a recuperação do homem.

Ao lado da cama, os dois magos aguardavam a lenta recuperação do rei. O coração tinha sido devolvido ao seu peito e o seu corpo começava a reagir, dando boas-vindas ao órgão que retornara ao seu lugar, após décadas de ausência.

— Você não tem ideia da felicidade que está me proporcionando, meu filho. Seu pai está melhorando a olhos nus. Veja! Está se enchendo de novo!

Danna grita descontrolada e perde a compostura, assumindo sua aparência animal. Vai sentar-se ao lado do marido.

— O processo irá demorar um pouco, Alteza. – Murnae toca o ombro do príncipe, com certo temor.

— Preciso conversar com você. – William pede humildemente. – Podemos ir ao meu quarto?

Murnae entrega a caixa onde estava o outro coração, para que Borae fizesse a poção, tão logo o rei conseguisse sentar-se à cama. Não tinham tempo para perder. Depois, acompanha o príncipe para fora do quarto.

Os dois se afastam dali e caminham calados pelos corredores de pedra daquele palácio. Não falam nada. Apenas caminham.

Murnae entra primeiro no quarto, atendendo a ordem muda do príncipe. Observa William se sentar na cama e tudo fica silencioso por longo período. Nenhuma palavra. Apenas o som das respirações de ambos e o suave barulho da chuva que caía lá fora e batia nos vidros da janela.

O tempo vai escoando e o mago decide calar a voz do silêncio.

— Não consegue esconder sua tristeza, William.

— Não. Eu matei minha única chance de ser feliz, de ser amado de verdade e de amar. Eu poderia ter me tornado parte de algo bom...

— Fez o que era preciso para salvar seus pais.

— Um coração negro e de alguém cruel...por que não me escolheram? – ele abaixa a cabeça e é neste momento em que o mago percebe que os cabelos tinham sido cortados. Um crime segundo as leis da Rainha.

Murnae se aproxima do príncipe e senta-se na cama atrevidamente. Nunca tinha feito aquilo, o que era imperdoável como conduta de servo.

— Eu a amo tanto...tanto...que meu peito queima. – William chora como os adultos fazem quando querem controlar o choro. – Ela me recebeu em sua vida, em seu corpo e protegeu-me contra todos os ataques. Eu tive minha Rainha Regina em meus braços, depois de trinta anos em espera.

O mago acaricia as costas do príncipe.

— Eu poderia ter uma vida comum...ser marido, ser pai e amigo...conheci todos que faziam parte da vida dela e estava começando a ser aceito...sabe, Murnae, nós realizamos o feitiço de troca de corpos e fizemos amor durante isso.

— Fizeram amor... – o mago acha graça e sutileza na expressão.

William não contém a dor e deixa que ela extrapole por seus poros. Não tinha mais motivo para esconder sua agonia e abandono.

— Nós nos casamos, Murnae...

— Vocês o que? – o mago cai da cama. Levanta-se rapidamente.- Você se casou com a Rainha Má?

— A Rainha Má deixou o corpo e morreu. Não existe mais Rainha Má. É apenas Regina Mills. Minha Regina...o coração dela é bom e não é negro...

Acariciando a própria cabeça, o mago começa a refletir para sanar sua dúvida, surgida naquele instante. Sussurra...

— Regina não é mais a Rainha Má...

— Ela é apenas minha Regina...não pude cumprir minha missão, mas tive de deixar meu amor para trás...- William soluça como se fosse uma criança chorosa. – Vamos ter filhos...Regina e eu teremos dois bebês...estão crescendo na barriga dela e...mas eu não os verei nascer e crescer...

Murnae não consegue racionar direito. Começa a sofrer junto com seu menino. Algo não estava certo.

“Rainha Má deixou o corpo e morreu. É apenas Regina. Não pude cumprir a missão. Vamos ter filhos. Não os verei nascer. ” Frases de William latejando na cabeça do mago.

— O coração que está na caixa é escuro, mas com pontos vermelhos...- o mago se ajoelha diante do príncipe e apoia as mãos nas coxas dele. – William de Velac, a quem pertence aquele coração?

William não tem tempo de responder. Levanta o rosto e esboça um sorriso, mas um súbito choque toma conta de seu corpo. Os olhos são revirados para cima e ele tomba sobre o colchão.

— Misericórdia! – a voz do mago é potente demais e a dor do desespero a torna mais poderosa e ecoa para fora do quarto. – O príncipe está morto! O coração esmagado era o dele!

Minutos depois, a correria se instaura nos corredores do castelo. Gritos, lamentos e choro anunciavam a súbita morte de William de Velac.

Os gritos roucos de Danna ecoavam como trovões e ela pouco se importa em exibir-se em sua forma natural. Eram gritos rasgados, tão carregados pelo tormento em sua alma, superando em potência, os gritos que os trovões do lado de fora do castelo de pedras.

Na sala de estudos, Killian fica estatizado, petrificado com o que estava ouvindo. Emma tenta trazê-lo à realidade, mas o homem não estava dentro daquele corpo. William morto?

— Killian, temos de ir! Estamos com a pérola!

Ele não consegue ouvir. Caminha para fora da sala e é seguido por Emma, que se prepara para usar alguma magia em caso de ataque. Os dois caminham até a pequena multidão que se formara na porta do quarto do príncipe morto.

Sem hesitar ou pedir licença, o pirata abre caminho com seu corpo e entra no quarto. Lá dentro, Danna abraçava o filho junto ao peito e mostrava-se sem pudores em sua forma original. A dor pela morte do príncipe tinha encoberto o espanto das pessoas em deparar-se com a natureza da Rainha Velac.

Killian se aproxima da cama e não consegue mais se mover. Apenas observa o corpo inerte do amigo, sendo protegido pela mãe dilacerada. Sem ter palavras, consegue sentar-se no colchão e num ato instintivo abraça Danna e William. Os dois choram ainda mais.

Neste exato momento, do outro lado do portal, numa praia em um dos reinos unidos à cidade de Storybrooke...

— Ele mentiu, mãe...- Regina enxuga o rosto e tenta manter a dignidade. – Tudo o que vivemos foi minuciosamente elaborado...

Cora se senta na cama e oferece seus braços para aconchegar a filha.

— Eu me entreguei a ele, dei a ele o melhor de mim...

— William fingiu o amor o tempo todo? Mas e a chama roxa?

— Isso é que me machuca ainda mais. – ela funga e se acomoda nos braços da mãe. – Eu sei que ele me ama, mas me usou apenas para salvar a juventude dos pais...

— Não entendi, meu amor.

— William é o príncipe do reino Velac, filho do rei Olavo...e William é um Dark One! Ele camuflou os poderes e esteve aqui apenas para recuperar o coração do pai...e conseguir levar o meu coração para ser usado em uma fórmula de magia, mãe!

Cora acaricia a cabeça quente da filha, sentindo seus cabelos molhados pelo suor.

— Mãe, ele tirou meu coração do peito! – Regina grita e recomeça a chorar. – Vou morrer e não tive tempo de dizer a William que estou grávida de um filho dele! Iremos morrer, meu bebê e eu!

O choro contagia Cora, que mesmo lutando para manter-se forte naquela situação, permite que as lágrimas embacem seus olhos.

— Eu vou morrer e não terei a chance de ver meu bebê nascer! William irá matar o próprio filho, porque não consegui contar a ele!

— Meu amor, fique calma. Vamos dar um jeito nisso.

Gold se mantém pé junto à cama, comovido e assustado com a situação. Iria perder sua pupila e não teria tempo de conhecer o filho daquele Sombrio maluco que lhe proporcionara mais tempo de vida. Tenso e sem iniciativa, apenas esfrega as mãos contra o tecido da roupa.

— Ele arrancou seu coração diante de seus olhos?

— Não, mãe...eu não vi. Ele me disse sobre o objetivo de sua vinda e me informou que arrancaria meu coração...mostrou-me uma caixa que protegeria meu coração durante a volta dele...

Cora e Gold se entreolham.

— William me abraçou, nós nos beijamos e eu desmaiei...

Com movimentos suaves e amorosos, Cora afasta Regina de seu corpo e a acomoda novamente cama. Acaricia o rosto quente e úmido da filha, segurando-o entre as mãos.

— Meu coração me diz que não foi isso o que ocorreu.

— Não? – Gold consegue se comunicar.

Sem dar tempo de questionamentos ou argumentações, Cora mete a mão dentro do peito de Regina e para surpresa delas, consegue trazer o coração carmim da filha e o mantém protegido na palma da mão.

Regina grita e cobre a boca com as mãos. Urra e chora como se fosse uma criança. Grita mais uma vez, quando o coração é devolvido ao seu peito.

— Ele não levou meu coração! – ela abre a boca como se fosse uma criança e chora ainda mais.

Sem se conhecer, Gold sobe na cama e provoca um abraço coletivo, com suas pupilas...

— William não cumpriu a missão! Ele vai ser morto! – Ela se desvencilha do abraço e salta da cama. Tinha feito uma constatação.

Naquele momento, fica claro que Regina se conformaria em morrer para que o homem amado fosse feliz e que salvasse os seus. Mas não estava disposta a aceitar que ele fosse punido por não cumprir sua podre missão.

E certamente, não ficaria com seus braços cruzados.


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