Meu coração em suas mãos escrita por Eduardo Marais


Capítulo 21
Capítulo Vinte




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Gold entrega uma pequena caixa na mão de Killian.

— Consegui o par de feijões. Ainda reitero a minha vontade de ir com você. Gostaria de descobrir onde está a adaga que controla o príncipe Velac.

— Acredita mesmo que ele seja como você? – Killian abre a caixa e vê os dois grãos, protegidos.

O advogado confirma sua desconfiança.

— Ou é um insano atrevido e sem medo da morte, assim como você, pirata. Ele não fez nenhum grande feito com magia, mas ainda aposto minhas fichas de que ele é perigoso. Não é o mágico de circo que você afirma que ele é. Pela aura que deixou nas ruas e em minha loja, não espere nenhum curioso.

— Ele é um mago sem grandes poderes, porque sempre rejeitou a magia.

— Mas a magia nunca rejeita quem se inicia nela. Uma vez iniciada em um corpo, ela apenas aumentará e mesmo que fique em desuso, estará lá dentro. – Gold se mostra cansado. Ele estende a mão e toca o ombro do pirata, enviando uma onda de força e provocando-lhe um súbito mal-estar. – Pronto! O poder de locomoção pela nuvem de fumaça está em seu corpo. Se o utilizar por mais de sete vezes, não conseguirá se livrar mais dele.

Gold ajeita o terno e começa a afastar-se de Killian.

— Você afirma que William é poderoso. Por que Cora, Regina ou Zelena não sentiram isso?

— Zelena está em coma. – antes que mais perguntas fossem feitas, Gold desaparece.

Ali, parado no meio da calçada, Killian sente o desejo de estar sozinho e organizar seus pensamentos. Decide ir para o acolhimento de sua cabine no Jolly Roger, mas vai andando.

Lá, protegido pela solidão de sua companheira de viagens e histórias, o pirata começa a evocar lembranças dos anos em que conviveu com o príncipe, antes de ficar aprisionado na bolha de magia de Cora.

O primeiro encontro após uma forte tempestade em que o Jolly Roger fora parcialmente destruído. Havia a necessidade de conserto e foi naquele reino que precisaram aportar. Bem recebidos pelo administrador da região, os piratas se tornaram figuras constantes e parceiras.

O nascimento de uma amizade repleta de momentos divertidos nas tavernas ou momentos tensos em viagens a negócios. Uma parceria honesta e forte. Killian tina perdido o irmão e William nunca tivera um, criando assim, um amor fraternal e sem interesses sujos.

Killian sorri ao lembrar-se da pedra preciosa dada a ele, pelo príncipe.

— A pedra granada tem uma relação muito forte com os sentimentos, justamente pela cor que se assemelha à cor do coração. O mago Borae me disse que a pedra controla as energias emocionais e facilita suas expressões. É um ótimo presente para os amigos que queremos manter sempre por perto. Tem a força de manter as amizades. – o príncipe tina dito.

Um riso involuntário surge. Onde estaria aquela pedra? Era certo que se vasculhasse espacinhos no Jolly Roger, encontraria a pedra granada. Fazia mais de trinta anos que a havia recebido do príncipe. E como havia retribuído?

Um anel. Um anel encontrado na Ilha dos Decapitados. Não era um anel comum, mas um anel que poderia camuflar a presença de um feiticeiro diante de outros feiticeiros.

— Um dos anéis que ele não retira do dedo...foi modificado...mas se é um mago de baixo clero, por que camuflar? A menos que ele não tenha pouca magia...e a aura de magia sentida pelo Crocodilo foi algo intenso...- Killian começa a andar de um lado na cabine. – Ele não é apenas um corajoso que blefa com os mais fortes...é um forte que enfrenta fortes...

Ele bufa várias vezes e decide sair dali para conversar com sua Emma. Mas vai andando.

Na Delegacia, Emma resolve dar um tempo em seu serviço e aceita o convite para tomar um copo de café com seu marido. Sentam-se um banco do lado de fora do prédio.

— O Crocodilo veio conversar comigo. Insiste em afirmar que William não é um amador e sugeriu que o coma de Zelena é de autoria do meu amigo. Mas tudo o que vem do meu Crocodilo, sempre cheira a trapaça.

— Estamos num momento delicado para abordá-lo e fazer qualquer tipo de acusação. – Emma brinca com a tampa do copo. – O evento de devolução dos corações deixou a aceitação do futuro casal real, em alta aqui na cidade. E soube por Henry, que Regina se casará em seis dias.

— Pensei que teríamos mais tempo para viajar e obter informações. O Crocodilo me trouxe um meio de abrirmos um portal para o Reino de Velac...

Emma sorri e acentua seus traços de menina.

— Antes de sairmos, por que você não conversa com William e tenta obter informações verdadeiras que expliquem a vinda dele, a amnésia e que possa evitar nossa viagem?

— Não quer viajar?

— Acredite, Killian. Estou com anemia. Pensei que estava grávida e fiz exames, mas meu corpo estava reclamando por uma anemia. Preciso de mais tempo para me fortalecer.

Killian abraça a sua preciosidade e a aconchega bem perto de seu corpo. Não poria sua princesa me risco por nada em reino algum.

— Vou conversar com ele. Talvez algumas garrafas de rum afrouxem a língua dele. Sombrio ou não, quem resiste ao meu rum?

No gabinete da Presidenta da cidade...

— Eu estou bem. Foi apenas cansaço devido ao esforço de ontem. Estou começando a ficar irritada!

O Dr. Whale fecha sua valise e sequer dá ouvidos à fúria da mulher.

— Sugiro que se afaste do serviço até seu casamento. Deixe que Mary assuma a direção da cidade, afinal para isso existem os vices. – ele balança rapidamente o dedo indicador. – Descanse, durma muito, hidrate bem seu corpo e cuide dos detalhes de seu casamento.

— Tenho serviço a fazer...

— Regina, seu corpo está pedindo descanso. Passe no hospital e faça alguns exames, como o de gravidez, por exemplo. – ele faz uma careta cínica e vai para a saída do gabinete. – Creio que seu noivo não vai apreciar um casamento com a Noiva Cadáver. Porque é isso que será, se insistir em forçar o limite de seu corpo. Com ou sem magia, você ainda é um ser humano.

Cora esbarra com o médico que saía da sala. Cumprimentam-se.

— Sua secretária me ligou e falou-me sobre seu estado de saúde. Está grávida?

Uma risada debochada é a primeira reação de Regina.

— Ficamos o dia inteiro lidando com magia e estou trabalhando muito depois da junção dos reinos. Foi cansaço, mãe.

— E ainda precisa ser atenciosa com um namoro novo. Não é somente vento nas costas e resfriado que pode matar uma velha.

— Veio debochar? – Regina veste o terninho. – Ficarei afastada do trabalho até o casamento. Mary poderá cuidar de tudo. Está contente?

Indo sentar-se no sofá, Cora também se mostra cansada.

— Eu também estou me sentindo exaurida. Entregar os corações às pessoas, sugou minhas energias já tão fracas. – a mulher convida a filha a sentar-se ao seu lado. É atendida. – Querida, estou feliz pela sua decisão em casar-se. Os pais de William virão?

— Ele não tem contato amistoso com eles.

— Os pais comem corações e ele devolve corações às pessoas. Antagônico. – Cora se mostra cansada, mesmo. – Fui ao hospital ver Zelena e depois fui conversar com Gold.

Regina segura as mãos da mãe. Explorava ao máximo toda forma de contato físico com ela.

— Também conversei com ele e confesso que senti piedade. Ele está decadente, assustado e furioso. Tenho receio por Belle.

— Um Sombrio demente é perigoso demais, filha. Ele está sem controle dos poderes e vê conspiração em todos os lugares. – Cora para de falar e fica pensativa. – Você ainda tem muito poder...conseguiria descobrir um meio de fazer um warlock dizer somente a verdade, sem dissimular?

— Ah, mamãe! Por favor! Ouça o que vou dizer agora, porque não vou repetir: William tem poderes sim. Grandes ou pequenos, não me importam. Eu o quero em minha vida, em meus dias, em minha cama e em minha história. Senhor das Trevas ou mágico mambembe, pouco me importa. Eu o amo! Eu o quero! E a chama da vela revelou os sentimentos dele, expôs a quem quisesse ver, os sentimentos dele. E lembre-se de que a vela é imune à magia.

Certo! Erguendo as mãos em rendição, Cora se inclina e abraça a filha. Beija-lhe o alto da cabeça e depois a libera. Levanta-se e caminha para a saída da sala.

— Não tenho forças físicas para mais horas de estudos. Não vou conseguir encontrar, por enquanto, uma cura para Zelena. Vamos deixá-la aos cuidados do Dr. Whale. Espero você em casa, para desenharmos seu vestido de noiva.

Com toques gentis na madeira, William se anuncia entrando na cabine do navio de Killian. O pirata gesticula para que ele se aproxime e sente-se.

— Aceita uma caneca com rum?

— Não. Estou abstêmio e sóbrio há décadas. – o príncipe se senta e imediatamente percebe que o assunto que seria tratado não era saudoso ou irrelevante. – Por que me chamou aqui?

Killian faz beicinho, depois espreme os lábios e faz uma careta de preocupação. Queria falar sem magoar o amigo.

— Não sou mágico e nem magnetizo as pessoas, William. Apenas confio nelas quando confirmam que estão dizendo a verdade. – ele mostra a pedra granada recebida como presente. – Lembra-se disso?

William sorri e segura a pedra com nostalgia.

— Tempos maravilhosos. Eu a comprei de um minerador e paguei uma fortuna. Foram todas as minhas economias que iria usar para comprar um cavalo.

O pirata a recebe de volta e sorri.

— Você me disse que a pedra era dada aos amigos que você queria por perto. Em troca eu lhe dei um anel que camuflava seus poderes de outros magos. Ainda o tem?

Levantando a mão, William move os dedos e exibe o anel em seu anular. Diz:

— Eu o lapidei para parecer menos grosseiro, mas não o tiro de meu dedo. Está querendo me dizer algo importante? Quer renovar nossos votos de amizade ou acabar com ela?

— Tudo vai depender da veracidade com que me responder.

Não era agradável para William ouvir aquilo. Mas o amor sentido pelo casal que o havia criado como filho, ainda era muito maior do que o amor sentido pelo seu único amigo. Seu amigo irmão.

— Você é um Senhor das Trevas?

— Não. – William é lacônico e sem entonação.

— Você me disse que liberou a aura de magia por descuido. Mas o Crocodilo afirmou, e está ficando doente por isso, que a aura não era fraca ou ingênua. Estou conversando com um warlock poderoso?

— Não.

— O que há entre Robin e você? A menina foi repudiada e por isso o acusou de tê-la enfeitiçada? Emma sentiu que a garota estava mentindo e que estava apavorada. O que fez a ela?

O príncipe abaixa a cabeça e começa a mexer nos anéis. Diz:

— Sempre foi de minha natureza refutar fêmeas ou machos que se insinuavam sexualmente. E isso se apurou em meus instintos, quando Regina deixou uma marca metafísica em minha alma e meu corpo. Eu não sentiria desejo por outras pessoas e minha repulsa natural pelas investidas apenas se aprofundou em mim. Desde a partida de Regina, não toquei em corpo algum com desejo sexual. Vivi como eunuco, então, refutei a menina com aspereza.

Killian se sente constrangido. Mas tinha de insistir.

— Você roubou o coração do Crocodilo e o obrigou a presentear-me com a adaga?

— Sim.

— Como conseguiu drogar o homem? Ele é um Sombrio!

— Ele cheira a covardia, Capitão. A medicina botânica é muito rica e isso me basta.

— William, quero saber como fez!

— “Faço o que eu digo, não digo o que eu faço. ”

O silêncio começa a imperar na cabine pequena. E por longos minutos é a sonoplastia daquele cenário.

— Você obrigou o Crocodilo a assumir o ataque a Zelena? Foi ele mesmo ou ela foi calada por ter descoberto algo sobre você?

Levantando-se, William ajeita a cadeira junto à mesinha no centro do cômodo.

— Eu sou o seu amigo, Capitão. O Sr. Gold é o seu inimigo. Use a balança de sua consciência, e defina o peso de nossas falas. Vou embora porque Regina não se sentiu bem e precisa de mim. Com licença!

A cabeça de Killian despenca em direção ao seu peito. Fecha seus olhos e mergulha naquele mar de dúvidas. Não queria ser injusto com seu amigo.


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