Meu coração em suas mãos escrita por Eduardo Marais
— Estou perdendo a paciência com você, menina Robin. Sua falta de dedicação me irrita.
— Não estou com o espírito leve e aberto para trabalhar magia, William. Não me concentro com as lições, sabendo que poderia acordar minha mãe e não tenho poder sem o meu coração! – Robin rosna e crispa as mãos ao lado do rosto.
William emite alguns estalos com a língua e se mostra decepcionado.
— Você é uma piada, menina. Como quer lidar com magia forte, ser minha pupila e igualar-se com sua tia, sua mãe e sua avó, se não consegue organizar suas emoções e nem conhece o próprio corpo?
— Como é?
Ele ergue o queixo e olha para o alto.
— Você é estúpida e pueril. – inclina-se para frente e quase encosta o narigão no rostinho da jovem. – Não consegue acordar sua mãe com o beijo do amor verdadeiro, porque não sente isso por Zelena. Não é a falta de seu coração que a impede de realizar esse feito! É sua total incompetência em amar de verdade!
A garota sente o sangue esquentar seu rosto. Ah! Como queria ser mais forte!
— Minha avó me contou que tirou o próprio coração, quando não conseguiu lutar contra o amor que sentia pelo Sr. Gold. Preferiu o poder e a magia ao amor!
— Que me importa? Eu tirei seu coração naquela manhã, a controlei na conversa com Emma, mas eu o coloquei dentro do seu peito de novo. Blefei com você esse tempo todo e acreditou que estava sem seu coração!
— Como fez isso sem que eu sentisse?
Ele se empertiga e se mostra ainda mais sem paciência.
— Se pude tirar o coração do Gold...ora, menina! Que tipo de habilidosa quer ser?
Antes que a garota respondesse, o homem estala os dedos e desaparece. Robin se senta no chão, arrebentada com a novidade. Estava com seu coração dentro do peito há semanas! Havia beijado sua mãe e nada tina acontecido com ela.
Noutro ponto da casa das Mills...
Regina se senta na cama e não quer enxugar seu corpo após o banho. Por isso, alegra-se quando William se oferece para fazer aquele trabalho arduamente delicioso.
— Quando eu me inclino, sinto que a tampa de minha cabeça via cair.
Ele não sorri. Continua sua tarefa.
— Regina, entregamos todos os corações...sabe, estou decepcionado com minha mãe.
Um véu de desentendimento desce sobre o rosto limpo de Regina.
— Seja claro, por favor.
— Ela a acusou de ter roubado o coração de meu pai e o ter guardado. Quando vi o cofre, imaginei que o coração de meu pai estava lá dentro. Devolvemos todos os corações...e o coração de meu pai não estava lá. Minha mãe mentiu para mim?
Largando-se na cama, a mulher se deita sem forças e com muito sono.
— Danna não mentiu. Um dia, num passado remoto, eu tirei o coração de seu pai e não o esmaguei. Deve estar protegido em algum ponto em meu castelo. – ela se senta de novo e sem resistir começa a mexer nos cabelos do noivo. – Vai trazer seus pais para nosso casamento?
— Tenho meus motivos para não os querer aqui.
— William, depois poderíamos retornar juntos ao meu castelo e procurar o coração de seu pai. Talvez, se você o entregasse a ele, o relacionamento poderia melhorar.
— É uma excelente ideia. Creio que meu relacionamento com meu pai seja ruim pela falta do coração dele.
Ela sorri e decide mudar o rumo da conversa. Nos últimos dias estava sentindo mudanças em seu corpo e o crescimento de seu desejo sexual por aquele homem.
Como se fosse uma gatinha se espreguiçando, ela se move sobre a cama, linda e perfeita em sua nudez. Exibe-se aos olhos gulosos do homem e consegue fazer o convite sem pronunciar uma palavra sequer. E cego, controlado, magnetizado...ele atende ao apelo de pernas, boca e cabelos.
Na manhã seguinte...
Ao fechar o portal da casa, William se vira e vê a aproximação de Henry. O rapaz vinha sorridente e estende a mão para cumprimentar o futuro padrasto. É elegantemente correspondido.
— Gosto de sua cordialidade, Billy. Meu avô David também era príncipe, mas eu o vejo meio grosseirão.
— Sou um príncipe de criação. Seu avô tem apenas o título. Ele era um pastor.
Henry ergue o polegar. Toca o braço de William e o convida para caminhar.
— Vim falar com você. Vamos caminhando e conversando?
Colocando as mãos às costas, William esboça um sorriso e inclina levemente a cabeça para o lado. Aceita o convite.
— Eu tenho muito interesse na felicidade de minha mãe. Regina me adotou, me amou, me criou e devo tudo a ela. Amo Emma, mas quando ela chegou em mina vida, eu já estava com minha personalidade formada.
— Sorte sua ter duas mães que são loucas por você.
— Também penso assim. – Henry sorri. – Quando minha mãe Emma ia se casar com Killian, conversei com ele, embora sempre quis que ele fosse meu pai. É divertido.
O homem concorda com um som gutural.
— Então decidi vir conversar com você. É momento dela se esquecer do pai de Robin e viver outro grande amor.
— Hu-hum.
— Conversei com meu avô Gold e ele está convencido de que...
— Eu sou um Senhor das Trevas. – William interrompe suavemente a fala do rapaz. – E haveria algum mal nisso? Esta cidade é puramente magia, passou a existir devido a uma maldição, há gigantes, homens que viram bonecos de madeira, mulher que se transforma em loba...há sereias, há mulheres em sua família que são bruxas, seu avô Gold é um Sombrio, seu padrasto é um pirata com quase 300 anos...existe um convento onde vivem fadas...
Henry começa a rir. Move freneticamente as mãos e demonstra encarar tudo como uma grande piada divertida.
— Não me importo que seja ou não. Minha mãe Emma já foi uma Senhora das Trevas, Killian também se transformou em um e causou o maior quiprocó aqui na cidade, quando trouxe todos os Sombrios para atacar os habitantes.
O rosto de William se ilumina numa risada de satisfação. E é?
— Que interessante! Quer dizer que todos os porquinhos daqui tem o rabinho de palha e insistem em brincar perto da fogueira? Ah! Agora eu entendi porque ficaram incomodados com a minha chegada! Todos tinham receio de que um poderoso Sombrio que pudesse dominar a cidade e seus habitantes, colocando em cheque a autoridade deles.
A expressão que surge de Henry mostra que alguém tinha falado demais.
— Bom, o que eu preciso mesmo saber é se você ama minha mãe de verdade, a ponto de querer uma vida em comum e por muitos anos.
Parando de andar, William também provoca a parada de Henry. O rapaz sente que a pergunta não tinha sido bem estruturada.
— Rapaz, se minha mãe fosse viúva e surgisse um pretendente ao coração dela, eu ficaria incomodado e ansiaria testar os sentimentos do homem. Mas isso, em meu reino, em outro portal, em outra cultura. Observei que vocês vivem em um mundo muito diferente e com costumes diferentes. Não quero que me encare como sendo um homem rude, mas este é um assunto que interessa apenas para duas pessoas: sua mãe e eu.
— Entendo isso, mas é que...
— Fico feliz que tenha entendido. É um assunto para duas pessoas maduras, velhas e cansadas da solidão. Não serei rude, mas vou lhe pedir que não se intrometa no futuro de sua mãe.
Henry sorri constrangido.
— Quando ela ficar velha e se ainda estivesse solitária, você iria carregá-la para morar em sua casa, para cuidar de seus filhos? Ou iria mandá-la para viver com as fadas?
— Peço desculpas...
Tocando o ombro do rapaz, o príncipe ainda se mostra amável.
— Não se sinta culpado por nada, Henry. Mas diga à sua mãe Emma e ao seu padrasto Killian, que quando carregamos um vaso de cristal, não podemos caminhar por lugares com pedregulho.
Henry se afasta completamente envergonhado pela indiscrição. Tinha sido indelicado e invasivo e aquilo poderia afetar seu relacionamento com seu futuro padrasto. O que Regina pensaria?
Depois de observar o garoto de afastar, William estala os dedos e vai surgir dentro da loja do Sr. Gold, fazendo o advogado gritar e quase sair da própria pele.
— Não faça isso, maldito!
— Ora, Sr. Gold, não seja patético. Um Sombrio não pode ter medo de nada, além de sua adaga.
— O que deseja, infeliz? Veio devolver meu coração?
William se aproxima do balcão e apoia-se ali.
— Não quero guerra com pessoas nesta cidade, mas vocês se incomodaram demais com a minha presença. Somos dois Sombrios em um mesmo espaço, mas o senhor já conviveu com Emma e o Capitão, quando foram transformados. Por que se incomodou tanto comigo?
Alguns passos para trás e Gold se encosta numa mesa.
— Sua aura de magia é mais forte que a de meu filho Gideon. Ele foi criado por minha mãe, a Fada Negra. Isso me apavorou, porque pensei que fosse o retorno de meu filho em outra forma disfarçada, para nos destruir. Destruir tudo o que amo...tirar Belle de mim...
— Nossa, que trágico! – William se inclina para frente e sorri exibindo todos os dentes e suas covinhas, deixando-o quase inocente. – Minha aura de magia é forte porque sou cria do Monge Ambrógio, o Sombrio da Montanha do Dente Quebrado.
Gold se sobressalta e estremece, derrubando um objeto que estava próximo a ele.
— Mas o Monge Ambrógio é uma lenda...
— Também pensei que fosse, até conhecê-lo e receber os ensinamentos dele. Por fim, eu o vi dissolver e ser levado pelos ventos, após ver seu último nascer do sol.
— Por que somente eu senti sua aura?
— Porque eu a camuflo, Gold. Uso subterfúgios para esconder o que sou e naquela noite resolvi passear pela cidade em busca de informações para me adaptar ao seu meio. Estava despido de proteção e deixei minha presença impregnada em tudo.
Belle chega à loja naquele momento e sorri ao ver o visitante. Conversam por alguns minutos e depois ela se retira para começar seu trabalho em sua biblioteca.
— As Mills sabem de você?
— Apenas Zelena e Robin, mas por motivos óbvios não contarão.
— Tirou o coração da menina?
— Não. Ofereci a ela o conhecimento para ser uma habilidosa forte e poderosa, a ponto de ocupar o lugar vago deixado por Zelena ou por Regina em seus reinos. Ela é ambiciosa e aceitou minha proposta em troca do silêncio. Mas eu dei um incentivo a mais, caso ela me traia.
Os dois ficam em silêncio. Mas o advogado quer saber mais:
— Por que não matou Zelena?
— Não vim para matar Zelena. Meu objetivo é outro e estou a poucos metros de atingi-lo. Quando eu terminar minha missão, ela despertará e você terá seu coração de volta.
— Não tenho intenção de atrapalhar a...
William bate a mão na mesa e cala a voz de Gold.
— Você é perigoso, traiçoeiro e mentiroso. Eu o vi como empecilho, por isso decidi manter você sob meu controle.
— Entregando minha adaga ao pirata? Não bastou a decrepitude que me causou?
— Você tem sua adaga de volta. – o príncipe aponta para uma das paredes da loja. – Gold, meu caro, sua decrepitude não se deve à minha presença, mas ao fato de que seu coração enfraqueceu o seu corpo. Ele está batendo muito fraco, onde está agora. A cada dia que o vejo, as batidas são reduzidas e em breve ele vai parar de bater. Não sou o culpado por isso, porque mesmo tirando-o de seu peito, o estrago em seu corpo já está feito.
Os olhos de Gold se fixam em algum ponto do chão. Havia recebido um golpe forte de mãos invisíveis, sobre sua cabeça.
— Não há como reverter?
— Sim. Faça um transplante. – William abre a mão no ar. Mas antes de desaparecer, ainda precisava deixar uma última informação. – Quando eu partir, poderá ter seu coração de volta. Ele será colocado ao lado de um coração lindo, bondoso e puro, mas forte o suficiente para carregar o peso de seu coração imundo.
Estala os dedos e desaparece.
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