Meu coração em suas mãos escrita por Eduardo Marais


Capítulo 19
Capítulo Dezoito




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E se William estiver mesmo apenas blefando e agindo como um garoto travesso? Talvez ele esteja apenas revidando o que fizemos a ele. – Emma fala calmamente e em muito se assemelha a sua mãe. – Tentei prendê-lo; foi disputado na justiça como se fosse um incapaz; Gold o acusou e usou você para chantageá-lo; cerceamos sua liberdade; Leroy o difamou na cidade; Robin fez uma falsa acusação por ter sido rejeitada como mulher...e ainda temos o ataque físico que culminou no coma de Zelena.

— Lembre-se que Gold está sem o coração dele. Alguém o está manipulando e eu afirmo que é William. Esta adaga diz tudo, amor.

— O que você pretende fazer com a adaga?

— Hummm...vou fazer um acordo com o Crocodilo. Você e eu iremos fazer uma viagem, caso eu consiga o acordo.

Naquela noite na loja de Gold...

— O que você veio fazer aqui, Pirata? Quer tripudiar ou brincar com a adaga de novo?

— Não brinquei com sua adaga, Crocodilo. Eu apenas quis testar para saber se você não estava blefando para que eu ficasse contra meu amigo. – Killian se aproxima do balcão. Coloca a caixa da adaga sobre o móvel. – Quero fazer um acordo com você.

Os olhos de Gold se estreitam.

— Por quê?

— Vamos supor que William tenha tirado seu coração...

O advogado abaixa o rosto. Não tinha forças para confirmar ou negar a frase do pirata.

— Eu quero um par de feijões mágicos para abrir portais. Quero também, que coloque em mim, aquele poder de viajar de um lugar ao outro usando a nuvem de fumaça. Vou para o Reino de Velac.

— Quero ir com você! – Gold se altera.

— De maneira alguma. Você precisa ficar para não levantar suspeitas. Além disso, se está sem seu coração, será controlado onde quer que vá. Consiga o que eu preciso, por favor.

Killian se vira de costas, mas olha por cima do ombro ao ouvir ser chamado.

— E a adaga?

— Ela não me pertence, Crocodilo. O embate com você é sempre mais divertido, sem subterfúgios de minha parte. Eu sou um homem valente.

Na residência das Mills...

Cora abaixa o livro quando percebe a chegada de William. Elegante, o homem toca delicadamente na madeira da porta, a fim de não assustar a mulher. Ela sorri.

— Há algo que o incomoda?

— Não me incomoda mais do que a visita do Sr. Gold a esta casa. Mas isso não vem ao caso. – o príncipe se senta ao lado de Cora. – Agora que sei que posso fazer alguns truques, poderíamos unir nossas forças e acordar Zelena.

Espremendo os olhos e inspirando profundamente, Cora deixa o livro como algo sem importância no estofado. Segura as mãos de William. Era gostoso tocar o homem, mesmo que fosse um simples toque fraternal.

— Zelena sofreu um ataque que não foi planejado. Não podemos interferir, porque o autor irá resolver tudo, quando estiver em seu pleno estado saudável de sanidade. Foi um ataque causado por um demente e não pode ser resolvido enquanto o demente estiver demente. – ela sorri e consegue tirar um sorriso do príncipe. – Mas mudando de assunto: tenho visto Robin e você juntos em conversa. Do que falam?

— Ah, a menina Robin está tentando treinar a magia dela e eu sou a sua cobaia. – William sorri com todos os dentes e cria as covinhas nas bochechas.

— Eu gostaria que você fosse mais próximo a mim.

O sorriso dele se desfaz e seu rosto fica suavizado.

— Gosto de livros e você também. Por que não lemos juntos? Você me disse que em seu mausoléu há livros diversos. Por que não me leva lá dentro?

As mãos de Cora começam a acariciar as mãos dele, que age como se não desconfiasse das intenções dela.

— Você pode entrar quando quiser no mausoléu. É um mago!

— Não me atreveria a ser tão invasivo. É um local sagrado para sua família e eu seria rude se fosse até lá, sem sua autorização e sua companhia. A menina Robin me disse que vocês protegeram com magia e isso impede a entrada de aventureiros.

Cora se levanta sem libertar as mãos do homem.

— Ainda teremos algum tempo antes que Regina o roube totalmente de mim. Vamos ao mausoléu!

No interior do sepulcro, as luzes fracas e amareladas deixavam o cenário ainda mais macabro e pouco convidativo. Paredes em adobe abaixavam a temperatura do prédio e a falta de reboco oferecia abrigo para determinados insetos.

— Este é o primeiro andar. Deixamos assim para desencorajar quem consegue chegar neste lugar. Os andares mais abaixo são luxuosos porque abrigam espelhos mágicos e livros de feitiçaria vindo de diversos reinos.

— Uau! Isso causa arrepios!

Cora segura a mão do convidado e os dois percorrem os espaços daquele ambiente sombrio. Ela explica os detalhes e tenta convencer William de que o lugar era muito confortável e agradável aos bruxos.

Param diante de um corredor e dali em diante o cenário se torna menos assombroso. Paredes com tijolos mais limpos, com luzes claras e poucos móveis. Num nicho em desvio daquele corredor, uma prateleira com diversas pequenas gavetas em metal, todas quadradinhas.

— É ali que Regina guarda todos os corações que tirou de que considerava inimigo. Ainda estão batendo e vivos.

O sangue de William começa a ferver em suas veias. O calor chega à sua pele e pode ser imediatamente sentido pela mão de Cora. Ele controla os músculos do rosto, para evitar um sorriso eufórico.

— Você está bem? Ficou tenso.

— Meus pais comiam corações de crianças para ficarem jovens. Pelo menos Regina fazia não o mesmo.

— Não mesmo! Sempre usamos para controlar as pessoas conforme nossa vontade. Mas, comê-los? Jamais.

Ele desvia o olhar, numa demonstração visível de total desagrado.

— Penso que não quero mais ver os livros. Gostaria de sair daqui...

Um riso de satisfação surge nos lábios finos de Cora. Sente-se fortalecida diante da demonstração de medo do príncipe. Ia comentar alguma frase para deixar o homem mais desconfortável e fragilizado, o que massagearia seu ego de rainha, quando sente a mão de William tocar sua nuca. E tudo se apaga diante de seus olhos.

Tendo paralisado a bruxa, ele estende a mão e faz materializar o seu diário. Em seguida, o abre e arranca uma determinada folha. Depois de apoiar o livro na mesa, ele fura a ponta do dedo e pinga algumas gotas de seu sangue em cima da página. Profere algumas palavras e uma combustão é iniciada, criando cinzas.

Apanha as cinzas e as atira para o alto, na direção das prateleiras com as gavetas que guardavam os corações. Aguarda alguns segundos.

As cinzas giram, giram e vão se acumular à frente de uma das gavetas. Seu sangue identificando o sangue de seu pai. Rapidamente, William faz a gaveta sair de seu nicho e a traz para baixo, retirando o coração lá de dentro. Tinha alguns poucos segundos e precisava agir rápido, antes que Cora despertasse.

Enfia o coração roubado dentro do lado direito de seu peito, devolve a gaveta e o diário aos seus lugares, tratando de agachar-se e encostar-se na parede, com os braços comprimindo seu abdômen.

Cora pisca várias vezes e não tem tempo de entender sua tontura, quando observa William encolhido e aparentando sentir dores.

Mal entram de volta para a casa, William deixa Cora para trás e sai de seu campo de visão. É observado pelos olhos atentos e risonhos de Robin.

— O que houve com ele? – a garota pergunta curiosa.

— É um frouxo diante da magia. Mesmo eu estando tão fraca, sou mais poderosa que ele. É um amontoado de estrume, como um warlock. Ficou com tanto medo ao ver os corações no cofre, que sentiu dores de barriga.

Robin começa a rir. Muito engraçado ouvir sua avó chamar um Senhor das Trevas, de piada. E mais engraçado era a atitude dissimulada do homem, agindo como se fosse um mero e frágil jovem.

Mas o que importava o engano de Cora e a dissimulação de William? Tudo o que valeria a pena era o seu aprendizado para se tornar uma bruxa respeitável e que não poderia se ludibriada por bruxas mais velhas. Ela guardaria qualquer segredo para conseguir obter o máximo de conhecimento em um curto espaço, para reaver seu coração e para ter a mãe desperta. Sabia que Zelena não teria maiores problemas e nem se envolveria em maiores problemas enquanto estivesse apenas dormindo. Pensando friamente, o bruxo além de bonito, tinha ainda alguma bondade em seu coração.

Horas se passam...

Regina deixa o jantar para outra ocasião. Abre a porta do quarto de William e vasculha o ambiente com seus olhos gulosos. O encontra em pé junto à janela, olhando a noite lá fora. Ela o quer.

— William...

Ele a olha de viés e sua expressão vem carregada de um humor péssimo. Parecia enjoado.

— Você está bem, amado?

— Não. Você está me deixando muito solto. Estou sentindo que serei abandonado de novo.

— William, antes eu administrava um reino. Tinha mais tempo no dia. Hoje são vários reinos, várias pessoas e vários problemas. Embora tenha quem me ajude, as decisões finais são sempre minhas. Eu lhe dei a minha palavra de que jamais o abandonaria de novo.

Ele não se deixa tocar.

— Estou furioso com você, Regina. Quando se ama alguém, cuida-se dela. Estou sendo assediado por mulheres a quem não desejo e nem amo. E quando isso ocorreu em minha vida, fiquei com ódio mortal e cometi assassinatos. Não quero fazer isso de novo.

Outra tentativa de aproximação e nova fuga empreendida.

— Você não me ama como me disse. É tudo da boca para fora e nem estava preparada para ter outro amor, além do pai da menina Robin.

Sem conseguir entender as acusações, Regina avança de novo e desta vez consegue deter do homem e obrigá-lo e ouvir seus argumentos.

— Eu o amo, William e não admito que questione meus sentimentos!

— Case-se comigo! Você continuou sua vida e eu estagnei a minha na esperança de que retornasse ao seu reino. Fiquei sozinho por trinta anos! Você me deve uma compensação! Prove que me ama!


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