Meu coração em suas mãos escrita por Eduardo Marais


Capítulo 18
Capítulo Dezessete




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— Assassino? – Cora se interessa pelo assunto.

— Regina, eu cometi um ato que não pude controlar. – William engole seco.

Segurando o rosto do homem entre suas mãos, Regina lhe beija os lábios, encorajando-o.

— Fale com calma, por favor.

— Eu toquei o livro que estava sobre sua mesa e ele se tornou cinza.

— Você queimou o livro que Belle me trouxe?

Ele se mostra nervoso. A bochecha treme.

— E- eu vi o título e abri para ler, porque me pareceu familiar. Li a introdução e quando comecei a folhear...ele se dissolveu sob meus dedos...

Cora assume uma postura defensiva e acusatória. Gold estaria certo?

— Eu me lembrei do rosto de meus pais e reconheci que o casal que vi realizando um ritual...era meu pai e minha mãe. Consegui me recordar que presenciei aquele ritual...

— Fique sereno, meu amor.

Ele gesticula suavemente e faz surgir um coração na palma de sua mão. Regina se afasta alguns passos e olha atentamente o órgão pulsante.

— Não existe. – ele faz o órgão desaparecer. – Sei realizar truques mágicos. Então, meus pais conseguiram incutir esses ensinamentos em minha mente e meu espírito.

Regina sorri e acentua a beleza de seus lábios bem pintados.

— Isso não é algo ruim, meu amado.

— Mas se não pude controlar a incineração do livro, posso muito bem ter machucado Zelena.

O rosto de Cora se contrai.

— Como poderia ter ferido minha filha, se não estava em casa naquela manhã?

— Será que eu não estava mesmo? E se retornei sem controle de meus atos?

— Pare com isso, William! – Regina altera o tom de voz. – Não fique sugestionado pelas acusações de Gold ou de Emma! Sabemos que você viveu com o sobrenatural, mas qual reino se isentou desse convívio? Todos os reis e rainhas que conheci tiveram algum momento de sua vida, controlado por magia! E mesmo que você seja um warlock, não se tornou um Sombrio!

— Ambrógio era um Senhor das Trevas. – ele a interrompe.

— Quem? – Regina e Cora perguntam ao mesmo tempo.

Mexendo nervosamente com as mãos, o príncipe abaixa a cabeça. Parecia temer o que iria revelar.

— O nome que você me disse, como suposto assassino de parte de minha alma ou ladrão de minhas memórias...era um Senhor das Trevas. A palavra que o espelho lhe deu, estava ao contrário. O nome é Ambrógio e eu me lembro de ter vivido com ele.

— Céus...

— Você acredita que pode ser um Sombrio? – Regina se aproxima de novo e segura os braços dele. – Acha que este homem é seu mentor?

Cora se intromete na conversa. Diz:

— Pelo que sei, quando alguém é criador para ser um Sombrio, não perde a memória. Muito pelo contrário: assume lembranças do seu criador.

O casal permanece calado, olhando para a bruxa mais velha.

— O que eu posso sugerir é que você tentou ser treinado por um Senhor das Trevas e por ser fraco demais, sofreu ao receber os primeiros poderes. Seu corpo e sua alma não fracos demais e não suportaram o peso da magia, por isso você “morreu”. – ela usa aspas invisíveis com os dedos na última palavra.

Os olhos de William se voltam para o rosto de Regina e a encontra suave e sorridente.

— Caso minha mãe esteja certa, você relutou tanto contra a magia, que ela não se fixou inteiramente em sua alma. Creio que ainda esteja lutando.

Cora sorri ao ver que a expressão de William se sereniza. Ia tecer um comentário de incentivo para o jovem, mas o som da campainha da porta atrapalha a continuidade da reunião.

Momentos depois...

— Você fez o quê? – Cora avança, mas é detida por Regina.

Gold estava visivelmente contrariado e incomodado. Parecia lutar contra si mesmo por estar ali, naquele escritório, confessando algo que não tinha sido de sua autoria, mas que somente ele e o autor do crime, sabiam.

— Eu...não sei porque estou...- Gold luta bravamente. – Eu quis matar William e feri Zelena. Ela surgiu em meio ao nada e eu a ataquei pensando ser William. Tenho medo e ódio por ele!

A revelação era medonha. Regina se repugna e se apavora com aquele estado deplorável e miserável em que o seu mentor se apresentava. Não havia dignidade e nem sanidade naquele homem que vendia a triste imagem daquele camponês que havia quebrado a própria perna para não ir à guerra contra os Ogros.

Olhando para Belle num canto do escritório, Regina sente piedade daquele casal. O que a ganância pelo poder, tinha feito ao pobre homem?

— Peço perdão, mas não consigo reverter o quadro...

— Ah, mas vai conseguir sim! – Cora rosna alto. – Nem que morra tentando!

Gold se encolhe como se sentisse dor. Crispa as mãos contra a barriga e chora de raiva.

— Prometo que vou pesquisar em meus livros e descobrir uma forma de despertar Zelena. – a voz miúda de Belle causa emoção em Regina e ainda mais raiva em Cora.

Pouco depois do meio dia, nas docas...

Tendo terminado um serviço, Killian decide fazer uma pausa para ir almoçar. Não teria muito tempo, pois pretendia embarcar naquela tarde, para ir abastecer uma embarcação que havia feito um pedido de combustível e que estava afastada do litoral.

Ia convidar William para irem juntos à lanchonete da Vovó Lucas, quando é surpreendido pela tenebrosa nuvem de fumaça roxa, de seu conhecido Crocodilo. Killian fica imóvel.

— Não sei o que você quer, mas já vou avisando que não vou aceitar suas provocações, Crocodilo!

Gold permanece silencioso e derrotado. Seu rosto era um misto de dor, horror, raiva e desespero. Queria pedir ajuda ao pirata, mas sua alma não estava sob seu controle. Tinha descoberto da maneira mais humilhante, que seu coração tinha sido roubado.

Sem se mostrar ofendido, Gold entrega uma caixa de madeira retangular para Killian.

— Isso agora é seu. Com os cumprimentos de William de Velac.

Depois que Killian apanha a caixa, o advogado torna a desaparecer da mesma forma como havia chegado ali.

— Sr. Smee! Leve alguém com você e vá em meu lugar abastecer a embarcação! – ele se afasta e vai esconder-se dentro da cabine em seu navio.

Momentos passados, Killian fica sentado junto a uma mesa, com o queixo apoiado sobre o móvel. Observa a adaga que controlava os poderes do Senhor das Trevas, presenteada inesperadamente pelo próprio Gold. Aquilo não o fazia feliz e o comportamento de seu inimigo se assemelhava a algo já vivido pelo pirata.

Recorda-se do desespero que sentiu quando Gold roubou seu coração e o obrigou a cometer crimes e a mentir para Emma. A dificuldade em controlar as próprias vontades e a mesma expressão vista no rosto horroroso de seu inimigo.

Jamais, nem sob tortura, o Crocodilo iria se desfazer daquela adaga. E a frase dita no momento de entrega? Não. Não queria acreditar que William estivesse por trás daquilo. Estaria William de posse do coração do Crocodilo? Ah, precisava conversar com sua amiga.

Na biblioteca de Belle...

— Gold ficou obcecado pelo príncipe, desde que sentiu aquela aura de magia poderosa em nossa loja e pelas ruas da cidade. – Belle entrega uma xícara com café para o visitante. – Desde então tem feito coisas estúpidas.

Killian sorri e decide não provocar com piadas.

— Ele discutiu com Regina; foi à delegacia provocar Emma; levou vocês para a casa da colina; foi acusar Cora de ser uma Sombria; teve uma crise de pânico e pavor e eu o encontrei bêbado no chão da cozinha, alegando que eu o havia drogado, mas que eu não era eu...disse que William tinha se passado por mim. E hoje cedo me pediu que o levasse à casa de Regina, onde assumiu a autoria do ataque contra Zelena.

— Como é?

— Isso mesmo, Killian!  Robert disse que ele queria agredir William, mas feriu Zelena sem querer. Meu marido está tomado por uma onda de loucura e sou obrigada a acreditar que há algo entre William e ele! Um segredo que está incomodando a alma de meu marido! Ele está muito incomodado com a presença do príncipe em nossa cidade. Ou Robert está acreditando que outro Senhor da Treva sem nossa cidade trará o caos...ou ele e William são velhos inimigos, porque meu marido tenha feito algo ruim no passado.

Killian coça a ponta do narigão e concorda com um movimento de cabeça.

— Deixe-me perguntar: ele está mostrando sinais de insanidade?

 - Robert? – Belle sorri nervosamente. -  É tudo o que está fazendo! O pavor o está ensandecendo a ponto de afirmar que viu fantasmas ectoplasmáticos em nossa casa. Está decadente e tenho medo que isso provoque a morte dele. Está idêntico ao momento em que Zelena o controlava com a adaga, lembra-se?

O pirata confirma a lembrança.

— Obrigado pelo café, mas preciso encontrar minha esposa. – ele se inclina e beija a testa da amiga. – Sei que o Crocodilo me odeia, mas caso precise de ajuda, pode me chamar. Ele é o sal de minha vida e sei que a recíproca é verdadeira.

Enquanto entrava em casa, Emma tenta controlar sua ansiedade causada pelo chamado do marido. Killian parecia muito incomodado com alguma novidade, porque não tinha o hábito de provocar encontros ou tratar de assuntos particulares durante o horário de expediente.

Na sala principal, Killian aguardava a esposa e estava paciente. Ele sorri e a recebe com um beijo sempre apaixonado.

— Vim o mais rápido que pude. O que houve?

Ele aponta para o objeto em cima da mesa. A caixa retangular, feita em madeira.

— O que é isso? – Emma trata de abrir a tampa da caixa e a surpresa provoca um pequeno sobressalto em seu espírito. – Onde conseguiu? Aliás, como conseguiu?

— Pode acreditar, meu amor. Foi o próprio Crocodilo quem trouxe isso como presente.

— Mas...é real?

— Sim. Depois que conversei com Belle e obtive algumas informações, fui até a loja do Crocodilo e o convoquei para que saísse dali. Ele se materializou na calçada do outro lado rua, onde eu estava. Não preciso dizer o quanto ele me xingou, né?

Tocando os lábios com o dedo indicador, Emma se inclina para ver a adaga mais de perto.

— Por que ele fez isso?

— Não sei, amor. – ele acaricia a lateral da caixa. – Mas o cerne de nossa reunião é outro. Uma vez, sua mãe disse que a função da família é proteger seus membros.

— Sim, ela sempre diz...mas...e a adaga?

— Amor, de certa forma sou parente de Regina. Ela é madrasta de Mary, além de ser mãe e ao mesmo tempo, bisavó de Henry. Você é minha esposa e Henry é seu filho, portanto, meu enteado. Baseado nisso, eu tenho que defender Regina, porque ela está correndo perigo.

A expressão de espanto e ansiedade se instala no rosto bonito de Emma.

— Não sabemos nada sobre William, desde que Regina lançou a maldição lá na Floresta. Você e Gold tinham razão sobre a desconfiança sobre meu amigo.

Emma aponta para a adaga.

— Quando o Crocodilo me entregou a adaga, disse que era presente de William de Velac.

— E se Gold estiver blefando e usando a adaga?

— Não acredito que o Crocodilo colocasse em risco o próprio poder, por qualquer motivo. Ele mente, mata e engana para manter essa adaga sob o controle dele. Eu posso afirmar, depois que obtive mais informações, que William tirou o coração do Crocodilo.

Os dois ficam em silêncio por alguns segundos.

— Agora eu me questiono: será que ele criou mesmo uma ilusão de ótica, quando mostrou o coração de Belle naquela tarde? O príncipe invade a casa do Crocodilo, envenena o cara, rouba seu coração, se passa por Belle e ainda me envia um presente que eu poderia usar para controlar o poder do Senhor das Trevas. O menino é corajoso ou louco!

— Mas você enfrenta Gold apenas com coragem.

Killian sorri envaidecido.

— Mas não cometo o desatino de tirar o coração do bicho e ainda o fazer se desfazer da adaga.

Acariciando a adaga, Emma fica pensativa.


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