Meu coração em suas mãos escrita por Eduardo Marais


Capítulo 17
Capítulo Dezesseis




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Silenciosa, Zelena caminha até próximo à entrada do pequeno cômodo e observa William conversando com alguém que estava refletido no espelho. O homem tinha um espelho mágico? Ou sabia evocar conversas por um espelho?

— Ainda não. – ele diz com a voz grave.

— Precisa se apressar, Alteza. Sua Majestade já não consegue andar mais.

— Apenas posso lamentar, porém, não me aproximei o quanto preciso. Ainda há reservas e proteção no corpo dela.

— Entendo, Alteza, mas precisa ser mais hábil.

— Não seja atrevida, Borae! Eu sou um Sombrio, criado por Ambrógio da Montanha do Dente Quebrado! Vou agir de acordo com o meu tempo!

— Peço perdão, Alteza, mas o tempo não quer esperar! Perdoe-me pela ousadia!

— Então, você e seu irmão devem encontrar um meio de conservar meu pai até a minha volta. Ainda há um trajeto longo a ser percorrido, antes de fazer o resgate dos corações. Esta cidade é uma fonte de toda forma de magia.

Deixando o queixo cair, a ruiva emite um suspiro sonoro, mostrando sua surpresa. Safado! Ele estava mentindo quanto à falta de lembranças! Zelena se apressa em sair do quarto. Precisava encontrar Regina ou Cora e pedir ajuda.

Corações? Proteção sobre o corpo dela? Dela quem? Estava se aproximando de Regina para vingar-se? Roubar corações? No mausoléu? Mas a quem pertenciam os corações que iriam ser resgatados?

Zelena se vira rapidamente e sai do quarto, caminhando com pés de pelúcia. Fecha a porta e quer fugir dali, porque sem o amuleto que controlava o poder de um Senhora das Trevas, ela seria apenas uma bruxa fraca e frágil.

Virando-se e correndo para fora do quarto, ela chega ao corredor e tromba com uma superfície dura. Era o corpo de William, parado em pé na frente dela. Antes que pudesse reagir, vê o homem espalmar a mão no ar e recebe uma carga forte de magia que a paralisa imediatamente.

— Onde pensa que vai, Zelena, menina linda?

— Q-quem é você? – ela consegue perguntar. – Como não sentimos sua magia?

Ele se aproxima dela e segura o pescoço dela, apertando-o suavemente entre seus dedos.

— Eu tenho usado objetos em meu corpo, que bloqueiam a percepção de outro habilidoso. Esses objetos impedem que minha magia seja percebida, a menos que eu queira que ela seja notada.

— G-Gold estava certo...- Zelena engole seco. – Ele sentiu a aura...de magia forte...era sua.

— Sim. E estou aqui para conseguir algo que salvará a vida de meus pais. Eu pretendo matar apenas a pessoa que merece. Não vou ferir mais ninguém, a menos que me atrapalhem. Sua menina decifrou meu diário e tive de tirar o coração dela...Gold me expôs e tive de fazer o mesmo com ele...agora, você e sua curiosidade me flagram descontraído em conversa com um serviçal de meu reino. – ele sorri irônico. – Eu estava tão feliz em ver meu lar, que abaixei minha defesa e permiti que me visse como sou.

— Poderá tirar meu coração e controlar minhas vontades. Poderá apagar minhas memórias, mas tudo o que está oculta será revelado. – ela engasga.

Ele sorri.

— Não se preocupe porque não é você quem deve morrer, Zelena. Não vou apagar sua memória, porque isso causa danos profundos e esta não é minha missão. Entretanto, você vai dormir por um longo tempo. Seu corpo estará protegido por uma redoma e ninguém poderá usar subterfúgios para descobrir o que houve aqui.– ele se aproxima e beija-lhe demoradamente os lábios.

Zelena queria aquilo sim. Mas em outra situação. Queria um beijo ou vários beijos daqueles lábios, mas também desejaria retribuir em momentos de paixão. Não queria ser beijada em meio a tanto medo e fragilidade.

Ainda consciente, a ruiva sente o corpo ser removido e flutuar até a proximidade da escada. Ela tenta gritar e defender-se, mas não consegue mover nenhum músculo. Para piorar sua situação, é atirada com muita violência para o andar de baixo, indo se estatelar contra alguns móveis. O gosto metálico de sangue sobe até sua boca. Ela apaga.

No quarto do hospital, Cora e Regina apenas observam Zelena dormir serenamente. Segundo o Dr. Whale, duas costelas foram fraturas pela queda e hematomas foram identificados pelo forte impacto contra o móvel.

— Como ela pode cair do segundo andar? Zelena é uma bruxa e poderia ter voado ou amenizado a queda. – Regina cochicha para a mãe.

— E se ela foi empurrada? Ouvi o barulho e quando cheguei à sala, vi minha filha caída.

— Quem mais estava na casa?

— Eu e Zelena, apenas. Henry estava na escola e William não estava aqui. Quando me desesperei, tudo em que pensei foi trazer Zelena e cometi o desatino em usar o feitiço da nuvem de fumaça.

— Vamos descobrir o que houve e será agora. – Regina gesticula e faz surgir em sua mão, um apanhador de sonhos. Caminha até a cama e movimenta o objeto sobre o corpo da irmã. Estranhamente, o objeto não capta absolutamente nada.

Cora e Regina se entreolham.

— Tente de novo. – ordena Cora.

Outra e outra vez o apanhador de sonhos é utilizado e não produz nenhuma imagem.

— Zelena está bloqueada. Quem fez isso é conhecedor de magia forte, a ponto de anular os poderes e a defesa dela.

Horas mais tarde...

Emma traz uma bandeja com bebida quente para todos que estavam na sala principal da casa de Regina. O acontecido com Zelena havia incomodado a família inteira.

— Como Robin está?

— Ficou no hospital com William. Iremos nos revezar para aguardar o momento em que Zelena acordar. – Cora apanha um dos copos.

— Vocês vasculharam a casa em busca de pistas? – Killian permanece em pé, junto a uma parede ao lado de David.

— Eu fiz a investigação e nada está fora de ordem. – David fala. – Acredito que o agressor apareceu, atacou Zelena e desapareceu. Com mágica.

Cora encara o xerife.

— Pensei nisso também. Mas por que atacar Zelena? Ela tem sido tão inexpressiva ultimamente.

— Já pensaram na possibilidade de Zelena ter descoberto algo e ter sido atacada por William?

— Pronto! A teoria de conspiração de novo! – Killian se mostra incomodado. Afasta-se do grupo e vai embora da casa, sem comentar mais nada, sendo observado por todos.

Regina se levanta e estende a mão para sua mãe.

— Vá descansar um pouco. Você precisa estar forte para Zelena.

A elegante Rainha de Copas aceita a sugestão da filha. Levanta-se e depois de despedir-se de todos, sobe a escada e sai do campo de visão das pessoas.

Regina avança para Emma e tem o trajeto interrompido por David, que se põe entre as mulheres com os braços abertos.

— Não vou admitir mais os seus ataques! Quero que deixe William em paz e trate de cuidar de sua obrigação como xerife e salvadora da cidade! Encontre o maldito que fez isso contra minha irmã!

Mary toca os ombros da madrasta e pede mais calma e serenidade.

— Todos estão tensos. Por favor, vamos descansar e amanhã estaremos racionando melhor.

Rainha e xerife ainda se encaram por alguns segundos como duas lutadoras em um ringue.

— Vou me casar com William e ele entrará para a família. – rosna Regina com os dentes travados, apontando o dedo próximo ao nariz de Emma. – Mantenha a sua paranoia longe do meu homem e de minha irmã. Não quero mais ouvir suas teorias e suas acusações, ou eu mesma vou começar a atacar você.

David se movimenta e consegue afastar a filha e a sogra. Gesticula para Mary e sem palavras, diz que que é hora de partir. Segura delicadamente o braço de Emma e sai da casa com as duas mulheres de sua vida.

Na escuridão daquela madrugada, Gold desperta de um estranho pesadelo. Belle está a seu lado, acariciando seus cabelos.

— Você está bem?

— Sim...o que aconteceu?

— Você está sonolento desde ontem à noite. Quando cheguei em casa, você estava sentado no chão da cozinha, bêbado. O que houve, Robert?

— Acredito que...fui seguido por algo assustador...eu vi algo flutuando aqui em casa...você estava na cozinha, preparando o jantar e depois eu apaguei.

— Não. Você deve ter sonhado, Robert. Eu não preparei seu jantar, porque estava trabalhando. Cheguei tarde e o encontrei sentado no chão. Quem esteve aqui com você?

Gold mexe nos cabelos e os tira da testa. Pisca várias vezes e começa a movimentar-se para sair da cama.

— Você estava comigo...beijou-me e depois me deu um aperitivo...

— Robert, não fiz isso. Não estava em casa quando você chegou, não fiz seu jantar, não o beijei e nem lhe preparei um aperitivo. Quem esteve aqui com você?

O homem parecia miserável. O medo sempre desfigurava sua alma e sugava suas forças. O visão daquela coisa gelatinosa se movendo diante de seus olhos, havia conseguido afetar seu controle emocional com muito mais força do que ver os Senhores das Trevas caminhando pelas ruas de sua cidade.

— Eu não sei que esteve comigo aqui, Belle. Alguém se passou por você e me deixou naquele estado deplorável em que me encontrou. Quando eu estava perdendo a consciência, vi a figura de William.

Belle estende a mão e pacientemente acaricia o rosto do marido.

— Robert, você está permitindo que sua sanidade seja afetada. Mesmo que seja comprovado que William é um mago, sabemos que seu poder será maior que um suposto poder dele. Você é um Senhor das Trevas e William não é. Pode conhecer alguns truquezinhos, mas...

O homem se acomoda de novo na cama e ajeita o cobertor.

— Preciso apenas dormir.

No quarto do hospital...

Robin permanece ao lado da cama da mãe, mas sua atenção total estava voltada para o homem sentado num canto do quarto, imóvel como se fosse uma estátua com cabelos humanos.

— Foi você quem deixou minha mãe assim?

Pela primeira vez naquelas horas, William se movimenta e encara a garota. Levanta-se e vai para perto da cama.

— Sim. Sua mãe me viu como realmente sou, flagrando-me em um momento de fragilidade e sem defesa ou máscara. Ela não irá morrer e nem está sem o coração, portanto, pare de fingir que está preocupada. Você nem gosta dela!

Robin abre a boca indignada. Sorri e não responde.

— Menina, sua mãe está apenas adormecida e vai despertar assim que eu tiver terminado meu trabalho aqui. Por hoje, vamos para casa dormir, porque iremos começar seu treinamento pela tarde de amanhã.

— Como consegue afirmar com tanta certeza que minha mãe e eu...

— Robin, você é um livro aberto e escrito por uma criança. Você é uma pessoa simples e fácil de interpretar. Sei que o seu maior desejo é ser como suas parentas e por isso não devemos perder tempo. Quando eu partir, quero deixar uma menina forte e com conhecimentos. – ele se empertiga e abre os braços chamando para que Robin se aconchegue ali.

Ela o atende e acomoda-se ali. Embora confortável e quente, aquele espaço era proibido e parecia espinhar. Fecha os olhos e deixa-se ser levada para sua casa, por meio de magia.

Na manhã seguinte...

— Preciso conversar com vocês. – William se aproxima de Cora e Regina e sua expressão não estava animada.

Mesmo tendo passado toda a noite na mesma cama com ele, tocado seu corpo, gozado momentos prazerosos com aquele homem, Regina não se sente na obrigação de deter seus desejos e seus cuidados. Vai até ele e o abraça por longos segundos, que aos olhos de Cora são séculos.

— O que houve? Teve novas lembranças? – Regina o conduz e o faz sentar-se. Continua segurando as mãos do namorado.

Ele titubeia e molha os lábios com a língua em sinal de nervosismo. Olha rapidamente para Cora por cima da cabeça de Regina. Volta sua atenção para sua Rainha amada, mesmo que lutasse contra o sentimento.

— Sei quem é o “assassino”.


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