Meu coração em suas mãos escrita por Eduardo Marais


Capítulo 12
Capítulo Onze




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— Ela foi trazida para casa e não despertou até agora. Parece estar num sono de feitiço. – Zelena troca o pano úmido que estava na testa da filha. – Já tentei algumas coisas e não surtem efeito.

Cora massageia o pescoço. Estava fora de forma para lidar com tanta exigência de truques em tão pequeno espaço de tempo.

— Preciso comer alguma coisa. – ela sai do quarto. – Estou me sentindo zonza...

William se aproveita da oportunidade. Diz:

— Por que você não leva Zelena para comer algo, Regina? Eu ficarei com a menina até que retornem.

— Boa ideia. Eu também estou faminta. – Regina gesticula e tem seu chamado atendido, permitindo que Zelena saia primeiro do quarto. – Eu lhe agradeço...

Antes que pudesse terminar a frase, é trazida para junto do corpo de William. Ele a beija de forma tão apaixonada e gulosa, que parecia querer arrancar o cérebro de Regina pela boca.

Zelena, que havia parado a poucos metros do lado de fora do quarto, consegue presenciar aquela demonstração de desejo e afeto. Suas suspeitas estavam confirmadas: Regina estava retomando seu romance com o príncipe, interrompido por três décadas. Por isso, o forte interesse em mantê-lo dentro de sua casa. Ela estava querendo ter um final feliz?

Quando os amantes se separam, Regina praticamente foge do quarto, risonha. Para trás, deixa o homem sorridente e malicioso, que fecha a porta do quarto.

Ele se volta para Robin e gesticula. A garota soluça e expira bruscamente, recuperando sua sanidade e consciência.

— William...

— Então, a menininha curiosa apanhou meu diário e conseguiu ler alguma página, certo?

— Eu queria ver...

— Queria ver? Ou queria ler? As páginas estão protegidas com magia, para evitar que leigos consigam saber meus momentos de vida mais profundos e bonitos, e que interessam somente a mim. – ele se senta na cama.

Robin respira com dificuldade. Coloca a mão espalmada no próprio pescoço.

— Sabe, garotinha, eu poderia deixar você sufocar até a morte. Ou mesmo arrancar seu coraçãozinho e espremer entre meus dedos. Sua curiosidade poderia custar esse sopro insignificante que você chama de vida, entretanto...não farei isso, agora.

Com gesto rápidos, ele segura o pescoço da garota com uma das mãos. Sente a menina segurar seus punhos, com suas mãozinhas trêmulas.

— Não torne a tocar em meu livro e tampouco ouse contar para sua família, o que descobriu naquelas linhas, porque o segredo não lhe pertence. Eu poderia tirar essa lembrança de sua mente, mas eu prefiro que ela fique onde está. Quero que sempre tenha receio de mim. – ele a empurra contra a cama e inclina-se para bem próximo ao rostinho dela. – Eu sou o único pupilo que teve coragem de aprender com Ambrógio na Montanha do Dente Quebrado e ele dissolveu quando me passou o último ensinamento. Tudo o que ele acumulou por décadas, está dentro da minha alma agora e posso ser muito cruel, caso me sinta acuado.

Violento, ele arranca alguns fios de cabelos da garota e diante dos olhos dela, os transforma em uma pequena farpa. Antes que Robin pudesse entender o que estava acontecendo, ele introduz a farpa em um dos seios dela, provocando uma dor muito forte. Não consegue gritar porque sua boca é obstruída pela mão grande do homem.

— Essa farpa irá provocar dor em seu corpo, todas as vezes em que tentar contar meu segredo para alguém. Não haverá gesto ou desenho que possa usar para expor o que leu no livro. Sempre que tentar, vai sentir dor. Mas não se preocupe porque ao final de minha missão, a farpa vai ser dissolvida em seu corpo. Portanto, torça para que eu permaneça pouco tempo aqui e que seja exitoso.

Momentos depois, Robin está sentada na cama, saboreando uma sopa trazida pela mãe. Comia com colheradas na boca, como se fosse um bebê, sob os olhares encantados de Regina e Cora. É vigiada pelos olhos escuros e malvados de William, como se fosse uma águia procurando uma presa.

— É bom demais saber que você está saudável. – Zelena sorri para sua filhota.

Tudo estava mais sereno naquela casa...

Abraçados, olhando a noite pela janela do sótão, Regina e William conversavam sobre coisas divertidas e sem importância. Queriam apenas sorrir de qualquer coisa.

De repente, William aponta numa direção e pergunta:

— O que há naquele mausoléu? Quem da sua família está enterrado lá? Seu pai? O pai de Robin?

Regina olha para a silhueta escura do pequeno prédio. Imponente e assustador, embora parecesse miúdo. Ela se desvencilha dos braços de William e vai sentar-se numa cadeira num canto do cômodo quase vazio.

— Meu pai ficou enterrado na Floresta Encantada. O pai de Robin está enterrado no cemitério da cidade. O mausoléu está vazio de corpos, mas guarda livros de encantos, espelhos mágicos e há um cofre valioso com dezena ou centenas de corações pulsantes e vivos.

— Como é? – ele faz uma careta mostrando o pavor de sua alma. – Vocês comem corações?

Uma gargalhada animada é a primeira resposta de Regina. Sua fisionomia não ficava tão bonita quando sorria. Tornava-se assustadora.

— Não. É um cofre que trouxe comigo de meu reino, quando viemos para cá, após a maldição que liberei sobre todo o território da Floresta.

A expressão de William não muda e Regina sente que precisa esclarecer o mais rápido, antes que o homem pulasse pela janela.

— São corações de camponeses e de quem cruzou o meu caminho. Eu me divertia fazendo isso e os guardei como souvenires. Ocorre que não posso me desfazer deles ou os donos morrerão.

— E por que não os devolver ao corpo de seus donos?

Agora quem assume uma expressão de espanto e pavor é Regina.

— Não há como saber a quem pertence o coração!

— Vocês são bruxas. São quatro bruxas e podem descobrir um meio de devolver. Sei lá, uma magia que faça o coração bater mais forte quando seu dono se aproximar dele.

As sobrancelhas de Regina voam para cima.

— Ah, sim! Vou convocar os cidadãos de Storybrooke que estão sem coração e pedir para que façam uma fila, para que recebam seu coração. Hoje no paço municipal haverá devolução de corações às seis da tarde. Compareçam!

Cruzando os braços atrás das costas e assumindo uma postura militar, William estreita os olhos e os fixa no rosto de sua amante. Antes de qualquer coisa, queria admirar sua beleza, como se sua aparência criasse uma máscara para que não percebessem sua perversidade. Serpentes também eram lindas.

— E se você recebesse uma convocação como esta, sabendo que teve o coração roubado, não compareceria? Não enfrentaria uma fila, mesmo que fosse quilométrica? – ele fala sem entonação.

— E se as pessoas interpretarem mal a minha atitude?

— O que acha que elas sentem quando encontram você pelas ruas, sabendo que outrora roubou o coração delas para intimidá-las? Já que não é mais uma pessoa que tem esse hábito, então, devolva os corações. A menos que sua família e você tenham o hábito de ter ingredientes sempre à mão, para bruxarias...

Horas mais tarde...

— Isso vai reavivar o que os camponeses sentiam por você, filha.

— Eu penso que é perigoso. – opina Zelena, sentindo uma pontada de angústia e ciúmes da irmã, por um iminente final amoroso feliz.

Cora insiste:

— Eles se recordarão de todas as pessoas que morreram com seus corações esmagados. Penso que deva deixar tudo como está.

— Mas, mãe, e se o mausoléu pegar fogo? Se algum fenômeno mágico ocorrer em nossa cidade e o mausoléu implodir, por exemplo? Todos os donos dos corações irão morrer sem a mínima chance de lutar. William tem razão: eu devo isso aos que sobreviveram aos meus momentos de insanidade e sadismo! – Regina olha para a irmã e depois para a mãe. – Qual motivo eu tenho, para manter aqueles corações, se não sou mais a Rainha Má?

Cora levanta as sobrancelhas e espreme os lábios finos. Concorda com um movimento de cabeça.

— Creio que seria uma prova primordial para que acabe com todas as dúvidas em relação a sua modificação. – Zelena se mostra muito desanimada. – Quero que tome cuidado, porque as pessoas dessa cidade são volúveis demais e facilmente manipuláveis. Atacam com facilidade, quando são instigadas.

— Pense bem antes de realizar isso, filha.

— É o mais decente a fazer.


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