— Terra chamando – Harry finalmente se manifestou, balançando a mão em minha frente.

—  O que houve? – perguntei. 

— Só falei que já está tudo pronto – encarei o chão e conclui que realmente um piquenique perfeito havia sido organizado. 

— Onde estava com a cabeça? – ele perguntou, parecendo curioso.

— Ah, eu conheci meu melhor amigo aqui, traz-me boas memórias – expliquei, enquanto me sentava sobre o pano amarelo meticulosamente colocado sobre a grama verde e molhada que eu, particularmente, acho tão mais atraente. 

— Noah Adams? – ele perguntou e balancei a cabeça em concordância, enquanto pegava um sanduíche dentro de sua cesta – eu sempre pensei que vocês namoravam, por isso nunca cheguei até você antes  – comecei a rir tanto que quase o sanduíche parou em minha garganta. 

— De forma alguma, só somos amigos – soltei desconfortável, era a segunda vez no dia que alguém supôs que eu namorava meu melhor amigo. 

— Eu não acredito em amizade entre homem e mulher — soltou e de repente se tornou bem menos atraente — de qualquer forma, todas garotas da escola são obcecadas pelo Noah, é estranho você dizer que nunca sentiu nada por ele — continuou, aumentando meu desconforto.

— Ele não é o rei da Inglaterra ou coisa assim — brinquei rindo, mas Harry continuou sério, realmente esperava uma resposta concreta — somos opostos, ele é pura bagunça e eu... eu sou eu, amar tanto alguém a ponto de ficar louca iria me consumir, um relacionamento com Noah não corresponde com minhas expectativas de um amor calmo e tranquilo. 

— E o que nós temos corresponde a suas expectativas? – Harry falou enquanto me encarava.

— Tirando o fato de você gostar de stars Wars, sim. – brinquei, sorrindo. 

— Não vamos mesmo falar sobre isso, ok – ele retrucou sério – é meu ponto fraco – gargalhei ainda mais. 

— E aí –  alguém pulou entre nós de repente, assustando-me. 

Era uma garota bem baixinha, de cabelos pretos curtos e uma franjinha que lhe dava um aspecto fofo. 

— Meu Deus, tá fazendo o que aqui? – Harry disse, aparentemente a conhecia. 

— Desculpa atrapalhar o encontro de vocês, mas vai ter uma festa hoje, vocês precisam ir comigo – a morena tagarelou, abaixada em nossa frente.

— Quem é você? – perguntei.

— Ah claro. Meu nome é Redd, irmã do Harry.

— Prazer, eu sou a Malu – retruquei.

— Eu já sei, ele fala tanto de ti que sinto como se já lhe conhecesse – falou baixo, como se fosse um segredo.

— Sério? – eu ri, Harry estava vermelho. 

— Você precisa ir embora Redd – Harry falou, parecia constrangido. 

— Não mesmo – ela segurou minhas mãos e me segurei para não rir outra vez – Malu, vai ter uma festa irada na casa da Jeni hoje, mas a mamãe não vai me deixar ir sem o mala do meu irmão, você pode convencê-lo por mim? 

— Não mesmo, estamos em um encontro aqui – Harry respondeu por mim.

— Por favor – implorou, senti que ela iria começar a chorar caso negássemos. 

— Acho que tudo bem nós irmos – falei sem muita certeza.

— Você não precisa fazer isso – Harry me encarou.

— Não tem problema, é só uma festa. – dei de ombros.

É um fato que eu odeio festas, mas não negaria nada a essa garota assustadoramente fofa, se ela começasse a chorar eu não queria ser a responsável.

— Você é uma peste, Redd – harry anunciou e a garota deu de ombros, não parecia ser algo que ela já não tivesse ouvido antes – vamos então.

— Eba! – ela deu alguns pulinhos, divertindo-me.  

Ajudamos Harry a juntar as coisas e fomos em direção ao carro.

—  Nunca te vi na escola – falo, encarando a menor. 

—  Sou um ano mais nova – explicou, e então entramos no carro. 

Em cerca de meia hora chegamos ao local da festa, me arrependi de ir no mesmo instante. Havia alguns casais encostados na parede da casa se beijando como se o mundo fosse acabar, a música eletrônica era alta demais e havia muitas garrafas de bebidas espalhadas pela entrada. 

— Você que decidiu vir – Harry sussurrou em meu ouvido.

— Tem como mudar de ideia? – retruquei, e ele sorriu. 

— Vamos entrar logo –  antes que respondêssemos a irmã de Harry já havia passado pelo portão e estava ao lado da piscina, então a seguimos.

Cumprimentamos as amigas de Redd por educação e depois ficamos lá, parados, enquanto ela conversava freneticamente com um grupo de garotas, todas eram muito bonitas e usavam roupas extremamente provocantes, e então de repente minha roupa super normal não parecia mais apropriada e eu desejei ser engolida até sumir. 

Foi então que senti alguém puxar minha cintura por trás, tirando-me do chão por alguns segundos. 

— Puta merda – gritei, quando fui colocada no chão novamente, obvio que era Noah. 

— O que faz aqui, Cooper? isso é uma festa, não um clube do livro – ele praticamente gritou, devido ao som extremamente alto. 

— A irmã de Harry nos chamou – respondi, no mesmo tom. 

— Ah, Harry... claro – ele olhou pra trás parecendo finalmente enxergar meu acompanhante.

— E aí, Noah – Harry deu um sorriso amarelo.

— O rato de laboratório sai de casa, afinal – Noah soltou, sem saber que Harry claramente não se dá bem com piadas – relaxa cara, estou brincando – completou, ao notar o semblante sério de Harry. 

É importante pra mim que Harry e Noah se deem bem, entretanto acredito que as chances sejam praticamente nulas, ambos são muito diferentes. Antes que pudessemos falar mais alguma coisa, uma das garotas que estavam no grupo de Redd, puxou Noah beijando-o de forma ousada, antes de sequer dizer qualquer coisa. Desviei os olhos, isso era tão constrangedor, de onde venho as pessoas não se cumprimentam assim. 

— De onde você conhece Noah Adams? ­– Redd perguntou, aproximando-se de mim. 

— É meu melhor amigo – peguei a bebida em sua mão, dando um gole grande mesmo sem ter noção do que fosse, parecia que eu ia precisar nessa noite. 

— Meu Deus, você é tão sortuda. Uma amizade colorida com Noah Adams? 

— Amizade – disse pausadamente – não tem a parte do colorida. 

— Sério? Como você consegue? – perguntou, mas ao notar que eu não responderia, prosseguiu – Pode me apresentar a ele? Quem sabe me dar uma ajuda já que são amigos. 

— Meu deus, se comporte Redd – Harry repreendeu.

— uh, ele não estava beijando sua amiga agora? – indaguei, realmente confusa. 

— Ela não é minha amiga, só colega de classe. Além do mais, eu disse que tinha interesse no Noah antes, ela só teve coragem antes de mim – explicou. 

Meu deus do céu, estou no meio de adolescentes ou crianças, afinal?

— Você acha que ele teria interesse por mim? – Redd prosseguiu. 

— Noah é uma vagabunda, só precisa se apresentar que deve acontecer – falei, desejando estar brincando porém, não estava.

— Ouvi meu nome? – Noah voltou, colocando os braços no ombro de nós duas. 

— Essa é a Redd, ela tem interesse em você – fui direta, fazendo Noah gargalhar e Redd ficar vermelha. 

Não sei porquê falei dessa maneira, parece algo cruel. Quando as palavras saíram pareceu normal porém, se eu fosse ela teria um treco.

— Não posso negar – ela riu também. 

Uma parte de mim ficou aliviada por não tê-la constrangido, mas a parte que restou gritava: 

"por que diabos qualquer um tem mais segurança que eu?"

— eu fico assustado com sua cara de pau, irmã   – harry se manifestou, passando a mão por minha cintura, notei que os olhos de Noah seguiram o movimento. 

— Eu até ficaria contigo se você tivesse outro irmão, qual é, ele ia nos vigiar o tempo todo – noah falou para redd, que gargalhou como uma garotinha apaixonada. Já Harry apenas deu um sorriso amarelo preenchido por sarcasmo, ele não tinha mesmo achado graça. 

— Eu sempre soube que ele destruiria minha vida –  Redd devolveu. 

Quando Noah abriu a boca para responder começou a tocar The Reason do Hoobastank, então eu e ele nos entreolhamos e começamos a rir muito, na mesma hora. 

— Do que estão rindo? –  Harry indagou, nos olhando com aquele de olhar que só ele sabe fazer de "você é idiota ou o quê?" 

— Essa música lembra uma coisa aí –  Noah falou, dando um gole na cerveja que estava em sua mão. 

—  Que coisa? –  Redd perguntou.

—  É um lance bobo que aconteceu com a gente – falei torcendo pra que fosse suficiente. 

—  Eu tô muito curiosa agora –  ela voltou a dizer –  me conta! 

—  A gente se conhecia há uns três meses, Noah foi um idiota comigo e então tivemos nossa primeira briga –  comecei a dizer. 

— E então, o Noah sendo uma pessoa incrível –  o dito cujo continuou, claramente incomodado pelo "idiota" –  fui até a frente da casa dela e cantei essa música. 

—  Em um violão pequeno e velho –  falei para provocá-lo. 

—  Você é tão ingrata, Cooper –  o loiro retrucou. 

—  Ele fez uma serenata de amor pra você? –  Redd praticamente gritou, parecendo super animada com a história.

—  o que dizer, sou um cara muito romântico –  exibiu-se, fazendo-me revirar os olhos –  Quer saber, vou dançar o resto da nossa música com minha garota –  esticou a mão pra mim, fazendo-me gargalhar. 

—  Não mesmo  –  neguei. 

Nesse momento, Noah me pegou no colo jogando-me em seu ombro, comecei a gritar para que me soltasse, batendo em suas costas, porém ele só me soltou quando chegamos na pista de dança, onde a música estava ainda mais alta, havia poucas pessoas dançando em volta. 

—  você é um sem noção –  soltei gargalhando, quando ele me colocou no chão.

—  Eu sou –  ele ri também –  essa devia ser nossa música tema –  falou, puxando minha cintura para perto de si. 

—  Você já disse isso sobre umas outras mil músicas –  recordei, deitando minha cabeça em seu ombro enquanto nos mexíamos de um lado pro outro, não posso dizer que isso era dançar. 

—  É verdade –  ele sorriu, acariciando meu cabelo –  Mas essa música realmente sinto como se fosse minha pra você, eu sei que sou todo fodido e só te dou trabalho, mas... 

—  Você não é mais assim –  soltei, interrompendo-o.

—  Eu mudei por você –  congelei ao ouvir suas palavras, então levantei a cabeça e o encarei por longos cinco segundos, ele devolveu o olhar na mesma intensidade, sorri. 

A música tocou suas últimas notas e em seguida, o som que invadiu o local era Cold do Maroon 5, estava prestes a sair dali quando Redd chegou puxando Harry pela mão. 

— force esse garoto a dançar, Malu – redd falou e então me afastei de Noah, aproximando-me de Harry. 

— Eu não danço em público pra falar verdade – falei. 

— O que?  – harry berrou – Dançou com esse babaca do Noah e pensa que vai escapar de mim? — Então ele começou a mexer a mão de um jeito desajeitado como se fosse um robô, espero que ele não considere isso uma dança. 

— eu posso ser um babaca mas, pelo menos não danço assim — Noah defendeu-se. 

Redd e eu rimos alto quando Noah começou a imitá-lo provavelmente para tirar sarro, mas por fim, os dois acabaram criando uma dança um tanto disfuncional. E quando me dei conta Redd e eu também estávamos pulando junto aos garotos, era algo totalmente idiota e as pessoas em volta provavelmente estavam sentindo vergonha de nós, mas eu acabei me divertindo de verdade naquela noite.