My Dear Secret Admirer escrita por KAT


Capítulo 3
Desserviço mundial


Notas iniciais do capítulo

achei esse capítulo perdido e vim atualizar o mais rápido possível, se possível escutem ouvindo a música "faded"
é isso.
nos vemos no final.



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Naquele dia acordei disposta, não havia nada que podia dar errado. Após a noite anterior já tinha todas as confirmações necessárias:  Harry havia me mandado o bilhete anônimo e hoje sairíamos juntos, não tinha como ser melhor. 

Não saio com muitos garotos além de Noah, então não sabia como me vestir para tal ocasião, entretanto decidi me vestir como em outro dia qualquer. Se Harry conseguiu gostar de mim apesar do meu jeito, a roupa não teria tanto peso. 

Coloquei meu jeans rasgado de sempre e um blusinha que estava no fundo do armário, hoje era um dia quente comparado aos dias comuns  na Califórnia. 

— Bom dia, mãe  cumprimentei assim que entrei pela cozinha. 

— Bom dia flor do dia! sorri involuntariamente com sua resposta.

Minha mãe tem uma energia tão positiva. Eram apenas oito da manhã de um sábado e eu havia juntado todas minhas forças para me levantar e vestir uma roupa qualquer para sair com Harry, já ela estava com os cabelos arrumados em cachos perfeitos e usando um vestido florido rodado, super animada, queria saber como ela conseguia. 

— Por que está arrumada?  ela largou a frigideira onde preparava umas panquecas – Está de maquiagem as oito da manhã? – ela estreitou os olhos se aproximando – uau, o que houve, Maria Luiza? 

— Vou sair um pouco – expliquei, abrindo a geladeira e pegando a jarra de suco. 

— Ok – ela continuou me encarando curiosa. Seus olhos castanhos eram grandes e intimidadores demais para ignorar. 

— O que foi?  indaguei, virando o suco de laranja em um copo. 

— Você está cheirosa demais para quem vai sair sozinha – me olhou como se me investigasse – Está namorando com quem Maria Luiza? O Noah, não é? – arregalei os olhos quando tais palavras saíram por seus lábios, então ela imediatamente continuou – Sempre soube que havia algo mais que amizade entre vocês. Tome cuidado filha, esses garotos gatos do colegial não se importam de engravidar garotinhas novas e inocentes como você. 

— Não namoro o Noah, mãe – falei pausadamente, encarando-a – mas ele vai gostar de saber que você o acha um “garoto gato de colegial” – não consegui evitar rir enquanto repetia suas palavras com sotaque. 

— Não foi o que eu quis dizer, Maria Luiza – de repente sua pele clara estava num tom avermelhado, claramente eu havia deixado-a envergonhada, o que me diverte mais que o comum – e não tente mudar de assunto, mocinha. 

— Mãe, já estou indo, okay? – me aproximei dela depositando um beijo em seu rosto e então sai dali, ouvindo-a xingar  alguma coisa que eu não entendi. 

Meu dia havia começado bem. 

Encontrei-me com Harry na esquina de casa, ele estava com uma bermuda larga e uma blusa vermelha, tão comum quanto eu. Se alma gêmea existe eu aposto em Harry pra ser a minha. 

— Olá garota – cumprimentou-me. 

— Olá garoto – respondi sorrindo de modo bobo.

— Trouxe sanduíches, uma garrafa de suco e água. – comentou, levantando uma cesta, cheia de coisas. 

— O combinado era eu pagar a comida – retruquei, cruzando os braços.

— Não caso eu a trouxesse – afirmou, fazendo-me gargalhar – vamos fazer um piquenique hoje. 

— Como um casal dos anos noventa – retruquei sem pensar. 

— Um casal? estamos evoluindo aqui – ele foi rápido, deixando-me constrangida  – Relaxe, Malu – ele continuou sorrindo, provavelmente era eu quem havia ficado vermelha desta vez. 

— Vamos logo – revirei os olhos, e então entrei no carro antigo vermelho que Harry havia pegado emprestado com seu pai. 

Havia muito tempo que eu não andava em um carro, estava sempre de moto por aí com Noah, nunca de carro. 

— Trouxe alguns filmes pra gente ver no parque, clube dos cinco, stars wars... 

— Pode descartar. 

— O que? Você não gosta de stars wars? – perguntou com tom de reprovação e tive medo de responder.

— Na verdade... não – respondi enquanto o encarava.

— Como não? É um clássico, um marco para o cinema. – ele respondeu, sua indignação era tanta que me faz querer rir, porém me contive.

— Eu entendo, mas não tenho culpa se durmo sempre que tento assistir – falei disposta a assumir as consequências de tais palavras. 

— Meu Deus, Malu, estou decepcionado – disse. 

— Tudo bem, vamos escutar algo – liguei o rádio a fim de mudar o assunto, pois se eu começasse a rir de sua reação provavelmente ele ficaria ainda mais chateado e isso poderia ficar constrangedor. 

A música era Faded do alan walker, coloquei o som num volume aceitável para que não ficasse estranho o silêncio entre nós e então encarei a janela, lembrando-me de Noah e de todas as vezes que tiramos sarro de Stars Wars, então sorri.

Mal se passaram dez minutos e chegamos ao parque, era um lugar tão lindo que parecia um lembrete constante do mundo sobre o quão sua natureza é perfeita.

Tirei meu tênis e pisei na grama molhada, enquanto Harry organizava tudo o que havia idealizado para aquele dia, enquanto isso meus pensamentos estavam longe. 

Estavam em Noah e como nos conhecemos exatamente nesse lugar.

Era exatamente um ano e dois meses atrás, eu estava arrasada por descobrir que minha mãe havia decidido oficialmente mudar-se para Paris por três longos meses. 

Uma semana, era okay. um mês era assustador, mas três meses parecia demais para mim, sozinha e com apenas 16 anos na época.

Estava sentada em frente há uma árvore, observando aquele lugar maravilhoso enquanto meu coração estava preenchido por ódio, era um contraste curioso.

Foi quando percebi que não estava sozinha, eu provavelmente não perceberia que alguém estava encostado do outro lado da árvore se não fosse pelo cheiro insuportável de cigarro, levantei-me e olhei para o lado de onde vinha aquele cheiro. 

— Ei, é proibido fumar aqui. 

— pois então me prenda – seu cinismo era perceptível, ele não havia dado importância nenhuma para minhas palavras. 

Parecia obra dos deuses: logo quando eu queria gritar com tudo e todos aparecia um idiota poluindo o meio ambiente do meu lugar preferido.

— Qual é seu problema? esse é o único lugar onde o ser humano imundo e nojento ainda não colocou suas mãos imundas e você vem com seu cigarro sujo – praticamente gritei com aquele garoto lindo que me encarava com seu belo par de olhos azuis, parecendo se divertir com meu comportamento –  você é um desserviço mundial – não sei por que disse aquelas palavras, mas foi o que trouxe o caos de vez para aquela conversa.

Ele começou a rir com deboche e então peguei o cigarro de suas mãos e joguei no chão, pisando com força em cima. Eu realmente estava sem controle, me sentindo uma rebelde militante.  

— Okay – ele estreitou os olhos – eu tenho um maço completo você sabe, não é? – continuou com o sarcasmo descarado. 

— Escuta aqui seu... – estava pronta para xingar novamente, porém ele me impediu. 

— Eu entendi o recado, está bem? Você tem razão, me desculpe, estou tendo um dia ruim e descontei no pobre meio ambiente que tanto necessita de atenção. 

— Nossa,  isso quase foi legal, pena que você provou ser idiota outra vez. – cruzei os braços, realmente nervosa. 

— Meu arrependimento é sincero, o que quer que eu faça pra provar? Ajoelhe-me perante essa árvore gigante?

 Sua voz era teatral e o pior foi que ele realmente se ajoelhou, feito um idiota. 

— ME PERDOE ÁRVORE, REALMENTE SOU UM DESSERVIÇO MUNDIAL –  gritou, fazendo meus olhos pularem, várias pessoas em volta voltaram a atenção para nós.

Virei o rosto para o lado, me esforçando para não rir daquela cena patética, nem em um milhão de anos se passaria em minha cabeça a ideia de que aquele garoto sem noção se tornaria tudo pra mim. 

— Você tem problemas? – indaguei, após seu show. 

— Tenho. E são muitos.  disse de forma expressiva, bufando  Quer mesmo ouvir? – ele se sentou diante aquela árvore novamente. 

— Pra ser sincera? não – respondi, sem tanta certeza.

Ninguém nunca havia me irritado tanto em tão pouco tempo, porém, ao mesmo tempo, eu queria entender melhor seus motivos para agir assim. 

— Okay, foi você quem pediu – falou, batendo a mão ao seu lado, incentivando-me a sentar. 

 E eu me perguntei se ele estava mesmo ouvindo alguma coisa que eu dizia ou me via apenas como uma marionete em seu grande show de drama.

 – Contexto: Minha mãe nos abandonou quando eu era pequeno e meu pai nunca mais falou dela, se tornou um viciado e eu tive que me criar praticamente sozinho. Hoje, achei uma foto da mãezona do ano em uma gaveta e fui perguntar sobre ela, afinal todo filho merece saber o que houve com a própria mãe, correto? Não. Tudo que ganhei foi isso – ele apontou para a cabeça que sangrava, meu coração se partiu. 

Estive tão ocupada xingando aquele garoto e descontando meu descontentamento com minha vida nele, que sequer o analisei o suficiente para perceber que estava sangrando.

Que tipo de ser humano sou eu?

— Ai meu deus, o que houve? – berrei.

  Ele jogou a garrafa de uísque em mim. Que outra reação eu podia esperar, não é? – ele continuou, gargalhando de sua própria desgraça. O termo humor negro nunca se encaixara tão bem para mim. 

— Você precisa de um hospital – aproximei meu corpo ao dele para observar melhor o ferimento, e então notei seus olhos cheios de lágrimas.

Nesse momento, não sei se foi afeto por sua dor ou culpa por tê-lo tratado mal, só sei que um impulso estranho me atingiu fazendo-me abraçá-lo.

Não sabia ao certo o porquê, afinal, ele ainda era um completo desconhecido que começou a me contar seus problemas pessoais como se fosse um louco.

 Entretanto, hoje eu sei que foi o meu melhor impulso, era o certo a se fazer, porque ele era o Noah e eu a Malu.

Em tempos e espaços diferentes e situações engraçadas de se lembrar, mas ainda éramos nós. E é isso que fazemos, ajudamos um ao outro.


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Notas finais do capítulo

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