My Dear Secret Admirer escrita por KAT


Capítulo 2
Essa não sou eu


Notas iniciais do capítulo

Eei, vooltei
se tiver alguém lendo isso, boa leitura!



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"Talvez eu devesse olhar em teus olhos e te dizer
o quanto eu estou apaixonado por você;
mas... acho que isso já não é nenhum segredo,
você certamente sabe disto tão perfeitamente quanto eu..
Mas, ainda assim, talvez eu devesse
olhar em teus olhos e te dizer
o quanto estou apaixonado por você,
mas... hoje não."
— Augusto Branco

É fim de tarde. Estou sentada no chão do meu quarto, em meu tapete rosa que minha irmã trouxe da Escócia, o sol bate em mim discretamente e consigo sentir leveza que só os fins de tarde me proporcionam.

Pauso minha música quando vejo minha minha mãe adentrar pela porta, fito-a por uns instantes é uma mulher alta com cabelos louros longos, enquanto sou morena e baixa demais para minha idade.

Minha mãe, Marina, senta-se meu lado com um prato enorme de brigadeiro com granulado por cima. 

— Senti sua falta  deito minha cabeça em seu ombro.

Ela está sempre viajando, é uma escritora compulsiva e infelizmente, fracassada, seus últimos livros de amor trágico foram péssimos em vendas, o que considero uma injustiça, amo os livros da mamãe, mas, talvez por ser sua filha minha opinião não deva ser levada em conta.

Apesar de nunca ter obtido sucesso com seus livros, a mesma sempre viaja em busca de inspirações para um novo romance, eu a admiro mais que qualquer mulher, porém, as vezes sinto falta.

 Falta de poder deitar em seu ombro e acompanhar um fim de tarde ao seu lado. 

— Eu sinto muito por ter ficado um mês inteiro fora, filha  sinto o tom de culpa em sua voz.

— Está tudo bem. 

Eu jamais a condenaria por lutar por seus sonhos, eu também o faria se pudesse.

— Eu prometo ser uma mãe melhor, viajar menos, prometo estar aqui para cuidar de você.

— Não se preocupe, eu tenho Noah para cuidar de mim. – respondo.

Minha família é pequena, tenho uma irmã, Penelope, que casou-se á cerca de quatro anos e mora na Escócia desde então, minha mãe que sempre viaja, e meu pai, que me abandonou aos cinco anos de idade, bom, ele não está incluso no que chamo de família.

O resto, é apenas Noah.

Se não fosse por ele, eu sempre estaria sozinha nessa casa gigante e solitária. Não consigo imaginar dias de chuva e sombrios, sem Noah aqui para apagar as luzes após eu dormir. 

Não consigo imaginar superar uma decepção amorosa (que geralmente só existem em minha imaginação) sem Noah aqui, mesmo que seja apenas para rir de mim e me chamar de idiota. 

Não consigo imaginar ter que enfrentar isso tudo sozinha, sabe? Tenho apenas 17 anos, afinal. 

Noah também, entretanto, apesar de sempre ser tão irresponsável, ele sempre esteve disposto a ser maturo quando o assunto é estar comigo, e modéstia á parte, também cuido dele. Somos á família um do outro, praticamente a única. 

— A família do Noah uma hora vai se cansar de emprestá-lo tanto para nós.  meu corpo se contrai no mesmo instante e a raiva sobe por minha pele. Ela sabe que Noah tem apenas o pai, cujo é viciado em bebidas e drogas.

A verdade é que minha mãe não costuma gostar de Noah, ela o considera uma má influência por que de acordo com sua visão ele é mulherengo e irresponsável, e também por que o mesmo tem um histórico com drogas, entretanto isso é parte do passado. Eu jamais permitiria que ele passasse dos limites novamente. 

Ela não pode mais fazer esses comentários por pura maldade. 

— Se repetir isso perto dele juro não lhe perdoar jamais. 

Minha voz sai seca e ríspida, eu amo minha mãe, mas ela não é quem está aqui por mim sempre, esse alguém é o Noah. 

— Eu sinto muito, Maria Luiza meu estômago embrulha novamente, minha mãe é a única que insiste em me chamar assim, mesmo sabendo que odeio o nome que ela me deu. – Eu sei que Noah é importante para você. 

— Dê uma chance para ele. – pedi pela milésima vez, mesmo sabendo que seria em vão. 

Ela estava prestes a abrir a boca para responder, quando Noah entra em meu quarto. 

— Desde quando ele tem a chave? – minha mãe questiona, porém, ignoro.

— Que bom que está aqui – digo para ele, levantando-me  Mãe, Noah e eu temos que estudar, pode nos dar licença? 

— Olha se não é minha madame classe alta preferida – Noah solta  Como foi a viagem? Alguma nova inspiração para seus livros loucos? 

— O que disse? – minha mãe parecia irritada de repente. 

— Não escute ele, Noah só não aprecia muito os dramas trágicos  sorrio, sem graça, era cansativo ter que explicar tudo que ele falava sempre para que não houvesse confusões. 

— Pois é, na minha vida já existe tragédia o suficiente –  respondeu, acho engraçado como ele sempre cria humor negro com sua vida. 

— Vou descer e organizar algumas coisas – minha mãe disse, saindo em seguida. 

Foi então que Noah gargalhou alto, fazendo-me suspirar. 

— Ela realmente me odeia, não é? – indagou ainda rindo, ele já sabia a resposta. 

— Como está seu pai? – perguntei, sentando-me em minha cama. 

— Quase perdendo o emprego, outra vez –  respondeu, deitando-se ao meu lado. Sua voz era neutra, provavelmente já estava acostumado á essa altura. 

— Você não pode deixar isso acontecer – afirmei. 

— Ele bebe no trabalho, Malu. Eu não posso fazer muita coisa. – falou, parecia cansado. 

— Se ele sair, como terão dinheiro para o aluguel esse mês? 

— Ele que se vire, não sou a babá do meu próprio pai. Já trabalho aos fins de semana naquela droga de bar, não vou largar a escola para ajudá-lo  respondeu, irritado. Eu não deveria ter começado esse assunto. 

— Claro que não vai largar a escola, eu não seria nada sem você  brinquei e ele sorriu e me puxou para si, deitei-me em seu peito.

— Você não precisa se preocupar, se ele perder o emprego eu começo a trabalhar no bar com você aos fins de semana, isso deve ser suficiente pra pagar, não é? 

— Você não vai trabalhar para ajudar o viciado do meu pai – ele ria como se fosse piada. Levantei-me, encarando-o séria.

 esqueceu como as coisas funcionam por aqui?

— Jamais – ele sorriu deixando á mostra suas covinhas e sentando-se também. 

— Um pelo outro – dei o dedinho para ele. 

— Sempre – ele ainda sorria ao juntar seu dedo ao meu. 

Era o nosso selo de união eterna. Para os momentos bons e ruins.

Ainda nos encarávamos sorrindo, quando meu celular vibrou, deixando-me surpresa, eu raramente recebo mensagens, na verdade. Por isso peguei o celular rapidamente, e ao ler a mensagem fui ao delírio. 

— Ai. Meu. Deus – berrei.

— O que foi? – ele perguntou.

— É uma mensagem do Harry, me chamando pra sair. Dá pra acreditar? estava tão ocupada relendo a mensagem outras milhões de vezes que sequer o encarei ao dizer. 

— Cuidado com esse cara, ele tem uma cara de psicopata, esses nerds não me enganam – Noah falou, apenas implicando como sempre, enquanto brincava com meu urso predileto, Mark, para os íntimos. 

— Vou me encontrar com ele agora!!! – berrei outra vez, dando vários pulinhos. 

— Agora? Vai me trocar por ele, é isso? – perguntou, parecendo mesmo indignado. 

— Você escutou o que eu disse? Harry Campbell me chamou para tomar um sorvete, é uma chance única. Fique aqui, se quiser.  respondi, ainda encarando o telefone. 

— Com sua mãe louca lá em baixo? sem chance. – respondeu, fazendo-me rir. 

— Vamos logo então – falei, e logo já estávamos na saída de casa. 

— Quer que eu te leve lá de moto? 

— Desde quando se oferece para me levar na sorveteria que fica na esquina da minha casa? – perguntei, franzindo o cenho. 

— O.k, queria levá-la para ficar lá depois e não deixar aquele psicopata convencer você que a terra é plana. – ele respondeu fazendo-me rir involuntariamente. 

— Pare de ser implicante, Adams.  cruzei os braços ainda sorrindo, enquanto o encarava subir em sua moto. 

— Tome cuidado, Cooper – mostrei o dedo do meio para ele, que apenas colocou o capacete e saiu dali. 

(...) 

— Mal acreditei quando recebi sua mensagem – falei assim que vi Harry, sentado em uma mesa, perto da janela. 

— Você é interessante, Malu – ele sorriu, levantando-se para me cumprimentar e eu só conseguia pensar em uma coisa... Isso seria um flerte? Ou coisa da minha cabeça? 

Não pensei muito á respeito e logo sentei-me ao seu lado. 

— É bom sair de casa um pouco. Minha mãe está lá e apesar de sentir sua falta, ela é um pouco desorganizada demais, tira minha paz  falei, em uma tentativa de puxar assunto. 

— Meus pais sempre estão em casa – ele respondeu. 

Cerrei os olhos enquanto o observava, nunca tinha conhecido alguém com a vida tão feliz quanto Harry. 

Noah, era um fudido; minha mãe, uma escritora fracassada; minha irmã, em um relacionamento tóxico com um marido idiota que a trai.

Essas são as únicas pessoas que mais tive contato durante toda minha vida. Isso parece bizarro? aliás, uma garota de 17 anos não deveria ter mais pessoas em sua vida? 

Ah, e também tem eu mesma, óbvio.

Não seria egoísta de me comparar a Noah, que sofre tanto com seu pai, ou a minha irmã, que tenta diariamente salvar seu relacionamento, nem mesmo a minha mãe, que viu os sonhos serem destruídos.

Meus únicos problemas são essa timidez e medo constante de não ser aceita, a saudades que quase mata da minha mãe e irmã, e as vezes, uma dúvida sobre o porque meu pai não se importa comigo, e o ódio gigante que sinto por não ser tão bonita como as garotas do instagram, ou até mesmo, as ficantes de Noah, todas parecem melhores.

Enfim, sou apenas a garota cujo os problemas não tem grande importância. 

— Conte-me um problema existencial da sua vida, Campbell – pedi, realmente curiosa para ouvir os lados ruins da sua vida perfeita. 

— O que? – ele começa a rir, enquanto me encara. 

Foi então que a garçonete aproximou-se, nós dois pedimos um sorvete com calda quente, eu de chocolate e ele de morango.

— Sua vida não pode ser tão perfeita. Conte-me o que te faz chorar a noite, Harry, quando ninguém está assistindo – indaguei, o encarando profundamente, ele provavelmente me achava uma louca agora. 

— Eu não tenho muitos problemas  riu de modo fofo, como se estivesse envergonhado  Estudo muito... não tenho tempo para pensar em problemas comuns e bobos da adolescência, prefiro escutar meu pai que sempre diz que devo focar em uma boa faculdade, um bom futuro  ele completou. 

 

— Devia viver mais sua vida, nem sabemos se o futuro vai existir  respondi, na verdade, essa é uma frase que Noah me disse uma vez. É confortável estar na posição de repeti-la para alguém.

 — Olha só quem fala.  ele gargalhou alto e eu ri junto, é verdade.

Quem sou eu para dar conselhos para alguém sobre "viver a vida como se não houvesse amanhã" sendo que nem eu mesma faço noção do que faço por aqui? o papel de Noah não cai bem em mim. 

Foi então que a moça chegou com nossos sorvetes. 

— Devíamos ir andando enquanto comemos  pedi, lembrando que sequer tinha avisado minha mãe sobre meu passeio aleatório com Harry Campbell. 

— Está bem – ele concordou, tirando o dinheiro da carteira e pagando o de nós dois. 

Estava pronta para assumir meu papel de "mulher independente" e negar que ele pagasse o sorvete, porém lembrei que sequer tinha levado dinheiro.
Isso é sério? Quando me tornei a garota que sai correndo de casa para se encontrar com um garoto? 

— Eu negaria isso, mas esqueci de trazer o dinheiro – dei de ombros, enquanto andávamos pela rua de minha casa que estava ventando mais que o comum.

— Acho bom, pois seria um discussão em vão. Quem convida, paga. É a lei. – ele falou, seguindo-me. 

— Sendo assim, lhe convido para sair amanhã, assim pago o favor, pode ser? – falei, quando paramos em frente a minha casa. 

Convidei um garoto para sair? Maria Luiza Cooper, onde você está? Por que essa não sou eu. 

— Só não vou negar pois quero muito sair com você novamente – ele sorriu e eu retribui. 

Ele foi ficando sério, enquanto ainda me encarava, acariciou meu cabelo de repente... Estava pensando em me beijar? 

Engoli seco, enquanto mantinha o sorriso amarelo nos lábios, não estou acostumada a ter esses momentos. 

Ele aproximou-se de mim e lentamente e juntou seus lábios aos meus, assim que processei o que estava acontecendo, passei a retribuir o beijo da mesma forma que ele: calmo e doce.

Nos beijamos por no máximo dois minutos, quando me afastei, como disse, sem experiência nesse lance. Beijei apenas três vezes, contando com esse, em todos meus 17 anos. 

— Espere um pouco, vou avisar minha mãe onde estava – diabos, por que eu disse isso após um beijo? 

Não esperei sua resposta, entrei em casa correndo e fui para o banheiro, que se dane minha mãe, só preciso de um tempo para processar isso. 

Assim que entrei no banheiro, uma onda de arrependimento bateu em mim, com que cara iria voltar lá depois de praticamente fugir correndo? Sou uma medrosa, é por isso que nunca terei uma linda e épica história de amor. 

Liguei a torneira e molhei meu rosto o máximo que consegui, olhei-me no espelho e disse para mim mesma: "É só fingir que nada aconteceu" e então sai dali e voltei até a porta, que eu havia largado aberta, Harry ainda estava lá. 

— Ela nem ligou – dei um sorriso sem jeito. 

— Que bom – ele parecia sem jeito também. 

— Harry, me desculpe, não tenho muita experiência com essas coisas  reuni toda minha coragem para dizer, ignorando a ideia de fingir que nada havia acontecido.

— Eu também não – ele falou, fazendo-me relaxar, afinal, estava tudo bem.

— Nos vemos amanhã? – perguntei. 

— Amanhã. – confirmou e saiu em seguida. 

Assim que entrei em meu quarto, encontrei outro bilhete anônimo, li aquele bilhete várias vezes, colocando o dedo sob os lábios, dessa vez eu tinha certeza que aquele "correio elegante" pertencia a Harry Campbell.


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Notas finais do capítulo

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