A Última Chance escrita por Caroline Oliveira


Capítulo 26
Avalanche


Notas iniciais do capítulo

Olá, gente!! Mais um capítulo para vocês, dessa vez um mais conciso, mas consegui conclui-lo do jeito que eu queria! Espero que não me matem no final kkkkk
Aproveitem o capítulo!



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Caspian X

Nossa jornada começou bem cedo aquele dia. Por algum motivo, sentimos mais frio do que o normal, como numa noite de outono, apesar de ser plena primavera. Susana havia se levantado primeiro do que eu, segundo ela estava habituada a acordar às cinco, mas apesar de suas expectativas serem de encontrar um sol já nascido, estava tudo escuro quando despertou.

Alterações climáticas acontecem de tempos em tempos, mas levando-se em conta a relação de Cietriz com a desertificação e a de Jadis com o inverno de cem anos em Nárnia, tudo era motivo de preocupação.

Após percorrermos alguns terrenos acidentados, alcançamos uma área plana com relva e uma floresta não densa, com árvores espaçadas e matas altas. Aproveitamos para colher algumas frutas e esperávamos encontrar algum afluente do rio Flecha Sinuosa ao longo do caminho para encher os cantis até o fim do dia.

— Onde acha que exatamente encontraremos a lança? - Susana indagou, interrompendo o silêncio que nos cercava na floresta.

— Naim mencionou um túmulo secreto, algo que ninguém encontrou - Ponderei - Será que ele se revelaria para nós por termos sido enviados por Aslam?

Maneou com a cabeça.

— Então acha que alguém guarda a lança? - Indagou - Como Liliandil guardava a mesa de Aslam na ilha de Ramandu?

— É uma possibilidade - Sorri - Mas não fique ansiosa - Pedi e ela sorriu de volta, reconhecendo sua pressa - Acho que só saberemos quando chegarmos lá.

 

Fortaleza em Anvard

— Por que está observando o casalzinho? - Jadis indagou à Cietriz, que assistia a peregrinação de Caspian e Susana pelo território da Arquelândia através da bacia de prata enfeitiçada.

— O que sabe sobre eles? - Cietriz respondeu com outra pergunta, levando uma das mãos ao queixo enquanto esperava uma resposta.

— É a irmã do meio da família de tolos de Edmundo - Jadis deu de ombro - Nunca dei muita importância às meninas. Pedro e Edmundo são os que costumam me tirar do sério.

— E o rapaz? - A serpente do deserto indicou Caspian com o queixo.

— É o atual rei de Nárnia, sequer me demorei em saber seu nome. Da última vez que alguém tentou me trazer de volta, seria dele o sangue para o ritual, tão contrariado quanto Edmundo. Vai responder à minha pergunta, ou terei que repetir?

— Creio que estejam se dirigindo ao local em que fui morta - Explicou Cietriz - Querem recuperar a lança que a infeliz da Cisne Branco usou para me derrotar, a Lança de Água.

— Água vence as areias do deserto… - Concluiu Jadis - Não é um artefato fácil de encontrar, certo?

— Não, mas não quero arriscar - Retrucou Cietriz - Enviei soldados para interceptá-los, mas acho pouco provável que cheguem a eles a tempo.

Jadis sorriu de canto. A cada magia que efetuava, seu poder se fortalecia, assim como cada grau de piora da seca de Nárnia favorecia Cietriz. O feitiço que dominou os soldados calormanos ao seu favor concedeu a ela ainda mais poder e já estava na hora de ela trazer à tona a marca de sua presença. O inverno.

 

Lúcia Pevensie

Havíamos atravessado o campo aberto ao redor da montanha em que o castelo telmarino havia se localizado. A travessia da vila foi traumatizante.

Os cavalos percorreram a ponte com destreza, pareciam ávidos por uma nova aventura. Ao chegar às primeiras casas da vila dos telmarinos, entretanto, pararam assustados e o cavalo de Rilian até se ergueu sobre as patas, tamanho foi o seu espanto.

Os cidadãos brigavam por alimento, alguns até tinham dinheiro para pagar por pão, mas não havia trigo, ou algo para ser vendido. A taverna de Arisia havia sido invadida e o pouco de cereais que ela havia poupado foi levado pelos desesperados. A cidade estava um caos e os soldados e guardas tentavam a todo custo conter a confusão.

Graças a Aslam ninguém nos abordou. Sequer perceberam que a rainha de Nárnia, a esposa do general, a estrela e o influente conselheiro estavam passando por ali. Por um lado eu agradecia, afinal me sentiria terrivelmente pior se nos parassem parar nos culpar.

Foi lamentável ver o Grande Rio, tão imponente quanto seu nome sugeria, assemelhando-se a um riacho qualquer. Evitei olhar as árvores, que pelo pouco que vi encenavam uma paisagem de outono, folhas caídas e sequíssimas, troncos desnutridos, gramíneas amareladas e marrons. O solo escuro, rico, estava cada vez mais arenoso e envenenado e era possível detectar animais mortos ao redor.

— Nós vamos conseguir, rainha Lúcia - Rilian me concedeu palavras de estímulo, fazendo sua égua parar um pouco atrás de mim.

— Assim eu espero, Rilian - Acenei com a cabeça em agradecimento - É penoso demais ver Nárnia perecer de fome e sede.

— Quanto mais avançarmos em nossa missão, mais rápido tudo será resolvido - Disse Theodor, nos dando a deixa para prosseguirmos enquanto havia luz do dia, o calor do sol nos castigando a cada passo. 

Pegamos o máximo de água que conseguimos, afinal não havia rios pelo caminho até o Ermo e, além de nós, os cavalos também precisavam saciar a sede.

Liliandil esteve quieta durante todo o percurso e eu a deixei com seus pensamentos. Sua preocupação e avidez em salvar Edmundo deixavam claro para mim que ela correspondia aos sentimentos do meu irmão, mas Liliandil era uma estrela, esteve se familiarizando pelos últimos dois anos com os sentimentos humanos, então talvez fosse mais difícil para ela reconhecer aqueles sentimentos.

— Lúcia - Chamou. Ergui os olhos para ela e a estrela fez seu cavalo marchar lado a lado com a égua que eu montava. O olhar de Liliandil era hesitante, então dei tempo para ela decidir a hora certa de falar - Lembra que você disse que eu poderia conversar contigo se precisasse?

Fiz que sim com a cabeça.

— Sabe, eu… - Os olhos da estrela marejaram - Eu estou com muito medo de falharmos. - Confessou, trazendo a tona a sua dúvida. - Eu acredito que Aslam nos guiará a Edmundo, mas e se eu não conseguir recuperar meus poderes? Edmundo pode ser morto por falha minha!

— Lilian, eu a entendo - Afirmei - Mas a sua preocupação excessiva pode fazer justamente acontecer aquilo que você não quer! Eu estava com muito medo, mas Aslam disse que estaria conosco, ele vai nos ajudar, já está ajudando. - Uma pausa - Eu sei que… teme perder Edmundo, eu também temo.

Ela piscou um par de vezes, percebendo a conotação das minhas palavras.

— Eu me aproximei de Edmundo nos últimos tempos, por causa da reconstrução de Cair Paravel - Relembrou, permitindo as memórias guiarem sua voz - Depois houve o problema com meu pai e meu estado de saúde… Ele me defendeu com tanta firmeza! - Voltou finalmente a olhar para mim - Acha que ele sente por mim… o que Caspian sente por Susana?

Arregalei os olhos por extinto e reprimi a vontade de rir de nervoso, encolhendo os lábios para dentro da boca. Definitivamente eu não era a pessoa mais indicada para falar de amor, afinal eu nunca tinha me apaixonado. E era relativamente cômico falar daquilo com Liliandil porque era do meu irmão que estávamos comentando!

— Talvez eu não seja a pessoa mais indicada, mas… - Organizei os pensamentos antes de prosseguir, sorrindo sem jeito - Acho que o que deve descobrir é o que você sente.

Os olhos azuis escuros de Liliandil me encararam, apesar de eu suspeitar que ela não estava exatamente concentrada na minha imagem e sim nos próprios pensamentos. Sua face retornou à posição normal, fitando o caminho à nossa frente.

 

Susana Pevensie

Eu ergui o rosto para beber água do cantil que enchemos em nossa última parada à beira de um rio, afluente do Flecha Sinuosa, quando senti os primeiros flocos de neve contra a face. O toque gelado por um milésimo de segundo me fez pensar que fosse chuva, mas ao abrir os olhos, a queda dos pontos brancos me fez arregalar os olhos.

Caspian dirigiu as íris castanhas escuras para mim, nossos pensamentos estavam em sincronia.

— A feiticeira branca - Murmurou.

— Precisamos nos apressar - Respondi, observando o ritmo da queda da neve acelerar, o verde da relva manchado de branco.

Andamos mais rápido através da floresta que para a nossa sorte não tinha tantas árvores e em alguns trechos as matas não eram tão altas, facilitando nosso percurso. 

— Será que ela vai condenar Arquelândia a um inverno de cem anos? - Caspian indagou, estendendo a mão para mim para eu saltar de um desnível no solo.

— Eu espero que não chegue a esse ponto até que voltemos a Nárnia - Confessei - Se a neve ficar tão espessa quanto da primeira vez que vim a Nárnia, vamos demorar o dobro do tempo e pode ser tarde demais!

Continuamos percorrendo a floresta por de uma a duas horas, a neve impiedosa dificultando nossa caminhada, acumulando-se nas trilhas e encharcando nossas roupas. Essa parte das matas era entrecortada por montes e montanhas maiores, das quais desviamos para seguir caminho.

— Espero que não haja bandidos por aqui - Falei ao recordar as palavras do rei Naim. - Montanhas cheias de cavernas e estradas desertas são o território perfeito para se esconderem. 

— Teremos cuidado - Assegurou Caspian, estendendo a mão para segurar a minha, agora que o terreno nos permitia andar lado a lado - Mas caso nos ataquem, eu matarei um a um antes que toquem em um fio de cabelo seu.

Sorri. Apesar de achar difícil que nós conseguiríamos suportar mais um ataque inimigo com os ferimentos que tínhamos e o cansaço físico, não deixei de me sentir feliz por suas palavras carinhosas. Embora tivéssemos diferenças desde o início, Caspian sempre me protegeu, inclusive quando eu estava com raiva dele. Mesmo quando eu neguei sua ajuda, ele se atreveu a seguir a mim e a Lúcia para garantir nossa segurança. Mesmo quando nosso amor estava comprometido por nossas dúvidas e por seu noivado com Liliandil, ele não hesitou em me defender de Rilian e até irou-se por minha causa. Não tinha dúvidas de que ele lutaria por mim até a morte, da mesma forma que eu lutaria por ele até o último fio de vida se esvair de mim.

— Eu amo você - Respondi. - Amo você e também lutaria por você até não… 

Um som alto e ao mesmo tempo longínquo me interrompeu. Parecia que algo estava se quebrando, desmoronando. Caspian e eu nos pusemos em alerta, procurando entre as montanhas a origem daquele som. O terreno estava abarrotado de neve, parecia que o verde manchava o branco no solo e não o contrário, demonstrando a força com a qual a feiticeira havia retornado.

Uma onda de adrenalina chacoalhou meu corpo quando meus olhos encontraram as rochas e toneladas de neve descendo montanha abaixo.

— Corra, Susana! - Não demorei a reagir ao ouvir as palavras de Caspian.

A adrenalina foi responsável por eu ignorar a dor do lado do corpo e provavelmente por Caspian conseguir correr sem se queixar muito da perna, apesar de eu ouvir um ou outro murmúrio. Meus pulmões rasgavam a caixa torácica a cada porção de ar que eu tentava pôr para dentro a fim de que o oxigênio me desse energia para salvar minha vida.

A terra começou a tremer quando a enxurrada de neve e rochas se aproximava do chão e olhar para trás uma ou duas vezes foi suficiente para que o meu pânico aumentasse em duzentos por cento.

A neve derrubou as árvores atrás de nós, afogando tudo o que via pela frente. Para o nosso azar, as árvores eram mais abundantes naquela área e os espaços entre elas eram mais estreitos, diferente da mata espaçada que encontramos anteriormente. Em definitivo era quase impossível passar por elas sem bater nos galhos, sem rasgar o tecido das roupas ou a própria pele neles.

— Susana, por aqui! - Caspian chamou, encontrando uma trilha mais larga para corrermos sem ter que saltar os arbustos e árvores menores.

O som da avalanche estava cada vez mais próxima e eu olhei para trás rapidamente. Seu volume havia diminuído, já tendo abarrotado madeira à vontade lá atrás, os troncos caídos segurando uma porção do volume de neve. Apesar disso, era suficiente para nos soterrar por dias e nos levar à morte.

Meu peito ardia com o esforço, os músculos das pernas cansando com o exercício repentino, as plantas dos pés queimando pelo contato repetitivo e bruto contra o chão, mas nós não podíamos nos dar ao luxo de parar.

— Susana, eu não vou conseguir! - Caspian avisou e o meu temor triplicou - Minha perna está sangrando de novo!

— Caspian, se você parar você morre! - Gritei contra o barulho sobrepujante da avalanche - Temos que achar um lugar seguro!

— Eu não consigo mais… - Foi a última coisa que ouvi.

Quando a sombra da avalanche me sobreveio, olhei para trás por reflexo, a onda de neve, folhas e galhos de árvore erguendo-se impiedosa diante de mim como um tsunami e me afogando no mar branco e gelado.

 

Pedro Pevensie

— As tropas já se preparam para armar acampamento em volta da montanha, meu rei - Glenstorm noticiou - A cidade anda tumultuada pela falta de alimentos; achei prudente deslocar os batalhões devagar para não assustar a população mais do que o necessário.

— Obrigado por sua diligência - Fui sincero ao dizer - São tantas coisas passando pela minha cabeça que sequer pensei nisso - Referia-me à questão de não assustar as pessoas. Os narnianos haviam lutado bravamente contra o domínio de Telmar, estavam acostumados a terem que enfrentar ameaças, mas os civis telmarinos eram suscetíveis a entrarem em pânico caso suspeitassem de um perigo iminente.

— Quanto ao caso da moça calormana - Senti um arrepio incômodo passar pelas costas ao ouvi-lo mencionar Hiandra - Não encontramos nada em seus aposentos que a incriminem. Ela sequer tinha pena ou papel para escrever.

— Eu nem sei se ela sabe escrever - Eu tinha noção que as filhas dos tarcaãs eram instruídas e cultas desde muito novas, lembrava-se das histórias de Aravis, a rainha de Arquelândia, esposa do rei Cor, que era de origem calormana e dispunha de muita cultura e eloquência. Levando em conta, entretanto, o menosprezo pelo qual Hiandra passou por toda a vida, duvidava que tivessem se dado ao trabalho de ensinar algo a ela; apenas exploraram seus talentos para dançar e cantar, além de sua beleza.

— Bem, ela é a nossa única suspeita, mas nunca se sabe - Glenstorm deu de ombros - Talvez a serva telmarina espere que seu mandante a salve e pretende ganhar tempo culpando a moça Hiandra pela traição. - Ergui os olhos para ele diante de sua teoria - Sei que milorde teme se decepcionar com o caráter da moça, mas às vezes nossa intuição fala a verdade. Se acha que ela é inocente, ela pode mesmo ser.

— Acho que Lúcia pensa como você - Lembrei as palavras de minha irmã e suspirei - Vou interrogar Hiandra novamente. Fiz bem em questioná-la na frente de todos para evitar comentários, mas talvez em particular ela me confidencie algo.

— Como o senhor quiser - Assentiu o centauro.

Eu havia evitado aquele assunto durante toda a manhã. Pretendia me ater às questões da batalha que logo aconteceria, mas o rosto cheio de lágrimas de Hiandra e as acusações da serva telmarina, a voz de Theodor, toda aquela cena se misturava em meus pensamentos, impedindo-me de me concentrar em qualquer coisa que não fosse aquilo.

Senti a ansiedade percorrer meus nervos, agitando todos os meus músculos impedindo-me de realizar as tarefas burocráticas mais simples. Não descansaria enquanto não ouvisse a voz de Hiandra me dizendo outra vez que era inocente, pois parecia que todas as vezes em que ela se defendeu não eram o bastante para mim.

Meus passos apressados me levaram ao calabouço muito rapidamente, ou meus pensamentos intensos me fizeram perder a noção do tempo e do espaço.

O minotauro estava sentado em um banco de madeira quando cheguei e se levantou prontamente para me reverenciar ao ouvir o som firme das minhas botas contra o chão. Ele tirou o molho de chaves do cinto na qual ela ficava pendurada e a maior delas foi usada para destrancar a porta para os corredores de celas.

Ao contrário de Rilian, Hiandra foi colocada nas primeiras celas das masmorras. Ela estava sentada na esteira de palha, abraçada às pernas cobertas pelo vestido alegre que fazia antítese ao seu aspecto triste.

Seus olhos se ergueram para mim com curiosidade, mas o restante de seu rosto permaneceu rígido, sem me dirigir qualquer palavra, a troca de olhares entre nós perdurando minutos. Foi quando resolvi falar.

— Ainda não foram encontradas provas contra você - Noticiei - Mas também não há muito a seu favor, ou indício de que haja outro traidor.

— Então suponho que permanecerei encarcerada até que tudo se esclareça - Ela virou o rosto levemente para a esquerda, desviando os olhos do meu rosto para um ponto qualquer da cela.

Eu via a mágoa que eu havia causado tão nítida que parecia palpável.

— Apenas para evitar que digam que eu a favoreço - Hiandra ergueu o olhar para mim, sem entender. Aproximei-me das grades que a cercavam e toquei o metal gelado. - Eu quero acreditar que é inocente, Hiandra - Deixei de falar como rei. Ali eu era apenas Pedro diante da moça por quem eu tinha me apaixonado - A possibilidade de termos um traidor entre nós me deixou atordoado e me perdoe se eu fui injusto com você.

— Acredite, se tivesse sido eu, eu teria confessado no momento em que me descobriram - Retrucou - Pela primeira vez eu tive esperança de viver uma vida diferente da que eu tinha em Tashbaan… mas agora eu vejo que sempre serei condenada, não importando se eu tenho culpa ou não.

— Não precisa ser assim - A culpa corroía meus ombros à medida que pesava sobre eles. - Eu prometo que me retratarei publicamente com você quando encontrarmos o verdadeiro traidor.

O silêncio nos envolveu enquanto Hiandra ponderava sobre as minhas palavras. Seus olhos marejaram por um momento, mas ela limpou as lágrimas antes de caírem. Foi quando se levantou e eu senti um arrepio, como se as costas formigassem por um momento.

— Tem alguma suspeita apesar da falta de provas? - Ela cruzou os braços diante de mim. - Estou disposta a ajudar, afinal não quero pagar por um crime que não cometi.

— Não consegui pensar em ninguém em específico - Confessei - Fora algum calormano infiltrado, que foi a razão pela qual desconfiamos com você, para algum de nós ser capaz de trair Nárnia dessa forma, devem ter oferecido uma grande vantagem.

— Então a pessoa deve ser alguém ambicioso, ou que não concorde com a maneira que o rei Caspian governa Nárnia. Alguém que faz bem o papel de aliado, mas que planeja apunhalar o reino pelas costas.

 

Ao cair da noite

Bosque ao redor do Ermo do Lampião

Rilian

Havíamos parado para acampar, afinal aquela era uma área há muito inexplorada, de forma que nem mesmo Windren sabia bem o que encontraríamos na calada da noite, achando por bem acamparmos em uma clareira segura antes de prosseguir ao lampião.

A rainha Lúcia tinha uma fé inspiradora apesar de se sensibilizar bastante com a situação das pessoas, das florestas e dos narnianos que as habitavam. Para falar a verdade, eu não estava muito preocupado com o destino do país antes de encontrá-la. Antes de ela apostar suas fichas em mim de um jeito que nem Arisia da taberna havia feito. E além dela, o próprio Aslam investiu em mim, um projeto destinado ao fracasso que encontrou no Leão uma maneira de dar certo.

Liliandil conseguiu dormir depois de muito custo e Lúcia e eu conversamos um pouco antes da rainha destemida também adormecer. A centauro Windren ficaria de guarda aquela noite e eu me preparava para cair no sono também quando senti um cutucão no braço direito.

— Ei, garoto! - Theodor chamou baixinho, claramente querendo evitar que ouvissem a conversa - Posso falar com você um minuto?

Estranhei a iniciativa, mas assenti.

— O que foi? - Indaguei.

— Eu gostaria de falar do seu pai, o rei Miraz - Respondeu.

— Eu não tenho o que falar sobre ele - Neguei com a cabeça. Acreditar que Miraz era um bom homem me fez mergulhar em uma série de frustrações que culminou no meu desatino de quase assassinar a rainha Susana por engano. Não queria relembrar meus erros, afinal estava confiante de que Aslam os havia perdoado e esquecido.

— Não vai se arrepender de ouvir o que direi - Assegurou. Parei um minuto. Assenti, decidindo saber onde ele queria chegar. - O sonho de Miraz sempre foi ter um filho homem, mas Lady Prunaprismia nunca conseguiu lhe dar um herdeiro, pelo menos não até o rei Caspian completar dezoito anos.

— Ele teve a mim e ao meu irmão, mas obviamente não poderia fazer de nós os seus herdeiros - Completei para adiantar a conversa, não podendo evitar o ressentimento.

— Ainda assim, o povo telmarino, uma parte dele pelo menos, incluindo alguns lordes e membros do exército, guardam admiração pela memória de seu pai - Franzi o cenho ao ouvi-lo. De certo, eu havia ouvido falar nisso na cidade. Alguns telmarinos se opunham ao governo de Caspian, principalmente por ele ter incluído os narnianos como cidadãos. - Você veio para cá com o intuito de recuperar aquilo que lhe é de direito, não foi?

— Não tenho direito a nada.

— É aí que se engana - Os olhos de Theodor adquiriram um brilho ambicioso, perceptível apesar da pouca luminosidade - Se você se apresentasse oficialmente como herdeiro de Miraz, não tenha dúvidas de que o apoiariam.

Entreabri os lábios e franzi o cenho ainda mais, se é que isso era possível.

— Está insinuando que… eu usurpe o trono de Caspian?

Ele não precisou falar para que eu tivesse a minha resposta. Theodor estava me oferecendo apoio para me tornar rei, para tomar Nárnia como minha, aproveitando que Caspian não estava no país. Era um lorde influente, não podia estar meramente blefando, não poria tudo o que tinha a perder se não acreditasse naquilo e... estava me oferecendo aquilo que sempre quis.


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Notas finais do capítulo

Capítulo babado esse hein galera?
O que acham que aconteceu com a Susana e o Caspian? Será que eles vão ficar bem? Já estavam tão feridos e foram atingidos pela avalanche que dá nome ao capítulo!
E sobre a retratação do Pedro com a Hiandra? Será que ele fez certo? E sobre a proposta que o Theodor fez pro Rilian? Será que ele vai aceitar, logo agora que conseguiu a confiança de todos?
Me contem o que acham que vai acontecer!



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