A Última Chance escrita por Caroline Oliveira


Capítulo 27
Provação


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoal! Mais um capítulo para vocês recheado de emoções! O nome é sugestivo, afinal nossos personagens tão passando por maus bocados! Espero que gostem!

OBS: o capítulo volta um pouco no tempo para o ponto de vista do Caspian um pouco depois da avalanche, mas essas mudanças temporais não interferem tanto no entendimento da história, são apenas para manter a coerência.



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Horas antes...

Caspian X

A primeira coisa que senti quando despertei foi uma intensa dor de cabeça e um frio congelante, deixando meu corpo trêmulo. Ao abrir os olhos, encarei a copa da árvore responsável por ter desmaiado ao ser jogado contra ela pela avalanche. Não fazia ideia de quanto tempo havia se passado, mas não devia ser muito, afinal se estivéssemos sob a neve por horas, de certo já estaríamos mortos.

Um monte de neve prendia meu corpo do abdômen para baixo e eu estava caído de bruços. A neve somada ao peso das coisas que carregava para a viagem não me ajudaram a sair dali facilmente. Estiquei os braços trêmulos para frente para conseguir me rastejar para fora da neve, vendo uma fumaça branca se formar à minha frente a cada respiração.

Quando finalmente consegui me libertar, levantei com dificuldade, afinal a perna ainda doía. Pelo menos havia parado de sangrar.

Olhei em volta e me dei conta de que não via Susana em lugar nenhum. Era como se um balde de água fria de preocupação caísse sobre mim, como quando alguém esquece de algo muito importante e não tem condições de voltar para buscar. Minha respiração dificultada pelo frio acelerou, assim como meus batimentos.

— Susana! - Minha voz fez eco pelo vale entre as montanhas e apenas uma brisa fria me respondeu. Encolhi os braços e os esfreguei numa tentativa falha de me livrar do frio e comecei a andar de volta ao local que eu imaginava que havíamos sido atingidos - Susana! Onde você está! - Continuava gritando e nenhum sinal dela - Se estiver me ouvindo, responda!

Era óbvio que ela não estava me ouvindo. O desespero começou a bater à minha porta, o medo de que ela estivesse soterrada na neve, ou que algum bandido da montanha houvesse a raptado perpassaram pela minha mente à medida que procura algum indício de seu paradeiro. Eu não podia perder Susana, ainda mais àquela altura!

— S-Susana! - Gritei mais uma vez, a voz rasgando minha garganta. Sentia os lábios secos, as pernas começando a perder sua coordenação pelo frio que corroía os ossos, a fala sendo corrompida e eu temia que logo eu perdesse a consciência novamente. - Aslam, nos ajude! - Olhei em volta mais uma vez, a imensidão branca se tornando um grande ponto de interrogação diante dos olhos - Susana!

Foi quando meus olhos pararam diante de uma pena vermelha destacando-se no branco da neve. Só podia ser de uma das hastes de suas flechas.

Esqueci o frio e corri em sua direção, desenterrando a flecha que revelou mais duas atrás de si. O monte de neve angustiou meu coração. Eu precisava tentar.

Cavei a neve o máximo que pude, ignorando as mãos dormentes pelo contato com o frio rigoroso. Parei algumas vezes para sacudir as mãos e evitar que congelassem e prossegui cavando.

— Susana! - Gritei ao encontrar mais flechas, devem ter caído de sua aljava quando a neve nos atingiu. - Susan…

A voz se esvaiu de minha garganta quando encontrei seu rosto. Meu coração falhou uma batida, pois apesar de estar aliviado por tê-la encontrado, seu rosto inconsciente me fez temer que estivesse morta.

 

Fortaleza em Anvard

— Qual a força daquele leão maldito que te impede de matar dois reles humanos com uma avalanche?! - Cietriz bradou irada, desferindo sua frustração em Jadis, que a mirou com os olhos verdes sanguinários.

— Estou tão irritada quanto você, mas não desconte a sua inveja em mim! - A feiticeira retrucou autoritária.

— Inveja? Inveja de quê? - Repetiu Cietriz, previamente ofendida.

— A verdade é que além de estar com medo que o casalzinho maldito pegue a lança e a derrote, está com inveja de que exista outro amor quanto o da rainha Cisne Branco e do seu amado príncipe calormano!

— Não mencione aquela infeliz e eu não tenho inveja alguma!

— Tem sim e é por isso que não para de observá-los durante todo o dia! - Jadis revidou irritada. Era verdade que Cietriz monitorava cada passo de Caspian e de Susana, analisando a relação dos dois cena a cena - Não nasceu para o amor, Cietriz, nenhuma de nós nasceu e tudo isso é uma bobagem! - Cietriz comprimiu os lábios ao ouvir o sermão de Jadis. - Não deveria estar preocupada com eles, afinal você mesma disse que mandou soldados atrás dos dois! Se conseguirem a lança antes de serem interceptados, serão mortos no caminho de volta!

— É, você tem razão - A serpente do deserto admitiu com pesar e orgulho ferido.

Ela fitou a bacia enfeitiçada por alguns segundos e passou a mão pelo ar sobre ela, desfazendo o encanto. As águas se moveram e voltaram a ficar cristalinas, até que Cietriz irada a derrubou contra o chão, espalhando a água pelo piso ao redor do pedestal onde a bacia estava anteriormente repousada.

— Concentre-se no ritual para Tash - Aconselhou Jadis - Precisamos do apoio dele para vencer Aslam e os seus. Edmundo não vai viver para sempre depois da dose de veneno que você inseriu nele.

Apesar de sentir que iria se arrepender de não mais monitorar Caspian e Susana, Cietriz abandonou os pensamentos referentes ao casal para seguir as ordens de Jadis, afinal seu orgulho e frustração foram as razões para sua primeira derrota. Ela não queria que voltasse a se repetir.

Embora fosse uma feiticeira habilidosa e uma vilã astuta, Cietriz ainda tinha a mentalidade de uma jovem apaixonada. Sua crueldade era notável para alguém tão nova, mas Jadis sabia que precisava guiar a moça se quisesse destruir Nárnia de vez. Ela precisava controlar as ações de Cietriz antes que ela pusesse tudo a perder.

Caspian X

Retirei Susana da neve de modo ágil e cuidadoso ao mesmo tempo. Ela estava muito gelada, os lábios vermelhos e as bochechas coradas pelo frio, mas graças a Aslam seu coração ainda batia, fraco porém perseverante.

Peguei-a no colo com as minhas poucas forças e andei por entre as montanhas para encontrar um lugar seguro em que eu pudesse fazer uma fogueira e cuidar de Susana sem me preocupar tanto com as ameaças externas. Talvez esse fosse um lugar inexistente àquela altura da nossa jornada, mas eu precisava tentar.

Apesar de inconsciente, Susana tremia em meus braços. Meu coração apertou ainda mais, porque por mais que eu chamasse seu nome e a movimentasse, ela não despertava.

Evitei pensar nisso à medida que procurava um abrigo. Entrar desespero seria a nossa ruína. A nevasca havia passado e o empecilho para o progresso da caminhada era o terreno irregular e a neve acumulada que fazia meus pés afundarem vez ou outra.

Parei por um momento, a perna voltando a incomodar, e aproveitei para arrumar Susana nos meus braços. Toquei seu rosto e movimentei a mão contra sua bochecha.

— S-Susana, por favor, fala comigo! - Implorei - E-Eu preciso de você, acorde! - Os lábios trêmulos foram a sua única resposta.

Decidi retomar a caminhada e suspirei aliviado ao encontrar uma caverna. Implorei a Aslam que não estivesse ocupada por bandidos da montanha, nem que fossem o abrigo de algum animal selvagem. Não precisávamos de mais uma provação desse tipo.

Tomei coragem e entrei, repassando etapas mentais de como agir caso encontrasse algum perigo. O tempo era apenas de colocar Susana repousada no chão, sacar a espada e proteger a mim e a ela do inimigo. Mas graças ao bom Aslam a caverna parecia não ter sido visitada pelos últimos tempos.

Procurei o seu interior e coloquei Susana afastada da entrada, longe da brisa gélida. Cortou meu coração ter que deixá-la sozinha novamente, mas era isso ou morrermos de frio. Deixei as poucas bagagens com mantimentos e água e cobri Susana com o lado seco do cobertor que eu também trouxera nas costas. Saquei a espada e conferi se o interior da caverna estava mesmo desabitado.

Agora vinha a parte mais difícil: fazer fogo em meio à toda aquela umidade. Corri para fora da caverna novamente, aproveitando o pouco de calor produzido pelo meu corpo pelo esforço recente. Não podia pegar os galhos caídos ao chão, estavam encharcados pela neve. Cortei o máximo de lenha que minha espada e facas conseguiram retirar e eu conseguia transportar e voltei para a caverna, encontrando Susana sob o cobertor, ainda imóvel.

Respirei fundo e partir para montar a fogueira. Os minutos que se passaram foram angustiantes, mas quando pensei que tudo estava perdido, o fogo despertou e acendeu a madeira. Agi rápido para aumentar as chamas e tirei a parte mais nobre das roupas, molhadas pela neve, permanecendo com as calças, as botas e a camisa.

Trouxe Susana para mais perto do fogo para que se aquecesse e abracei pelas costas para resguardá-las.

Quando finalmente a adrenalina da busca por um lugar seguro e para acender a fogueira passou, as lágrimas se depositaram nas bordas dos meus olhos. Beijei o topo da cabeça de Susana, a angústia por não saber qual o quadro exato de saúde em que ela se encontrava preenchendo meu coração.

— Não me deixe, meu amor - Sussurrei. - Acorde, eu preciso de você. Você não pode morrer.

O silêncio após cada vez que eu falava com ela era trucidante. A mulher da minha vida estava à beira da morte e eu não podia evitar me sentir culpado. Culpado por não ter despertado antes, não tê-la retirado da neve antes. Culpado por não ter conseguido um lugar seguro para nós mais rápido. Culpado simplesmente por não ser capaz de curá-la de qualquer que fosse o mal que a impedia de voltar à consciência.

Eu não podia perdê-la. Se Susana morresse, levaria minha vida junto à dela.

 

Atualmente…

Rilian

Theodor me fitava com expectativa, ansiando que eu lhe desse uma resposta positiva a respeito de sua proposta. Eu não lamentava por decepcioná-lo.

— Lord Theodor, eu não… - Minha voz travou na garganta, a indecisão presente inclusive na minha voz - Eu não tenho interesse.

Eu admitia para mim mesmo que aquilo era uma mentira. Eu queria, e muito, ter algum prestígio, poder herdar o título de meu pai ao menos, viver as promessas que ele tinha feito à minha mãe. Mas não era justo. Eu conhecia a história de Caspian, sabia a injustiça e crueldade à qual meu pai o infligiu tentando matá-lo para usurpar o trono. Ele lutou ao lado dos narnianos, pelos narnianos e conquistou o trono não apenas por direito, mas por honra. E o que eu fizera para Nárnia além de causar problemas? Era justo que agora que a rainha Lúcia e o rei Pedro confiavam em mim que eu traísse a todos e roubasse a coroa?

— Vamos, rapaz, não está pensando direito! - Theodor insistiu, falando com veemência apesar do tom baixo - É a oportunidade perfeita! 

— Por que quer tirar Caspian do trono? - Indaguei. - Ele tem sido bom pro seu povo!

— Não vou conseguir explicar tudo agora! - Retrucou - Mas nós telmarinos precisamos da sua intervenção! Caspian favorece os  narnianos, eles estão sempre em primeiro lugar!

— Olha, eu não vou muito com a cara dele - Admiti, recordando o murro que ele me deu quando eu estava acorrentado na masmorra. Apesar de eu tê-lo provocado, não deixava de me ressentir - Mas Caspian organizou uma expedição inteira para encontrar os sete lordes que serviram ao pai dele, sete telmarinos!

— Não quero discutir, Rilian! - Theodor desconversou - Apenas pense no que disse. É a sua oportunidade de ser reconhecido. Pense bem, depois conversamos.

Franzi o cenho sem entender e Theodor virou-se para se acomodar e ir dormir. Pelo visto, seria eu quem demoraria para pegar no sono.

Ouvi os cascos de Windren contra a grama e um arrepio percorreu meus braços com a possibilidade de ela ter ouvido algo. Ela se abaixou um pouco para falar comigo.

— Seja lá o que Lord Theodor tenha dito - Windren falou e eu expirei o mais discreto que pude, aliviado por ela não saber de nada - Não deixe que o atormente. Você é um bom rapaz, Rilian. Não deixe que pensem o contrário.

Assenti em agradecimento pelo conselho e o alívio por ter tomado a decisão certa me preencheu, permitindo-me dormir quase tranquilo. Isso porque algo me dizia que Theodor não desistiria tão facilmente.

 

Susana Pevensie

Desci as escadas da nossa casa com a pequena mala na mão direita, a esquerda apoiando-se no corrimão. Meus olhos estavam marejados, havia chorado bastante após a discussão com meus pais que me fizera tomar a decisão que eu estava prestes a comunicar.

— É isso que vai fazer? - Meu pai levantou-se da poltrona onde estava sentado - Vai nos abandonar por causa de um romance?

— Não é somente um romance! - Fiz questão de esclarecer - Eu amo Caspian, pai, preciso voltar para Nárnia para ficar com ele!

— Filha, não nos deixe! - Minha mãe veio até mim quando alcancei o último degrau - Se você se arrepender, não terá como voltar! Como sabe se ele realmente a ama?

— Ele só quer se aproveitar dela, Helen! - Retrucou meu pai - Somente Susana não o percebe!

— Caspian é um homem de confiança, pai! - Lúcia surgiu de repente, estava mais crescida do que me lembrava - O próprio Aslam o coroou rei porque aprovava seu caráter!

— Eu não me conformo! - Bradou ele e senti mais lágrimas caírem do meu rosto - Se você sair por aquela porta, indo para Nárnia ou não, não precisa mais voltar!

— Raphael! - Minha mãe repreendeu.

— Essa é minha última advertência, mocinha! - Ele me apontou o dedo indicador, o sofá da sala nos separando - Se ama mais esse navegador do que a sua família, não é mais bem vinda entre nós.

 

Abri os olhos num rompante, dando de cara com uma fogueira em brasa, num lugar que não me recordava de ter entrado. Era uma caverna.

— Susana? - A voz de Caspian chamou e foi somente aí que percebi que estava em seus braços - Susana, graças a Aslam! - Ele me abraçou forte e beijou minha testa algumas vezes - Pensei que perderia você!

Eu estava confusa, mas recebi seu carinho ávido de preocupação sem pestanejar. Aos poucos, a memória dos últimos acontecimentos apareceu. A avalanche, nossa corrida por salvar nossas vidas, a neve nos afogando como um tsunami.

— Você está bem? Como nos trouxe para cá? - Indaguei, tocando suas bochechas para limpar suas lágrimas de alívio. Eu nunca vira Caspian chorar, mas ele não pareceu se importar, afinal a felicidade de me ver viva importava mais que qualquer orgulho.

— Eu que pergunto, como está se sentindo?

Pisquei algumas vezes, analisando meu próprio corpo. A ferida na lateral do corpo incomodava, meus braços e pernas estavam doloridos, minha garganta arranhava ao falar e eu ainda sentia frio.

— Tenho um pouco de dor, mas acho que no geral estou bem - Não quis preocupá-lo, mas também não quis mentir.

— Acho que acordei pouco tempo depois que a neve nos atingiu - Contou - Você estava soterrada e eu só a encontrei por causa das flechas que caíram da sua aljava. - Ele apontou para a aljava repousada no chão junto ao arco e a trompa, perto das outras coisas que trouxemos - Procurei por um lugar seguro e encontrei essa caverna. Fiz a fogueira e tentei aquecê-la o máximo que pude, mas você não acordava de jeito nenhum.

— Perdoe-me por preocupá-lo - Pedi. Eu sequer tinha noção de toda a angústia pela qual ele tinha passado nas últimas horas - Nem imagino pelo que você passou.

— Não se preocupe comigo - Negou com a cabeça - Não sabe o quanto estou feliz por vê-la bem e viva! - Ele tocou meu rosto e encostou a testa na minha - Eu não sei o que eu faria se você…

— Ei, eu estou aqui! - Interrompi, olhando-o bem nos olhos. - Estou aqui ao seu lado! Aslam disse que estaria conosco, não perca a fé!

— Eu sei que ele não disse que seria fácil, mas… - Arfou - Tenho medo de acabar não aguentando.

— Então eu vou aguentar por nós dois! - Retruquei sorrindo, tomando seus lábios nos meus em seguida.

O toque de Caspian era lento, terno e intenso. As horas de espera e de angústia provavelmente o fizeram ansiar e aproveitar aquele momento o máximo que ele conseguia e meu coração implorava para sentir seu toque sem interrupções.

Ele passou o braço por cima do meu ombro para deslocar a mão do meu rosto para o meu pescoço, aprofundando o beijo, sua língua invadindo minha boca ávida por mais contato. Puxei os cabelos de sua nuca, querendo provar ainda mais de seu sabor.

Caspian deslizou os lábios dos meus para o meu pescoço e ainda de olhos fechados me permiti sentir cada estímulo que seus beijos provocavam. Senti-o deslizar a mão pela lateral do meu corpo até chegar à minha coxa, coberta pelo vestido.

Agarrei o corpo dele com a perna que ele tocava e rolamos para que eu me colocasse por cima dele, voltando a beijá-lo com intensidade. Caspian se sentou, colocando-me em seu colo e apertando a lateral do meu corpo com certa força. Ele pressionou meu ferimento sem querer ao mesmo tempo que esmaguei seu ferimento na perna com meu peso.

— Ai! - Exclamamos juntos, interrompendo o beijo. Foi quando nos entreolhamos e começamos a rir, cientes de que aquilo não daria muito certo, não naquele momento.

Caspian tocou meu rosto para retirar uma mecha de cabelo rebelde e colocá-la atrás da minha orelha esquerda.

— Eu acho que é melhor esperarmos para quando estivermos menos…

— Arrebentados? - Sugeri sorrindo e ele riu concordando.

— É, acho que é isso - Falou por fim.

Saí de cima dele e Caspian me abrigou em seus braços novamente, dessa vez sentados à frente da fogueira. Recostei as costas em seu peito e ele apoiou o queixo no espaço entre meu ombro e meu pescoço, seu rosto encostando na lateral do meu.

— Acha que foi proposital? - Indagou ele. - Digo, a avalanche. Acha que Jadis pode tê-la provocado para nos matar?

— Eu não me recordo de ela ter tamanho poder - Respondi - Não que eu duvide dessa possibilidade, apenas temo do que ela é capaz agora. E pensar que Edmundo está em suas mãos…

— Espero que ele esteja bem - Desejou Caspian - A feiticeira deve estar cheia de ódio e Cietriz não fica atrás.

— Nisso você tem razão. - Concordei por fim.

Alguns momentos de silêncio se passaram. Fitei as chamas crepitando enquanto me recordava do sonho que tivera. Obviamente era fruto do meu subconsciente, não pensava que fosse nenhum aviso de Aslam ou coisa parecida, afinal meus pais estavam mortos. Fora que não fazia sentido algum eu precisar levar uma mala para Nárnia, ou que meus pais soubessem de sua existência.

Questionei-me se meu pai se comportaria como no sonho se estivesse vivo: se seria contra o meu casamento com Caspian, a minha permanência em Nárnia. Se ele aprovaria a minha escolha, se conseguiria observar em Caspian todas as qualidades que eu via.

Caspian passou a mão pelo meu braço esquerdo até alcançar a minha mão. Não dei nenhum sentido específico ao seu toque até ele passar a afagar a união do meu dedo anelar com a palma. O exato local onde uma aliança de casamento se posicionaria.

— O que acha de nos casarmos em Cair Paravel? - Arregalei os olhos diante da pergunta repentina. Caspian deu para ler pensamentos agora? - O que foi? Não gostou da ideia?

— Não, não é isso! - Me retratei. - Eu só… não esperava a pergunta. - Senti as bochechas esquentarem. - Mas… seria incrível poder me casar com você no castelo em que fui rainha.

— É, eu pensei que seria algo bem poético - Sorriu ele - Se tornar rainha outra vez no Castelo dos Quatro Tronos. Obviamente pretendo fazer um pedido oficial, não se preocupe.

— Ah, eu não… - Era claro que eu entendia que aquela não era hora e nem momento para um pedido de casamento e que ele apenas havia compartilhado uma ideia, não havia pensado mal dele ou supus que ele havia sido presunçoso de pensar que eu já havia aceitado antes mesmo de ele fazer o pedido, o que de certa forma não deixava de ser verdade.

— Em seu mundo também é costume que os rapazes peçam a mão da noiva ao pai dela? - Indagou. Eu achava curioso o interesse de Caspian em saber sobre o meu mundo, acho que nenhum narniano havia questionado coisas do tipo a mim e aos meus irmãos com tanto entusiasmo. Talvez fosse por isso que ele havia sido o escolhido para salvar os narnianos, afinal foi através de seu vínculo com as histórias do passado que ele acreditou que a trompa o ajudaria em momentos de dificuldade.

— É, geralmente sim - Respondi - No meu caso, meu pai não está mais vivo, então acho que você pediria minha mão à Pedro.

— Acha que ele vai negar?

— Claro que não! - Retruquei rindo.

Pensar naquelas coisas, no nosso futuro, eram a esperança que me faziam lutar a cada dia, subir cada degrau devagar, rumo à nossa felicidade. Eu jamais imaginara poder ver Caspian outra vez e tê-lo tão perto e com uma possibilidade real de nos casarmos um dia. Uma chance palpável de sermos felizes. Uma última chance de permanecer em Nárnia.

 

Liliandil, a estrela

Liliandil…— Uma voz ao longe chamou. - Liliandil!

Acordei em um rompante, como se tivesse despertado de um sono. A voz era masculina, terna, profunda, mas não a reconhecia. Por um momento pensei que fosse Rilian, ou Theodor, porém ambos dormiam e a voz não se parecia com quaisquer vozes que eu já havia ouvido.

Windren estava de guarda, mas havia cochilado também. Não havia ninguém além de nós na clareira.

Liliandil, o lampião…— A voz indicou e parecia ter vindo do lado ocidental do bosque.

Levantei-me agitada, ciente de que não me deixaria em paz até que eu a seguisse. Passou pela minha mente que fosse a voz de Aslam, afinal eu nunca o havia visto pessoalmente, apenas do céu quando morava entre as estrelas e jamais ouvira sua voz. Algo naquele som me acalmava, então não julguei que estaria me levando à perdição.

Pensei em pegar a espada de Theodor antes de ir, mas não levava o menor jeito com armas, seria o mesmo que não empunhá-las.

Os sons da floresta eram esporádicos, geralmente corujas se empoleirando em suas tocas. Tentei fazer o mínimo de barulho possível, afinal não queria virar presa de algum animal.

Liliandil…— A voz continuava chamando, guiando-me através das árvores, tornando-se mais forte à medida que aparentemente eu acertava o caminho.

Arrependi-me um pouco de não ter acordado os outros, mas a voz urgia tanto pela minha presença que sequer pensei nisso antes. Ficariam preocupados em não me encontrar, porém por alguma razão eu sentia que devia seguir sozinha.

Não sei por quanto tempo caminhei pelo bosque, as árvores com poucas folhas nos galhos devido à seca tornando-se mais raras à medida que um caminho se abria, algo como uma trilha. A voz se tornou mais forte e eu estava certa de que estava no caminho certo.

Quando o céu se expôs para mim, as estrelas me pareceram mais brilhantes na escuridão da noite, a lua nova decorando a abóbada celeste com seu desenho delicado.

Poucos metros a seguir, meus pés pararam diante da estrutura de ferro intocada pelo tempo que se erguia na pequena clareira que se formou ao seu redor. O lampião tinha uma luz amarela vinda da chama que nunca se apagou desde que a feiticeira branca a trouxe consigo e a lançou contra Aslam na criação de Nárnia. Era mais do que um artefato milenar para mim: era a chance de recuperar meus poderes e de resgatar Edmundo.

Aproximei-me a passos rápidos do Lampião, a brisa fria da noite roubando calor do meu corpo. Percebi que a voz que me chamava parou de fazê-lo, demonstrando que realmente era seu intuito me levar ali. Quando estava bem próxima da estrutura, sua luz no entanto começou a oscilar.

Franzi o cenho confusa, questionando-me se minha presença ali interferia na luz do lampião. Meu coração acelerou e eu ousei me aproximar mais. A chama reverberou dentro das paredes de vidro do lampião e me atemorizei.

— Aslam, me ajude! - Pedi, completamente perdida - Eu fiz o que você, eu vim até aqui! - Girei em torno de mim mesma, como se procurasse o Leão entre as árvores - Como recuperarei a minha magia aqui?

Lágrimas de frustração brotaram dos meus olhos e eu estava prestes a voltar de onde eu viera quando a mesma voz finalmente me respondeu.

Toque o lampião— Ordenou.

— Mas… - Falei, pensando na interferência que eu estava causando ao me aproximar - Se eu o tocar ele vai…

Toque o lampião— Repetiu.

Ergui a mão esquerda diante do meu corpo e a fitei hesitante. Estava realmente morrendo de medo de acabar apagando o lampião com meu toque, mas tomei coragem para cumprir a ordem de Aslam.

Ao tocar o lampião, senti o metal gelado vibrar e uma força me repeliu, lançando-me para não muito longe dele.

— Ai! - Exclamei ao cair no chão praticamente sentada.

Ao abrir os olhos, no entanto, tive a infeliz surpresa de que o lampião havia realmente se apagado.

Lágrimas caíram dos meus olhos e eu cobri a boca com uma das mãos diante do que eu tinha feito.

Uma luz vinha descendo do céu, uma luz branca que eu conhecia bem. Ela tomou a forma humana e eu me levantei à contragosto, limpando as lágrimas.

— O que pensa que está fazendo? - Bradou meu pai, a voz rígida e inquiridora de sempre.


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Notas finais do capítulo

Já sei que vão querer me matar pelo momento Suspian kkkkk mas e então, gostaram? E sobre a decisão do Rilian? E o que será que vai acontecer com a Liliandil?
A história está entrando na reta final, então o que acham que vai acontecer daqui pra frente?
Só pra avisar que geralmente eu posto os capítulos na quinta feira às 16:15, então sempre lembrem de conferir aqui se tem capítulo novo! Eu deveria ter avisado antes, mas sempre esquecia kkkkk
Beijos e até a próxima!



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