A Última Chance escrita por Caroline Oliveira


Capítulo 16
A tenda


Notas iniciais do capítulo

Olá gente! Trazendo mais um capítulo para vocês!
Boa leitura!



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Pedro Pevensie

— Acha que vai dar certo? – Susana indagou quando Edmundo e Liliandil mergulharam – É inviável trazê-la aqui todas as vezes que tiver uma crise. Temos que descobrir um jeito de restaurar sua magia.

— O problema é que o único jeito aparente é Ramandu devolver seus poderes – Respondi – Talvez funcione dessa vez, atenue essa queimação, mas até quando ela vai suportar ficar...

Interrompi a mim mesmo quando meus olhos vislumbraram a esfera de luz que passou a descer dos céus num ritmo tão acelerado que parecia um meteoro caindo do espaço.

— Ramandu vem nos agraciar com sua presença – Glenstorm disse em tom tenso, suas palavras foram puro sarcasmo.

— Espero que esteja vindo em paz – Coriakin comentou. – Ou teremos problemas.

A esfera de luz logo chegou até nós, parando a um metro do chão e se expandindo até sua forma mudar, revelando a figura de Ramandu.

Tirei a espada da bainha e apontei para ele, posicionando-me na frente de Susana. Temia apenas que Edmundo e Liliandil saíssem da água naquele momento, pois Ramandu estava entre mim e o rio e eu não teria como salvá-los sem passar pela estrela.

— O que pensa que fará contra mim com este pedaço de metal, rapaz? – Debochou, trazendo a minha memória a lembrança infeliz do desafio semelhante que Jadis me fizera quando tentei defender Edmundo de sua sede de sangue.

— O que veio fazer aqui? – Inquiri.

— Salvar a minha filha – Falou com obviedade e se virou.

— Ei, espere! – Pedi quando ele estendeu a mão para o rio. A água passou a brilhar, a luz submersa chegando até nós na superfície.

Susana e eu nos entreolhamos. As águas não se agitaram tanto quanto eu imaginava caso ele estivesse fazendo algum mal a Edmundo e a Liliandil. Logo os dois voltaram à superfície.

— Pai? – Liliandil pronunciou confusa, os olhos denunciando seu temor. Apesar de tudo, seu tom de voz não expressada a dor e a fraqueza de antes.

Edmundo trazia Liliandil com dificuldade até a margem. Embainhei a espada e corri para ajudá-lo, entrando na água.

— Como está se sentindo? – Perguntei à estrela.

— Bem, estou... bem – Seu olhar se encontrou com o do pai e ela percebeu que ele fora o autor de sua cura.

Nós três saímos da água e Coriakin nos lançou um encanto para secar as roupas. Devia ser bastante cômodo ser um mago.

— Não pensei que voltaria atrás – Edmundo disse a Ramandu, que sorriu irônico.

— Não voltei – Respondeu – Apenas diminui a intensidade da punição – Até quando ele fazia uma coisa boa, não dava o braço a torcer – Isso foi para que aprendesse a não me desrespeitar, Liliandil.

— Só porque discordo de seu modo de ver as coisas, não significa que não o respeito – A voz de Liliandil foi firme e ela já conseguia ficar de pé, apesar de se apoiar em mim e em Edmundo ainda.

— É o mesmo para mim – Retrucou Ramandu – Vim aqui para dar-lhe uma nova oportunidade de se redimir. Como prova de minha boa vontade, dei a você o suficiente para sobreviver.

— “Boa vontade” – Edmundo murmurou com sarcasmo, tirando as vistas de Ramandu para evitar que o ímpeto de raiva o dominasse.

— Eu ainda penso que o senhor está equivocado – Qualquer espertalhão teria mentido para Ramandu a fim de recuperar os dons, mas nenhum de nós aconselharia Liliandil contra sua consciência e dignidade. – Caspian tem o direito de ser feliz com a mulher que ama e eu estou de acordo.

— É curioso que ele não esteja aqui, aliás – Ramandu deu passos pretenciosos à frente, o sorriso malicioso nos lábios – Não me surpreende que ele não dedique a você a mesma atenção e consideração que tem por ele. Sequer se deu ao trabalho de deixar o castelo para ajudá-la!

— Não distorça os fatos, Ramandu – Susana se pronunciou – Não é porque Caspian não está aqui que ele não se importa.

— Que seja – Deu de ombros – Continuará sem seus dons até que perceba a bobagem que está fazendo ao se colocar contra mim – Declarou à filha. Os olhos de Liliandil se encheram de lágrimas.

— Isso não é justo! – Esbravejou Edmundo.

— Acalme-se, Ed – Pedi em vão.

— Você não tem o direito de tirar de Liliandil o que é dela! – Edmundo avançou alguns passos contra Ramandu e Susana e eu trocamos um olhar.

— E quem é você para falar de direitos, traidor? – Acusou Ramandu – Todos em Nárnia sabem que não tem sequer o direito de estar vivo! A lei é clara: todo traidor deve morrer na mesa de pedra e, no entanto, sua pena foi virar rei de Nárnia!

Vi a culpa e a vergonha nos olhos de Edmundo por um breve momento, mas a sombra de dúvida foi logo substituída por coragem.

— Isso é passado! – Retrucou Edmundo – E além do mais, aquele a quem ofendi me perdoou das minhas transgressões e você não é ninguém para me acusar! Liliandil merece seus poderes de volta e muito mais por sua bravura!

— Pois ela continuará sem um pingo de magia até que peça perdão por sua ousadia! – Decretou o astro por fim.

Não dando tempo para nenhum de nós refutar nada, Ramandu voltou a sua forma de esfera luminosa e subiu aos céus tão depressa quanto desceu.

— Obrigada por me defender – Liliandil agradeceu a Edmundo – Obrigada a todos por terem cuidado de mim. – Suspirou – Somente Aslam pode amolecer o coração de meu pai agora.

— Já a consideramos uma grande amiga, Liliandil – Eu disse a ela – É isso o que fazemos pelos amigos.

Ela assentiu agradecida.

Logo decidimos voltar ao castelo. Susana voltou a entrar na carruagem com Liliandil e eu pedi a Coriakin que fosse com elas, afinal Liliandil poderia voltar a passar mal – apesar das palavras de Ramandu, eu desconfiava que ele podia voltar a se irar e tirar a saúde de Liliandil outra vez – e, além do mais, ele já era velho e o trote do cavalo lhe doía os ossos.

Edmundo cavalgava ao meu lado, de cara fechada.

— Mexido com o que Ramandu disse? – Falei depois de dois minutos de percurso – Você mesmo disse que Aslam o perdoou. Por que isso o incomoda?

Ele me ouviu bem, porém demorou a responder.

— Porque apesar de Aslam ter me perdoado, apesar de todos vocês terem me perdoado também... e mesmo depois de eu ter me livrado do peso da culpa – Falou pausadamente, colocando os sentimentos nas palavras – Percebo que ainda tem gente que me aponta após tantos séculos. A lei é clara e seu peso é o que mantém as coisas em ordem. Não a ter cumprido pode ter sido sinal de misericórdia para nós, mas de injustiça para outros.

— Se Aslam o tivesse condenado, a profecia jamais se cumpriria e Nárnia teria permanecido sob o domínio da feiticeira – Tentei não parecer óbvio, mas Edmundo sabia de tudo aquilo e não devia se deixar esquecer. – Tudo teve um propósito. Não deixe que o veneno de Ramandu o faça pensar que é menos digno da coroa de Nárnia do que qualquer um de nós.

Edmundo sorriu de cabeça baixa.

— Nunca pensei que diria isso – Reconheceu.

— Da última vez que tentei falar, você me interrompeu estralando meu braço – Dei de ombros.

— Eu consertei o seu braço! – Retrucou rindo – Nunca teria terminado o combate contra Miraz sem a minha ajuda!

— Nem quando agem como irmãos vocês param de implicar? – Susana reclamou da janela da carruagem, que andava ao nosso lado.

Edmundo e eu nos entreolhamos.

— Olha só quem fala! – Falamos em uníssono, arrancando gargalhadas de todos.

Ao percorrer um pouco mais da margem do Grande Rio, nos deparamos com uma tenda sinuosa e pequena a caminho do castelo. Antes que qualquer um pudesse falar algo, uma figura feminina ia saindo dela, mas ao nos ver, voltou-se para a tenda antes que pudéssemos ver seu rosto.

— Aquela tenda – Edmundo sussurrou ao pararmos – É a mesma que Susana e eu encontramos quando viemos. Não está no mesmo lugar, mas... eu tenho certeza.

Desci do cavalo. Tirei a Rhindon da bainha e decidi ir até lá.

— Pedro, para! – Edmundo pediu – Tem uma cobra lá dentro, a mesma que me atacou!

— Fiquem aqui – Falei – Qualquer coisa eu grito.

Fiz sinal para que dois guardas me seguissem e entrassem comigo. O som dos passos sobre o cascalho ficava evidente da calada da noite, o que poderia estragar toda a minha tentativa de ser furtivo.

Era bastante suspeito e estranho ter uma tenda tão pequena no meio do nada, ainda mais abrigando uma serpente. E se havia alguém lá que se escondeu a nos ver, algo a mulher estava devendo.

Abri a tenda com a espada, olhando para o chão à procura de qualquer serpente rastejando em minha direção. Nada.

Ao olhar para dentro da tenda, ela parecia muito maior e mais alta por dentro do que por fora, como um feitiço. Era mais larga que comprida, cheia de móveis de madeira, tecidos e utensílios de prata. Apesar da quase completa escuridão da tenda – salvo algumas pequenas velas que denunciavam a presença de alguém, ainda escondido –, consegui ver uma claridade azulada no fundo, através de mais alguns tecidos que a cobriam. Um frio súbito começava a subir à medida que eu me aproximava e custei a acreditar quando vi o paredão de gelo à minha frente.

— Pedro – Sua voz desagradavelmente familiar fez meus ossos estremecerem – E enfim nos encontramos de novo.

Os guardas arfaram surpresos e temerosos. Segurei a espada mais firmemente.

— É você? – Questionei, a Rhindon apontada para Jadis – É você que está fazendo isso com Nárnia?

— O quê? A seca? – Indagou sorridente – Não. Você sabe, meu efeito sobre Nárnia é um inverno impiedoso – Abriu os braços dentro do gelo, falando com obviedade – Desertos não fazem bem o meu estilo.

— Então quem era a pessoa que estava aqui? – Questionei com raiva. Tirava-me do sério a possibilidade de que alguém estava revolvendo céus e terra para trazê-la de volta. Não era possível que depois de cem anos de horror ainda houvesse narnianos que cressem que seu governo era melhor que o de Caspian.

— Ora, mal chegou e já faz tantas perguntas – Ela uniu as sobrancelhas para mim, inclinando a cabeça para o lado em expressão de pena por meu desespero – Teremos muito tempo para conversar quando eu estiver livre.

— Não se eu puder impedir!

— Cietriz! – Jadis chamou.

Impulsionei a Rhindon para cima e depois na direção do gelo para quebrá-lo, mas a figura misteriosa que tentara sair da tenda surgiu e me lançou um golpe mágico tão forte que fui jogado para fora da tenda.

Caí com tudo no solo de cascalho, batendo a cabeça. Encarei o céu estrelado atordoado e logo fui consumido pela inconsciência. 

Susana Pevensie

— Pedro! – Gritei, abrindo a porta da carruagem assim que ele praticamente voou tenda afora.

Uma tempestade de areia subiu sobre nós e nos impediu de manter os olhos abertos. Meu coração acelerou com a possibilidade de sumirem com meu irmão.

Quando tudo acabou, a tenda havia sumido sem deixar qualquer fiapo de tecido para trás. Os guardas que entraram com Pedro não mais saíram, sumindo com a tenda e meu irmão ainda estava caído, desacordado, a roupa na região do peito rasgada por um golpe de magia ou algo assim.

Edmundo desceu do cavalo e eu e ele corremos em direção a Pedro.

— Pedro, fala comigo! – Peguei seu rosto em minhas mãos e tentei trazê-lo de volta à consciência com algumas tapinhas na bochecha – Pedro, acorda! – Ele não reagia.

Peguei seu pulso de forma desajeitada e trêmula, sequer conseguia sentir algo daquele jeito.

— Mais essa agora! – Lamentou-se Edmundo, pegando a mão de Pedro da minha para tentar ver o pulso – Ainda está vivo. Temos que levá-lo de volta agora!

— Deixe-me ver – Coriakin pediu, analisando o ferimento no peito.

Não era mais que um hematoma com queimaduras minúsculas que chamuscaram o tecido da roupa antes de danificar sua pele. Coriakin passou a mão a poucos centímetros do peito de Pedro, mexendo-a de um lado para o outro. Pequenas ondulações luminosas saíram de suas mãos acompanhando o movimento, até que ele levou a mão ao nariz e cheirou.

— Isso é magia antiga – Constatou o mago – Muito antiga. Pode ser que eu tenha algum registro. Não creio que o rei corra risco de vida.

— Graças a Aslam! – Exclamei aliviada.

— Quem quer que tenha feito isso, o fez para afastá-lo, impedir que fizesse algo – Continuou ele – Saberemos os detalhes quando ele acordar.

— Eu não devia ter deixado ele ir sozinho! – Edmundo resmungou, ignorando completamente os guardas que foram com Pedro – Por que ele é sempre tão mandão?

— Ele sempre quer nos proteger, mas a verdade é que é mais teimoso que qualquer um de nós – Sorri de canto.

Glenstorm se aproximou e os guardas remanescentes o ajudaram a colocar meu irmão dentro da carruagem. Coriakin me assegurou de que cuidaria dele e Liliandil se prontificou a ajudar. Fechei a porta da carruagem e montei no cavalo que anteriormente era guiado por Pedro.

Primeiro Edmundo, agora ele. Quantas vezes mais eu precisaria passar pela preocupação de quase perdê-los, mesmo depois de ter perdido papai e mamãe para sempre?

[...]

— O que houve dessa vez? – Lúcia foi a primeira a questionar; eu podia sentir o temor em cada uma de suas palavras.

— Foram atacados? – Caspian indagou preocupado também.

Edmundo, Glenstorm e os guardas levaram Pedro para a enfermaria com pressa, embora Coriakin estivesse tranquilo quanto a seu estado de saúde.

— Está tudo sob controle – Tentei acalmar a Lúcia, segurando suas mãos. Foi quando Liliandil se aproximou e eu troquei um olhar com ela – Quando estávamos no rio, Ramandu desceu dos céus e devolveu a saúde de Liliandil.

— Ele se arrependeu do que fez? – Caspian perguntou impressionado.

— Não exatamente – Explicou a estrela – Apenas me deu o suficiente para não passar o resto da minha existência em sofrimento, contudo não me devolveu meus poderes efetivamente.

— Foi ele que fez isso com Pedro? – Indagou Lúcia.

— Não – Assegurei – Quando Edmundo e eu viemos a Nárnia, encontramos uma tenda às margens do Grande Rio. Pensamos que pudesse ter alguém e pedimos um pouco de água e comida, mas fomos recebidos por uma cobra, que picou Edmundo. Encontramos a tenda hoje.

— E o que aconteceu? – Caspian me encorajou a continuar.

— Pedro decidiu entrar para ver o que tinha lá dentro – Contei – Levou dois guardas consigo. Acho que não demorou cinco minutos para ser jogado para fora por algum golpe mágico. Ele bateu a cabeça e ficou desacordado. A tenda sumiu numa tempestade de areia, junto aos guardas que Pedro tinha levado consigo.

— Não estou gostando nada disso – Caspian comentou – E se a pessoa que estiver lá dentro for a feiticeira que amaldiçoou Nárnia com essa seca?

— Pedro vai nos contar – Assegurei – Coriakin nos disse que ele não aparenta correr riscos, então logo ele acorda.

— Falando nisso – Lúcia se pronunciou – Preciso contar algo também. Eu tive um sonho, Aslam falou comigo.

— E o que ele disse? – Indaguei esperançosa.

— Vamos esperar Pedro acordar – Preferiu ela – Colocaremos todas essas coisas em pratos limpos. Acho que tudo tem a ver com a profecia. Pode ser uma pista sobre como devemos começar a lutar contra isso.

— Naim já nos confidenciou que a lança realmente pode estar em território arquelandês – Caspian afirmou – A única coisa que falta é sabermos quem verdadeiramente é o nosso inimigo.

— Nada me tira da cabeça que os calormanos tem algo a ver com isso – Lúcia comentou.

— Acha que eles têm poder para lançar uma maldição assim? – Liliandil indagou.

— Podem ter sacrificado a Tash, pedido um favor – Ela deu de ombros.

— Bem, seja como for – Caspian voltou a falar – Vou acertar com Naim nossa ida ao território dele quando Ahadash for embora.

— É uma boa ideia – Reconheci.

Lúcia olhou para Caspian e soltou minhas mãos.

— Acho que vocês precisam conversar – Falou ela – Liliandil, vamos ver como Pedro está?

— Claro, majestade – Maneou com a cabeça – Com licença.

As duas se foram com passos apressados. Eu não saberia dizer o que fez ela querer nos deixar a sós, mas imaginava que Caspian e ela haviam conversado enquanto estávamos fora.

 — Ela me pediu desculpas por ter sido indelicada – Comentou ele com um sorriso singelo, fitando meu rosto com afeto nos olhos – Apesar de eu não a culpar por ter me interpretado mal ao mandá-la sair da sala.

— Personalidade forte está no sangue dos Pevensie – Olhei para o corredor por onde minha irmã se fora – Até mesmo para Lúcia. – Respirei fundo – Você quer... conversar sobre nós dois agora?

— Na verdade, não – Respondeu e eu ergui uma das sobrancelhas, estranhando – Estamos todos cansados, já é alta madrugada. E temos uma conversa difícil com Pedro e os outros quando ele acordar. Mas, se não se importar, eu gostaria de convidá-la para tomar o dejejum comigo no jardim.

Reprimi um sorriso, embora não tenha conseguido contê-lo totalmente.

— Acho que precisamos mesmo de um tempo sozinhos – Concordei – Mesmo quando nos acertamos, logo fomos cercados de problemas. Rilian, Ramandu... não é justo continuarmos brigados logo quando esperamos tanto para ficarmos juntos.

— É o que eu penso – Seu olhar se iluminou e ele se aproximou de mim – Só peço que venha de coração aberto.

— Farei isso – Prometi.

— Até amanhã então – Falou, aproximando o rosto do meu para depositar um beijo em minha testa.

Foi um boa noite simples, até melancólico, mas com uma pitada de esperança de que tudo ficaria bem pela manhã.

Edmundo Pevensie

A consciência de Pedro não retornou por horas e isso nos preocupou, apesar das insistentes tentativas de tranquilização de Coriakin e Liliandil. Quando ele começou a se mexer no leito, tal qual uma pessoa de sono agitado, o mago nos convenceu a ir descansar.

Deixei Liliandil em seus aposentos de coração aliviado por vê-la bem, apesar de emocionalmente abatida.

Todo o estresse dos últimos dias não foi páreo para o meu cansaço; estava morto e caí num sono de pedra em questão de minutos, sequer sonhei.

  Devia ser umas dez horas da manhã quando acordei atordoado com a agitação lá fora. A comitiva de Calormânia devia estar acertando os últimos detalhes para partir. Caminhei grogue para a sacada dos meus aposentos, que ficavam para o norte do castelo e pude ver os servos, as dançarinas e boa parte dos tarcaãs, tarcaínas e seus nobres filhos se organizando no pátio.

Decidi colocar uma roupa, lavar o rosto e ir para lá. A partida do Tisroc seria tensa e Caspian poderia precisar de suporte.

Escolhi uma camisa marfim e um colete grosso em terracota, com uma calça marrom quente para combinar. Calcei as botas, fiz minha higiene pessoal e desci as escadas correndo praticamente.

— Também irá assistir à partida de Calormânia? – Liliandil me abordou no corredor, o aspecto bastante desperto, ao contrário do meu. – Acabou de acordar, estou certa?

— Eu não perderia isso por nada! – Ofereci meu braço a ela com um sorriso.

— Depois são as mulheres as fuxiqueiras! – Retrucou e eu ri. Ela conservava um sorriso suave no rosto, apesar de ele não refletir em seus olhos azuis escuros.

— Está se sentindo bem? – Indaguei enquanto caminhávamos juntos.

— Fisicamente sim. Confesso que tive medo de adormecer e acordar queimando de dentro para fora outra vez, mas com a graça de Aslam foi um restante de noite tranquilo.

— Fico feliz com isso – Fui sincero – E quero dizer que não desisti de recuperar seus poderes.

— E como acha que fará isso? – Passamos a descer as escadas quando ela disse isso.

— Ainda não sei, mas logo descubro um jeito. Ainda vou ver você brilhar outra vez.

Ela baixou a cabeça e as bochechas coraram. 

Caspian X

Para minha surpresa, Ahadash decidiu partir logo pela manhã. Com tudo o que houve com Liliandil e Pedro, todos fomos dormir tarde e quando acordei, já era a hora de despedir a comitiva de Calormânia. Teria que tomar o dejejum depois.

Da mesma forma que me vesti para recebê-los, cuidei de me trajar de maneira elegante e imponente para vê-los partir. Apesar do calor, consegui com louvor esse feito ao escolher uma capa de tecido pesado, mas que não era tão quente como uma capa de peles.

— Susana disse que ficaria com Pedro até que os calormanos fossem embora – Lúcia me comunicou assim que veio ao pátio – Quando estiver pronto para o dejejum nos jardins, pode mandar avisá-la.

— Está bem, Lu, obrigado – Falei – Espero que o Tisroc venha logo, pois já estou morrendo de fome!

Lúcia riu com minha confissão.

— Eu também – Concordou.

Poucos momentos depois, quando Edmundo e Liliandil se juntaram a nós e quando toda a corte de Tashbaan estava concentrada no pátio pronta para partir, o rei da Calormânia saiu do castelo acompanhado de sua primeira esposa Drusa, seguidos de seus filhos e das outras três esposas de Ahadash.

A sacerdotisa Katrizia veio logo atrás com parte das dançarinas – a outra já aguardava no pátio. Percebi, contudo, que a moça que dançara maravilhosamente para nós no baile não estava entre nenhum dos dois grupos.

— Aqui nos despedimos, rei Caspian – Ahadash anunciou e trocamos um aceno de cabeça em sinal de respeito. – Desejo ressaltar que não foi minha intenção ofender à vossa majestade, ou qualquer um de seus súditos.

— Apesar de não ter sido sua intenção como afirma – Retruquei – Talvez devesse procurar se atentar mais à suas palavras para não soar tão... infortunado.

— De toda forma, agradeço a vossa hospitalidade – Ahadash se aproximou de mim com passos vagarosos – Espero que da próxima vez que viermos – Ele se posicionou bem próximo, de modo que somente eu pudesse ouvir suas próximas palavras – Você esteja arruinado.

Seu sussurro quase despertou o ódio que eu guardava desde o dia em que ele se levantou contra Nárnia havia poucos anos. O tisroc se deliciou ao ver a raiva perpassar por meus olhos e voltou-se para o lado da mulher, seguindo para reunir-se com sua comitiva e seguir seu caminho rumo a Tashbaan.


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Notas finais do capítulo

E então? O que acharam? Me contem tuuudoo!
Gente, pode ser que eu demore um pouco para trazer novos capítulos porque estou tendo dificuldades em organizar o rumo da história: tenho muitas ideias e ás vezes tenho que parar um pouco pra pensar direitinho e não atropelar as coisas!
Tenham um pouquinho de paciência comigo e não pensem que desisti da fic!
Beijos!



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