A Última Chance escrita por Caroline Oliveira


Capítulo 17
Esclarecimentos


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoal! Já é Natal e eu demorando pra aparecer por aqui! Passei por alguns momentos de falta de criatividade, tive mais alguns problemas, mas aqui estamos! A reconciliação tão aguardada finalmente vai rolar (Ou começar, pelo menos). Espero que gostem do capítulo e fiquem atentos, pois a aventura logo vai começar!



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Caspian X

— O que ele disse? – Edmundo disparou assim que possível.

— Disse que quer me ver arruinado – Respondi sem mais delongas – Nada além do esperado. Precisamos agir logo: se Ahadash tiver mesmo algo a ver com nossos problemas, vai ter tempo de sobra para planejar mais atrocidades em seu caminho de volta à Calormânia.

— Majestade – Trumpkin se aproximou.

— Sim? – Respondi ao recebê-lo.

— Os telmarinos da cidade estão um pouco nervosos – Noticiou – Os alimentos à venda estão ficando escassos e o não abastecimento pela colheita roubada obrigou os administradores a dificultar o repasse para a feira na vila, o que encareceu os preços.

— Eu posso ir lá se quiser, Caspian – Edmundo se ofereceu – Averiguar a situação, tentar tranquilizar os moradores. Se achar prudente contar da profecia, também posso fazer isso.

— Vamos esperar Pedro acordar – Decidi – Nós precisamos conversar sobre o que ele viu na tenda e sobre o sonho que Lúcia teve com Aslam. Ele pode ter nos avisado algo importante. Depois, decidimos o que dizer aos moradores.

 

Pedro Pevensie

Minha cabeça dava voltas quando finalmente abri os olhos. Sentia uma dor de cabeça terrível, a dor vindo da nuca e as costas estavam muito doloridas, como se tivesse levado uma queda bem feia. Quando minha consciência voltou a mim, logo lembrei que realmente havia caído.

A visão ainda estava turva quando me sentei na cama e percebi que estava na enfermaria do castelo. Foi uma boa ideia de Caspian separar um local para os doentes ao invés de tratá-los em seus aposentos.

— Como está se sentindo? – A voz de Susana chamou. Meus olhos finalmente decidiram se entender para formar uma imagem nítida e fitei os olhos azuis de minha irmã que demonstravam preocupação, apesar da serenidade.

— Tonto, dolorido – Respondi grogue – O que aconteceu? Eu tomei um porre e não me recordo?

Ela sorriu.

— Estávamos no Grande Rio ontem, lembra? – Sentou-se ao meu lado, pegando uma taça no criado-mudo ao lado da cama e servindo-a com água para me dar – Liliandil teve outra crise... – Ela tentou me induzir a lembrar com um tom sugestivo.

Continuei tomando a água até que uma fisgada na nuca atiçou minha memória.

— Pedro! – Susana chamou.

Tudo me voltou. Rápidas e devastadoras como um furacão, as imagens assolaram a minha mente. A corrida contra o tempo para salvar Liliandil, a aparição de Ramandu com aquela postura arrogante e insolente, a tenda no meio do nada e Jadis lá dentro... Cietriz... esse fora o nome que ela chamou. O nome da feiticeira que jogou aquela maldição em Nárnia, só podia ser.

— A feiticeira – Murmurei e Susana não entendeu. Peguei os ombros dela – Dentro da tenda eu encontrei um paredão de gelo igual ao que foi feito no monte de Aslam! – Ela arregalou os olhos – Jadis estava nele, como da outra vez. A feiticeira branca está prestes a ressurgir, aliada à feiticeira que jogou essa maldição em Nárnia!

[...]

 

Lúcia Pevensie

— Ela disse que uma seca não faz bem o seu estilo – Explicava Pedro.

Ele estava sentado na cama. Susana estava ao seu lado na beirada, com Edmundo e Liliandil próximos aos pés do leito, ao passo que Caspian e eu nos colocamos na lateral direita.

— Eu questionei quem era a pessoa que havia entrado na tenda, mas ela desconversou. Quando ameacei destruir o paredão, a mulher apareceu e me lançou um feitiço de ataque que me jogou para fora da tenda. Não consegui ver seu rosto. A única coisa que sei é que se chama Cietriz.

— Cietriz? – Repetiu Edmundo – Que nome estranho.

— Deve ser calormano ou arquelandez – Liliandil deu de ombros – Talvez ele signifique algo para Naim.

— Eu pretendo organizar uma expedição nossa para a Arquelândia a fim de que encontremos a tal lança de água – Caspian noticiou – Apesar de nós não sabermos exatamente quem é o nosso inimigo, já estaremos um passo à frente se estivermos de posse da arma que o destrói.

— Isso é verdade, mas e a feiticeira? – Susana indagou – Se bem me lembro, queriam o seu sangue para libertá-la – Dirigiu-se a Caspian.

— Ela disse “uma gota do sangue de um filho de Adão e você me liberta” – Recordou-se ele – Pelo que entendi, poderia ser de qualquer um.

— E por que ela ainda está presa no gelo? – Perguntei – Quer dizer, até a própria “serpente do deserto” poderia ceder seu sangue para trazê-la de volta.

— Temos muitas perguntas e poucas respostas – Pedro lamentou – Isso pelo menos esclarece a parte da profecia que diz que a serpente “ressuscitará das cinzas a aflição”.

— Deveria ser do gelo – Observou Edmundo.

— Das cinzas só quer dizer que ela é trazida dos mortos, Ed – Susana revirou os olhos. – Bom, e o seu sonho, Lúcia? O que Aslam disse?

Suspirei.

— Eu estava no Grande Deserto, no meio do nada. Só areia de todos os lados. Deparei-me com uma grande serpente que passou a me perseguir. Eu corri muito, desesperada a procura de socorro. Eu caí e quando a serpente estava prestes a me matar, alguém a derrotou. Era Rilian.

— O maluco que tentou matar Susana? – Edmundo exclamou.

— Sim, ele mesmo – Prossegui – O corpo da serpente se transformou em uma mulher que eu não via o rosto, mas o seu jeito... as roupas esvoaçantes, a postura sedutora... eu já vi aquilo antes.

— O que quer dizer? – Caspian indagou – Acha que é alguém que conhecemos?

Hesitei em acusar alguém com base em um sonho que eu sequer tinha visto o rosto. Mas eu confiava nos meus irmãos, em Caspian e em Liliandil. Não poderia esconder isso deles.

— Se fosse para acusar alguém, eu diria que era ou uma das dançarinas calormanas... ou a própria sacerdotisa Katrizia.

— Eu já devia saber – Arfou Susana, irritada – É incrível como eles não se cansam de nos prejudicar! Já perderam inúmeras batalhas através dos séculos, foram ridicularizados várias vezes e ainda assim correm atrás de uma vingança quando lhes oferecemos a paz!

— O desdém e a inveja movem os corações dos homens a loucuras – Liliandil observou – E quando esses homens são reis... levam impérios à perdição.

— Tem mais alguma coisa, Lu? – Pedro perguntou.

— Depois que a serpente se transformou em mulher, o cenário mudou. Eu estava no bosque e Aslam apareceu. Ele me assegurou que Rilian saberia identificar a serpente.

— Como isso é possível? – Caspian protestou incrédulo – Como esse moleque irresponsável e inconsequente poderia reconhecer a feiticeira que amaldiçoou Nárnia?

— Segundo Aslam, foi a serpente quem disse a Rilian que Susana matou Miraz – Contei – Foi ela quem encheu a cabeça dele com mentiras. E, segundo as palavras de Aslam, “da boca dela sairá a voz que a condenará”.

— Eu vou interrogá-lo imediatamente – Caspian fez menção de sair da sala, mas o puxei pelo braço o mais delicadamente possível.

— Eu já perguntei – Assegurei – Ele disse que não a conhecia. Ele estava bêbado – Caspian revirou os olhos – E ela o abordou na rua. Disse que era vidente.

— Isso pode ser mentira – Edmundo advertiu – Dele ou dela. Ou ela só quis por lenha na fogueira e levá-lo a um desatino, ou ele está acobertando alguém.

— Aslam assegurou que ele pode nos levar a pessoa certa! – Eu não estava acreditando que todos ficariam contra mim de novo, sem crer que Aslam tinha falado comigo de verdade.

— Não estamos desconfiando de você, Lúcia – Pedro garantiu – Edmundo e eu tivemos experiência suficientes para cometer o mesmo erro de não ter fé em Aslam e não acreditar no que você diz. – Maneou a cabeça – É no garoto que não confiamos.

— E quando foi que você falou com ele? – Susana perguntou.

— Ela foi nas masmorras tarde da noite! – Pedro acusou como uma criança emburrada e injustiçada que também quer que a mãe brigue com o irmão – Sabe o que poderia ter acontecido?

— Mas não aconteceu nada, Pedro! – Falei o óbvio – Estou aqui e inteira! Além do mais, acho que ele está arrependido.

— Ah, eu duvido muito – Caspian retrucou no ato – Da forma que ele me confrontou na cela, a última coisa que ele está é arrependido!

— Está bem! – Ergui as mãos em rendição – Eu vou parar de defender o garoto para vocês! – Ralhei – Mas pelo menos acreditem nas palavras de Aslam! Não caiam no mesmo buraco duas vezes!

Dei as costas e saí irritada da sala.

Por que eles nunca conseguiam ver as coisas da forma que eu via? Está bem, eles acreditavam que Aslam tinha falado comigo, porém não era lógico pensar que se Aslam disse que Rilian era uma das chaves para a vitória, não deveríamos confiar um pouco nele?

 

Susana Pevensie

— E lá vamos nós de novo – Murmurei – Olha, vocês deveriam ser menos intransigentes.

— Olha só quem fala – Pedro deu de ombros com um sorrisinho e eu lhe dei um murro leve no ombro.

— Eu fui a vítima nessa história! – Ressaltei e levantei-me no leito de Pedro – E nem estou tão revoltada assim com o garoto. Aliás – Virei-me para Caspian – Já decidiu o que vai fazer com ele?

— Com isso que Lúcia contou, nem posso pensar em executá-lo – Cruzou os braços e eu ergui as sobrancelhas.

— E o fato de ele ser seu primo não influencia nisso? – Indaguei.

— Nem sabemos se isso é verdade – Retrucou ele.

— Olha, eu não quero falar mal dos mortos, mas se tratando do seu tio, eu não duvido nada – Maneei com a cabeça – Além do mais, não creio que Rilian seria tão louco de arriscar a vida para nada caso fosse mentira. Ele realmente acreditava que eu matei o pai dele e que por isso acabei com a sua vida e a de seu irmão!

— Não vamos discutir por isso, está bem? – Pediu. Foi só então que senti meus irmãos olhando para nós como meros expectadores da nossa pequena discussão.

Suspirei.

— Bem, quer tomar o dejejum agora? – Perguntei.

— Claro – Seu semblante se iluminou levemente e ele me ofereceu o braço. Quando finalmente o peguei, ele se dirigiu a Edmundo – Depois do café, reúna algum dos nossos amigos para ir com você à cidade. Fica a seu critério contar aos cidadãos sobre a maldição. Só peço que tenha cuidado com as palavras. Não queremos pânico por aqui.

— Pode deixar – Assegurou Ed, que se virou para Pedro – Vou chamar Lúcia e pedir que sirvam nosso café da manhã aqui. Eu não ia deixar meu irmãozinho mandão comer sozinho.

Sorri e Caspian assentiu para mim como se perguntasse se podíamos ir. Eu o acompanhei para fora.

[...]

O caminho até os jardins foi percorrido silenciosamente por nós dois. Caspian me lançava alguns olhares e eu tinha a impressão de que ele conferia meu semblante, talvez com receio de eu estar desconfortável ou chateada em sua presença.

Inicialmente eu havia ficado com raiva; depois, magoada. Agora o que eu sentia era tristeza, acompanhada de alguma esperança de que tudo fosse se resolver.

Caspian era uma pessoa extraordinária, eu não duvidava disso. Apesar de seus defeitos, principalmente a facilidade de aceitar provocações, ele tinha um coração bondoso e eu não duvidava de seu amor por mim. Isso me bastava para tentar mais uma vez.

Quando finalmente chegamos aos jardins, separados do castelo por um corredor aberto em arcos laterais, arfei surpresa e encantada.

Ele havia mandado preparar algo como um piquenique sofisticado. Ao invés de uma mesa com um par de cadeiras ou algo do gênero, havia um grande tapete rosado forrado na grama com muitas e muitas almofadas. Ao centro, posicionava-se uma mesa baixa e larga com toda sorte de pães, bolos, suco, queijos e frutas. Para finalizar, havia muitas, muitas flores. Lírios brancos e rosas vermelhas e cor-de-rosa, um esplendor de delicadeza e ternura.

— Gostou? – Sua voz soou rouca e bem próxima.

— Sim, eu adorei – Encarei seus olhos e ele sorriu para mim, satisfeito.

Permiti-me ter uma conversa agradável com ele enquanto comíamos. Discutimos amenidades, relatos engraçados sobre coisas que aconteceram com ele durante os anos em que não nos vimos, curiosidades a respeito do meu mundo, coisas que nos fizeram rir e desfrutar da companhia um do outro.

Caspian respeitou o meu espaço, conversamos como velhos amigos. Seu olhar era de carinho e atenção e eu sentia naquele olhar que ele estava disposto a fazer tudo dar certo.

Foi quando decidi tocar no assunto.

— Caspian, eu odeio ter que estragar tudo ao tocar nesse assunto, mas... – Hesitei – Foi para isso que viemos.

— Pode falar – Permitiu, preparando a postura para a seriedade que tomaria nosso diálogo.

— Eu posso saber o que foi que houve? – Indaguei – O que mudou? O que aconteceu?

Deu de ombros, o pesar tomando seu semblante.

— Aconteceu que fui um tolo, Susana – Admitiu sem delongas – Um tolo inseguro que sentiu ciúmes do seu passado, de um morto; de não saber quase nada sobre aquela história. Inseguro por Ahadash parecer saber mais do que eu sobre a mulher que eu amo. Um imbecil por deixar que ele jogasse o medo de vê-la voltar para seu mundo outra vez me envolver. – Ele encarou o nada, os olhos levemente marejados – Magoei você porque o deixei entrar na minha mente e me destruir.

Pude sentir a culpa em seu relato, porém sua confissão me fez sentir ainda mais tristeza. Sua confiança em mim era tão frágil assim?

— Se você quiser... – Aquela foi uma decisão difícil de tomar – Eu posso contar o que houve em Tashbaan que me fez fugir e transformar Rabadash em inimigo de Nárnia.

Ele encarou meus olhos por um instante, até que os desviou por um segundo e se voltou para mim de novo.

— Não – Negou. Ergui uma sobrancelha – Eu tenho que aprender a confiar em você sabendo disso ou não.

— Tem certeza de que não quer saber?

— Quero, Susana – Disse simplesmente – É claro que eu quero. Mas... não quero que esse seja o motivo para parar de desconfiar de você.

— Não será se suas intenções forem sinceras – Retruquei. – E, além do mais... já está na hora de eu me libertar disso. – Pisquei um par de vezes – Eu me afastei de toda e qualquer possibilidade de casamento depois do que aconteceu. Quando voltei ao meu mundo, me recusava a ser gentil com qualquer rapaz que se aproximasse, mesmo que sua intenção fosse das melhores. Eu preciso deixar isso para trás se eu quiser ser feliz com você.

— Então crê que se me contar, estará enfrentando isso?

— Talvez – Dei de ombros – Não me custa tentar.

Caspian respirou fundo e se ajeitou no lugar de novo, até que assentiu para que eu começasse. Fitei seu rosto por alguns momentos. Os olhos castanhos cheios de ternura agora transpareciam certa tensão. Seus lábios sérios, sua barba por fazer que eu passara a achar bastante charmosa.

— O príncipe Rabadash de Calormânia chegou em Nárnia como o cavaleiro dos sonhos – Comecei, as memórias divagando em minha mente enquanto falava – Alto, de boa aparência, sorriso e fala cativante, bravo, corajoso, habilidoso com esgrima, deu um verdadeiro espetáculo no torneio organizado por Edmundo. – Lembrava-me de suas batalhas, das vezes em que dedicou suas vitórias ao pai, à Tash, e a mim. – Ele se mostrou bastante interessado em contrair matrimônio comigo e aliançar os reinos. – Bufei – Fiquei encantada com o pedido e ponderei sobre de fato aceitá-lo. Mas Edmundo e Lúcia não confiavam no príncipe.


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Notas finais do capítulo

Eai, gente? Gostaram? Fiquem à vontade para deixar seu comentário, expor sua opinião e se quiser deixar alguma sugestão, alguma ideia, fique à vontade também!
Pretendo postar mais capítulos ao longo dessas férias, mas a criatividade ta me deixando na mão kkkkk
Beijos!



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