Spark escrita por Lady M


Capítulo 1
Capítulo 1: O incidente


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem! =^.^=



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Pov Adrien Agreste

Nada como uma manhã lotada de fotos e horários apertados. Uma noite mal dormida não parecia ser um grande problema para as meninas da maquiagem, ia ser a primeira coleção do seu pai junto com a aprendiz. Adrien nunca tinha visto a tal da Ladybug pessoalmente, era o que todos na mansão Agreste acreditavam, ele a viu algumas vezes durante aquele ano. Ela chegava sempre na limousine junto com Gorilla, no mesmo horário, a garota era sempre pontual, ele a viu de relance e pode vislumbrar o cabelo dela preso em uma maria chiquinha, também viu ela indo embora a pé debaixo de um guarda chuva vermelho segurando seu portfólio com bastante cuidado. O loiro gostava dos desenhos dela e da maneira que ela conseguia distrair o seu velho. Mesmo que a presença dela não passasse de uma imagem que ele via parcialmente quando tinha sorte.

Gabriel Agreste tornou-se um homem muito frio e fechado depois da morte da sua esposa. Emilie Agreste era seu motivo para viver, desenhar, criar peças e dar vida aos sonhos e aspirações de estilista dele. Gabriel amava a esposa, assim como ama o filho, mesmo que se sentisse deixado de lado as vezes, Adrien sabia que o seu pai zelava por ele. Emilie morreu quando Adrien tinha doze e agora que ele tinha completado seus vinte e cinco anos, entendia melhor os posicionamentos do seu pai durante a sua adolescência, sempre enchendo ele de tarefas para que ele não tivesse tempo de afundar-se na dor.

Mesmo tentando Gabriel nunca deixou de ser rígido com Adrien que sentia-se obrigado a orgulhar o pai da maneira que fosse. Ele fez aulas de chinês, língua que ele domina com fluência, assim como o inglês e o alemão. Fez aulas de esgrima, sendo campeão em muitos torneios de Paris. Mesmo que a agenda dele fosse apertada ainda participava de muitos concursos de música clássica, assim como seu pai ele tocava piano e colecionava os troféus. A única área onde ele não era bom, era na criação de peças, ele nunca dominou os traços dos desenhos, os nomes das cores, nem o reconhecimento de diferentes tecidos. Ele só servia para ser modelo. Sabendo disso passou a adolescência investindo em sua carreira e atualmente é um dos modelos mais conceituados de Paris, sendo a cara oficial da grife Agreste. Conciliou os desfiles e sessões de fotos com as aulas na Universidade Françoise Dupont de administração, formando-se aos vinte e dois anos com méritos e honras.

Gabriel Agreste não tinha um sucessor estilista e por isso resolveu lançar um concurso na Universidade Françoise Dupont para o curso de designer de moda, as peças e desenhos exibidos neste concurso foram avaliadas pelo seu pai pessoalmente e foram confeccionadas pelas turmas, tanto iniciantes como as do final do curso. A vencedora assinava como Ladybug e tinha aulas com Gabriel as sete chaves, a identidade da aspirante a estilista era guardada como um segredo de estado, naquela casa os únicos que conheciam a Ladybug oficialmente e de frente eram Natalie, Gorilla e o próprio Gabriel. Adrien corroía-se de curiosidade sobre a jovem, o perfil, a sombra e as costas dela eram suas constantes lembranças.

Talvez naquele desfile pudesse ter alguma noção de quem era aquela jovem tão talentosa. Seu pai vivia elogiando-a pelos traços precisos, pelo bom gosto para cores, pela maneira sutil com que ela trabalhava nas peças que criava com ele. Adrien foi tirado dos seus pensamentos quando teve que encaminhar-se para os camarins. Subiu em um dos três tablados abaulados perto das araras de roupa, do lado dele surgiram Lila Rossi e Kagami Tsurugi, elas iriam desfilar com ele naquela noite. Para surpresa dele, Nino e Nathanael também estavam ali. Nate cuidava da decoração do ambiente e Nino cuidaria do som.  

Nino era o melhor amigo de Adrien desde a escola, os dois andavam aprontando juntos, sempre arrumavam uma festa e foi ele que ajudou Adrien a fundar a Plagg. Nathanael virou amigo dele quando ele foi no clube de artes da escola, lá ele ajudou na confecção da logo da banda, a pata de gato preta no fundo verde, sem eles o segredo não teria ganhado vida. Assim como dos próprios integrantes da banda.

Gabriel apareceu e a temperatura do ambiente caiu dez graus, as modelos ficaram tensas e os funcionários começaram a trabalhar mais depressa para saírem da mira dos olhos azuis e analíticos dele. Adrien não se deixou abalar pelas críticas de seu pai, sabia que deveria ter dormido mais na noite anterior, mas ele precisava apresentar com a banda dele em um bar no subúrbio de Paris. Com um descaso simples Gabriel Agreste começou a dar os toques finais nas peças de roupa que as modelos vestiam, ele tinha ao seu lado a ajuda constante de Natalie que o atualizava de cada detalhe sobre o andamento da organização do desfile.

Adrien estava esperando que Gabriel fosse indicá-lo as roupas e acessórios mas foi uma garota que veio em sua direção. Os fios preto-azulados, os olhos azuis e incrivelmente sinceros, os lábios rosados, os traços mostravam claramente que era uma mestiça, francesa com chinesa, ele estimou ao fitá-la dos pés a cabeça. Linda e de estatura pequena, ele era bem mais alto do que ela e ainda estava em cima daquele tablado, onde podia olhar para ela de todos os ângulos. Estava vestindo uma calça rosa clara, a blusa branca com o desenho de duas flores como estampa perto do ombro dela, o cabelo dela estava preso em um coque por uma caneta, nos ombros uma fita métrica estendida, os olhos dela escaneavam Adrien tomando medidas.

Uma assistente nova do seu pai, concluiu ele ao terminar de analisá-la.

Ela não o cumprimentou como ele esperava, nem suspirou por ele como a maioria das garotas e mulheres que colocavam os olhos sob ele. Sentiu-se ignorado pela primeira vez na vida. Os olhos dela só voltavam-se para ele quando ela parecia meditar sobre as roupas que ele vestiria, ela por fim terminou de distribuir os acessórios e peças de roupa nas araras.

Ela trouxe para ele uma calça preta, uma blusa branca e uma jaqueta de couro preta com um corte incrivelmente sexy.

A mestiça disse convicta:

— Acho que para alcançar uma primeira impressão impactante dos críticos essas peças vão servir.

Adrien deu de ombros e despiu-se na frente dela, as modelos soltaram suspiros de aprovação, mas a mulher na sua frente virou-se de costas escolhendo uma pulseira de couro preta e nem notou aquele pequeno show que ele estava fazendo para prender a atenção dela. Quando ele tinha terminado de se vestir ela aproximou-se dele colocando a gola da jaqueta para cima, mas para isso ela teve que subir no tablado e ficar na ponta dos pés. Ela estava prestes a tomar um tombo fenomenal quando Adrien pegou-a pela cintura, fazendo ela olhar dentro dos olhos dele.

Ela murmurou desconexa:

— Verde esmeralda ou verde lima?

As mãos dela estavam sob os ombros dele, mesmo com a jaqueta ele sentiu aquele toque queimá-lo e soltou-a.

Ela despertou do transe e gaguejou:

— O-obrigada por não me deixar, por me deixar perto de você, quero dizer por não me deixar cair.

Adrien sorriu, ali estava a reação comum da população feminina quando olhava para ele, a confusão, a gagueira, os suspiros, os olhos brilhantes de desejo, reações que ele entendia e gostava de aproveitar quando era um vocalista de uma banda de rock. Para o desgosto do loiro ali ele era o imponente Adrien Agreste e não poderia ser visto com uma mera assistente.

Sorriu displicente e respondeu com certa ironia:

— Sem problemas “princesa”, só não se costuma.

A mestiça franziu a testa e saiu do tablado para ajudar as outras modelos. Pela planilha que Adrien vislumbrou nas mãos de Natalie eram três modelos por camarim e ao entrar no andar e corredor do hotel reservados para os funcionários do desfile ele notou quatro quartos com placas douradas, quatro camarins, então doze modelos iam fazer parte daquela noite. Desde que nenhuma delas fosse Chloé Bourgeois ele ficaria tranquilo.

 

Pov Marinette Dupain-Cheng

Marinette sentia-se ansiosa e amedrontada ela teria seu primeiro desfile ao lado do seu mentor Gabriel Agreste. Marinette estudou tanto para aquele momento, um ano inteiro para ser mais exata. Ela ansiou por isso em segredo, a única pessoa que sabia dessa loucura era sua melhor amiga Alya e sua hamster de estimação Tikki. Marinette não teve coragem de destruir os sonhos do seu pai em relação a padaria deles, sua mãe seria mais compreensiva, mas seu pai ficaria claramente decepcionado com a escolha da filha e com a mentira que ela contou. Marinette não se formou em gastronomia, mas em designer de moda, para tornar-se uma estilista de sucesso, estudou com Gabriel Agreste durante seu último ano de curso e teria suas peças apresentadas para o mundo da alta costura naquela noite. Uma estilista recém formada sonhando bem alto, ela sabia disso.

Ela sentia-se sortuda por ter passado naquele concurso e amava ter aulas com Gabriel, ele entendia a paixão dela pela moda, pela criação de algo inédito, no começo ele foi totalmente frio, mas depois de dois meses eles começaram a tratar-se melhor e Marinette o fez rir. Gabriel Agreste famoso por ter um iceberg no lugar do coração era na verdade aquele tiozão que gostava de falar sobre músicas, livros e principalmente filmes antigos, essa paixão por cinema Marinette compreendia, afinal a falecida esposa dele era uma atriz renomada de Paris. O único tabu para ele era o filho, Adrien Agreste eleito três vezes o homem mais sexy do ano na revista Rolling Stones, campeão de esgrima internacional, o pianista  prodígio da orquestra parisiense e o modelo com o maior fã-clube de Paris. Marinette era uma de suas fãs de carteirinha, na adolescência colecionava muitos pôsteres do loiro. Mesmo que ela tivesse aulas na mansão Agreste nunca esbarrou com Adrien pelos corredores e se um dia isso acontecesse teria que ser totalmente profissional. Marinette tinha ciência de que era a sucessora de Gabriel como estilista, mas seu filho é o seu sucessor nos negócios, por tanto Adrien não era apenas o seu modelo base, como também o seu chefe.

Naquela manhã Marinette ajudou a preparar os croissants que foram encomendados para o desfile que seria realizado no hotel Le Grand Paris, o desfile de estreia da Ladybug. Não era uma negação total na cozinha porque amava misturar os sabores e também tinha feito um curso de confeitaria a distância, para amenizar os danos quando o pai dela descobrisse a verdade. Ajudou os pais nas entregas daquele dia e quando o horário do desfile aproximou-se, ela disse que iria ajudar Alya a cuidar das irmãs mais novas naquela tarde, a mãe de Marinette não estranhou e despediu-se da filha.

Gorilla buscou Marinette e sua mochila cor de rosa na praça central da cidade, ela não queria que ninguém desconfiasse de nada por isso usou as roupas que tinha o costume de vestir em seu cotidiano. Ela ainda não se sentia pronta para deixar seu pseudônimo de Ladybug, então seria tratada como qualquer assistente durante aquele desfile. Marinette ainda precisava firmar-se de verdade dentro do mundo da moda para ter coragem de dizer aos pais que não seria sua sucessora nos negócios.

Entrou no hotel e foi bem recebida por Gabriel, andou com ele e Natalie recebendo a programação completa do desfile, ela sabia onde deveria estar cada cadeira e convidado daquele evento. Sabia o nome dos modelos e a escalação de cada camarim com seus respectivos assistentes, mesmo assim ela e Gabriel deveriam entrar em alguns deles para dar os últimos toques.

Mari foi apresentada ao assistente de som e iluminação Nino Lahiffe, ela o conhecia de outro lugar, uma festa que aconteceu em uma balada popular de Paris, Nino desde aquele dia era a paixão da sua melhor amiga Alya, a morena vivia indo às festas e eventos que o moreno promovia arrastando Marinette junto. Depois dessa apresentação onde os dois fingiram não se conhecer, ela foi apresentada a um ruivo que ajustava os pingentes de um grande lustre sob a passarela central que dividia-se em duas e circulava as cadeiras que seriam as dos críticos, separando-as dos outros convidados daquele desfile.

O ruivo de olhos incrivelmente azuis desequilibrou-se na ponta da escada quando fitou a figura de Marinette. Ele ficou completamente corado e sem ação, o pior não foi o quase tombo dele mas o leve fraquejar diante o olhar gelado de Gabriel, ele sabia intimidar muito bem com os olhos, e as expressões de censura dele são assustadoramente cruéis.

Gabriel disse em tom debochado dirigindo-se a Natalie e Marinette:

— Pobre rapaz, me lembro de quando conheci Emilie, quase fui atropelado no set de filmagens segurando os figurinos.

Natalie assentiu corando de leve  e Marinette sorriu respondendo em tom zombeteiro:

— Você está enganado dessa vez Sr. Agreste, tenho certeza que ele só está constrangido porque quase caiu na frente do chefe dele, não tem nada a ver comigo ou com corações flechados por algum diabinho de asas.

Gabriel deu de ombros.

— Marinette você sabe muito bem que eu não erro.

Ela riu dele.

— Não erra cortes, medidas, traços, mas amor e paixão são coisas imprevisíveis e você pode estar sim redondamente enganado, a vida real não é uma comédia romântica.

Gabriel bagunçou os fios de cabelo de Marinette em um gesto paterno e carinhoso, a mestiça sorriu para ele e andaram juntos até o primeiro camarim. Os modelos dos dois primeiros camarins eram iniciantes, sem um nome ainda no mundo da alta costura, o que os fazia serem simpáticos com todos, mas no terceiro camarim Marinette teve que lidar com a desagradável, mimada e rude Chloé Bourgeois ela destratou das assistentes e da amiga dela que estava dentro do camarim, uma tal de Sabrina. Chloé assim como Adrien era a representante de uma grife famosa, mas de lingerie, as lingeries assinadas por Audrey Bourgeois eram as mais caras e glamorosas de Paris.

Marinette teve que engolir insultos dela as suas roupas, para Chloé a mestiça precisava dar um jeito no cabelo, segundo a loira o cabelo dela estava sem um corte que enquadra-se na moda. Depois desses belos elogios da loira, Marinette prendeu os fios preto-azulados em um coque e firmou ele com uma caneta que ela estava usando para marcar a lista de detalhes que Gabriel entregou para ela. Marinette a faria engolir aquelas palavras deixando-a linda e deslumbrante, assim Chloé ficaria de joelhos pela Ladybug e suas peças. Fazendo a mestiça sentir-se útil e poderosa.

Marinette pegou uma blusa de alcinhas branca, o decote dela era reto assim como o das costas, a calça jeans cinza escura e de cintura alta, valorizando a barriga chapada da loira, os botões do jeans dourados, seis de cada lado, uma gargantilha de renda branca com um colar dourado preso nela, o pingente com o formato de um ferrão de abelha. Chloé é como uma abelha rainha. O brinco combinando com o pingente do colar, três anéis dourados com formato de coroas, um diamante solitário entre esses três anéis, para quebrar o dourado, uma blusa de frio para ela deixar deslizar pelos ombros quando fosse fazer alguma pose na passarela, o tom da blusa era amarelo com alguns paetês dourados nos ombros e punhos da blusa de frio, o fecho dourado.

Chloé ficou deslumbrada com o resultado, a equipe de maquiagem deixou a sombra dela com o dourado marcado, os olhos azuis dela estavam perfeitos com um delineado preto sob a sombra, os lábios divinos, o cabelo solto com cachos nas pontas caia perfeitamente na blusa de frio e fazia ela sentir-se como uma rainha. Até que aquela assistente do Agreste era competente, sua mãe gostaria de ter assistentes competentes como aquela nos desfiles das Lingeries Bourgeois. 

Chloé não era de distribuir elogios que não fossem para si mesma e não mudaria isso naquele momento.

— Olha Sabrina como estou divina.

Sabrina, assistente pessoal de Chloé, veio do fundo da sala trazendo o copo de água gelada que ela pediu. 

Ela concordou:

— Está incrível Chloé, você será o assunto dessa noite.

Chloé sorriu amplamente e Gabriel deu um meio sorriso para Marinette, algo que a mestiça sabia que era um claro sinal de aprovação. Saíram juntos e Gabriel pediu para que Marinette pegasse uma fita métrica para ele que entrou no camarim antes dela. Marinette foi até Natalie com quem pegou a fita e colocou desenrolada no pescoço, os detalhes e últimos ajustes daquele camarim seriam todos de Gabriel, mas houve um contratempo, algo que o Sr. Agreste detestava era incompetência e falhas. Uma assistente ficou resfriada e não pode comparecer naquela noite, conversando com Natalie, Marinette sugeriu que ela ficasse no lugar da assistente, mesmo sabendo que só veria o desfile dos bastidores e não da maneira que deveria. Gabriel não gostou da ideia de privar sua pupila de ver o primeiro desfile das suas peças, mas seria necessário se eles quisessem que tudo saísse perfeito. Ele aceitou a ideia e entrou novamente no camarim acompanhado por Marinette e Natalie.

Marinette notou que naquele camarim só havia modelos conceituadas, Lila Rossi a famosa modelo de descendência Australiana, linda e esbelta os olhos verdes e a pele levemente dourada, os fios do cabelo dela eram lindos e sedosos, internamente Marinette agradeceu por ter prendido o cabelo dela com uma caneta. Gabriel foi na direção dela e a outra assistente estava cuidando do vestido vermelho tomara que caia de gala que ela tinha desenhado especialmente para Kagami Tsurugi umas das campeãs de esgrima do campeonato parisiense, ela era uma atleta e tanto, e de uns tempos para cá tornou-se uma das modelos com traços asiáticos mais famosa do mundo.

Aquele camarim estava repleto de glamour e Marinette percebeu que o tablado do meio seria o dela. Os fios loiros e os ombros largos que ocupavam quase todos os desenhos de roupas masculinas que Marinette produziu para aquele desfile denunciaram o modelo. Adrien Agreste, perfeitamente lindo e simétrico, o sonho de quase todo estilista de Paris. Marinette lembrou-se de que deveria ser profissional, passou por ele e não notou a maneira que ele a media, só dirigiu sua atenção para o loiro quando precisou medir os ombros dele novamente. Escolheu o primeiro conjunto para quebrar o padrão de roupas que Adrien costumava desfilar, naquela coleção ele não seria vendido como o príncipe dos sonhos de toda mulher. O estilo e a proposta desse desfile eram urbanos, Adrien sairia vestido como o bad boy mais sexy que aquela cidade já teve o prazer de conhecer.

Ela entregou as roupas para ele e partiu na busca dos acessórios, não que ele precisasse de muita coisa, os olhos e o sorriso dele acompanhados de um andar com  atitude seriam o suficiente para convencer a plateia de que ele era um arrasador de corações e protagonista de sonhos molhados. Marinette só precisava deixar aquela gola mais despojada. Ela subiu no tablado e arrumou a gola ficando nas pontas dos pés, as mãos dela subiram pelos ombros dele e ela ignorou aquela sensação de frenesi por estar a centímetros da boca dele. Estava perfeito, ele estava muito mais do que incrível com aquela roupa, Gabriel tinha razão quando resolveu cortar a gola com aquela curva sutil, o zíper dourado realçava muito mais do que o prata. Estava distraída pelo conjunto da obra, a beleza da roupa que ela desenhou e costurou com a beleza da melhor criação do seu mentor, quando tropeçou e sentiu as mãos fortes de Adrien segurá-la pela cintura.

Marinette não conseguiu ignorar a profundidade daqueles olhos verdes. Adrien Agreste era lindo nas fotos, na televisão, nos pôsteres que ocupavam as paredes do seu quarto, nos cards que vinham nos chicletes, mas pessoalmente ele atingiu outro patamar. O verde daqueles olhos era vivo, ela podia sentir a intensidade deles, como cofres que escondem as fortunas mais preciosas, os segredos mais sombrios, uma alma que rugia por liberdade. Um verde que lembrava dois tons, um vibrante e o outro menos intenso, mas não menos perigoso.

Ela murmurou perdida dentro desses pensamentos:

— Verde esmeralda ou verde lima?

As mãos de Marinette apertaram os ombros dele em uma tentativa falha de tornar aquele momento menos surreal para o seu cérebro. O couro negro da jaqueta estava gelado, como em uma reação em cadeia quando ela afrouxou o aperto ele a soltou também.

Ela despertou do transe e gaguejou:

— O-obrigada por não me deixar, por me deixar perto de você, quero dizer por não me deixar cair.

O que ela estava fazendo? Gaguejando? Corando? Se Gabriel estivesse observando aquela cena ele estaria vendo querubins em volta da mestiça, ele faria piadas sobre amor a primeira vista e outras coisas idiotas que apenas deixariam-na constrangida.

Adrien sorriu e Marinette teve que se conter para não arfar, suspirar ou cair de amores por ele. Adrien era só um rostinho bonito, nada mais, ela não podia perder a confiança do Gabriel por causa de um manequim cheio de dentes brilhantes. Marinette lia as revistas e tabloides, conhecendo assim a fama de insensível, distante, arrogante e egocêntrico do loiro.

Depois de sorrir nitidamente desconfortável, ele respondeu irônico:

— Sem problemas “princesa”, só não se costuma.

Marinette perguntou-se de onde ele tirou intimidade para tratá-la com ironia, ela resolveu que era melhor não render com ele, quanto menos tempo perdesse com Adrien, melhor seria a sua noite. Ignorou-o até o início do desfile, mesmo que o loiro não fizesse esforço nenhum para ser agradável. Antes dele entrar na passarela ela notou o olhar gélido de Gabriel para o filho. Adrien não se abalou com aquilo, mas Marinette sentiu-se um pouco incomodada com a situação.

O resto do desfile correu bem, os modelos interagiam livremente pela passarela, aderindo e criando um movimento urbano, muitos dos novatos misturavam-se com os veteranos sem nenhum medo ou nervosismo, algo natural que realçava as peças de roupa. Ela via o olhar atento dos críticos ora ou outra dos bastidores, mas tentava controlar o próprio nervosismo. No fim do desfile apenas Gabriel Agreste entrou na passarela sendo bombardeado na saída do desfile por perguntas e entrevistas sobre a talentosa e brilhante pupila Ladybug. Marinette ficou para ajudar a organizar as últimas araras de roupas. 

Os funcionários remanescentes estavam ajudando-a isso incluía o ruivo que quase se esborrachou.

Ele sorriu para Marinette.

— É um prazer te conhecer pessoalmente, sempre te observei passar de longe pelos corredores da universidade.

Marinette olhou mais atentamente para ele, ruivo de olhos azuis profundos. Alya estudava no departamento de jornalismo mas sempre almoçava com Mari no departamento de belas artes, onde ela ia desenhar para aprimorar os seus esboços e croquis, a melhor amiga dela sempre dizia que Marinette tinha um admirador nada discreto. Será que era ele?

Antes que ela respondesse um moreno alto com mechas azul aproximou-se deles.

— Nate isso soou altamente stalker. Se quer encantar a garota e deixá-la impressionada deveria começar de outra forma.

Quando os olhos deles se encontraram a postura do moreno mudou abruptamente.

— Marinette?

Ela soltou uma ampla gargalhada, Luka era o seu vizinho guitarrista, irmão mais velho de sua amiga Juleka. O crush da vizinhança, por ser dois anos mais velho e depois por ter uma banda de garagem, foi assistindo ao Show dessa banda que Marinette tornou-se fã das músicas compostas por ele. Plagg fazia bastante sucesso em Paris, mas eles não tinham ambições maiores, eles gostavam de poder escrever e tocar as próprias músicas sem a interferência de um empresário ou as metas e cobranças do mercado musical. Eles iriam abrir o show do Jagged Stone um dos roqueiros mais incríveis de todos os tempos. O que só mostrava que a falta de ambição deles os engrandecia.

Marinette e Luka tinham gostos musicais parecidos, mas o talento para arte era um pouco distante. Marinette passou o ensino médio todo sonhando com um certo modelo deixando Luka sempre como um crush de segunda opção, mas ele entrou na universidade de música no mesmo ano em que ela entrou em designer e o mundo de festas acabou fazendo-a olhar para ele com outros olhos, mas Luka sempre agia como um irmão mais velho protetor em relação a ela, transformando o rolo deles em uma amizade sincera.

— Oi Luka.

Nino juntou-se ao grupo e eles começaram a falar da banda, fazendo Marinette notar que da formação deles apenas um integrante usava nome artístico e escondia a identidade, o bendito vocalista não estava por ali, concluiu a mestiça. Marinette afastou-se do grupo para poder conferir se ainda faltava algo, mas chegando perto dos camarins ela acabou presenciando o final de uma discussão entre Chloé e Adrien.

A voz da modelo estava carregada pelo choro:

— Não pode terminar comigo assim Adrien. Nós nem começamos a namorar na mídia, seu pai e minha mãe estão pensando em uma linha que unisse as duas grifes, mas se nós não namoramos, mesmo que de mentira a publicidade vai pelos ares.

A voz dele respondeu em tom impassível:

— Não só posso, como terminei a mais de um mês Chloé, não sei porque ainda continua insistindo nesse relacionamento doentio e falido. Não vai ser uma mentira que vai sustentar as nossas diferenças de opinião. Você ainda é a mesma patricinha fútil da nossa infância, você não cresce, não evolui?

Os soluços de Chloé preencheram o corredor.

— Isso só vai terminar quando eu disser que acabou, entendeu Adrien. Quando eu disser.

A loira saiu do corredor quase derrubando a mestiça pelo caminho, não dando a mínima para isso, ela continuou correndo até alcançar a porta do elevador. Marinette sentiu o ar dentro do pulmão ficar preso, a boca amargar e sentiu-se constrangida por estar ali. No final os tabloides nem sempre tinham razão, pelo menos, não em relação ao relacionamento perfeito entre aqueles dois.

 

Pov Adrien Agreste

Chloé era uma louca carente e mimada, não que ele não fosse as duas coisas também, mas Adrien sabia a diferença entre afeto verdadeiro e aquele relacionamento doentio deles. Ele precisava sair dali antes que algum dos funcionários do pai dele o vissem. O show da Plagg de hoje era mais para espairecer do que para agradar o público. Estava saindo do camarim a meia luz quando a mestiça de mais cedo apareceu na porta. O cabelo dela ainda estava preso pela caneta, mas agora não tinha um fita métrica no pescoço, só uma mochila sob os ombros. Pela expressão no rosto dela ele deduziu que ela estivesse ouvindo o pequeno desentendimento entre Chloé e ele. O que não ajudava a melhorar a má impressão que ela teve dele mais cedo.

Ele tentou descontrair o clima estranho:

— Não tem nada de errado no camarim, já levaram tudo “princesa”.

As mãos dela apertaram as alças da mochila branca de paetê dela.

— Obrigada por averiguar Sr. Agreste, meu nome é Marinette a propósito.

Adrien franziu o cenho quando ela não o chamou pelo primeiro nome.

— Pode me chamar de Adrien, Marinette.

Ela negou com a cabeça e afastou-se dele no corredor. Ele viu ela se despedir dos outros membros da Plagg e dar um beijo na bochecha do guitarrista. Será que ela é a namorada do Luka? Uma dúvida que assolaria o loiro durante aquela noite.

Adrien perguntou:

— Bora? Já estamos uns dez minutos atrasados.

Nino respondeu:

— A culpa é toda sua donzela, nós já estamos prontos para ir.

Adrien entrou na vã de Luka, Nathaniel tinha feito uma pintura estilizada nela para ser o transporte oficial deles, com as cores verde e preto. Sentado perto da janela Adrien pode observar a silhueta conhecida de uma mulher de vestido vermelho entrar no banco do passageiro do carro prata que Gorilla dirigia, confirmando para Adrien que a Ladybug esteve mesmo no desfile daquela noite. Depois descobriria a identidade dela, agora precisava prezar pela própria. Vestiu o moletom com orelhas de gato preto, uma calça jeans escura, o all-star preto de cano médio, desalinhou os fios loiros para virarem uma bagunça, colocou uma máscara preta. Ele gostava do visual do Cat Noir, divergia amplamente da imagem perfeita de Adrien Agreste, mas naquele desfile ele pode ser mais Cat Noir do que Adrien, o que aumentava a vontade dele de saber quem era a Ladybug para agradecê-la por livrá-lo, mesmo que momentaneamente, dele próprio.

Chegaram no bar onde tudo começou, o primeiro show da Plagg foi ali, no bar Miraculous. Ali ele era apenas o Cat Noir, sem pressão, sem expectativas infinitas, sem códigos de conduta absurdos e padrões de perfeição inalcançável. Ele subiu no palco e ajudou a ajustar os instrumentos. Luka na guitarra, Nate só cuidava dos ajustes técnicos, Nino mexia nas caixas de sons, Rose era a baterista mais legal que ele conhecia, mesmo sendo gentil e delicada ela arrasava nas batidas, Juleka no baixo e ela era a segunda voz, Cat Noir era o vocalista e tocava teclado nas músicas que Juleka cantava como primeira voz, Kim raramente aparecia, mas quando aparecia ele entrava tocando gaita. As letras eram escritas por Luka, Cat Noir e Rose.

A banda notou o bar começar a lotar, aquela noite as pessoas poderiam ir de máscaras para o Miraculous, podendo comemorar os quatro anos da banda. Muitas mulheres ocupavam as primeiras mesas, mas Nino reservou uma na lateral do palco perto da mesa de som, segundo o moreno, era para sua fã número um, uma tal de Alya. O show correu tranquilo, as músicas eram cantadas pela plateia com vigor, mas as garotas estavam esperando uma música em especial. Perto do fim do show Cat Noir dançava uma balada romântica cantada por Luka e Juleka com uma das fãs que ele escolhia ao acaso, mas quando os olhos dele bateram no mesmo vestido que ele viu entrar no carro prata ele não resistiu em chamá-la. Aquela se ele não estivesse enganado era a sua salvadora?

Mesmo de costas ele notou como era esguia e curvilínea, talvez seu pai não tenha só escolhido uma pupila, mas uma madrasta para ele, uma madrasta não, ela era claramente muito nova para o seu pai, se aquela fosse mesmo a Ladybug, talvez seu pai estivesse escolhendo a própria nora. Os fios do cabelo dela seguiam lisos pelas costas dela, até na altura dos ombros, lindos fios preto-azulados e o corte em camadas valorizava os fios que dançavam com a pouca iluminação do bar. A pele branca saltando sob o vestido vermelho, o corpete justo marcava as curvas da cintura dela, a saia descia rodada e longa, parecia uma princesa de conto de fadas. Como ele podia estar atraído por uma princesa sendo um gato de rua patético? Ele repudiava a imagem da perfeição porque ele sabia que ela era uma bela mentira, mas ali estava ele, caindo de joelhos por uma Princesa perfeita.

Com os olhos pregados na silhueta dela ele disse:

— Hoje vou dançar com uma princesa, se ela aceitar o coração desse gatinho abandonado.

Cat desceu do palco sendo acompanhado pelo suspense entre as fãs, parou atrás da cadeira da dama de vermelho que virou-se para ele porque a amiga dela apontou para o mesmo. Os olhos dela eram azuis e tranquilos, a máscara vermelha adornada por paetês pretos a deixava esplêndida. Ele podia não ser um bom estilista, mas sabia reconhecer uma peça bem feita quando via uma, o que era o caso daquele vestido, de costas ela era uma princesa e de frente uma deusa, o vestido era curto na frente, com detalhes de bordado preto. Uma joaninha e um gato, agora podia dar certo.

Os olhos dela o analisaram e ele ajoelhou na frente dela oferecendo a mão dele para ela que meio relutante aceitou, as fãs explodiram em gritos e a melodia começou a ser cantada e tocada. Cat Noir permitia que Adrien curtisse aquele momento sem se preocupar de fato com que as pessoas pensariam dele. Dançou colado nela e ela não pareceu querer afastar-se dele, depois daquela música ele geralmente ia embora dos shows, mas nesse ele queria ficar, para poder conversar com aquela mulher misteriosa. A música acabou e eles se afastaram. Quando o show terminou Nino colocou o aparelho de som para funcionar e deu uma de Dj, a garota que estava com a joaninha, era para surpresa dele, a tal do Nino. Então Adrien aproveitou-se dessa deixa e se pôs a conversar com a mulher de vestido vermelho.

— Gostando da festa princesa?

Ela deu um sorriso meio acanhado.

— Não gosto de ser chamada de princesa e hoje você é o segundo a me chamar assim, mesmo que vindo de você pareça um elogio.

Adrien também não estava acostumado a chamar ninguém de tal forma, mas naquele dia estava fazendo isso pela segunda vez, a primeira foi para desconcertar a assistente do seu pai, e a segunda foi porque ela lembrava mesmo uma princesa.

Mas não era só pela beleza dela que ele estava ali, Adrien queria saber se ela era a Ladybug.

Resolveu jogar verde:

— Prefere ser chamada de Ladybug eu suponho.

Os olhos dela quase saltaram das órbitas.

— Co-mo?

Ele sorriu triunfante.

— Ladybug, a estilista revelação de Paris.

Ela parecia estar pronta para fugir naquele momento.

Adrien a tranquilizou:

— Seu segredo está salvo comigo my Lady.

Ela suspirou de alívio e perguntou:

— Como percebeu, Cat?

Dando de ombros ele respondeu:

— Foi apenas um palpite. Sua roupa lembra vagamente uma joaninha.

Ele não podia arriscar dizer que a viu saindo do desfile, porque ela podia querer saber quem ele era e o que ele fazia ali. Começaria então a suspeitar dele e Adrien não podia abrir mão da sua identidade secreta, mesmo que fosse para ela.

Ela sorriu e brincou com as cordinhas do capuz dele.

— Fui eu que desenhei e costurei esse seu moletom, sabia Chaton?

Adrien franziu o cenho, aquele moletom era do Luka, antes do loiro gostar do modelo e roubar ele. Amigos são para essas coisas, o Luka também roubou uma jaqueta de couro dele.

Ela desceu as mãos pelos ombros do loiro fazendo-o ansiar por agarrá-la.

— Ainda bem que fiz ele com medidas maiores, você é claramente maior do que o Luka, Cat.

Adrien sentiu-se com ciúmes de si mesmo pela primeira vez. Ele queria ouvi-la chamando-o pelo nome dele e não por um pseudônimo, assim como ansiava por saber o nome dela. Ela afastou as mãos dos ombros dele. Nino e a sua fã-girl aproximaram-se deles.

— Estamos indo embora, algum de vocês vai querer carona?

Adrien respondeu:

— Não preciso não Nino. E você Bugaboo, tem com quem ir embora?

A fã do Nino arregalou os olhos para amiga que deu de ombros. Então Ladybug tinha uma confidente além dos aliados da mansão.

— Não, hoje não vou voltar para minha casa.

Eles se despediram do casal e continuaram ali fazendo companhia um para o outro e conversando sobre trivialidades. Saíram juntos do bar, parando de baixo do grande letreiro de neon. Miraculous piscava incessantemente sob suas cabeças.

 

Pov Marinette Dupain-Cheng

Um desfile lotado e ninguém desconfiou da identidade dela, uma noite em um bar e o vocalista da Plagg descobre seu pseudônimo. Marinette estava com certo azar naquela noite, mas assim que saiu do bar na companhia do cantor gatuno sentiu-se mais leve. Os dois estavam debaixo do grande letreiro de néon da Miraculous. Marinette estava esperando o Gorilla, ele a levaria para casa naquela noite, ordens do Gabriel que ficava preocupado quando ela saia assim sem segurança, algo que dava para Marinette uma amostra da superproteção que Adrien Agreste deveria sentir com demasiada frequência.

O letreiro fez um barulho de estouro, faíscas e um grande clarão. Marinette não teve tempo de assimilar só sentiu seu corpo ser puxado e depois prensado no chão, o que foi um choque. Sentiu uma enorme corrente elétrica percorrer-lhe o corpo e depois a cabeça dela começou a doer. Um grande clarão misturando verde lima e esmeralda, depois um escuro inebriante. Quando abriu os olhos percebeu o vocalista da Plagg com os dois braços entrelaçados no corpo dela, ele estava desacordado e Marinette teve medo. Será que aquele letreiro tinha caído neles?


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Notas finais do capítulo

Eaí?!?
Bjss até o próximo =^.^=



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