Marchando com seus saltos ridiculamente altos, uma revista de capa cor-de-rosa enrolada debaixo do braço e uma saia curta demais para a sua idade e de um gosto bastante duvidoso, Ino fazia um contraste gritante com o público a sua volta.

— Me explique mais uma vez porquinha, o que estamos fazendo aqui mesmo?— Ao contrário da minha amiga, eu optara por trajes não muito destoantes: tênis, calça legging e um moletom. Mesmo sabendo que eu não entraria em campo de tiro nenhum.

— Está aqui testuda, item número 5: Associe-se a um Clube de Tiro!— Virou-se em minha direção desdobrando a revista e esfregando a maldita lista na minha cara pela segunda vez no dia.

— E o número 1 diz: Faça aulas de culinária, e eu não estou vendo nenhum avental amarrado na sua cintura.— Tomei a revista de suas mãos e a bati contra sua testa - Pelo amor de Deus Ino, são 7 horas da manhã de um sábado, você não está em condições de decidir nada, você nem acordou direito ainda!

Como Ino havia me convencido a sair da cama antes das 10h em uma manhã fria era mais um mistério de Deus. Assim como todas as outras loucuras em que eu havia topado acompanhá-la. Nenhuma poderia ser explicada pela ciência ou religião.

Qualquer pessoa que olhasse meu histórico escolar pensaria que eu fora uma adolescente selvagem e rebelde com grande propensão a loucuras, mas a verdade era que eu sempre estava ali para evitar que minha melhor amiga fizesse algo pior.

Acreditem, Ino pode ser bem imprevisível e displicente quando quer. E era por isso que agora eu me encontrava com uma cara emburrada, resmungando xingamentos em todos os idiomas que conhecia enquanto barrava sua entrada no prédio em uma última tentativa desesperada.

— Para de ser tão pessimista Sakura, eu sei muito bem o que eu estou fazendo!

— Claro, com certeza sabe… exatamente como sabia o que estava fazendo quando perseguiu Sai dentro de um shopping por causa de uma falsa traição… realmente, você tem toda razão.

— Aquilo foi apenas um mal entendido, não sei o que você está falando— A porca era mesmo a maior 171 que eu já havia conhecido na vida. Depois de aprontar o maior papelão com o marido, ela ainda empinava o nariz e agia com naturalidade sempre que abordavamos no assunto - E se você é tão contra a ideia assim, porque aceitou o meu convite? 

— Pelo mesmo motivo que aceitei perseguir seu marido junto com você em um shopping Ino! Porque eu SEI que no final você vai aprontar alguma e serei eu a salvar esse seu traseiro ossudo!

— Você se preocupa demais Saky e é por isso que está sempre tão azeda. Não sei como Sasuke-ku ainda não fugiu de casa depois que acordar do seu lado e ver a sua cara amarrada. – Ela me deu as costas e finalmente entrou no tal clube.— E ande logo testuda, você está bloqueando a entrada.

— Por falar em Sasuke, eu não sei onde eu estava com a cabeça quando não aceitei a oferta de uma medida protetiva contra você Ino… Ele com certeza vai pedir uma dessa vez.

A minha amiga três L’s, Linda, Loira e Loura, apenas balançou as unhas verde neon em minha direção e seguiu se debruçando sobre o guichê de atendimento. Eu como a péssima amiga que sou, desisti de ser sensata e apenas deixei que Ino se estrepasse da melhor forma possível e de preferência que gastasse bastante dinheiro no processo.

Encontrei meu quadril na lateral do móvel e a assistir negociar um pacote de 15 aulas. Só de sacanagem sugeri que ela pegasse um de 25. E todo e qualquer adicional que a alegre mocinha no guichê oferecia, eu a convencia aceitar. Depois do que me pareceu uns bons 30 minutos de muita enrolação, eu decidi perguntar sobre algo realmente importante.

— Por um acaso vocês possuem seguro de vida aqui? 

— Claro, todos os nossos pacotes incluem uma apólice de seguro para nossos alunos, senhora— Foi a resposta que tive.

— Não querida, eu quero saber se vocês possuem seguro, a equipe que trabalha aqui. – Ino me deu uma cotovelada na costela mas não desviei minha atenção na atendente que me olhava em choque— Só por curiosidade sabe…

— Não liga pra ela não moça, é só uma brincadeira. - Senti meu corpo deslizar para o lado devido ao empurrão que levei e fui obrigada a quebrar o contato visual com a funcionária - Onde é que eu assino mesmo, se possível já gostaria de agendar a primeira aula?

Ainda um pouco desconfiada, ela entregou um formulário e um contrato para que minha amiga assinasse enquanto anunciava com muito bom gosto que o total havia sido 2.500 dólares. 

— Espero que tenha limite no cartão porquinha…— Meu sorriso de gato não cabia em meu rosto e eu podia ver o olho esquerdo de Ino tremendo de nervoso.

— Não se anime toda testão, você sabe que vai fazer exatamente as mesmas aulas que eu, com todos os adendos. - Dei de ombros me virando para a atendente— Foi você mesma quem disse que me acompanharia para preservar a integridade física de todos.

— Minha inscrição prévia já foi feita, está no nome de Uchiha - Deslizei um cartão de sócia pela bancada enquanto ria da sobrancelha arqueada de Ino.

— Uh, você é a cunhada do jovem Itachi? Seja bem vinda senhora Sakura, ele já deixou seu acesso liberado.

— Que palhaçada foi aquela Sakura? - Ino mais parecia uma gárgula correndo atrás de mim enquanto deixávamos o local. Levou mais uns 30 minutos para conseguirmos finalizar todos os trâmites e agendamos nossos horários para a próxima semana.

— Você não achou mesmo que eu iria desembolsar um puto nessa sua loucura, não é mesmo? Itachi frequenta o lugar, eu conversei com ele ontem sobre a possibilidade de me incluir como dependente. 

— Mas você é mesmo uma vaca ordinária! Sua cobra de olhos verdes!

— Pare de reclamar e feche logo a porta desse carro Ino. - Eu já estava acomodada no banco do motorista— E não se esqueça que a ideia foi toda sua!

— E você não podia perder a oportunidade de dar uma facada no meu orçamento, não é mesmo?

— Jamais! Agora escute uma coisa, já que vamos mesmo fazer isso, eu quero deixar BEM CLARO que eu não vou pagar a sua fiança!

— Bom, como eu sou uma amiga muito melhor que você, pode deixar que se você precisar, eu mesma vou pagar a sua fiança testuda.

— Não sei como, depois desse rombo no cartão... - Gargalhei enquanto manobrava o carro e nos levava de encontro a Hinata e Tenten. Havíamos combinado um café e elas iam adorar saber das novidades.

No final, foi mesmo Ino quem pagou minha fiança. Eu poderia dizer que era uma ironia do destino, mas eu sabia que a palhaça havia feito isso apenas para jogar na minha cara depois…