Charlie Team - By Goldfield escrita por Goldfield


Capítulo 8
Capítulos 14 e 15




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Capítulo 14

A inserção do Retag.

O russo de barba negra que provocara Aiken Frost, chamado Boris Kursknavo, ainda fitava seu adversário, apontando-lhe sua pistola calibre 45. Todos no corredor tinham as armas prontas para atirar, nervosos. Suor pingava de seus rostos. Assim seguiram-se vários segundos, sem que ninguém fosse o primeiro a apertar o gatilho.

–         Maldito Kursknavo! – exclamou Aiken. – Parece que sempre terei uma oportunidade de matá-lo!

–         Vejo que você decaiu muito, Drakov... – riu Boris. – Um ex-soldado condecorado do glorioso Exército Vermelho e ex-membro dos Dragões Negros, a elite da KGB, integrando agora uma força especial da polícia de uma cidade norte-americana... Você me enoja!

–         É você quem me enoja, Kursknavo! – gritou o infiltrador, tomado pela fúria. – Não se lembra do que fez a mim e às pessoas que eu amava? Você é um homem sem escrúpulos!

–         Eu apenas cumpro ordens, como agora! É melhor que você e seus colegas coloquem logo as armas no chão!

–         Nunca!

De repente, o eslavo que se encontrava à direita de Boris acertou-lhe uma coronhada, a qual fez com que caísse no chão. O russo à esquerda de Kursknavo tentou reagir, mas foi atingido por três disparos efetuados por aquele que supostamente era seu aliado, morrendo com uma profunda expressão de incredulidade no rosto.

–         O que está acontecendo? – exclamou O’Brian, apontando sua arma para o agressor.

–         Não atirem! – pediu o eslavo, que possuía cabelos negros que iam até a altura dos ombros, tirando algo de um dos bolsos de sua calça. – Estou do mesmo lado que vocês!

O russo mostrou para os integrantes do Charlie um cartão que possuía sua foto, o distintivo do S.T.A.R.S. e o nome “Helder Orkland Nietparusky”, explicando:

–         Estou infiltrado nessa organização terrorista há meses, numa missão arquitetada pelo Escritório Central! Eu irei auxiliá-los!

Sobre o chão frio, Boris gemia de dor, zonzo. Vencido e humilhado, olhou para Aiken, que contemplava sua desgraça com um sorriso no rosto. O infiltrador apanhou um cantil de metal contendo vodka que sempre levava ao cinto, retirando a tampa e tomando um gole da bebida. Algumas gotas pingaram sobre Kursknavo, que murmurou:

–         Drakov, seu desgraçado!

–         Algemem-no, rápido! – disse Aiken.

Nietparusky abaixou-se ao lado de Boris e prendeu suas mãos, enquanto o terrorista resmungava, fitando o sérvio:

–         Konokichev, seu traidor maldito!

–         Cale a boca, e guarde os elogios para seus futuros companheiros de cela! – riu Helder.

No hall do complexo, Fred Ernest ainda estava desmaiado. Vitória olhava apreensiva ao redor, enquanto William Hayter e Goldfield vigiavam a porta que levava ao estacionamento. Freelancer, por sua vez, fitava o cadáver de Ice Breaker, tentando em vão compreender sua repentina mudança de personalidade. Eles haviam se cumprimentado duas ou três vezes na delegacia, e a doutora sempre tivera a impressão de que o líder do Alpha era uma pessoa responsável e sensata, ainda mais sendo o segundo no comando das equipes S.T.A.R.S. em Metro City.

Nesse momento, Hayter caminhou até Vitória, contemplando por um instante as belas formas de seu corpo. Fitando os olhos claros da russa, o franco-atirador disse:

–         O grupo que desceu pelo elevador está demorando a estabelecer contato! Acho que deveríamos ir procurá-los!

–         Você está certo... – concordou Vitória. – Eu posso ficar aqui com a doutora até que o rapaz acorde!

–         Não, é melhor que eu fique aqui! Já falhei em proteger a Free uma vez, e não quero que isso se repita!

–         Eu posso muito bem cuidar das coisas por aqui! – exclamou Vitória em tom desafiador, engatilhando sua arma.

Os olhos dos dois se encontraram mais uma vez. William percebeu que aquela russa possuía força de vontade fora do comum, além de enorme coragem. Após breve silêncio, Hayter disse:

–         OK! Então eu e o Goldfield desceremos pelo elevador! Estabeleçam contato pelo rádio se necessário!

–         Entendido!

O franco-atirador e Goldfield seguiram na direção do elevador pelo qual seus colegas haviam descido há alguns minutos. O recruta pressionou um dos botões do painel, fazendo com que as portas do transporte se abrissem. Logo os dois membros do S.T.A.R.S. desciam na direção do subsolo, incertos sobre o que encontrariam naquele lugar de infinitos horrores.

Escritório Central do S.T.A.R.S., Washington.

A sala de Richard Harrington. O chefe do S.T.A.R.S. encontra-se sentado atrás de sua mesa, mãos segurando o queixo, pensativo. John Brentwood está de pé ao lado do móvel, também compenetrado, mas sem perder seu ar arrogante. Súbito, a porta do cômodo se abre.

Surge um jovem de curto cabelo castanho trajando uniforme do S.T.A.R.S., que caminha até a mesa de Harrington. Ele pára com as mãos cruzadas atrás da cintura, fitando o teto da sala.

–         Boa noite, recruta Kennedy! – saúda Richard.

–         Boa noite, senhor! – responde o soldado.

–         Esse é o homem? – pergunta Brentwood com desdém, apontando com o rosto para o recém-chegado.

–         Sim, John – responde Harrington. – Esse é o recruta Leon S. Kennedy, da unidade S.T.A.R.S. de Toronto, Canadá. Com certeza a pessoa certa para esta missão!

O chefe do S.T.A.R.S. levanta-se e diz a Leon:

–         Sua missão será descobrir as verdadeiras intenções do grupo terrorista que invadiu o laboratório da Biocom, evitando que esses crápulas causem mais estragos. O soldado Nietparusky, que estava infiltrado entre os intrusos, não nos contata há varias horas, e por isso cremos que ele tenha sido descoberto.

–         As equipes S.T.A.R.S. de Metro City já chegaram ao local, mas você deve evitar ao máximo qualquer contato com seus membros – explica Brentwood. – Esta operação é ultra-secreta, e nenhuma informação sobre ela pode vazar, até mesmo para os próprios integrantes do S.T.A.R.S., entendeu? Sua prioridade será descobrir o que os terroristas planejam!

–         Você será inserido de pára-quedas sobre uma pista de pouso abandonada à cerca de setecentos metros de distância do complexo de pesquisas – informa Richard. – Seguirá então pela floresta até o local, usando um dos elevadores das instalações para atingir os níveis subterrâneos, onde os laboratórios estão localizados. Precisamos descobrir qual o interesse dos terroristas em ocupar o local.

–         Entendido! – exclama Kennedy.

–         Dispensado, soldado!

Leon se retira, sendo observado atentamente por Brentwood. Após a porta se fechar, o diretor da NSA murmura:

–         Ele me parece um bom combatente... Sério, responsável...

–         Kennedy é incrivelmente responsável, disso tenho certeza, mas não tão sério quanto pensa... – sorri Harrington.

Enquanto caminhava pelos corredores do prédio, Leon pensava nas palavras mesquinhas de Brentwood: “Esse é o homem?”. Kennedy odiava ser desafiado, principalmente por um burocrata de Washington que subestimava soldados jovens. Quem ele achava que era?

–         Hei, olhem pra mim! – exclama Leon, imitando John com seu sarcasmo rotineiro. – Sou o senhor NSA! Não sei nem usar uma arma!

Alguns S.T.A.R.S. que circulavam pelos corredores começam a rir da atitude do recruta.

O hall do complexo fora tomado por uma grande e perturbadora quietude. Freelancer e Vitória, próximas ao ainda inconsciente Fred Ernest, fitavam cada canto do local com enorme apreensão, temendo que um indivíduo armado surgisse disparando a qualquer momento. Para aliviar a tensão e quebrar um pouco o gelo, a doutora perguntou:

–         Vitória, é verdade mesmo que os homens responsáveis por tudo isto eliminaram sua família?

–         Sim, é verdade – respondeu a russa, friamente. – Meu pai era um agente da KGB que sabia demais, e por isso seus antigos colegas começaram a perseguí-lo. Isso resultou na morte dele, de seu irmão mais novo e de sua esposa, ou seja, minha mãe. Por ironia do destino, espacei ilesa do massacre, e meu outro tio, chamado Dimitri, substituiu meus pais. Ele me ensinou tudo que precisava saber para me defender dos assassinos que haviam aniquilado minha família, os quais voltaram anos depois e o eliminaram. Escapei mais uma vez, e resolvi fazer justiça com as próprias mãos. Por isso estou aqui agora.

–         E qual era o nome de seu pai?

–         Andrei Drakov.

De repente, a porta de vidro que levava ao estacionamento se abriu. As duas mulheres apontaram imediatamente suas armas na direção da entrada, enquanto um homem ganhava o hall, também armado...

–         Capitão! – exclamou Freelancer, surpresa e aliviada, vendo que o indivíduo era na verdade o capitão David Flag.

Mais três combatentes entraram depois de Flag: Fong Ling, Redferme e a doutora Kasty, na ordem. Freelancer e Vitória se aproximaram dos recém-chegados, enquanto o major perguntava:

–         Vocês estão bem?

–         Sim – respondeu a médica. – Esta é Vitória Drakov, que está há anos perseguindo o grupo terrorista que invadiu este lugar. Ela nos auxiliará!

–         Com que tipo de criminosos estamos lidando, senhorita Drakov? – perguntou Redferme a russa.

–         Especialistas no terror – respondeu Vitória. – Ex-agentes da KGB e assassinos da máfia russa, todos de alta periculosidade. O alvo deles é sempre a Biocom, por razões que pretendo descobrir!

Enquanto isso, Flag, Fong Ling e Kasty examinavam Fred Ernest. O capitão, fitando brevemente o cadáver de Ice Breaker e depois voltando a olhar para o amigo desmaiado, murmurou:

–         Isto tudo é um grande pesadelo...

–         O que faremos? – perguntou Kasty.

–         Vamos esperar que Fred acorde... Ele poderá nos explicar melhor o que houve com as outras duas equipes!

Súbito, um estranho barulho invadiu o hall. Repetiu-se uma, duas, três vezes. Era como se algo duro estivesse sendo golpeado fortemente. Os soldados, olhando ao redor, logo perceberam que uma parede próxima ao balcão da recepcionista ganhava cada vez mais rachaduras conforme o som se repetia. Seus corações dispararam. Com as armas apontadas, os combatentes viram o concreto ceder, enquanto uma horrenda criatura esverdeada surgia em meio a uma nuvem de poeira.

Um urro inumano ecoou pelo hall, enquanto as palavras de Flag tomavam de assalto as mentes daqueles bravos homens e mulheres: aquilo tudo era mesmo um grande e interminável pesadelo.

Capítulo 15

A face da morte.

–         Deus do céu, que coisa é essa? – exclamou Fong Ling, fitando a horrenda criatura.

O ser mutante, que lembrava em parte um ser humano, possuía pele esverdeada e afiadas garras no lugar de unhas. Trajava um jaleco em frangalhos. Urrando raivosamente, o monstro caminhou na direção de Flag, Fong, Kasty e Fred Ernest, que se encontravam próximos.

–         Fong e Kasty, tirem o Fred daqui! – gritou Flag, apontando sua Red Colt para a aberração. – Não sei como esse monstro surgiu, mas vamos ver quantos tiros ele agüenta!

Rapidamente, Fred foi apoiado nos ombros das duas combatentes, que se afastaram do mutante, enquanto este continuava seguindo na direção de Flag, separado do capitão por poucos metros de distância. O membro do S.T.A.R.S. fitou os olhos ferozes da criatura, enquanto uma gota de suor escorria por seu rosto. O semblante da aberração era a verdadeira face da morte.

–         Cuidado, Flag! – exclamou Redferme, que também se aproximava do monstro, apontando sua Desert Eagle.

O capitão deu o primeiro tiro. A bala da Red Colt atingiu em cheio um dos braços da abominação, que urrou de dor, enquanto seu sangue verde jorrava sobre o piso do hall. O monstro recuou alguns passos, enquanto o major atirava.

O disparo de Redferme atingiu o abdômen do monstro, que urrou novamente, com maior intensidade. Os dois líderes da equipe Charlie avançaram na direção da criatura, armas apontadas e dedos nos gatilhos. Perto da saída para o estacionamento, Fong Ling, Vitória e as doutoras Freelancer e Kasty assistam à batalha com enorme apreensão, temendo pela vida dos colegas.

A monstruosidade que um dia fora o doutor Hideo Vegeta foi atingida por mais um disparo no braço já ferido, efetuado por Flag. O urro do mutante transformou-se num gemido, enquanto o membro baleado desprendia-se de seu corpo, caindo sobre uma poça de sangue verde no chão.

–         Acho que ele aprendeu uma lição... – sorriu Redferme, ainda apontando sua arma.

Entretanto, algo inesperado ocorreu. A criatura voltou a urrar, enquanto, para surpresa de todos, um novo braço esverdeado começava a se formar no lugar daquele que fora arrancado, numa cena grotesca. Flag e o major se afastaram, percebendo que não venceriam aquela abominação tão facilmente.

Após a regeneração ter sido concluída, o monstro soltou um último urro desafiador, desaparecendo pela entrada de um duto de ventilação no teto através de um salto sobre-humano. O capitão e Redferme olharam atônitos para a abertura por alguns instantes, quando a doutora Kasty gritou:

–         Rapazes, venham até aqui!

Os dois membros do Charlie seguiram até onde se encontravam as mulheres mais Fred Ernest, o qual, sentado junto a uma parede, movia lentamente a cabeça, murmurando coisas sem nexo.

–         Ele está acordando... – sorriu Freelancer, esperançosa e aliviada.

William Hayter e Goldfield deixaram o elevador assim que este atingiu o segundo subsolo do complexo. Apreensivos, os dois integrantes do S.T.A.R.S. avançaram alguns passos por um amedrontador corredor de concreto, onde havia marcas de sangue no chão.

–         Espero que esse sangue não seja de nossos colegas... – preocupou-se o franco-atirador, olhando para o piso.

O caminho virava para a esquerda. Sempre cautelosos, os dois soldados venceram a curva e encontraram três cadáveres. Os mortos usavam terno, óculos escuros e possuíam no peito um crachá da Biocom.

–         Seguranças... – concluiu Hayter, examinando brevemente os corpos.

–         Há sinais de confronto por aqui – disse Goldfield, apontando para algumas marcas de tiros nas paredes.

–         Primeiro o Ice Breaker enlouquece, e agora isto...

Seguiu-se um instante de profundo silêncio. A dupla sentiu calafrios. Não tinham a mínima idéia do que poderiam encontrar naquele lugar tão perturbador. William resolveu aliviar um pouco a tensão:

–         Aquela Vitória tem um belo corpo, não acha?

–         Sem dúvida – respondeu Goldfield num sorriso. – Mas já tenho minha Silverhill! Eu espero que ela esteja bem...

–         Ela está, não se preocupe! – exclamou Hayter, batendo no ombro do colega.

–         Vou pedi-la em namoro após esta missão...

Os membros do Charlie avançaram pelo corredor, fazendo agora uma curva para a direita. Mais rastros de sangue e algumas portas. Ao lado de cada entrada havia uma placa informando para onde ela levava.

–         Almoxarifado, sala de química... – disse William, lendo em voz alta as inscrições. – Onde investigaremos primeiro?

–         Dê uma olhada na sala de química, vou averiguar esta porta! – propôs Goldfield, se aproximando de uma entrada onde na placa lia-se “Sala dos Armários”.

–         OK!

O amor, nobre sentimento

Dos que sofrem é o doce alento

Porém, se for do destino intento

O próprio amor torna-se sofrimento

Após cruzar a porta, Goldfield viu-se numa ampla sala pouco iluminada, repleta de armários de metal organizados em fileiras, não muito diferente do local onde os S.T.A.R.S. guardavam seu equipamento na delegacia.

Receoso, o recruta prosseguiu alguns passos, envolvido pelo clima mórbido do local. Um fúnebre silêncio dominava a sala, e Goldfield fora tomado por uma repentina aflição logo que entrara ali.

Vencendo seus medos, o técnico em informática avançou por entre duas fileiras, tendo em mãos sua pistola SIG P210 9mm, que usaria sem pensar duas vezes em caso de atividade hostil. Seus passos ecoavam pela atmosfera fantasmagórica da sala, enquanto o recruta fitava cada canto com atenção, procurando pistas inexistentes.

O medo, sensação atroz

Receio de um tiro, uma facada

O temor afeta a todos nós

Quando a vida vê-se ameaçada

Logo Goldfield atingiu uma encruzilhada. O integrante do Charlie olhou para os lados, fitando os caminhos que se estendiam por entre as várias fileiras de armários, quando viu algo no chão: uma mancha de sangue.

O corpo do recruta estremeceu enquanto observava a substância rubra, e seus olhos se ergueram lentamente. Nesse momento, Goldfield foi tomado por um temor que não conseguia compreender. Seu subconsciente dizia que ele não deveria ver o que havia alguns metros à frente. Por quê? Qual a razão para tanta angústia?

O recruta ergueu totalmente a cabeça, compreendendo tudo.

Lá estava ela. De pé, pálida, quase totalmente engolida pela penumbra, mas era ela. Seu corpo antes belo e angelical estava agora coberto de feridas e hematomas, e havia algo como um grande espinho enterrado em seu ventre, mas continuava sendo ela.

–         Silverhill!

Goldfield correu até ela e, apesar da pequena distância que os separava, para o recruta foi como percorrer quilômetros e mais quilômetros, numa trajetória amarga como fel, possuindo, porém, uma doce gota de esperança.

–         Meu Deus, você está bem? – exclamou o recruta, abraçando-a como nunca antes. – Você está muito ferida! Eu fiquei tão preocupado!

Os braços do rapaz a envolviam com enorme intensidade, suas mãos tateando o corpo da jovem como se Goldfield quisesse se certificar de que não era uma miragem. Sorriu, vendo que ela estava mesmo ali. Ele podia tocá-la, senti-la. Silverhill, porém, permaneceu imóvel, fitando o vazio, como se não houvesse notado a presença de seu amado.

–         Silverhill? – estranhou o recruta, fitando a face da jovem. – O que há?

Ela permaneceu calada e inexpressiva. Que estaria acontecendo? Por que ela estava daquele jeito, meu Deus? Que poderia ter ocorrido a ela?

–         Silverhill, fale comigo! – implorou Goldfield, tomado pelo desespero.

Ele fitou os olhos dela. Não estavam normais. Aqueles olhos, que antes transmitiam tanto amor e vivacidade através de seu brilho, agora eram totalmente inexpressivos, mirando um ponto inexistente naquele universo de amargura e incerteza. O recruta segurou as mãos dela, olhos cheios d’água.

–         Fale comigo, por favor! – pediu Goldfield mais uma vez, angustiado.

A angústia amarga e cruel

Gerada pela frustração

Rasga corações como papel

Suspirando triste canção

Algo ocorreu.

Com enorme descrença e tristeza, Goldfield viu sua amada armar-se com a faca de combate que levava pendurada ao cinto, erguendo-a na direção do recruta num grito de fúria. O soldado, assustado e surpreso, não teve tempo de reagir, enquanto Silverhill enterrava a lâmina da arma no ombro direito do rapaz.

Goldfield gritou de dor e angústia, caindo violentamente no chão, enquanto seu sangue pingava sobre o piso. Silverhill, enlouquecida, abaixou-se ao lado do recruta e retirou a faca do ombro deste, que gemeu. A jovem, com os olhos arregalados e respiração ofegante, aproximou a lâmina do pescoço de Goldfield, que, chorando, fitou mais uma vez os olhos da tenente.

–         Silverhill, não faça isso! Sou o Goldfield, eu te amo, por favor!

A lâmina chegou ainda mais perto da pele do recruta. O pobre jovem percebeu que aqueles eram seus últimos momentos...

Foi quando teve uma idéia inusitada.

Lembrou-se de Ice Breaker, que também agira estranhamente. Assim como ele, Silverhill possuía um espinho cravado em seu corpo. Talvez se...

Não havia muito tempo para pensar. Num movimento desesperado, Goldfield agarrou o acúleo enterrado no ventre da jovem, a qual gritou de ódio, e não dor. Com as duas mãos, o recruta puxou violentamente o espinho para fora do corpo de Silverhill. Numa cena horrenda, o combatente viu-se segurando o acúleo, já solto, banhado no sangue inocente da tenente.

Ela estava agora deitada no chão frio, agonizando. Seus olhos voltaram a ter o brilho de outrora, porém com menor intensidade. Sangue escorria por aqueles lábios que Goldfield ansiara tanto em beijar. Silverhill estava morrendo.

–         Gold... – gemeu ela, perdendo rapidamente as forças. – O que aconteceu? Onde estou?

O recruta ajoelhou-se ao lado dela, fitando-lhe aos prantos. Silverhill, vendo o ferimento no ombro direito do amado e a faca em sua mão, disse, num angustiante suspiro:

–         Perdoe-me, amor... Eu não queria...

Lágrimas escorreram pelo rosto pálido da tenente, as quais se misturaram ao sangue derramado. Gotas salgadas rolaram também pela face de Goldfield, pingando sobre o corpo da jovem. O recruta não se conformava. Por que tinha que ser daquela maneira? Por quê?

Com dificuldade, Silverhill segurou uma das mãos do rapaz, colocando-a sobre seu peito ensangüentado. Ela então ergueu os olhos, voltando a fitar o rosto desolado de Goldfield, dizendo, num breve sorriso:

–         Eu sempre te amarei!

As pálpebras da tenente se fecharam lentamente, enquanto seu corpo desfalecia. Seus suaves dedos soltaram a mão de Goldfield, que soluçou, rosto banhado em lágrimas.

Silverhill estava morta.

Continua... 


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