P.O.V. Maria.

As pessoas estão falando. Me chamando de vadia, santa do pau oco, entre outros nomes. Imagino que a virgem Maria tenha passado pela mesma coisa. Não que eu esteja de forma alguma me comparando com a beata imaculada Maria. Eu nunca poderia.

—Quem diria. Todo o seu papo de pureza e olhe pra você.

Então eu percebi. Tinha sido ele.

—Foi você não foi? Foi lá sem saber o que aconteceu e começou todos esses rumores. E eu pensando que você era bom. Se realmente quer saber, foi um erro médico. Ao invés de me fazer um papa-nicolau a médica me inseminou. E agora eu estou grávida.

A cara que ele fez...

—Bem, essa sua cara prova que estou certa infelizmente. Pensei que você fosse melhor, Cassius. Parece que eu me enganei.

P.O.V. Cassius.

Como eu saberia? Quais as probabilidades? Preciso de ajuda.

—Mãe?

—O que?

Foram dois o ques.

—Mãe Eva.

—Oh!

—Fala meu filho.

—Eu fiz algo ruim. Realmente ruim.

—E o que foi?

—Eu disse para a escola inteira que uma garota que era uma boa garota, uma virgem tinha dado para alguém e ficou grávida, quando na verdade... ela foi acidentalmente inseminada e é uma virgem grávida. Chamada Maria.

—O que?! Eu conheci a tal virgem Maria, a da Bíblia e ela não era virgem.

—Bem, essa é mãe.

—Bem, agora eu já vi de tudo. Agora o pai do Lúcifer se superou.

Minha mãe Maze, era um demônio, então ela meio que não consegue dizer Deus. É biologicamente impossível pra ela.

—Tente se desculpar. Mas, você não deveria inventar coisas filho. As palavras são algo poderoso. Elas são a arma mais poderosa que já foi e provavelmente vai ser inventada. Cortam mais fundo do que qualquer faca, fazem mais estrago do que qualquer bomba atômica. Uma palavra, um mal entendido pode acabar levando alguém á morte. As pessoas atualmente nem se olham nos olhos mais, falam as coisas sem pensar, no impulso, chamam o outro de tudo quanto é coisa, tudo quanto é nome sem parar um segundo para pensar nas consequências. Porque há consequências, Cassius. Deve pensar antes de agir, antes de falar.

—Eu sei.

—Não parece. Porque você inventaria essas coisas da menina?

—Porque eu estava... com ciúmes. Ela não me dava bola, bom ela era boa comigo, mas não queria saber de mim.

Minha mãe Eva olhou feio pra mim enquanto minha outra mãe Maze rachou de dar risada.

—Mazekiine!

—É engraçado.

—Não é não. Palavras são como as penas da galinha.

—Penas de galinha?

—É. Suba numa montanha com uma galinha, depene a galinha e deixe as penas voarem ao vento... então, tente recolher todas elas. É impossível.

Era uma história que a minha mãe não sabia de cor. E nem eu. Então eu procurei no Google.

É sobre uma senhora que havia difamado outra e estava arrependida, como eu. Então, ela foi á Igreja procurar o Padre e se confessar. O Padre falou pra ela:

"-Você receberá o perdão, mas vou lhe dar uma penitência. Vá para casa, tome uma galinha, mate-a, tire as penas, coloque num saco e traga pra mim."

E ela fez o que o Padre mandou. E no dia seguinte ele mandou a mulher levar as penas para a montanha e espalhar pela cidade, disse que ela teria de recolher todas uma a uma e ela disse que era impossível. O Padre disse que o mesmo se aplicava ás calúnias ou em termos mais modernos... fofoca.

No dia seguinte tentei falar com ela.

—Maria.

—Não quero falar com você. Á menos que vá espalhar mais mentiras sobre mim por conta disso.

—Não vou. E sinto muito.

—Bem, vou levar em consideração.