Vidas Secretas escrita por Srta Poirot


Capítulo 3
Sob Pressão (Under Pressure)


Notas iniciais do capítulo

Dica de música: Queen & David Bowie - Under Pressure (1982)



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Pressure pushing down on me

Pressing down on you, no man ask for

Under pressure that burns a building down

Splits a family in two

Puts people on streets.

.

.

.

Cambridge, 25 de março de 1985…

Edwin Jarvis foi mordomo e amigo de Howard Stark por muitos anos, até que finalmente se aposentou e decidiu passar o resto de seus dias na Inglaterra com sua esposa, Ana Jarvis. Eles mereciam descanso.

Se fosse Tony, ele teria escolhido Nova York para se aposentar. Além de ser seu estado natal antes da família se mudar para a Califórnia, Tony sempre foi uma pessoa urbana e nunca imaginou viver em um local parado e calmo por muito tempo. Ele gostava de movimentos e de avanços tecnológicos, talvez seja por quase sempre ser obrigado a acompanhar de perto o trabalho de seu pai com a tecnologia, mas Tony gostava de evolução.

Jarvis escolheu a Inglaterra, um país do outro lado do oceano, e Tony sentia falta dele. Por mais que ele pudesse mandar uma carta, não iria mudar sua situação com Mary. A melhor ideia que Howard teve, Tony pensou, foi mandá-lo para o MIT na segunda-feira seguinte.

Ele precisava dessa distração e de se reencontrar com Rhodey.

“Cara, não acredito que você vai ser pai! Você tem certeza disso?” Rhodes perguntou ao Tony em uma confusão de pensamentos.

“Sim, Rhodey. A resposta é a mesma desde quando eu te contei na quinta-feira passada.”

“Sei, sei. Você estava quase chorando quando você me ligou. Fiquei preocupado quando o coordenador veio te chamar durante a aula e pensei que algo trágico tinha acontecido... Não que uma gravidez inesperada não fosse trágico.”

Tony voltou para o MIT na segunda-feira seguinte após a reunião com seu pai, tentando fingir que nada tinha acontecido. Howard passou a cuidar de tudo desde então. Na sexta-feira, o advogado se reuniu com os Fitzpatricks para dar-lhes um ultimato: ou entregam o bebê aos Starks, ou podem sofrer um processo. Ninguém era louco de ficar contra os Starks.

“Você tem mais informações?” Rhodey perguntou. “Tipo, sabe se é menino ou menina? Porque já faz 13 semanas e isso dá uns 3 meses... Não sei muito de gravidez... Caraca mano, não vou mentir, não sei nada de gravidez. Mas talvez Mary já saiba o que está esperando.”

“Não vi Mary.” Tony o informou. “Aliás, nem sei se vou vê-la. Howard quer que os Fitzpatricks não se envolvam na criação dele.”

“Espera, dele? É um menino?”

Tony levantou os lábios em um sorriso antes de falar. “Sim, é um menino. O Sr. Wright informou na sexta.”

Tony viu Rhodey ficar genuinamente contente com a notícia.

“Nossa, isso torna tudo tão real. Não é mais um suposto bebê do qual você me contou quinta passada. É um filho. Um bebê de verdade que chora, come e dorme... Desculpe, não estou tentando de assustar. Você sabe que pode contar com meu apoio, não sabe?”

É claro que Tony sabia! Desde o primeiro dia de aula, Rhodey tem sido seu apoio, seu melhor amigo. Tony sentia era pena por Rhodey querer se envolver em sua vida fracassada e bagunçada.

Tony acenou a cabeça afirmativamente. “Sim, eu sei. Você é meu melhor amigo.”

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Malibu, 20 de abril de 1985…

Passou-se quase um mês depois que os Starks descobriram sobre a gravidez e Tony ainda não tinha visto Mary. Não sabia como ela estava, não sabia o que ela estava sentindo. Era horrível ficar às cegas, mas o que Tony poderia fazer?

Era sábado e ele estava cansado. Cansado de tanto estudar. Não que a matéria fosse difícil, mas ele não podia falhar. Ele tinha que ter certeza que passaria em todos os testes e provas. Por isso que Tony estava em seu quarto com o lápis na mão e livros à frente. Concentração era difícil de conseguir quando se estava preocupado com muitas coisas ao mesmo tempo: Mary, o bebê, o futuro do bebê...

Em um suspiro de frustração, Tony largou o lápis e decidiu ir até a cozinha preparar algum lanche. Os estudos de Cálculos não iriam render se ele não conseguisse focar, para isso, ele pensou em se distrair com um lanche, até porque ele percebeu estar com fome.

Ele ficou extremamente surpreso quando encontrou ninguém menos que Howard preparando uma xícara de café para si.

“Pai?” Tony perguntou praticamente imóvel com sua falta de reação à surpresa. “O que está fazendo aqui?”

Howard levantou uma sobrancelha. “Como assim ‘o que estou fazendo aqui’? Eu moro aqui.”

Sarcasmo.

Tony lutou contra a vontade de rolar os olhos. “É, mas... O senhor não deveria estar jogando golfe com o Obie ou algo assim?”

“Se você não reparou, já está de noite, e mesmo assim, o golfe é aos domingos.”

Eu teria reparado se minha cara não estivesse enfiada nos livros.

“Desculpe se perdi noção do tempo, mas é que eu estava estudando.” Tony disse enquanto pegava duas fatias de pão do armário. Ele estava começando a perder a fome só pela simples presença de Howard.

“Da próxima vez, presta mais atenção ao seu redor.” Howard tomou um gole de seu café.

Tony cerrou os dentes e se concentrou na tarefa de fazer o lanche. Ele pegou a pasta de amendoim e passou nos pães sem muita delicadeza. Aproveitou a oportunidade para controlar o nervosismo que estava se formando só em pensar na conversa que deveria ter tido com seu pai faz tempo. Era agora ou nunca.

“Pai, hãã...” Tony olhou para Howard para ver se tinha a atenção dele. Howard ficou à espera com sua cara indecifrável. “Você soube... você soube de alguma notícia do bebê? Ou de Mary?”

Houve um silêncio ensurdecedor na cozinha. A cada segundo, Tony ficava mais nervoso com a presença de seu pai e ficava com medo de não ter uma resposta. Seria mais fácil ter perguntado se ele matou alguém.

“Você não deveria se preocupar com isso.” Howard finalmente disse tomando outro gole de café. “Foque nos seus estudos.”

“Eu sei, mas... Se o bebê vai morar aqui depois que nascer, eu não deveria... fazer perguntas? Tipo, está bem de saúde? Está tudo normal?” Tony tentou ao máximo controlar seu nervosismo. Ele apoiou uma mão trêmula o balcão e fingiu estar de boas.

“E por que você quer saber? A garota não está nem na metade da gravidez.”

É sério, isso?

Tony respirou fundo e mordeu a parte interna das bochechas para não responder alguma grosseria. Mesmo que ele não seja corajoso ou estúpido suficiente para isso, mas, às vezes, palavras saem sem pensar. “Mas eu não vou ter que cuidar dele? Alimentá-lo, banhá-lo, essas coisas? Tenho o direito de saber se está tudo bem ou não.”

Howard apoiou sua xícara de café no balcão mais próximo e deu alguns passos na direção de Tony, encurtando a distância entre eles. “Eu disse que não precisa se preocupar com isso. Teremos ajuda para essas coisas.”

Ajuda. Ele quis dizer uma babá.

“O bebê é meu e não quero ser inútil.”

Agora Howard estava perigosamente mais perto, cara a cara com seu filho. Como Howard era mais alto, Tony teria que levantar a cabeça se quisesse olhar nos olhos dele.

“Você tem 14 anos. Mal pode se manter vivo, imagine um bebê. Teremos uma pessoa para cuidar dele. Não seja teimoso, deixe este inconveniente para trás e foque nos seus estudos.”

Ai, essa doeu.

Mais uma vez, Tony sentiu uma dor na alma. Teria sido melhor ter recebido outro tapa na cara do que ter ouvido essas palavras amargas de um homem frio. E era pior porque esse homem frio era seu próprio pai.

Howard cruzou o caminho entre Tony e a entrada da cozinha. Ele se deteve na porta antes de se virar para seu filho novamente. “Ah, Anthony. Sua mãe e eu concordamos que você pode escolher o nome do bebê. Desde que seja um nome respeitável e não aquelas baboseiras que adolescentes e celebridades inventam.”

Com isso, Howard se retirou.

Tony já não sentia mais fome.

Ele esperou um minuto ou mais, até ter certeza que Howard não estaria mais em seu caminho quando corresse de volta ao seu quarto. Tony correu rápido, subiu as escadas de dois em dois degraus. Queria desabafar, queria falar com seu amigo.

Ele discou o número de Rhodey e esperou ele atender no terceiro toque.

“Alô?”

“Alô, Rhodey! Graças a Deus, eu estou precisando falar com você.”

“Tony! Sorte sua que eu estou no quarto, hein? Estava pensando em sair, mas a Lindsay cancelou na última hora o nosso encontro. Sabe quem é a Lindsay, não é? Aquela gata da disciplina de bioquímica. Eu finalmente a convidei pra sair, mas ela cancelou. Enfim, a galera me convidou para assistir a um jogo de football americano e, já que não vou sair mais com a Lindsay, eu vou ver ao jogo. Acredita que-”

“Rhodey, por favor, me escuta.”

“A-aconteceu alguma coisa? Você parece angustiado.”

“É o meu pai.” Tony suspirou. “É sempre meu pai. E-ele me disse que vai contratar uma babá para cuidar do bebê.”

“Isso não é bom? Não vai precisar de ajuda?” A voz de Rhodey soou confusa.

“Você não entende. Eu fui criado por babás. A-a culpa é minha! Eu criei um outro ser humano para ser torturado por Howard e ser criado por babás.”

Rhodey sentiu pena do seu amigo. Ele precisava de ajuda, mas Rhodey estava tão distante. “Calma, Tony. Nada é culpa sua. Talvez nem seja assim, talvez nem aconteça o que você imagina.”

“Mas é! Ele deu a entender que eu nem chegarei perto do meu filho! Só fala que eu devo focar nos estudos.”

“Espere, espere. Que filho da mãe! Como assim não vai chegar perto do seu filho?!?”

“Eu passo a semana inteira no MIT, e nos finais de semana meu pai me faz estudar o dia inteiro. Quando verei meu filho?”

“Isso é um absurdo! Ele não pode fazer isso. Eu sei que estudar é importante, mas você vai precisar de um tempo com seu filho, você sabe... ligação de pai e filho.”

Não, Tony não sabia. Ele nunca teve nenhuma ligação com seu pai.

“Eu estou com medo, Rhodey. Estou com medo por uma criança que nem conheço ainda.”

“Tones, estou quase certo que é normal sentir medo. Quer dizer, você só tem 14 anos de idade, pelo amor de Deus! É muita coisa para lidar e seu pai espera muito de você, tipo, com as Indústrias Stark e com o MIT. Eu só quero que você pare de culpar a si mesmo por tudo. Está sob muita pressão, meu amigo.”

Tony não sabia o que dizer.

“Vai dar tudo certo.”

“Espero que sim. A única coisa boa que meu pai disse foi que eu posso escolher um nome a ele. Mas é complicado, porque não sei dar nomes. E eu não posso estragar isso também.”

“Que bom que você tem alguns meses pela frente pra decidir. Gostaria muito de te ajudar mais, mas te garanto isso: vai dar tudo certo.”

“Gosto de falar com você. Obrigado.”

“Não precisa agradecer. Pode contar com meu apoio.”

Eles se despediram e terminaram a ligação.

Tony desistiu de continuar a estudar Cálculos. Não adiantaria mais, seu foco estava há muito tempo perdido. Ele se jogou na cama e fechou os olhos. Seus pensamentos estavam apenas no bebê e nada mais.

Que nome daria para ele?


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Notas finais do capítulo

O que vocês acham de Howard? Ele está certo? Ou ele está sendo muito insensível e frio?

Próximo capítulo: Abutres.



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