Vidas Secretas escrita por Srta Poirot


Capítulo 2
O Resultado da Festa (Crying in the Rain)


Notas iniciais do capítulo

Chegamos em 1985. Muita coisa acontece nesse ano, serão vários capítulos só em 1985. Aproveitem ;)

Dica de música: A-Ha - Crying in the Rain (1990)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/780001/chapter/2

I'll never let you see

The way my broken heart is hurting me

I've got my pride and I know how to hide

All the sorrow and pain

I'll do my crying in the rain.

.

.

.

Malibu, 25 de janeiro de 1985…

A melhor coisa de estar em casa durante as férias era fazer o que Tony gostava de fazer: montar e desmontar carros.

Ainda criança, Tony descobriu que seu hobby era desmontar o carro – ou os carros, nesse caso – do seu pai. Aos 10 anos, ele já sabia tudo sobre o motor de um veículo e até já fez reparações automotivas. Howard só deixou Tony mexer em seus carros sozinho quando teve certeza que seu filho tinha o know-how para isso.

Howard tinha uma pequena coleção de cinco carros. Tony só podia mexer em três deles, embora o acesso a eles fosse restrito. Ele sempre teve que pôr a escola e os deveres de casa em primeiro lugar, senão, não poderia mexer nos carros.

Montagem de carro era a única atividade que Tony fazia e que superava Howard. Qualquer outra coisa que ele fizesse, Howard vinha com suas opiniões e dizia: “Eu poderia ter feito melhor”.

Tony aprendeu a ignorar.

O que ele deveria estar fazendo neste exato momento era estar com Rhodey procurando por outras festas para ir. Mas neste exato momento, ele estava em uma mesa de jantar em um restaurante chique, onde só os mais privilegiados frequentavam. Tudo porque sua mãe queria ‘comemorar’ o fim do primeiro semestre de Tony no MIT. Ele desejou que Rhodey o resgatasse desse jantar.

Deus, como Tony odiava etiqueta!

“Por que você está chateado?” Howard perguntou, segurando sua taça de vinho.

Tony olhou para ele engolindo em seco. Não sabia se contava ou não. Ele olhou para sua mãe e viu que ela também estava curiosa em saber. Ele optou pela verdade. “Eu queria estar com Rhodey agora. Provavelmente iríamos atrás de alguma festa.”

“Isso é uma péssima ideia.” Howard disse mais sério. “E quem é esse ‘Rhodey’ afinal? Espero que não seja uma distração.”

“Ele não é uma distração. Ele é meu amigo e colega de quarto.” Tony quase se arrependeu por ter respondido rispidamente, mas o homem merecia.

“Se ele fica te levando a festas, então ele é uma distração. Fique longe das festas.”

“Howard, ele é jovem. É um adolescente saudável e deveria se divertir! Não seja chato.”

Howard argumentou gentilmente com Maria. Ele geralmente era grosso e ríspido com qualquer pessoa, mas não com ela. Com Maria, sua esposa, ele era sempre gentil.

“Acontece que ele não é qualquer adolescente. Ele é o estudante mais jovem da história do MIT e é um Stark! E durante as férias e recessos ele estará estagiando na empresa para aprender o básico de administração. Um dia, ele será o CEO da empresa e eu prefiro que ele tenha esquecido esses péssimos hábitos quando esse dia chegar.”

Será que Howard sabe que ele foi a uma festa no MIT? Será que ele sabe que Tony bebeu e dormiu com uma garota? Às vezes Tony se pergunta se Howard fica lhe espiando, vigiando... ou simplesmente ele apenas imagina Tony fazendo essas coisas.

Tony se manteve calado. Ele falaria o quê? Não teria coragem. Ele preferiu encarar seu prato e ficar mexendo com seu garfo.

“Pare de brincar com a comida e coma.” Howard ordenou. “Você está ficando mais magro, só se abastecendo de cafeína.”

Tony levantou a cabeça. “Isso porque você me faz estudar a noite toda e o dia inteiro.”

Howard estreitou seus olhos e Tony soube na mesma hora que falou o que não devia. Maria estremeceu quando viu Howard apontar o garfo para seu filho. “Olhe sua língua.”

Tony passou o resto do jantar calado. Ele mordeu a própria língua para evitar falar alguma coisa. Maria iniciou outros assuntos para conversarem, mas Howard só queria saber do MIT e Tony só queria falar de sua vida em geral.

Tony mal reparou que o jantar estava terminado meia hora depois. Ele levantou a cabeça e viu Howard colocar seu casaco e Maria pegar sua bolsa. Tony não viu seu pai pagar a conta, mas imaginou a quantidade de dinheiro que ele deve ter jogado na mesa e sem esperar por troco. A quantidade excessiva de dinheiro que eles tinham era um absurdo.

Eles entraram e se sentaram na parte de trás do Rolls Royce enquanto que o motorista lidava com a direção.

“Você terminou os projetos que mandei fazer?”

A voz de Howard interrompeu os pensamentos de Tony durante o caminho para casa. Antes que Tony pudesse responder, Maria disse: “Projetos? Ele acabou de terminar o primeiro semestre da faculdade há cinco semanas.”

“Exatamente! Dei a ele três projetos fáceis para fazer durante essas cinco semanas de férias que ele teve.”

Projetos fáceis uma ova!

Tony limpou sua garganta, “Terminei os dois primeiros e estou na metade do terceiro.”

Howard levantou uma sobrancelha em descrença. “Pensei que cinco semanas fosse tempo suficiente para terminar os três projetos.”

Tony não disse nada, mas sua mãe foi defendê-lo mesmo assim. “Todo mundo precisa de um tempo de descanso no Natal e Ano Novo, Howard.”

Howard não falou mais nada.

—----------------------------------------------------------------------------------------------------------------

Depois daquele jantar, Tony passou mais uma semana na mansão de seus pais antes de voltar para o MIT. Ele estava ansioso para voltar às aulas, para rever Rhodey e para passar a semana longe de Howard.

Felizmente, fevereiro chegou rápido. Os dois amigos se cumprimentaram com vigor no corredor do MIT, apesar de ter sido apenas um pouco mais de um mês de férias. Estavam prontos para começarem a rotina de aulas de novo.

“Recebeu o presente que eu mandei no Natal?” Tony perguntou ao Rhodes após um abraço.

“Recebi. Um telefone celular! Deve ter sido muito caro, mas conhecendo sua família, não fez diferença no orçamento.”

“Pelo menos, podemos nos comunicar com mais frequência e durante as férias também.” Tony disse.

“É verdade. Obrigado pelo presente.”

Um telefone celular era novidade entre o público naquela época. Todos queriam ter um para se comunicar com seus amigos e parentes com mais mobilidade, mas nem todos podiam comprar. Tony viu a oportunidade para manter contato com Rhodey mesmo depois do MIT, já que este morava na Filadélfia.

Os dois caminharam pelos corredores em busca de suas salas das novas disciplinas. Nem sempre eles ficavam na mesma sala, apenas em algumas disciplinas.

“Você viu Mary?”

Rhodey olhou para seu amigo com curiosidade. “Quem é Mary?”

“Você sabe, a garota que eu... hãã, fiquei na festa.”

“Não sei de Mary, mas você devia esquecê-la.” Rhodes viu Tony lançar um olhar questionador e suspirou. “Olha, os jovens de dezoito anos são assim. Eles ficam com alguém e depois se esquecem da pessoa, entende? Eles não querem um relacionamento duradouro e certamente sua mina só quis ‘aproveitar’ aquela noite.”

A Mary? A Mary só queria aproveitar aquela noite? Tony não gostou desse pensamento. “Mas, Mary não é como esses jovens. Ela não é como sua colega de quarto.”

“Talvez ela seja. É normal você ter se apegado a ela. Deve ter sido sua primeira, não é? Esquece ela e vamos assistir à aula.”

Durante as semanas seguintes, foi difícil para Tony seguir os conselhos de Rhodey. Certamente seu amigo só queria o melhor para ele, mas era difícil não pensar em Mary. Onde ela estaria agora?

Foi em uma quinta-feira de março que Tony descobriu o que aconteceu e que sua vida iria mudar.

Na quarta-feira, um dos coordenadores do MIT chamou Tony para lhe falar que seu pai requisitava sua presença em Malibu imediatamente.

Requisitava. Howard requisitava sua presença. Por que ele mesmo não ligou para ele?

Quando Tony chegou à mansão de seus pais já era tarde da noite e Howard lhe disse que ele precisaria estar presente em uma reunião com o advogado da família, Dylan Wright, na manhã seguinte. Ele não deu pistas sobre o que seria essa reunião.

Tony logo sentiu uma dor de cabeça se formando. Ele frequentemente tinha pesadelos com Howard; ele já teve pesadelos sobre não ter terminado o ensino médio, ou não ter conseguido entrar no MIT, ou falhar no MIT... Será que ele falhou de alguma forma? Será que algum pesadelo se tornou em realidade?

Na manhã seguinte, Tony se viu na sala de estar com a presença de seu pai, sua mãe, o advogado Sr. Wright e Obadiah Stane. Obadiah era amigo e sócio de Howard. Ele sabia de tudo que acontecia nas Indústrias Stark.

“Anthony”, Howard começou a falar. Ele nunca chamou Tony de Tony, apenas Anthony. “O advogado me contatou ontem e pedi que lhe chamassem imediatamente porque o assunto é sobre você.” Howard gesticulou para que o advogado continuasse a reunião.

O jeito que Maria, sua mãe, brincava nervosamente com seus dedos fez com que Tony imaginasse que alguma coisa muito ruim aconteceu e que ela estava ansiosa para saber como Howard iria reagir.

O advogado expôs um papel na mesa e começou a explicar. “Eu fui contatado ontem pelos pais de uma jovem de 18 anos chamada Mary Fitzpatrick. Eles afirmam que sua filha está com aproximadamente treze semanas de gravidez...”, Sr. Wright olhou para Howard, “e afirmam que o pai é o seu filho.”

Tony congelou no sofá. Por sorte ele estava sentado, pois ele perdeu o equilíbrio e seus sentidos devido à confusão que formou em sua mente. Se ele estivesse em pé, teria caído no chão. Gravidez. Nada fazia sentido. Treze semanas... Se Tony fizesse as contas notaria que correspondia ao tempo em que ele esteve com Mary. Isso significa que realmente aconteceu e ele nem sequer lembrava.

Howard falava alguma coisa.

“-Anthony! Eu lhe fiz uma pergunta!” A voz de seu pai era fria e tinha raiva nela. Ele se levantou de sua poltrona e aguardou uma resposta de Tony.

“Se-senhor?” Tony balbuciou, com medo do que viria a seguir.

“Eu quero saber se é verdade. Você se encontrou com essa Mary? É possível?”

Se é possível que ele tenha cometido um erro? Com certeza!

“Eu-eu não... quer dizer... bem, eu...”

“Anthony”, Howard disse com sua voz perigosamente baixa e se aproximando de Tony. “Forme frases completas.”

“Dê a ele um segundo pra pensar, Howard.” Maria pediu.

Tony se sentiu envergonhado. Quando falou, sua voz era tão baixa e parecia de criança de tanta vergonha. “Si-sim. Eu e Mary... nós... fizemos...”

Tony foi pego de surpresa com o tapa que levou de Howard. Quer dizer, ele não ficou surpreso com o tapa em si, mas por ter apanhado na frente de sua mãe. Howard já o bateu com as mãos, com o cinto... mas, nunca na frente de Maria.

Quando Maria se recuperou do choque da cena, ela se levantou de seu lugar e foi acariciar o rosto de seu filho, a fim de tirar sua dor. Mas o tapa não lhe causou muita dor física; apenas uma dor na alma, por ter um pai incompreensível que não percebeu que a gravidez de Mary já foi um choque suficiente por uma vida inteira.

Os olhos de Tony estavam cheios de lágrimas, mas ele se recusou a deixá-las cair.

“O que há de errado com você?” Howard vociferou. “Eu dou tudo do bom e do melhor pra você, para quê? Para você agir feito um moleque irresponsável?” Howard se virou para o Sr. Wright. “Por que os pais da garota demoraram tanto para entrarem em contato?”

“A filha deles também estuda no MIT. Quando ela começou a se sentir mal, ela imediatamente voltou para casa, em Los Angeles, aqui na Califórnia. Eles demoraram a decidir se entrariam em contato ou não.” Sr. Wright explicou.

“Então eles planejaram guardar segredo para depois vierem cobrar direitos de herança ou algo assim?” Howard perguntou.

“Pelo que eu soube, eles se recusam a receber dinheiro e recusam a fazer um aborto.” Obadiah falou. “A família dela é religiosa. Eles querem que ela dê o bebê pra adoção e que ela continue o MIT.”

“Não, não.” Howard balançou a cabeça. “É muito arriscado ter uma criança por aí. Depois ela descobre sua origem e vem clamar por seus direitos. Não vou permitir que uma parte da minha empresa seja dada a um... bastardo não treinado.”

Bastardo não treinado. Haveria expressão pior?

Howard ficou pensando por um tempo. Sr. Wright e Obie esperaram pacientemente para que ele chegasse a uma solução.

“Você disse que ela tem 18 anos, não foi?” Howard perguntou e o advogado acenou que sim. “Contorne o jogo. Tony é menor de idade e ela tem 18. Ela o manipulou. Quando o bebê nascer, nós vamos ficar com ele/ela e eles deverão se manter distantes. Se os Fitzpatricks reclamarem, ameace eles com um processo.”

“Pai, isso é mentira! Ela não me manipulou.” Tony reagiu pela primeira vez depois do tapa.”

“Cale a boca!” Howard agarrou o queixo de Tony com força. “Você quer foder com as pessoas? Bem, essas são as consequências. Lide com elas.”

“Howard, pare com isso!” Maria Stark praticamente puxou o braço de Howard para que ele soltasse seu filho.

Tony sentiu sua mandíbula ficar dolorida e tentou ao máximo esconder seu rosto envergonhado do grupo de homens ali presentes. Maria sempre tentava consolá-lo, mas isso não ajudava Tony a se sentir melhor. Sabendo que nada iria ficar bem e tudo por culpa dele. Sua mãe prometeu falar com Howard para que ele não prejudicasse Mary, mas não iria adiantar.

Howard: um homem frio que gosta de manipular tudo e a todos, mesmo que seja uma criança inocente. Um homem que controla tudo.

“Não se preocupe, meu filho.” Maria disse carinhosamente para Tony enquanto os homens discutiam em particular. “Seu pai está só tentando-”

“Não, mãe. Não faça isso! Não o defenda como a senhora sempre faz.” A voz de Tony saiu um pouco ríspida demais para seu gosto. “Mary foi legal comigo. A culpa é minha e meu pai vai arruinar a vida dela. Sinceramente, eu prefiro ser açoitado a ver um bebê ser criado por Howard.” Com isso, Tony se retirou da sala e subiu direto para seu quarto, ignorando os protestos de sua mãe.

Na verdade, Tony queria dizer mais. Ele queria dizer que preferia que, daqui a vinte ou trinta anos, uma pessoa desconhecida viesse até ele, revelasse ser seu filho e exigisse metade da empresa a ver uma criança ser ‘treinada’ por Howard para ser como ele.

Maria ouviria. Ela ouviria tudo que ele tivesse para falar o dia todo, mas não adiantaria de nada. Howard já tomou sua decisão e ninguém o fará mudar de ideia.

Era nessas horas que Edwin Jarvis fazia falta.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

O que acharam?

Próximo capítulo: Sob Pressão



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Vidas Secretas" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.