Vidas Secretas escrita por Srta Poirot


Capítulo 17
O Encontro (Wonderwall)


Notas iniciais do capítulo

Volteeeei! Antes tarde do que nunca, não é? Espero que a rotina não atrapalhe mais. E espero que gostem deste capítulo que preparei com carinho. Até mais! ;-)

Dica de música: Oasis - Wonderwall (1995)



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Today was gonna be the day

But they'll never throw it back to you

By now you should've somehow

Realized what you're not to do

I don't believe that anybody

Feels the way I do, about you now

 

And all the roads that lead you there are winding

And all the lights that light the way are blinding

There are many things that I

Would like to say to you but I don't know how

I said maybe, you're gonna be the one that saves me

And after all, you're my wonderwall.

.

.

.

Queens, 23 de agosto de 1996...

Se Tony dissesse que ele não estava nervoso, ele estaria mentindo. No dia anterior, ele acordou ansioso para que o dia acabasse e sexta-feira chegasse logo. Ele até teve dificuldades para ir dormir, já que os preparativos para o jantar não saíam de sua cabeça. O que era muito estranho porque ele conheceu a Pepper há muitos anos – quase 11 anos agora – e já sabia tudo sobre ela. Que tipo de assuntos eles conversariam?

Tony sabia que Pepper não tinha namorado porque ouviu sem querer uma conversa entre ela e Joe sobre um tal de Killian. Ela e Killian se conheceram na faculdade, mas perceberam que não eles têm muita coisa em comum e terminaram o namoro. Pepper ficou triste por umas duas semanas e isso foi há um mês. Ou seja, Tony sabia que ela estava solteira, mas ficou preocupado que eles não tivessem muita coisa em comum também.

E sem falar que tinha a adição de Peter. Tony não podia dar falsas esperanças ao garoto, tipo, começar um relacionamento com a Pepper e ela virar uma figura materna para ele, apenas para que o relacionamento não dê certo e ele fique desapontado e chateado com a separação.

“Calma, Tony. Você não pode ficar nervoso e estragar tudo.” Tony disse para si mesmo. “Hoje é sexta e você tem que se concentrar no encontro. É apenas um encontro.”

Tony repetiu essas palavras para si mesmo por várias vezes. Ele ficava imaginando um futuro de fracasso.

E se não der certo? E se eu decepcioná-la?

Tony suspirou profundamente. “Está parecendo a época em que eu morava com meus pais. Só pensava nos possíveis fracassos.”

Tony decidiu se concentrar apenas nos ovos na frigideira. Não traria nenhum benefício ficar pensando no passado ou imaginar um futuro de fracassos. Se ele quiser que dê certo, então ele fará que dê certo.

Passos rápidos foram se aproximando do quarto para a cozinha. Era o Peter já arrumado para a escola.

“Será que estou atrasado?” Peter apoiou sua mochila em uma cadeira e sentou em outra ao lado. A mochila de Peter estava mais cheia que o normal porque ele estava levando roupas de dormir e outros materiais para passar a noite na casa de seu amigo, Ned.

Tony deu uma olhada em seu relógio antes de responder. “Não. Está no tempo certo para o café da manhã.”

Tony pôs os ovos recém-fritos no meio de duas fatias de pão e queijo e pôs em um prato. Ele entregou ao Peter junto com um copo de suco.

“A propósito, bom dia, não é?” Tony disse.

“Bom dia!” Peter deu uma mordida em seu sanduíche.

“Você está ansioso para sua primeira noite na casa de um amigo?”

Peter engoliu o que estava mastigando antes de responder. “Um pouco. Mas eu é que pergunto: está ansioso para hoje à noite?”

Tony olhou para seu filho surpreso. Ele não contou sobre o encontro com a Pepper justamente para não dar falsas esperanças, afinal, era só o primeiro encontro.

“Hoje à noite?”

“É. O seu encontro com a Pepper.”

“E como sabe que eu tenho um encontro com a Pepper?”

Peter rolou os olhos como se a resposta para a pergunta fosse óbvia. “Ora, pai, desde quarta-feira você tem agido estranho e ontem você fez compras para um jantar. Humm, eu acho que você vai fazer fettuccine com aquele molho delicioso que só você sabe fazer. Eu vi os ingredientes. Então, eu acho que é para impressionar alguém, já que eu vou estar na casa do Ned. Muito conveniente.”

Tony sentou na cadeira de frente para Peter. “E por que você acha que é a Pepper?”

“E quem mais seria? Dããã.”

“Nossa, você pensou em tudo isso?”

“Não, na verdade eu escutei a conversa de vocês na quarta-feira. Eu não queria interromper, então esperei atrás da porta.”

“Termine seu café da manhã.” Tony disse se levantando. Ele estava impressionado demais para ficar encarando Peter agora.

Dez minutos depois, Tony levou Peter à escola e foi trabalhar na oficina. Ele ficou nervoso o dia inteiro, até Joe notou sua inquietação.

“Tony, eu notei que você está muito nervoso e não está se concentrando direito. Nem parece que você conhece minha filha há anos.”

Tony largou a ferramenta que tinha na mão que nem ele sabe por que a pegou. “Desculpe, Joe. Vou tentar me concentrar. Eu-eu só não sei como ela vai reagir.”

Joe olhou para ele curioso e confuso. “Reagir? Reagir a quê? Pensei que fosse só um jantar.”

Tony suspirou profundamente. “Eu vou contar tudo pra ela.”

“Contar tudo... Oh, sobre o seu passado?”

“Sim. Não quero mais esconder isso dela. Você tem ideia de como ela vai reagir?”

Joe pensou por um tempo. Conhecendo sua filha, ele sabia que ela não aceitaria bem, mas ela amadureceu muito com o passar dos anos. “Olha, eu vou ser sincero com você. Eu não sei como Pepper vai reagir, mas saiba que ela gosta muito você. Nós gostamos muito de você e o seu passado não muda o que nós sentimos por você. Não conhecemos o seu passado, mas conhecemos você agora e é isso que importa.”

Tony sorriu com o que Joe disse e ficou esperançoso que Pepper pensasse da mesma forma. “Obrigado, Joe.”

“De nada. Por que não vai para casa mais cedo? Assim, você prepara o jantar com mais calma.”

Tony ficou em dúvida se realmente era uma boa ideia. Trabalhar poderia ser um ótimo meio de passar o tempo sem pensar na ansiedade, mas ele apenas acenou e aceitou a sugestão.

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Tony, talvez pela milionésima vez, recapitulou todos os preparativos para ver se tudo estava em ordem. Ele arrumou bem o apartamento e verificou se tudo estava no lugar, nem parecia que uma criança morava ali.

A campainha do apartamento tocou e Tony quase derrubou no chão o talher que estava arrumando na mesa. Ele respirou fundo e foi até à sala atender a porta.

“Hey!” Pepper o cumprimentou. “Espero não ter chegado cedo demais.”

“Não, não. Chegou bem na hora.” Tony a convidou para dentro de seu apartamento.

Pepper mostrou a ele uma garrafa de vinho que ela levava na mão. “Eu trouxe isso.”

“Não precisava, mas obrigado.”

“Eu sei que você não bebe com frequência, mas imaginei que hoje pudesse abrir uma exceção. Além do mais, eu criei um hábito de sempre levar algo quando eu visito a casa de alguém.”

“Boa ideia. Um vinho vai ser ótimo.” Tony disse com sinceridade. Até porque ele estava tão nervoso que tomar uns goles de vinho o deixaria mais relaxado. De repente, Tony se lembrou de que ainda estava de avental. “Eu... hã... estou terminando o jantar, que eu espero ser comestível.”

Pepper riu. “Estou certa que vai estar delicioso. O jantar, quero dizer.”

Claro que Tony entendeu que ela estava falando do jantar e ela não tinha a necessidade de explicar, o que deu a entender que ela estava nervosa também. Esse fato deixou Tony mais confiante.

“Sinta-se em casa enquanto eu termino no fogão.”

Pepper acenou enquanto olhava ao redor. “Seu apartamento é lindo e bem organizado. Não sei por que não te visitei antes.”

“Você sempre esteve bastante ocupada com a faculdade. Não se culpe por isso.” Esse foi um dos motivos que Tony quis fazer algo pessoal, porque era a primeira vez que Pepper o visitava e ele queria revelar sobre o seu passado. Isso tudo era pessoal para Tony. “Enfim, eu volto já.”

Ele a deixou na sala e Pepper aproveitou o momento para observar as fotografias na estante. As fotos eram de família e amigos. Tony e Peter, Tony e Rhodey, os Potts e Peter. Pepper se lembrava de quase todas e ela notou algo muito interessante. Todas as fotos eram recentes, exceto uma em que o Peter era um bebê e deveria ter no máximo 11 anos que foi tirada. Ou seja, ele não tinha fotos mais antigas que isso. As fotos de família eram apenas com Peter e os Potts. Nada de pais, tios ou avós. Nem mesmo a mãe de Peter. Quem será ela?

“O jantar está pronto!” Tony voltou anunciando.

Pepper o seguiu até à cozinha e se sentou à mesa. Estava tudo bem organizado. Tony não era o tipo de cara que jogava o pó de café na pia, Pepper observou.

Tony preparou dois pratos cheios de macarrão com um molho que abriu ainda mais o apetite de Pepper.

“Eu amo spaghetti! E o cheiro está delicioso!” Pepper observou a comida à sua frente. “Espere, eu sei que tem uma diferença. Não é spaghetti, e sim fettuccine. Acertei?”

Tony riu de leve. “Na verdade é tagliatelle. Mas tudo bem, até o Peter cometeu esse erro. O prato se chama tagliatelle ai funghi secchi. Espero que goste.”

“Parece apetitoso.”

Os dois ficaram em silêncio por vários minutos quando começaram a comer, exceto nos momentos em que Pepper elogiava a comida que Tony fez.

“Você gosta mesmo das receitas italianas.” Pepper comentou depois de um tempo.

“É verdade, desde criança eu gostei de receitas italianas. Conheço todos os tipos de pastas possíveis.”

“E quem te ensinou essa receita?”

“Na verdade, eu pesquisei em livros de receita.”

“É, mas quem te ensinou a falar italiano?”

Tony congelou quando ouviu essa pergunta de Pepper. Ele parou o movimento do garfo, mas decidiu responder. “Aprendi com minha mãe. Ela tem origem italiana.”

Tem e não tinha.” Pepper murmurou mais para si mesma, mas Tony ouviu.

“O que você disse?”

“Eu notei que você disse ‘tem’ e não ‘tinha’. Que sua mãe tem origem italiana.”

“Oh, você notou, não é?” Tony respirou fundo. Se era pra falar verdade, então que fosse logo, antes que perdesse a coragem. “A verdade é que meus pais estão vivos e muito bem de vida.”

Se Pepper ficou surpresa ela não demonstrou. “Pois é, sempre imaginei que eles estivessem mortos. Você nunca falou sobre eles; sempre pareceu estar sozinho no mundo, exceto por Peter, que obviamente é mesmo seu filho porque ele é a sua cara. Eu pensei que fosse um assunto muito delicado para você, afinal, perder os pais deve ser terrível para uma pessoa.”

“Eu...” Tony tomou um gole de vinho para sentir mais coragem. “Não quero parecer ingrato, mas eu fugi deles. Especialmente do meu pai.”

Dessa vez, Pepper demonstrou sua reação de surpresa. “Como assim, fugiu?”

“Você já conhece as Indústrias Stark?” Tony a perguntou sem responder a pergunta.

“É, uma companhia que produz tecnologia bélica. Era da Califórnia, mas transferiram a sede para cá... Espera...” Pepper pensou um pouco antes de voltar a falar. “Indústrias Stark... Tony Stark... Por favor, me diga que é só coincidência.”

“Não é. Essa empresa pertence ao meu pai. Eu... vivia em Malibu. Howard Stark é meu pai.”

Pepper ficou em silêncio.

“Pepper, entenda. Howard sempre foi um homem frio e calculista. Nunca disse que me amava e a empresa era a coisa mais importante pra ele. Ele controla tudo e a todos. Minha infância foi solitária e minha adolescência um inferno. Descobrimos que Mary estava grávida através de um advogado e a partir daí, Howard tomou providências. Tornou a vida da mãe do Peter em um inferno e tomou o bebê dela. E ainda ameaçou me manter longe do meu filho. Essa foi a gota d’água e fiz a única coisa que passou pela minha cabeça. Eu peguei Peter e fugi. Vim para Nova York, minha terra natal. Por favor, fala alguma coisa.”

Pepper pareceu voltar os sentidos. “É muita informação, Tony. Sinceramente, eu imaginava tudo menos isso. Quase dois anos atrás, Rhodey mencionou algo sobre o MIT e eu-”

“Eu entrei no MIT com 14 anos e foi lá que conheci Mary.”

“Mary. Mary é...”

“A mãe do Peter.”

“Peter nunca mencionou sua própria mãe.”

“Ele não sabe quem é. De fato, é melhor para ela se manter longe dos Starks. Ela assinou um contrato e meu pai não se esquece dos acordos.”

Pepper tomou um gole de vinho e Tony fez o mesmo. “E como ela está?”

“Não vou mentir pra você. Eu só vi Mary duas vezes. No dia em que nos conhecemos em uma festa e no dia que Peter nasceu. Culpa do meu pai. Mas eu nunca vou me esquecer do quão triste e devastada ela estava.”

“Deve ter sido horrível para ela. Ter seu filho tomado assim...”

“Howard queria criar o Peter para torná-lo igual a ele. Acredito que Peter seja muito mais feliz do jeito que ele é agora.” Tony disse.

“Com certeza! Você é um pai maravilhoso.”

Tony pareceu não concordar. “Não sei se sou um bom pai, mas tudo o que fiz foi agir de forma diferente do Howard.”

“Estou feliz que você me contou tudo isso.”

“Eu é que estou mais feliz por você ser tão compreensiva.”

Pepper soltou uma risada de leve. “Pensou que eu fosse gritar? Algo do tipo ‘Você ficou maluco?!?’”

Tony riu, descontraindo aos poucos. “É verdade, temi que não fosse acreditar em mim ou que iria embora.”

Os dois ficaram em silêncio. Ambos temendo uma reação negativa do outro.

Pepper decidiu falar primeiro. “O Peter sabe de tudo isso?”

“Ainda não. Não sei quando ou como vou contar a ele.”

“Só não demore, tá bom? Ele merece saber que tem avós.”

Tony pensou no que ela disse, mas foi exatamente nessa semana que ele fez uma visitinha aos seus pais em Manhattan e declarou que não queria inclui-los na vida de Peter. Mas Pepper tinha razão. Peter merecia saber sobre eles e Tony não pensou nisso.

Mas o encontro não terminou.

Tony contou mais detalhes da sua antiga vida. Pepper percebeu o quão distante Tony adulto se parecia com sua versão adolescente. O homem na sua frente não era nada parecido com o jovem emocionalmente fragilizado. Tony cresceu, amadureceu e se tornou independente. A única coisa que permanecia imutável era seu amor pelo Peter.

Depois do jantar, eles comeram sobremesa e conversaram sobre outras coisas. A conversa fluía naturalmente. Não faltou assunto. Eles combinaram de se encontrarem mais vezes e, por fim, Tony acompanhou Pepper até em casa.

Tony não se atreveu em beijá-la naquela noite, ele não queria apressar as coisas. Tudo iria acontecer naturalmente no tempo certo, Tony tinha certeza.

Pepper concordou que valeria a pena.

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Naquela mesma noite...

“Você acha que pode dar certo?” Peter perguntou enquanto encaixava mais uma peça no brinquedo de legos. A Estrela da Morte estava quase no fim.

Ned Leeds franziu o cenho em confusão. “Dar certo o quê?”

“Entre meu pai e Pepper. Eles têm um encontro hoje. Já te contei sobre a Pepper, não é?”

Ned rolou os olhos. “Já! Tipo, milhões de vezes. Você queria que ela fosse sua mãe, mas não quer admitir isso.”

“Querer não é poder. Mas estou confiante.”

Ned soltou um suspiro de alegria. “Faltam só 15 peças e finalmente terminaremos nossa Estrela da Morte. Muah-há-há-há.”

Peter suspirou, não tão animado quanto Ned. “Eu sei que ele gosta dela. Por que simplesmente eles não ficam juntos?”

“Hã? Você ainda está falando do seu pai?” Ned voltou sua atenção ao Peter. “Tudo bem, você sabe que os adultos são complicados, né? E as garotas são mais ainda.”

“Nem me fale.” Peter resmungou.

“Então, o que acontece em um encontro?” Ned perguntou curioso.

“Não sei. O meu pai ficou preparando um jantar. Tenho certeza que Pepper vai adorar, afinal, todo mundo gosta da comida dele.”

“Noooossa, meu pai nem sabe cozinhar.” Ned disse. “Cara, seria muito legal se essa tal de Pepper se tornasse sua mãe. Ter mãe é muito bom.”

Peter acenou. “É, deve ser. Mas meu pai é incrível.”


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Notas finais do capítulo

Próximo capítulo: O Acidente.



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