Vidas Secretas escrita por Srta Poirot


Capítulo 13
Jornal de 85 (It's So Hard to Say Goodbye to Yesterday)


Notas iniciais do capítulo

Olá, queridos leitores! Este novo capítulo também é meio emocionante devido a uma conversa entre Tony e Joe. Ah, e estamos entrando nos anos 90. Espero que gostem! ;-)

Dica de música: Boyz II Men - It's So Hard to Say Goodbye to Yesterday (1991)



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I don't know where this road is gonna lead to.

All I know is where we've been and what we've been through.

If it gets me to tomorrow, I hope it's worth all the pain.

It's so hard to say goodbye to yesterday.

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.

.

Queens, 07 de junho de 1991...

Rhodey, amigo de Tony, fazia visitas regulares enquanto esteve em Nova York. Não demorou muito para Peter gostar de Rhodey, pois ambos eram carismáticos e os dois ficaram amigos logo. Rhodey até comprou um videogame para os três se divertirem juntos.

Quase dois anos se passaram e as visitas de Rhodey já não eram tão frequentes como antes devido ao seu emprego na Força Aérea, mas ele mantinha contato sempre que podia.

O mesmo aconteceu com a Pepper. Ela ingressou em Yale e dedicava sua maior parte do tempo estudando, por isso, eles só a viam nas férias semestrais. Porém, ela não pôde retornar no final do ano anterior porque ficou sem dinheiro e teve que trabalhar em uma lanchonete para custear suas despesas em Yale. Assim, ela ficou um ano inteiro em Connecticut. Ela fazia muita falta porque Tony a considerava como a voz da razão.

“Petey.” Tony, trabalhando na oficina, chamou pelo seu filho, mas não obteve resposta. Ele tentou novamente. “Petey! Bambino?!” Finalmente ele ouviu os passos do garoto se aproximando.

“Me chamou, papai?”

Tony desviou sua atenção do motor que estava consertando e olhou para seu filho. “Chamei. Estava fazendo o quê?”

“Eu estava tentando ler os quadrinhos deste jornal.” Peter mostrou uma folha de jornal onde tinha uns quadrinhos infantis na página.

Tony sorriu. Era exatamente isso que ele imaginou que o Peter estivesse fazendo. Desde que Tony começou a ensiná-lo a ler, o garoto tentava ler qualquer coisa escrita que visse e ele ficou muito interessado nos quadrinhos que vêm nos jornais.

“E você viu mais jornais por aí? Eu não quero sujar o chão de óleo e graxa.”

Joe sempre guardava os jornais velhos para usá-los como forros e evitar que sujasse o piso da oficina. Amélia reclamou uma vez que era difícil tirar as manchas.

Peter balançou a cabeça em negativa. “O tio Joe foi buscar mais.”

“Tudo bem, então faz um favor pra mim? Preciso que pegue as ferramentas que estão faltando. Deixe-me ver... uma chave de boca, uma chave torx e o paquímetro.”

“É pra já!”

Peter praticamente correu até à caixa de ferramentas do outro lado da oficina e pegou os três itens solicitados. Ele voltou com as ferramentas na mão e as entregou ao seu pai.

“Obrigado, Peter.” Tony agradeceu.

“Pai, quando a Pepper volta?”

“Peter Stark, você sabe que ela volta amanhã de manhã.” Tony pegou a chave de boca para utilizá-la em sua tarefa.

“Amanhã tá tão longe.” Peter resmungou e Tony apenas rolou os olhos para o drama. “Eu queria que ela voltasse hoje.”

Tony olhou para ele com ternura. “Você sente falta dela?” Peter respondeu com um aceno de cabeça. “Eu também, bambino. Ela faz muita falta, mas é por uma boa causa. Ela está estudando o que gosta.”

“O que ela estuda?” Peter perguntou.

“Economia.” Tony respondeu, mas franziu o cenho em dúvida. “Ou seria Contabilidade?”

Tony sempre entendeu que estudar era importante e ele teria se esforçado para terminar o MIT, mas suas prioridades mudaram quando ele soube da gravidez de Mary por sua causa. Quando ele finalmente conheceu Peter, o bebê virou sua prioridade número um e foi então que sua vida mudou completamente. Pepper tinha 20 anos agora, mas ela sempre foi responsável e não cometeu os mesmos erros que Tony.

“Ah, e quanto ao Tio Rhodey? Ele vem amanhã?”

“Eu não sei. Vocês combinaram algum compromisso que eu não estou sabendo?”

“Não. Eu queria mostrar pra ele que já sei escrever o nome dele. Será que ele vem para o meu aniversário de 6 anos?”

“Mas já? Tem certeza que vai fazer 6 anos? Não seriam 2 anos?”

Peter riu. “Claro que não, seu bobo. Eu não sou um bebê, eu já sou grande!”

“Que pena! Então eu vou falar para o Rhodey cancelar os presentes porque brinquedos são para crianças pequenas e não para crianças grandes.” Tony disse em tom de brincadeira, mas Peter levou a sério. O garoto cruzou os braços e fez beicinho com cara de chateado. “Eu estou brincando, bambino. Ele vai trazer presentes.”

Em questão de segundos, Peter esqueceu porque ficou chateado e Tony passou a mão na cabeça dele bagunçando seu cabelo castanho. Em vez de reclamar do gesto como sempre faz, Peter surpreendeu Tony com um abraço firme. A camisa de Tony estava suja de graxa, mas ele jamais iria recusar uma ação dessas.

“Eu te amo, papai.”

“Ah, é mesmo? O quanto me ama?” Tony perguntou se separando do abraço para olhar para Peter.

Peter pensou por um tempo antes de responder. “33 parsecs!”

“Uau! 33 parsecs? Isso é muita coisa! Então eu te amo 34 parsecs! Sabe por quê? Porque meu amor por você sempre será maior.”

Peter sorriu, entendendo o significado de cada palavra, pelo menos da forma como uma criança entende.

Os dois ouviram passos de alguém descendo as escadas. Era Joe trazendo uma caixa na mão.

“Achei mais esta caixa de jornais velhos.” Joe disse pondo a caixa no chão diante de Tony. “Peter, a Tia Amélia já tirou o bolo do forno. Que tal você ir ajudá-la a enfeitar o bolo?”

Peter ficou bastante animado e subiu as escadas bem depressa para ajudar Amélia.

“Ela fez mesmo o bolo para comemorar a volta da Pepper?” Tony perguntou ao Joe.

“Entre comprar feito e fazer em casa, ela prefere ela mesma fazer em casa. Você sabe o quanto ela gosta de cozinhar.” Joe disse. Ele pigarreou antes de falar novamente. “Eu estava vendo esta caixa de jornais e notei que tem alguns bem antigos que foram acumulando. Inclusive, eu acabei de ler um com uma notícia particularmente interessante.” Joe pegou um jornal da caixa e ficou encarando a página da frente. “É sobre um adolescente que desapareceu misteriosamente da mansão onde morava. Se você não conhece a história, talvez reconheça a foto do jovem.”

Joe mostrou ao Tony a página principal do jornal que lhe interessou. Tony ficou pálido na mesma hora, pois reconheceu sua imagem na capa do jornal, aquela mesma foto que foi tirava na frente do restaurante ao lado de seus pais.

“14 de novembro de 1985. É a data do jornal.” Joe continuou a falar. “Engraçado, você parece muito com ele, inclusive no nome, Anthony Stark. E é também engraçado que te conheci no dia seguinte. As Indústrias Stark é uma empresa suficientemente famosa para se reconhecer o nome, mas sempre achei que era só coincidência o seu sobrenome ser o mesmo dessa família. É por isso que J.J. Jameson lhe achou familiar. Você não vai dizer nada?”

Tony engoliu em seco, mas se sentiu confiante. “Não tenho nada para falar. Eu fugi e não nego. E eu fugiria de novo-”

“Nada pra falar?” Joe o interrompeu. “Nem mesmo que você é milionário e que não precisava passar pelo que passou-”

Meus pais é quem são milionários.”

“-só por causa de um ato de rebeldia porque, sinceramente, não sei por qual motivo um jovem rico fugiria de casa para depois ser pobre e pedir emprego por aí! E, Deus, ainda mais com um bebê!”

“Não foi rebeldia! Eu fiz para proteger Peter!”

“Proteger de quê? Do conforto?”

“Do meu pai!”

“Howard Stark? É esse o nome, não é?” Joe mais uma vez levantou o jornal. “Eu li na matéria.”

Tony acenou que sim e tentou explicar. “As pessoas não entendem. Com exceção de Rhodey, as pessoas não o conhecem como eu o conheço. Elas não sabem o monstro que ele é por dentro. Se é que existe algo dentro dele. Sim, eu fugi e deixei o conforto de minha casa pelo bem de Peter. Meu filhinho, que era só um bebê, foi quem me deu coragem para fazer isso, pois não suportaria vê-lo sendo criado pelo Howard, sendo torturado emocionalmente e crescendo infeliz e solitário. Porque foi exatamente assim que eu cresci. Howard é um monstro.”

De repente, emoções antigas reapareceram com força, fazendo os olhos de Tony se encher de lágrimas que não caíam.

Joe suspirou. “Quando nos conhecemos, você realmente disse que praticamente não tinha família.”

“Edwin e Ana Jarvis foram os únicos que realmente cuidaram de mim. O mordomo e sua esposa foram os únicos que realmente se importavam comigo. Até as babás me conheciam melhor que meus pais. Eu amo minha mãe, mas ela é conivente com tudo que meu pai faz.”

“Nossa, deve ter sido horrível sua infância.” Joe disse compreensivo.

“Se Pepper tivesse um filho, você teria coragem de separá-la do próprio filho? Teria coragem de tirar seu próprio neto dos braços da mãe, mesmo contra a vontade dela?”

Joe ficou horrorizado com a pergunta dele. “Não! Claro que não! Isso é crueldade!”

Tony ficou calado e deixou Joe absorver as palavras ditas e o significado delas. Depois de um minuto de silêncio entre eles, Joe voltou a falar.

“Eu não... não quero que você vá embora só porque eu descobri seu segredo. Você é bom no que faz e vejo o quanto você cria o Peter com muito amor e carinho, e isso é suficiente para saber que você é um bom homem.” Joe pôs uma mão no ombro de Tony em conforto. “Se você não quer que os outros saibam do seu passado, pode confiar em mim. Eu não vou contar nada. Mas eu tenho uma pergunta: você pretende contar ao Peter?”

“Talvez um dia. Ele é só uma criança agora. Não entenderia...”

“Não sei. Ele é um menino muito inteligente. Mas tem razão, não é um assunto que uma criança deveria entender.” Joe suspirou e franziu o cenho quando lhe ocorreu um pensamento. “Olha, eu descobri por acaso através de um simples jornal de 85. Nada impede que outras pessoas também descubram.”

“Espero que não. Eu não estou preparado para... para assumir o passado, entende?”

“Tony, às vezes precisamos dar um passo para trás se quisermos ir adiante. Pense bem nisso, por você e por Peter.”

Joe estava certo. Tony tinha uma nova vida e um futuro totalmente diferente do predestinado pelo seu pai, mas o passado continua em sua mente, bem vívido e bem ameaçador. O passado só deixará de persegui-lo quando ele encarar seu pai de uma vez por todas.

Tony engoliu em seco e seus pensamentos foram interrompidos quando ouviu um barulho de carro estacionando em frente à oficina. Talvez seja um cliente em busca de serviço em seu carro. Porém, ele estava enganado.

Era um táxi.

Tanto Tony quanto Joe ficaram surpresos quando uma jovem de cabelos alaranjados desceu do veículo e pegou sua mala.

“Oi, pai! Oi, Tony! Eu estou de volta! Cheguei mais cedo dessa vez.”

“Pepper?! Que surpresa incrível!” Joe exclamou abraçando sua filha.

“Eu decidi pegar o ônibus do horário anterior em vez de esperar pelo horário que eu disse que iria pegar. Assim, cheguei mais cedo e pude fazer essa surpresa pra vocês.” Pepper explicou.

“Sim, sim! Melhor surpresa de todas! Sua mãe ainda está preparando o bolo pela sua chegada amanhã.”

“Ah, eu disse a ela que não precisava. Vem cá, aconteceu alguma coisa? Quando desci do táxi vocês estavam com uma cara séria...” Pepper olhou para Tony. “...e triste.”

“Não aconteceu nada.” Joe disse.

Tony, por sua vez, respirou fundo e espantou qualquer vestígio de tristeza e angústia para assegurar a ela que estava tudo bem. “É isso aí! Como Joe disse, essa foi a melhor surpresa de todas!” Tony também a abraçou. “Senti muitas saudades.”

“Filha, deixe que eu leve sua mala. Descanse um pouco.”

“Obrigada, pai. Vou subir daqui a pouco.”

Joe pegou a mala de Pepper e a levou consigo pelas escadas. “Avisarei a sua mãe da sua chegada.” Joe avisou enquanto subia.

“Agora me conta. Sei que estão escondendo alguma coisa.” Pepper exigiu saber.

“Era um... assunto pessoal. Nada com que você deva se preocupar. Mas, vamos mudar de assunto? Vamos falar sobre sua ausência. Eu senti muito a sua falta, quer dizer, nós sentimos... eu e o Peter... e os seus pais... Sentimos muito a sua falta.”

Pepper ergueu uma sobrancelha e cerrou os olhos fazendo uma expressão de ‘Não esquecerei que você está escondendo algo de mim’, e voltou a falar. “Tá legal, eu entendi. Todo mundo sentiu minha falta.” Pepper sorriu com o aparente nervosismo de Tony.

“Pois é, estávamos ficando loucos sem sua voz da razão e sua sabedoria entre nós.”

Ambos riram juntos.

“É, a culpa foi minha. Infelizmente não deu para vir no semestre passado.”

“Pepper, eu queria dizer uma coisa.” Pepper esperou com um sorriso em expectativa do que ele ia dizer. Tony hesitou, mas começou a falar. “Eu queria dizer que... hã... que você... quer dizer, Peter... Peter gosta muito de você e ele fica feliz com você por perto, e eu fico feliz também por ele.”

O sorriso de Pepper diminuiu, como se o que ela ouviu não foi o esperado, mas ela não comentou o que pensou. Ao invés, ela disse, “Também gosto do Peter e fico feliz com ele. Isso é tudo, Sr. Stark?”

“Sim, Srta. Potts.”

Os dois jovens ficaram se encarando por alguns segundos até Pepper cortar o silêncio entre eles. “São os passos do Peter o que estou ouvindo?”

Pepper acertou em cheio, pois o garoto desceu correndo as escadas sem o menor silêncio e abriu os braços para ela. Pepper também abriu os braços e recebeu seu abraço apertado.

“Pepper! Eu senti sua falta! Sabia que aprendi a escrever seu nome? Posso ler também. O que você faz nessa niversidade? Eu posso te visitar? Você demora muito para vir. Vai passear com a gente nas férias?...”

Peter bombardeava Pepper com perguntas e informações enquanto Tony os observava com um sorriso. Se tinha uma pessoa que conquistou os corações dos dois, essa pessoa era a Pepper.

Mas Tony não podia contar a verdade sobre sua origem para ela. Talvez um dia ela o odeie por esconder um segredo como esse, mas ele não estava preparado para contar. Tony fez um voto naquele momento de reunir forças e coragem para fazer o que Joe disse: dar um passo para trás e seguir adiante. Um dia, Tony contará a verdade a todos.

Um dia, Tony assumirá as responsabilidades de ser um Stark.


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Notas finais do capítulo

O próximo capítulo se tornou um dos meus favoritos. XD

Próximo capítulo: O Excêntrico Morgan.



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