Vidas Secretas escrita por Srta Poirot


Capítulo 11
O Incidente (Beautiful Boy)


Notas iniciais do capítulo

Olá, queridos leitores! Perdão se não pude postar semana passada, mas o capítulo dessa semana é cheio de emoção. Acredito que serão bem recompensados. *risada maléfica*
Aproveitem!

Dica de música: John Lennon - Beautiful Boy (1980)



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Close your eyes

Have no fear

The monster's gone

He's on the run and your daddy's here

Beautiful, beautiful, beautiful

Beautiful boy

Beautiful, beautiful, beautiful

Beautiful boy.

.

.

.

Queens, 22 de setembro de 1988...

A vida de Tony nos últimos três anos melhorou muito. Ele chegou no Queens sem nada, exceto algum dinheiro, e jurou ao Peter que iria se esforçar ao máximo para que nada falte a ele.

Desde que começou a trabalhar na Oficina do Potts, Tony tem guardado dinheiro suficiente para comprar seu próprio apartamento. Ele viveu na quitinete da Sra. Wheeler por dois anos e ela não era a melhor das senhorias, mas foi suportável. Tony ficou extremamente feliz quando recebeu a chave de seu apartamento novo, em um prédio melhor.

Tony também cumpriu outro objetivo quando fez 18 anos, que foi refazer o registro de Peter alterando seu segundo nome. Agora ele oficialmente se chamava Peter Benjamin Stark, em honra de Mary.

O melhor de tudo foi que não houve mais notícias de Howard. Durante vários meses, muitos noticiários ainda transmitiram informações sobre o desaparecimento do herdeiro das Indústrias Stark, mostrando uma foto dele ao lado dos pais tirada na entrada do restaurante naquele dia do jantar executivo. Tony se lembrou de tê-los chamado de abutres. Mas depois, esses noticiários sumiram.

Será que Howard Stark achava que Tony iria desistir da fuga, iria se arrepender de ter abandonado tudo e iria voltar se rastejando e choramingando para que ele o aceite de volta? Ou será que simplesmente Howard desistiu de procurá-lo, desistiu de ter um filho fugitivo e o renegou? Howard não era um homem fácil de desistir, mas também não gostava de perder o controle da situação. Ele perdeu o controle quando seu próprio filho tomou coragem para enfrentá-lo e abandoná-lo. Howard deve ter se sentido um derrotado.

Tony duvidava que Howard estivesse arrependido de tudo que fez a ele, mas Tony não ficou pensando muito nisso. Ele tinha Peter, um bom emprego e um ótimo patrão. Os Potts se tornaram seus grandes amigos que sempre o ajudou. Na oficina, ele deixou de ser um simples ajudante e agora era um funcionário de confiança de Joe.

Enfim, a vida de Tony nos últimos três anos melhorou muito.

Porém, este dia foi diferente. Era quinta-feira, 22 de setembro e início de outono quando Tony teve o maior susto de sua vida.

Foi uma manhã normal. Tony estabeleceu uma rotina diária onde ele acordava cedo, fazia uns exercícios físicos de força para ganhar corpo, acordava Peter, fazia café-da-manhã para os dois, deixava o Peter na creche e ia trabalhar. Tony aproveitava cada momento.

“Petey! Cadê você?” Tony se abaixou para olhar embaixo da mesa de jantar. Peter não estava lá. “Está na hora de ir à creche. Vai encontrar seus amiguinhos novos.” Tony olhou em volta da cozinha, era evidente que o garoto também não estava lá. Ele tinha as piores horas para brincar de esconde-esconde. “Petey, eu vou te achar, hein.”

Tony não o achou na sala nem no quarto da criança. Tony decidiu procurá-lo em seu quarto, pois ele tinha a tendência de ir para lá e, assim que abriu a porta, notou um movimento rápido embaixo da cama. Tony suspirou. Peter corria o risco de sujar sua roupa limpinha que Tony teve trabalho de tirar uma mancha de suco semana passada, mas o garoto era tão energético e alegre que não tinha como sentir raiva.

Tony se sentou na cama e soltou um suspiro dramático e teatral. “E agora? Onde será que ele se escondeu? Por que não consigo achá-lo?” Tony fez dois pequenos balanços em sua própria cama e ouviu uns risinhos infantis vindos de baixo dela. “De onde vêm esses risos? Será que estou ouvindo coisas?”

Tony ficou de joelhos e levantou parte da colcha que cobria o colchão e gritou, “Achei!”, que fez o garoto soltar um gritinho antes de se arrastar para fora.

Peter ficou pulando alegremente na frente de seu pai. “De novo! De novo!”

“Desculpe, garoto, mas está na hora de você ir pra creche.” Tony disse verificando se havia sujeira na roupa de Peter. Ele não encontrou nenhum dano e pegou na mão de Peter. “Vamos para a sala. Seus sapatos estão lá.”

Ao chegarem à sala, Tony pôs Peter sentado no sofá e calçou os sapatos para ele.

“Eu tenho mesmo que ir pa queche?” Peter perguntou. Ele conseguia formar frases inteiras, mas algumas palavras saíam erradas.

“Sim, papai vai trabalhar e você vai socializar com outras crianças da sua idade.”

“Mas eu quéio ficar com você na oficina.”

“Eu sei, bambino. Eu adoraria ter meu ajudante preferido do meu lado, mas você precisa ir para a creche. Em poucos anos, você vai para a escola aprender coisas e vai poder ajudar o papai de diversas outras formas.”

Quéio ser um gênio igual ao papai!”

“Então, comece indo para a creche.”

Tony duvidava que na creche ele fosse aprender algo novo, mas o importante era que seu filho socializasse com crianças da mesma idade e que brincasse bastante, ao contrário de Tony que cresceu cercado por adultos.

“A propósito, quem te disse que sou um gênio?”

“Tio Joe.” Peter respondeu.

Tony sorriu. “Claro que foi o Tio Joe. Venha, está na hora de sairmos. A Srta. Flower disse que vai ter muitas brincadeiras hoje.”

“Depois, eu posso assistir Looney Tunes?”

“Claro! Quando eu for te buscar, vou passar na locadora e alugar uma fita de Looney Tunes para assistirmos, ok?”

Peter acenou e não mostrou mais resistência, afinal, ele adorou a creche desde o primeiro dia, apesar de ter feito birra durante a primeira semana por achar que estava sendo abandonado em algum lugar. Ele logo compreendeu que sempre alguém ia buscá-lo, ou seu pai ou a Tia Amélia.

Tony deixou seu filho de três anos na creche e foi trabalhar. Era como um dia qualquer e bastante normal. Nos últimos três anos, a Oficina do Potts ficou conhecida no bairro pela eficiência de seus dois mecânicos; Amélia Potts continuava cuidando de Peter caso Tony estivesse muito ocupado; Pepper estava iniciando seu último ano na escola e estava decidida a cursar Economia na Universidade Yale, em Connecticut.

Estava tudo tranquilo até a maldita hora em que Tony decidiu comprar pasta de amendoim pra fazer sanduíches. Depois de sua jornada de trabalho, ele buscou Peter e comprou a pasta de amendoim.

Peter voltou muito alegre e ansioso para contar como foi seu dia. “Hoje, a gente fez muitos desenhos e eu binquei com os carrinhos do meu amigo Bob e disse pra ele que meu pai conserta carros de verdade e ele achou legal...”

Tony sorria enquanto Peter falava à milhas por hora.

“...Aí a Srta. Fower perguntou do que eu gostava e disse que gostava de ver Looney Tunes. Papai, você touxe Looney Tunes? Você disse que hoje eu poderia ver Looney Tunes.”

“Eu trouxe.” Tony disse.

“Oba! Looney Tunes! Looney Tunes!” Peter pulava de alegria para assistir seu desenho preferido.

Tony riu de sua agitação. O garoto não se cansava nunca!

“Calma, Petey. Você precisa lanchar primeiro antes do desenho.”

Peter ficou chateado, mas ocupou seu lugar à mesa de jantar. Seu pai disse que faria sanduíches e ele adorava sanduíche.

“Aqui está.” Tony pôs um pranto na frente de seu filho juntamente com um copo de suco de laranja.

“Que é isso?”

“É sanduíche de pasta de amendoim. Eu adorava pasta de amendoim na infância e até comia escondido da babá.” Tony disse enquanto preparava seu próprio prato de sanduíche. Ele se sentou ao lado de Peter. “Vamos, coma.”

Peter pegou seu sanduíche com suas mãozinhas e o levou à boca. Ele mastigou um pedaço e fez cara de aprovação, satisfeito com o gosto novo do sanduíche.

“Enfim, você disse que tem um amigo chamado Bob. Ele é legal? Acho que eu ainda não o conheço.” Tony passada pasta de amendoim em seus próprios pães distraidamente, mas reparou que Peter estava em silêncio. “Petey? Você me ouviu?”

Tony olhou para ele e notou algo muito errado. O garoto estava de olhos arregalados e se esforçando para respirar.

Oh, Deus! Será que ele se engasgou?

“Peter!” Tony segurou seu filho rapidamente antes que ele caísse da cadeira. “Eu peguei você! Respira, Petey!” O desespero ficou maior quando Tony viu que o pescoço dele estava ficando inchado. “O que está acontecendo? Por favor, Peter, respira!”

Mas Tony não ficou parado. Ele pegou seu filho nos braços e decidiu levá-lo às únicas pessoas que ele pôde pensar que poderiam ajudá-lo. No desespero, ele nem se importou se fechou a porta de seu apartamento ou não, ele só queria encontrar ajuda e no momento só pensava nos Potts. Ele carregou Peter nos braços até à oficina, que não ficava longe. Ele correu as três quadras de distância o mais rápido que pôde, sem se importar com olhares curiosos de pessoas na rua. Peter derramava lágrimas com a falta de fôlego e não conseguia se mexer. O único som que emitia era dos chiados de sua respiração dificultada.

Chegando à residência dos Potts, Tony bateu na porta freneticamente. Joe atendeu à porta e logo percebeu a gravidade da situação.

“Meu Deus! O que aconteceu com Peter!”

Tony não havia percebido que também derramava lágrimas, mas nada mais importava. “Por favor, você tem que ajudar Peter. Eu não sei o que houve.”

Nesse momento, Amélia apareceu para ver o que houve e se assustou com o estado do menino. Sua pele branquinha estava muito vermelha e seu pescoço estava muito inchado, como se...

“Ele está tendo um choque anafilático!” Amélia percebeu. “Pepper? Cadê você?” A adolescente atendeu ao chamado da mãe e também ficou surpresa com o estado de Peter. “Pepper, vai buscar um de seus Epipens depressa.”

“E eu vou ligar pra ambulância!” Disse Joe.

Como Tony não pensou em ligar para a emergência? Como ele deixou o desespero tirar seu raciocínio?

Tony agora estava de joelhos com Peter no chão, mas sua cabeça apoiada no braço do pai. Pepper apareceu rápido com um estojo que continha umas seringas. Amélia preparou uma rapidamente e com destreza.

“Vou aplicar apenas uma pequena dose disso porque ele é só um bebê.”

Amélia aplicou a injeção na coxa direita de Peter. Tony nem sabia o que era, mas em um minuto o inchaço diminuiu e a criança respirava melhor. Tony também respirou mais aliviado.

“Sempre temos essas injeções porque Pepper é alérgica a morango.” Amélia explicou. “Ele comeu alguma coisa que é alérgico?”

“Eu não- Eu não sei.” Tony lutou para encontrar voz depois do que aconteceu.

Amélia pôs uma mão no ombro de Tony em conforto. “Não se preocupe. Não tinha como você saber. Peter está ficando melhor, mas precisa de um médico.”

Em poucos minutos, a ambulância chegou. Os paramédicos entraram fazendo perguntas do que aconteceu e com uma maca.

“Ele teve anafilaxia e eu apliquei uma pequena dose de epinefrina.” Amélia informou.

“E o que ele comeu recentemente?” Um dos paramédicos perguntou.

O olhar de Amélia se voltou para Tony e ele respondeu prontamente. “Eu preparei um lanche com duas fatias de pão e pasta de amendoim e suco de laranja, mas ele... ele não comeu tudo, foi só uma mordida e...”

“É possível que ele seja altamente alérgico ao amendoim. Vamos levá-lo ao hospital e um médico vai fazer exames.”

“Obrigado.”

Tony acompanhou Peter ao hospital dentro da ambulância depois de informar que ele era o pai. O garoto ainda não conseguia emitir palavras devido à dor, ao inchaço e provavelmente ao susto também. Joe prometeu ir ao hospital com Amélia e Pepper para visitá-los.

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Já estava de noite quando os Potts chegaram para ver como Peter estava. Eles não podiam entrar no quarto em que Peter dormia, mas Tony veio falar com eles no corredor.

“Como está, Petey?” Amélia perguntou preocupada, mas esperançosa que ele estivesse bem.

“Ele está bem e está dormindo agora. Acho que graças a você.” Tony disse com sua voz baixa. Os Potts perceberam que ele estava se culpando pelo que aconteceu.

Joe pôs uma mão no ombro do jovem. “Tony, não é culpa sua. Essas coisas podem acontecer.”

“Mas eu quase o matei, Joe!”

“Não tinha como você saber.” Joe disse.

“Eu não posso perder ele! Eu sou o pai dele e tenho um só trabalho que é protegê-lo. Mas, como posso protegê-lo de mim mesmo? Eu causei isso a ele.”

“Nós também ficamos nos sentindo culpados quando Pepper teve sua primeira crise alérgica. Joe comprou alguns morangos e quando ela experimentou um... Foi horrível, claro, mas não tínhamos como saber.” Amélia disse em conforto para Tony.

A verdade era que Tony também culpava Howard. O médico explicou que a amamentação era muito importante para fortalecer a imunidade do bebê e evitar alergias, e Howard afastou Peter dessa possibilidade. Peter foi afastado de sua mãe logo na primeira hora de vida por ordens de Howard. Mas, Tony não achou que era uma boa hora para choramingar sobre um pai que não estava presente. Não valeria a pena falar de Howard para Joe nesse momento.

Joe mostrou ao Tony uma sacola cheia. “Eu passei no seu apartamento e trouxe algumas coisas que você vai precisar caso Peter tenha que passar a noite no hospital.”

“Obrigado, Joe. Sim, ele vai ter que passar a noite. O médico disse que é melhor ele ficar em observação esta noite para ver se não houve sequelas. E que eu devo evitar dar pra ele amendoim, castanhas, nozes... essas sementes oleaginosas, porque ele é alérgico, o exame confirmou.”

“O importante é que ele está bem!” Disse Pepper.

“Qualquer coisa, você pode ligar para nós.” Disse Amélia.

“E não se preocupe com a oficina amanhã. Pode ficar em casa cuidando de seu filho.” Joe avisou.

“Obrigado Sr. e Sra. Potts.” Tony abraçou o casal que tanto lhe ajudou.

Joe e Amélia foram se retirando para a saída do hospital, mas Pepper não os seguiu de imediato. Ao invés disso, ela abraçou forte o Tony como se precisasse fazer isso.

“Vai dar tudo certo. Ele vai ficar bem e daqui a pouco ele vai estar correndo alegre pela oficina de novo.”

“Obrigado, Pepper.”

Pepper terminou o abraço, mas não soltou Tony ainda. “Você é um bom amigo, Tony, e Peter é um anjinho fofo. Gosto muito de vocês dois.”

“Também gostamos de você.” Tony sorriu pela primeira vez desde o incidente com o Peter.

Pepper finalmente o soltou e seguiu seus pais na direção da saída, mas foi impedida pela voz de Tony novamente.

“Ah, Pepper. Você pode pedir para Amélia fazer sua famosa torta de maçã amanhã? Peter adora essa torta de maçã e ele adorar comê-la amanhã.”

“Sim, claro. Vou pedir pra ela. Isso é tudo, Sr. Stark?”

“Sim, Srta. Potts.”

Pepper se retirou do hospital. Chamar um ao outro de ‘Sr. Stark e Srta. Potts’ era algo que começou como uma brincadeira e ficou entre eles.

Tony entrou no quarto em que Peter dormia e se sentou na cadeira ao lado dele. Com bastante afeto, Tony acariciou a bochecha de seu filho, não querendo perder a chance de admirá-lo.

“Você está bem, Petey. Prometo que vou tomar mais cuidado com você. Perdoe-me se eu falhei hoje, prometo não falhar mais.”

Inconscientemente, ele começou a cantar uma música em voz baixa que ele conhecia, como se fosse para confortar Peter em seu sono.

Close your eyes / Have no fear / The monster's gone / He's on the run and your daddy's here / Beautiful, beautiful, beautiful / Beautiful boy.

Tony percebeu que sentia algo que não sabia que era capaz de sentir: amor. Quando as palavras de sua mãe se tornaram tão verdadeiras?

“Você é perfeitamente capaz de amá-lo.”


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Notas finais do capítulo

O que acharam de Petey? Próximo capítulo tem a volta de um personagem querido. Conseguem adivinhar?

Próximo capítulo: Visita Especial.



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