A Escuridão Além escrita por Karina A de Souza


Capítulo 5
Apenas ele


Notas iniciais do capítulo

Último capítulo. Obrigada à todos que leram e interagiram. Leiam as notas finais.



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—Você precisa se acalmar. -O Capitão repetiu.

—Eu estive calma por tempo demais!-A Doutora retrucou. -Ivy Casadevall é a minha responsabilidade! Quando acolhi essa garota, ela ainda não tinha superado a morte da irmã e foi expulsa de casa pelos pais, e eu prometi coisas à ela, e à mim! Eu jurei que ia trazer algo de bom pra vida dela. E não posso fazer isso se sua mãe matá-la! Essa menina, essa criança, está sob a minha proteção. E quando tentam machucar os meus amigos, Capitão, eu fico muito, muito irritada. Então não me peça para ficar calma. Você vai dar um jeito na sua mãe, ou eu vou. E não pense que serei gentil com Cinthia Eris. Minha gentileza tem limites.

—Eu realmente lamento muito por toda essa situação.

—Eu também, mas isso não ajuda em nada, ajuda?

—Vou tentar alguma coisa. -Se afastou, sumindo pelo corredor.

A Doutora respirou fundo, se acalmando, e entrou na enfermaria. Ivy ainda estava inconsciente, uma máscara de oxigênio no rosto. Thale, sentado ao lado dela, mas numa distância segura onde não poderia esbarrar ou tocar nela, parecia inquieto.

—Alguma coisa?

—Não. -O garoto respondeu. -Ela ainda tá dormindo. Só... Dormindo.

—Ivy vai querer agradecer pessoalmente, mas obrigada. Você a salvou. Se tivesse se passado mais tempo... Ainda nem sabemos o que ela estava respirando.

—Parecia fumaça. Como se algo estivesse queimando.

—Auggie disse que vão averiguar e avisar quando souberem o que é.

—Eu achei que ela ia... -Parou um momento, as mãos se torcendo, apertando os joelhos. -Estava sufocando e com medo... Achava que ia morrer.

—Você ou ela?

—Acho que os dois. -Desviou o olhar. -Por que a Cinthia tá fazendo isso?

—Ela não gosta da gente aqui.

—Então por que não deixa vocês irem? Estariam seguras longe daqui.

—Eu não sei. Thale... Você sabe que quando formos embora...

—Não vou ver mais a Ivy? É. Eu sei. Ela vai voltar pro 3D, e aquelas outras coisas ultrapassadas, tipo TV à cabo e filmes de heróis. Vai voltar pro quarto minúsculo com as paredes cheias de recortes de revistas, e bandeira de arco íris... E isso aqui vai ser só mais outra lembrança, como todas as outras.

—Ivy gosta de ser sua amiga. Acho que é o primeiro amigo que ela fez em muito tempo. -Se sentou do outro lado da maca, esticando as pernas. -Algumas lembranças são melhores do que outras. Ela vai lembrar de você.

—É só o que ela vai poder fazer. Mas tudo bem. Pelo menos ela vai estar longe da Cinthia e da droga dessa nave.

—É. Ela vai.
***

As luzes voltaram algumas horas depois. Talvez ver Ivy na enfermaria, inconsciente, tenha melhorado o humor de Cinthia, ou talvez Roy Eris tenha conseguido convencer a mãe. De qualquer forma, a nave tinha, parcialmente, voltado ao normal.

Thale continuava recusando os supressores, mesmo depois de Ivy ter retomado a consciência e ter sido transferida para outro quarto. Agatha notou que ele parecia verificar a mente da garota frequentemente quando estava longe dela. Ela teria dito ao garoto para parar, mas isso parecia deixá-lo mais calmo.

Ivy estava se recuperando bem, mimada constantemente pela Doutora, Thale e pela muito grávida e sorridente Tessia. Não que a atenção exagerada estivesse lhe agradando muito.

—Sei que vocês acharam que eu ia morrer, mas estou bem. -Avisou. Thale largou outra garrafa de água no colo dela e se afastou, sentando aos pés da cama. -Você quer que eu me afogue ou...?

—Pessoas precisam de água.

—É mesmo, Sherlock?-Apontou para as garrafas vazias no chão, todas trazidas anteriormente por ele. -De tanta água assim?

—Precisa se hidratar, você inalou muita fumaça.

—E você é médico agora?

—Você está sendo teimosa.

—E você está sendo uma mãe coruja. Touché. -Deixou a garrafa de lado. -Estou bem, Thale. É sério.

—Não parecia. Quando senti você telepaticamente e quando o Capitão te tirou do quarto... Parecia... Morta.

—Eu não quero pensar nisso. Estou viva e feliz por isso. Não quero pensar no que podia ter acontecido. Estou aqui agora, não é? Não podemos deixar que Cinthia nos assuste, não vou dar esse gostinho à ela. -Olhou para a câmera no teto, aquela luz vermelha parecia um olho sinistro os encarando. -Ouviu?

—Acho que provocá-la não vai ajudar muito.

—E o que é que ela está fazendo? Usando nossos medos e dores contra nós... É uma vadia provocadora.

—Ivy.

—O que é?-Olhou para o garoto.

—Vamos até a floresta.
***

—Andar pode fazer bem, e aqui tem o melhor ar da nave...

—É mesmo, mamãe?-Ivy interrompeu, caminhando ao lado de Thale. -Eu estou bem. E você está agindo como um paranoico.

—Você quase morreu.

—Mas não morri. Se passaram alguns dias, eu inalei ar puro, fiz tudo o que me disseram e agora estou bem.

—Ainda podem haver complicações...

—Thale. Não. Estou bem. Quantas vezes vou ter que repetir?-De repente, começou a tossir, sem controle.

—Você está bem?

—Sim. -A tosse passou. Limpou a garganta. -Não foi nada.

—Devia passar na enfermaria.

—Parece que por vocês eu viveria na enfermaria. -Deu um empurrão de leve no ombro dele, que se afastou rapidamente.

—Ivy, não.

—O que? Faz semanas que nenhum acidente acontece. Acabei de encostar em você e não aconteceu nada.

—Não significa que não possa acontecer.

—Você sempre foi todo paranoico assim? Nós nem somos amigos. -Sorriu, começando a se afastar, mas parou, quando viu Thale no mesmo lugar, uma expressão estranha no rosto. -O que foi? Está sentindo alguma coisa?

—Não. -Tentou espantar a sensação. -Não é nada. Quem é que está preocupado agora?

—Muito engraçado, esquisito. -Apontou pra ele, se aproximando. -Nem vem tentar virar o jogo.

—Eu não preciso tentar.

—Ah, como é que é?-Riu. -Você é um idiota e esquisito.

—E você não está longe disso.

—Okay, talvez seja verdade.

—Talvez?

—É, talvez... Bom... Acho que é completamente verdade. -Parou um momento, parecendo refletir.

—O que?

Se Thale tivesse verificado a mente dela naquele momento, teria recuado imediatamente, mas Ivy, com algo que podia ser um elemento surpresa, se inclinou para frente e o beijou, simplesmente assim.

Thale se afastou, praticamente empurrando Ivy para trás.

—Você perdeu o pouco juízo que tinha?

—Eu só... -Ela começou. -Hã... Desculpa?

—Ivy... Droga. -Se dobrou no meio, segurando a cabeça com as mãos.

—O que foi? O que está sentindo? Fala comigo...

—Tem alguma coisa errada.

—Eu vou chamar a Agatha. Consegue ir pro seu quarto?-Ele assentiu. -Okay. A gente se encontra lá.

Ivy virou e começou a correr como nunca correu antes. Ela precisava encontrar Agatha e ajudar Thale.

De repente, alguns corredores de distância, alguém surgiu correndo de uma lateral, e se afastou correndo para o lado contrário. Agatha.

Ivy abriu a boca para chamá-la, mas a médica sumiu numa curva. Franzindo a testa, a garota começou a andar de novo, mas parou quando ouviu passos. Por algum motivo, parou de andar e recuou um pouco.

Um homem surgiu no corredor lateral. Tinha um machado em mãos, e seguiu pelo mesmo caminho de Agatha. Ivy demorou alguns segundos para reconhecê-lo. Rowan.

Quando ele saiu de vista, a garota voltou a correr, agora indo para a sala de controle.
***

—É muito triste. -A Doutora disse. -A vida humana é tão frágil...

—O que quer dizer com vida humana?-Karl perguntou, confuso.

—Ora, eu quero... Ivy?-Se levantou, segurando a garota antes que ela caísse. -O que foi?

—Eu vi a Agatha... -Começou, sem fôlego. -Nos corredores leste... Ela estava fugindo... Rowan estava... Atrás dela... Com um machado...

—O que? Eu sabia que devíamos ter... -Karl levantou e saiu correndo para fora da sala, como um raio. -Isso não é bom.

—O que... Aconteceu?

—Tessia morreu.

—O que? Mas... Não. Eu a vi essa manhã... A barriga maior do que nunca... Disseram que ia ter o bebê hoje...

 

—Ela e o bebê não sobreviveram. Aconteceram algumas coisas... Não sabemos ainda, foi um tipo de vírus ou... Não sei. Atacou Tessia e o bebê de maneira muito brutal e eles não...

—Mas por que Rowan está atrás da Agatha? Ele... Ele vai... Vir atrás da gente?-Olhou para a porta.

—Não. Está tudo bem. Ele provavelmente está fora de si, e deu a entender que culpa Agatha. Isso é uma longa história e eu te conto depois.

—Thale. Meu Deus, Thale precisa de ajuda. É isso... Ele sentiu que Agatha estava em perigo... Fui atrás dela para pedir ajuda quando...

—Calma. -Fez a garota se sentar. -Seus pulmões ainda não estão cem por cento, você não pode forçá-los desse jeito.

—Thale precisa de ajuda.

—Agatha é a única que sabe mexer nos supressores.

—Então eu vou lá ficar com ele...

—Não. Não com alguém fora de si e armado nos corredores. Vamos esperar.

E, sem escolha, elas esperaram. Ivy não conseguia parar de pensar em Thale sentado no quarto, tentando bloquear o que estava sentindo, e em Agatha, fugindo para sobreviver.

Algum tempo se passou e Auggie entrou na sala de controle.

—A dra. Matheson está morta. -Declarou, fazendo a sala ficar em completo silêncio. Ivy sentiu uma pontada nos olhos, mas se proibiu de chorar. -Alguém devia contar ao Thale.

—Eu vou. -A garota disse, ficando de pé.

—Precisa tomar cuidado. -A Doutora avisou. -Abalado emocionalmente, as chances de Thale de controlar a telepatia são muito baixas e ele pode machucar você.

—Tudo bem.

—Quer que eu vá junto?

—Não. Posso fazer isso.

Quando Ivy entrou no quarto de Thale, pouco depois, o encontrou sentado na cama, de costas para a porta. Abraçava os joelhos e tinha a cabeça baixa. Suor molhava a camiseta, encharcando-a em alguns pontos.

—Tenho que contar uma coisa...

—Eu sei. -Interrompeu. -Eu já sei de tudo.

—Sinto muito. -Se aproximou devagar, a mão estendida para tocar o ombro dele.

—É melhor você ir. -Ela abaixou a mão.

—Tem certeza?-Assentiu.

—Por favor, vai.

—Tá. -Começou a se afastar. -Se precisar de mim... É só avisar. –Fez uma pausa. -Sinto muito pela sua perda.
***

Os dias passaram. As pessoas ainda estavam tentando lidar com as mortes recentes. Thale tinha se isolado em seu quarto, não deixando nem Ivy se aproximar.

A Doutora tinha tentado convencer o Capitão a voltar com a Nightflyer para a Terra, mas não obteve sucesso.

Cinthia permaneceu silenciosa, supostamente adormecida, mas ninguém conseguia relaxar, esperando a próxima interferência assassina dela.

—Como Thale está?-A Doutora perguntou, sentada do outro lado da mesa com Karl e Auggie.

—Não sei. -Ivy respondeu. -Ele não deixa ninguém chegar perto. O corredor está inundado de sensações ruins e dor, não dá pra atravessar. Ele ainda está muito abalado por... Você sabe.

—Ela cuidou dele desde que Thale era uma criança. É compreensível a forma como ele se sente.

—É. É sim.

—Agatha era a única que podia controlá-lo. -Auggie comentou. Ivy ergueu o olhar, a expressão fechando.

—“Controlá-lo”? Como se ele fosse algum tipo de animal selvagem? Thale é uma pessoa!

—Ele é um L-1...

—Ele não escolheu isso, nasceu assim! Quem ia escolher querer ser tratado como lixo pelo resto das pessoas? Vocês pegam os L-1 e os enfiam numa prisão, os isolam do resto do mundo. Eles são pessoas!-Ficou de pé, chamando atenção do refeitório todo. -São pessoas como eu e você! Ninguém escolhe nascer diferente. Ninguém escolhe ser tratado assim, ou ser isolado, humilhado, expulso de casa ou pior só por que não é como os outros! Que merda estão ensinando pra vocês no futuro?-E saiu correndo pra fora do refeitório.

Silêncio, até um burburinho começar nas mesas, as pessoas voltando para suas conversas ou comentando o que tinha acabado de acontecer.

—Bem, -Karl começou, pegando o copo em seguida. -ela tem razão.
***

Thale ainda tinha sua “proteção" contra visitantes. Quanto mais perto do quarto, maior a dor na cabeça de Ivy, mais sangue escorria de seus olhos, e piores eram as imagens em sua mente.

Mesmo assim, se obrigou a continuar dando um passo atrás do outro, usando as paredes como apoio.

Finalmente conseguiu se aproximar do quarto e cruzar a porta, mas por um momento, desejou não tê-lo feito.

Mal viu Thale levantar, agitado, e não o ouviu gritar seu nome enquanto ela caía e lutava para não desmaiar.

A escuridão a engoliu mesmo assim.

Quando acordou, a primeira coisa que viu foi Thale, acima dela, com uma expressão preocupada.

—Como se sente?-Ele perguntou.

—Bem. -Murmurou, apertando um ponto da testa.

—Ótimo. O que estava pensando em...

—Pode falar mais baixo?

—Ivy, que ideia estúpida foi essa?

—Acho que você nunca esteve tão perto de explodir o cérebro de alguém.

—Não tem graça.

—É, não. -Se sentou devagar. Thale jogou a caixa de lenços ao lado dela, que começou a limpar o rosto. -Eu não te vejo faz dias.

—E precisava ter se arriscado assim?

—Precisava! Precisava, sim, por que meu amigo se exilou no próprio quarto e não deixa as pessoas passarem nem na droga do corredor! Eu sei que você gostava muito da Agatha, mas por favor, não se isole. Não faça a si mesmo o que fizeram com você.

Thale não respondeu nada, imóvel, apenas observando. Ivy suspirou e voltou a limpar o rosto. Quando terminou, o garoto sentou ao lado dela, parecendo cansado.

—Você tem razão. -Ele disse. -E nunca mais vai me ouvir dizer isso.

—Tudo bem. -Sorriu. -Eu tenho boa memória.

—Ela tinha ficado animada com a viagem, sabe. -Se encostou na cama, atrás deles. -Por causa dessa coisa toda de chance pro planeta, por me tirar das montanhas só um pouco e... Pra ver o D'Branin. E aí... Todas essas coisas começaram a acontecer. Nada estava nos planos. Eu não pensei que ia ser a melhor coisa que já me aconteceu, ou que as pessoas iam gostar de mim ou que eu ia gostar das pessoas. -Deu uma risada seca. -Ateei fogo num cara, um tempo antes de você chegar.

—Você o que?

—Ele agora anda atrás de mim com uns malucos querendo fantasias telepáticas. No começo todo mundo achava que era eu. Era Cinthia. Mas sabe como são as coisas. Se acontece algo errado, culpe o L-1 na sala.

—É um preconceito idiota.

—Você tinha medo de mim. -Olhou pra ela. -Mas sua teimosia e imprudência venceram.

—Você não é um bicho papão, Thale. Tenho medo do escuro, de não saber o que vai acontecer no futuro, de não ter mais onde morar, de perder a Doutora e do cara que sempre está do outro lado da rua quando chego tarde da noite em casa. Mas você não é algo que me assusta.

—Lembra por que está sentada no chão? Por que a sua mente não aguentou tanta dor...

—Você fez de propósito?

—Não.

—Planejou ou planeja me machucar física ou mentalmente?

—Não, eu...

—Ótimo. É suficiente pra mim. Desencana, Thale Lasamer, você não pode assustar todo mundo.

—Quem foi que te contou meu nome todo?-Ela riu.

—Melantha estava mexendo nuns arquivos e talvez eu tenha visto uma coisa ou outra.

—Estava bisbilhotando.

—Acho que estamos quites. Você fuçou minha mente. Eu li seus arquivos. É a vida.

—Se você quer jogar assim... Ivana.

—Ah, não.

—Não tem graça quando é com você, é?

—Eu não uso mais esse nome. Meus pais disseram que não sou mais filha deles. Não faz sentido usar um nome que eles me deram. Não posso trocar meus documentos... Mas posso escolher como quero ser chamada.

—Ivy. Por que Ivy?

—Tinha uma dessas trepadeiras com flores amarelas no jardim de casa. Minha irmã tinha esse... Jogo dela, de me vestir e colocar lá para bater fotos, como se eu fosse a modelo dela. Um dia meu pai arrancou a planta. Jessie ficou muito chateada. “Ivi” é o nome dessa trepadeira. “Ivy”, com Y é a versão em inglês, e eu acho mais bonito escrito assim. Gosto de escolhas.

—Não escolhi estar aqui.

—Se pudesse mudar isso, escolheria ter ficado preso nas montanhas?-Thale suspirou, encostando a cabeça na cama.

—Não tenho certeza.
***

Ivy tinha coberto a câmera no teto do quarto. Ela não sabia de quem tinha sido a “brilhante" ideia de vigiar os quartos, jogando no esgoto a privacidade dos tripulantes e passageiros da nave. Além disso, tinha dado a chance que Cinthia precisava para espionar as pessoas.

De repente, o alerta de que alguém estava na porta soou repetidas vezes, mostrando que a pessoa do lado de fora queria muito ser atendida.

—Sou eu!-Veio a voz lá de fora. Ivy a reconheceu imediatamente. Apertou o botão na tela, deixando a porta abrir.

—Está tudo bem?-Perguntou, erguendo a cabeça. A Senhora do Tempo parecia muito cansada. Tentou se preparar para o pior. -O que aconteceu agora?

—A porta abriu.

—O que?

—Ela deixou a porta abrir. Podemos chegar até a TARDIS. Ela nos deixará ir. Ivy, se quisermos viver, temos que sair agora mesmo antes que ela mude de ideia e nos mate.

—Mas...

—Ivy, nós temos que ir. Agora.

—E os outros?-A loira hesitou.

—Eu lembrei de onde já tinha ouvido falar da Nightflyer. Daqui algum tempo, ela vai voltar para o seu sistema solar e ficar vagando sem rumo. Sem conseguir comunicação, uma equipe virá abordar a nave e encontrará toda a tripulação morta. Não haverá sobreviventes. A Nightflyer será recolhida, e terá seu fim.

—Cinthia.

—É. Ela ganha no final. Ivy, eu não posso interferir nisso. O que houve na Nightflyer vai mudar muita coisa na história humana, para que nada assim aconteça de novo. -Fez uma pausa. -Precisamos ir.

—Vai na frente. -Ficou de pé e começou a sair do quarto. -Eu te encontro na TARDIS.

—Ivy, onde você vai?

—Nos encontramos lá!

Thale não se surpreendeu quando Ivy entrou em seu quarto como um furacão. Ele tinha sentido a inquietação dela se aproximando como uma onda gigante vindo direto para ele.

—O que aconteceu?-Perguntou.

—Você tem que vir comigo.

—O que?-Agarrou o pulso dele, puxando-o para fora da cama. -Ivy...

—Você confia em mim?-Olhou pra ele.

—Confio.

—Então corre, eu te explico no caminho.
***

—O que ele...

—Eu sei, sei que não devemos interferir em nada. -Ivy interrompeu. -Mas por favor, por favor, deixe-o vir com a gente.

—Ivy... -Olhou para a garota e para Thale atrás dela, com uma expressão confusa e surpresa.

—Por favor... Só ele... Por favor.

A Doutora respirou fundo. Algumas regenerações atrás, em Pompéia, Donna Noble havia implorado para que salvasse alguém da destruição. Tinha cedido e salvado uma família, por que sentiu que devia fazê-lo.

Ivy, nesse momento, pedia o mesmo. Com os olhos cheios de lágrimas, a garota segurava a mão de Thale como se sua vida dependesse disso, e como se eles nunca tivessem se machucado ao se tocar.

—Por favor... Só ele... Só salve ele.

—Tudo bem. -Ativou a TARDIS.

Mais calma, Ivy se virou para o confuso Thale atrás dela.

—É... Tipo... Bem maior aqui dentro. -Ele disse.

—Eu sei. -Sorriu. -Achei que tivesse visto na minha cabeça.

—Não achei que era numa escala real... Podia ser como você achava que era... Isso... Nem parece possível.

—Eu aprendi que muita coisa é possível, não importa o quanto não pareça. -Olhou para a Doutora por cima do ombro. -E que muitas vezes... Essas são as melhores coisas.

Quando a TARDIS se materializou num bairro simples de Londres, Thale foi o primeiro a sair, olhando em volta como se nunca tivesse visto nada como aquilo. E talvez não tivesse.

Ivy parou na porta, e hesitou, colocando o cabelo atrás da orelha, pensando nas próximas palavras.

—Bem... Acho que é isso. Posso ensiná-lo a viver aqui. Acho que ele vai acabar gostando.

—É...

—Sabe que não estou te abandonando, não sabe?

—Oh. Eu achei que...
—O que?

—Achei que... Não sei, ia... Parar...

—Achou que eu ia te deixar? Não, não. Quer dizer... -Espiou Thale. -A gente vai precisar de um tempo, até ele se acostumar.

—Certo.

—Talvez depois você e eu tenhamos mais um tripulante.

—Seria legal. -Sorriu, fazendo Ivy sorrir também.

—Não é? Não sei se vai ser fácil convencê-lo a entrar numa nave de novo, mas nunca diga nunca. -Riram. -Você vai me ligar?

—Vou.

—Perfeito. Vou estar esperando, com as novidades. E espero ouvir as suas.

—Vai ouvir.

—Okay. Ham... É melhor eu ir e começar logo. Vou cuidar bem dele.

—Eu sei que vai. -Cutucou a garota. -Sei muito bem que vai.

—Ei, não faça suposições. Thale e eu nem somos amigos.

—Ah, é claro que não.

—Te vejo em breve. -Acenou e começou a se afastar.

A Doutora ficou ali, na porta, observando Ivy se aproximar de Thale e cruzar o braço com o dele. O garoto parecia um pouco surpreso pelo contato, como se ainda não entendesse por que ela insistia em tocá-lo, mas a Senhora do Tempo sabia que não se oporia, não internamente.

Observou a dupla cruzar a rua e entrar numa casinha marrom e velha, então fechou a porta da TARDIS e se preparou para a próxima aventura.


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Notas finais do capítulo

Bem, originalmente, o final de Nigthflyers é diferente. Como a série foi cancelada, ficou um final aberto, com algumas possibilidades. Comecei a ler o livro ontem, e já deu pra notar que é bem diferente, então não sei o que teria sido da série caso eles tivessem continuado. Por esse motivo, decidi dar o meu próprio destino para a parte Nigthflyers da história, que me pareceu o que mais se encaixava, lembrando de que quando Agatha morreu, mandou um recado para fora da nave, alertando que ninguém devia mexer nela e coisas do tipo. Pra mim, todos ficaram condenados.
Bem, acho que é isso. Qualquer coisa a gente se fala nos comentários ou MP.
Obrigada mais uma vez e fui!

P.S.: Não, eu não sei quando vou postar coisas novas.



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