Oitava Fileira escrita por Nanda Vladstav


Capítulo 24
A (ainda mais) estranha história de Mauro


Notas iniciais do capítulo

Meus agradecimentos à Themis Magalhães, que tem sempre um tempo pra acompanhar e recomendou essa história semana passada. Muito, muito obrigada pelo seu apoio constante e palavras gentis =)



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— Abra oss olhoss, Mauro.

É isso. Alguma coisa deu errado, e estou morrendo. Desculpe, pai. Se eu tivesse arrastado o Cas pra longe, ou expulsado logo aqueles dois, talvez você não tivesse morrido.

Tudo que aconteceu volta à memória duma vez. Merda, como eu fui burro. Até pensei na possibilidade de sermos derrotados e precisarmos fugir, mas não aquilo. Ela nos separou com tanta facilidade. Me dominou e me cortou como uma merda de ovelha. Puta que pariu, tô tão envergonhado que queria mesmo estar morto agora.

— Vosscê precissa acordar. Temoss muito a fazer.

Abro os olhos, tem uma sucuri escura como a noite olhando pra mim. Estou ardendo de febre, então a cobra gigante deve ser alucinação. Por que imaginei a voz do Odin?  A coisa encosta em mim, então não estou morto e tenho que sair daqui. Ser engolido por uma cobra não vai me matar, mas ainda vai doer pra caralho. Sinto algo pesado e frio me impedindo de levantar.

— Não sse mova, Mauro. Não agora. Olhe pra mim.

O mundo entra em foco outra vez. A cobra gigante continua me olhando feio, mas não parece disposta a me devorar. —  Que tipo de feitiço você fez com o Cássio?

— Pai? — Minha voz está pior que horrível, mas acho que ele entendeu.

— Não ssse levante. Não use magia agora.  Ssim, ssou eu. Acabamos de colar você, continue deitado. Agora ressponda: Que feitiço vossce fez no Cass?

— Por que uma cobra?

Ele revirou os olhos. De algum jeito, aquele era mesmo o Luca. — Não sei ussar patas traseiras, e humanoss não sobrevivem aqui. Ressponda minha pergunta.

— Isso, gato, explica alguma coisa, porque o Escamoso aqui não é bom, sabe… com pessoas. De preferência, começa dizendo como evitar que o Cascaboy aniquile a humanidade.

A cobra sibilou irritada. — Damas das Trevass, vosscê continua irritante, Denisse. Já disse que é inevitável.

— E você é um amor de cobra, Luca. Já pensou em fazer palestras motivacionais?

Meu Deus, não sei como fazer isso. Mexo um pouco a cabeça, posso ver Denise e Luca me encarando em expectativa, mas tem algo que preciso saber primeiro.

— Os outros, Luca. Estão bem? Você está bem? Nero... Eduardo tinha sua aliança.

Soube assim que ele não respondeu de cara que alguma coisa estava errada. — A oficina explodiu, mas Fred vai se recuperar. Você conseguiu pegá-la de volta?

— Desculpe.

— Não tem tanta importância. Você e o Cas estão vivoss .

Tentei de outro jeito. Pensei “Luca, me fala o que houve”

Escutei um sussurro na mente dele. “Fui capturado. Um dragão me salvou.”  

Pai do céu, sou mesmo um imbecil. O filho da puta escamosa mentiu na minha cara e eu acreditei. Por que acreditei no Nero? “Pai, você não tá nessa forma porque não pode andar, não é?”

“Não. Foi escolha minha. Estava com pressa, e assim posso me mover sem as mãos. Ramona não faz milagres.”

Luca tentou, mas não conseguiu esconder as memórias. Bianconero o torturando. Da escuridão e da dor. Ramona o fazendo enxergar de novo. Me encolho por reflexo, foi muito pior do que pensei. “Puta merda, me desculpe, pai, eu nunca quis...”

Ele me interrompeu com os olhos, ainda mais intensos que em sua forma humana. “A escolha foi minha, o erro também. As mãos estão só quebradas, Mauro, Ramona pode consertá-las depois. Não tem pelo que você se desculpar quanto a isso.”

— Começa logo, Mauro. Sabe, ainda tá rolando a extinção humana lá fora, tenho um pouco de pressa.

— Quieta, Denisse. Mauro, fale.  

Respirei fundo. Mal sabia como começar. — Pego do poder dele, o deixo mais protegido contra magia agressiva, em troca o mantenho humano. Isso me deixa mais...

Raivoso, instável, violento. Muito difícil de matar. Mas eles já sabiam disso. —... Me permite partilhar algumas das habilidades dele. O Cas sabe que eu absorvo do poder dele, mas não tem consciência do que eu faço em troca.

— Tivesse conversado com seu marido, teríamos evitado todo esse forrobodó, né lindo? Não sabe que comunicação é a base de um casamento feliz?

— Não somos casados, Denise. Pare com isso.

— Isso na sua mão é uma aliança ou não é?

— Voscê nunca cala a boca? Quieta, ou eu a tiro daqui. Mauro, “mantenho humano”?

— O Cas morreu, pai. Cinco anos atrás. Um lança-granadas. Eu não pude evitar, foi tão perto que me derrubou também. Depois de um tempo, não sei quanto, eu já tinha enterrado o que sobrou dele e estava...

Quase louco. Sufocando de remorso. —... tentando descobrir o que fazer a seguir, então ele apareceu. Inteiro, normal, sem saber por que eu estava tão transtornado. Quando ele dormiu, no dia seguinte, eu voltei pro túmulo e cavei tudo de volta. O cadáver continuava lá.

Uma sucuri e uma garota absolutamente perplexas me deixaram continuar. — Nos dias seguintes, testei tudo que sabia. Aquele é mesmo o Cas. De algum jeito, ele criou um corpo novo pra si depois que foi explodido, do jeito que se lembrava que era, com próteses e tudo. Porém alguma coisa tinha mudado. Ele estava muito mais poderoso, e um pouco diferente.

Me obrigo a lembrar. Houve um dia em que fizemos uma aposta imbecil de quem passa mais tempo embaixo d'água e ele ficou tanto tempo submerso que o puxei do lago. Depois ele tentou de novo, e se passaram mais de vinte minutos antes do Cas levantar assustado porque ainda não sentia falta de ar.

Ou de comida. Ou descanso. Levou muito tempo pro Cas aceitar que não estava vivo. Pelo menos, não do jeito normal. 

— Depois disso, foi tudo muito rápido. Ele destruiu a ilha de lixo. Metade do lixo espacial. Está acabando com o plástico nos oceanos e usinas nucleares. Acabamos com os obsessivos. Mas quanto mais matávamos, mesmo que todas aquelas pessoas estivessem tentando nos matar, ou arriscando tudo ao proteger infectados... Menos humano ele era.

E mais ressentido. Sete anos arrumando toda sorte de cagada imaginável, e você perde qualquer respeito por uma espécie tão burra e egoísta.

— Para tudo! Como assim menos humano? Por que diacho o Cas não pode matar?

— Tenho mesmo que explicar tudo, Denise?

— Claro que sim, bofe. Começou, conta direito.

Suspirei. Acho que tinha esquecido o apetite dela por novidades. — O… dom do Cássio é a corrupção. Decompor as coisas, mandar em necrófagos, bactérias, células, coisas assim. É o tipo de coisa que acontece em corpos depois da morte. Minha teoria é que ele forçar isso a acontecer em jovens tem consequências. E repetir isso alguns milhões de vezes…

— Ok, entendi. Meio vivo, com raiva, bugado. Continua.

Parei pra me recompor. A pessoa mais importante da minha vida conseguiu uma merda de Alzheimer aos vinte e cinco anos, se tornou uma entidade infernal destruidora, e tudo que eu tinha pra explicar ao meu pai como aquilo tinha acontecido era

A.

Porra.

De.

Uma.

TEORIA!

Porra, eu sabia que essa insanidade iria nos ferrar. Sabia que sair pra enfrentar os Filhos da Tormenta com o Cássio naquele estado iria nos foder de todos os jeitos possíveis e imagináveis.

Então por que, por todos os diabos do inferno, por que não consegui dizer não?

— Continue, Mauro.

— Eu… o ajudava a continuar normal. No início, só contar das coisas que ele não via ou dividir as minhas memórias era o bastante. Quando isso não era mais suficiente, comecei a... dar da minha humanidade pra ele. Por muito tempo funcionou. Porém de uns meses pra cá, ele começou a se perder, mesmo com ajuda. Emoções, memórias, sentidos... Sabia que estava ruim, não vi o quanto até ele me mostrar.  

Ruim? Você é o rei do eufemismo, amore, porque dizer que nosso cabeça de lata favorito está ruim é como dizer que entrou um pouquinho de água no Titanic. Depois da DR mortífera de vocês, ele não lembra de mais nada. Ele esqueceu de mim, Luca, e eu só conheço o doido desde os seis anos. Se bobear, ele esqueceu até do Cebola. Resume, lindo: Como se para o Cássio?

Luca me encarava quando respondeu. De algum jeito, ele sabia o que eu tinha feito. — Não se para o Cássio, Denisse. Ele é um tipo de semideuss insano agora. Mauro, dê um jeito de controlar essa aura destrutiva, enquanto chamo nosso transsporte. Voltaremos em alguns anos.

***

Virar cobra mexeu com a cabeça do Luca, só pode! — Alguns anos? Você só pode estar de brincadeira, Luca! Não vai ter ninguém pra salvar em alguns anos!

Depois que o encontramos lá fora, trouxemos o Mauro pra um lugar mais protegido, mas mesmo eu, absoluta e habilidosa nos paranauês, não sabia se ainda tinha alguma coisa pra fazer. Como se impede a morte de alguém que já deveria estar morto? Conhecendo a Maria, ela levou seus melhores brinquedos pro parquinho, e provavelmente usou uma arma para caçar elefantes.

Imagine meu espanto quando, no meio da bagunça à la Ráuse, aparece na porta o Dr. Escamoso, de maleta e tudo, procurando pelo “filho”. O Xavier já estava lá fora, procurando outros sobreviventes e suprimentos médicos (ainda tem — ou tinha — médicos por aqui), enquanto o Luca me empurrava pro lado e começava a trabalhar.

(Gente, devido à quantidade de trocadilhos infames com homens, cobras gigantes, e pessoas que fingem ser médicos, vou pular essa parte. Sou uma narradora de respeito. Eu era a assistente com polegares, tudo deu certo. Aceitem)

Depois, quando não estava mais salvando o Mauro, Luca parecia ter ativado o modo Assustador.  Acho que não decidia se estava com mais raiva de mim ou do filhote. Francamente, morei com um boitatá do tamanho de uma composição de metrô, não é você quem vai me abalar, lindo.

— Não posso, pai. Não posso sair daqui.

— Pode e vai. Não vou perder você e o Cass por gente que não meressce ou sse importa. Por mais imprudentes, arrogantess e ingênuos que ssejam, oss doiss ssão minha família.

Grande. Agora tenho que lidar com o Don Cobrione. Comecei a rir de nervoso, isso tudo estava absurdo demais. — Nem acredito que estamos discutindo isso. Luca, não estou falando de um rato no quintal, estou falando de pessoas. Todas elas. Por que um bando de aleatórios teria que pagar pelos erros da desgraçada da Maria? Eles não fizeram nada de errado!

— Por que meuss filhos tem que ssofrer e morrer de novo pra corrigir os seus erros, Denise?

Opa.

— Os meus...?

— SIM. OSS SEUSS. — Luca sibilou, furioso, se erguendo até um pouco acima de mim. — Penssa que não ssei quem arquitetou isso? Ou que você sabia que pessoas iriam morrer? Tenho ouvidos muito bons, em muitoss lugares desse mundo, e em alguns outros. Você ssabia. Então aceite as consequênciass, e pare de envolver os outros nos sseus problemass.

 Caramba. Isso doeu, mas ele tem razão. Se eu tivesse ficado na minha (como metade do MUNDO me mandou fazer), Maria estaria na sua ditadurazinha, eu e Xavier com medo da própria sombra e Carmem ainda seria a escrava de estimação da louca. Mas pelo menos ela estaria viva. Todos estariam.

Eu sei que fui arrogante, prepotente, e uma porrada de gente se ferrou por isso. Que eu e o Xavier não morremos ainda por causa do Mauro. No seu lugar, estaria dizendo a mesma coisa, com menos educação. Mas Carmem era minha família também. Lamento de verdade tudo que aconteceu, mas não vou pedir desculpas por tentar salvá-la daquele lugar. Por querer derrubar uma tirana cruel com delírios de dominação mundial. Isso eu não vou fazer.

Mauro tentou erguer-se, Luca sem olhar o abaixou de novo na cama. Então ele falou deitado mesmo. — Luca, me deixa explicar. Denise, a Carmem era?

— Sim, Mauro. Ela está morta. Igual a Denise do futuro. O Xavecão. Todos na cidade. E no que depender do Luca Ofídio aqui, igual ao mundo todo.

— Ainda não comescei com voscê, fique quieto. Denise, não estou impedindo voscê de ir até o Cas pra impedi-lo. Fique à vontade.

Estava pronta pra uma resposta tão venenosa quanto à dele, quando ouvi passos apressados se aproximando. Xaveco abriu a porta de supetão.

— Dê, você não acredita em quem eu…— Todos nós olhamos pra ele.  — Tem uma serpente gigante aqui, ou estou doido?

— Tem, mas não é… Affe. Enfim: Luca, Xavier. Xavier, Luca, antigo Paralaminha, atual sucuri.

Luca parecia que mastigou algo azedo. Caretas em sucuris são hilárias. — Paralaminha?

Xavier ficou sem saber o que fazer com as mãos; acabou coçando a cabeça, sem graça. Xaveco: 1; Sutileza: 0. — Bom, é um prazer te ver vivo, Luca.

— Igualmente, Xavier. Mauro, eu já disse: fique deitado. Conversamos em casa.

— A culpa não é só dela, pa… Luca. O Cas insistiu. Eu não posso ir pra casa. Não posso sair desse mundo.

Luca fechou os olhos, tentando se acalmar. Quando falou, foi pouco mais que um sussurro. — Posso ssaber o motivo?

Agora eu sabia com quem ele estava mais irritado. A temperatura do lugar caiu uns cinco graus. Mauro tinha deixado o posto de Mago supremo e parecia um menino esperando a bronca.

Xavier olhou pros dois, sem entender nada. — O que eu perdi?

— Só um Casos Familiares bem bizarro.

— Denisse, Xavier, precisso ter uma conversa em particular com o Mauro.

Antes que eu pudesse protestar, Xavier me acompanhou lá pra fora. — Vem, Dê. Vamos deixar os dois conversarem. Preciso te contar o que, ou melhor, quem eu encontrei.

Quando fechei a porta, eu o teria esganado se pudesse fazê-lo em silêncio.

“Eles vão sumir!” gesticulei. “Todo mundo se ferra!”

Ele levantou os dedos, marcando as palavras “Cobra! Gigante!”

Bati na testa. Toquei pancadão na Santa Ceia pra merecer isso, só pode! Ele continuou, articulando bem as palavras pra se fazer entender: “Você não pode impedir a cobra gigante de sumir!”

Só porque não durmo numa cama sei lá quanto tempo, lutei e usei magia pra caramba, não quer dizer que... Não, pera. Quer dizer sim. Você precisa ter razão a essa hora do dia, meu lindo? O mandei ficar quieto e voltei pra perto da porta. E se vocês acham que eu não escutei o resto da conversa é porque não me conhecem.

— Mauro, explica melhor. Como assim, morto?

— Estou usando a força do Cássio pra me manter aqui. Se eu sair dessa dimensão, serei só um humano que levou vários tiros de um fuzil anti-material. Em outras palavras, morto pra caralho. Me deixa aqui, Luca. Agora que parei de sangrar, eu vou ficar melhor. Isso é muito perigoso, você não sabe-

— … O que voscêss já fizeram? Eu ssei. Os agentes da DI.NA.MI.CA. Las Vegass. Aquela seita em Leningrado. Campos de obsessivos no Ssudão do Sul. México. Itália.

Quase pude ver o queixo de Mauro no chão, o meu já estava lá. Uou, aqueles dois tinham mesmo problemas com controle da raiva.

— Mas como-

— Eu sei, sseu egoísta idiota. Conhesço vocêss. Como voscê aceitou participar dessa insanidade? Por que não falou comigo antes de se enfiar nisso?

— Ele sabia. Percebeu o que eu estava fazendo, quis tentar salvar a Maria antes de deixar de ser ele mesmo. Não consegui dizer não. Não pude.

O sibilar foi tão alto que não precisou de tradução. — Qual é o sseu problema? Sequer pensou em avissar as pessoas que sse importam com vocês que estava planejando ssuicídio?

— Mas eu não-

— Cale a boca e me escute. Isso é ssuicídio, sseu imbecil, não tinha qualquer outro final possível. Você teria que sse destruir e ao Cássio. A única coisa decente a fazer era ter dado algum tempo de qualidade e depois acabado com ele. O Cas é um idiota com ssíndrome de herói, mas teria ouvido você. Porra, ele teria se matado por você.

— Ele ainda tem uma alma, Luca?

Nem o Luca soube como responder isso. Mauro continuou. — Isso que nós vemos é tudo que ele tem? Eu não sei. Na verdade, não importa o quanto eu pesquise, ninguém sabe o que o Cas é agora, além de uma catástrofe natural ambulante. Além disso, eu não vou sobreviver ao processo, sei disso hoje. Usei poder demais dele, e tanta força não vem sem um preço. Sei que ele teria feito o que eu pedisse, o desgraçado confiava em mim… Eu e Ângelo tínhamos um plano. Mas não consegui.

— Por que voscê não pediu ajuda? Ssabe que teríamos ajudado. Encontrado outro jeito.

Mauro não respondeu, pelo menos não em voz alta, mas eu podia adivinhar a razão. O boy magia, temido por meio mundo, com mais nomes que a mãe dos dragões lá, estava morrendo de vergonha. Gente poderosa é assim: quando esbarra numa coisa que não consegue fazer, empaca. Quanto mais tempo passa, mais constrangedor fica admitir que não conseguiu.

O silêncio ainda durou um pouco, cortado aqui e ali por um palavrão surpreso de Luca. Por que eles não podem discutir as coisas falando?

— Mauro, isso ainda foi irresponsável, arrogante e inssano pra cacete. Agora tem um monte de gente pagando com a vida pelos seus erros. E você ssabe, tanto quanto eu, que vai ter que honrar esse pacto com o Ângelo.

Alguma coisa que eles compartilharam amansou um pouco o Sr. Escamas lá dentro. Agora ele só parecia muito, muito triste.

— Eu não posso. Não mais.

— Você não fez um acordo com algum demônio estúpido. Não dá pra escapar pelas letras miúdas. Ele pode cobrar sua palavra, Mau.

— O Cas merecia viver, pai. Depois do tanto que lutamos… De tudo que ele desistiu pra salvar essa merda imbecil de espécie, ele não merecia durar um pouquinho mais?

Luca estava pensando nos mortos dele. Sei disso, porque eu lembrava dos meus. Todos nós, Mauro. — Ssim. Meresscia.

Então ficaram em silêncio, mas parecia algo diferente.

— Eu… me des-

— Não, Mauro. Eu te entendo, isso não quer dizer que não estou puto ou decepcionado contigo. Você deveria ter confiado em nós. Em mim. Talvez a gente não estivesse numa situação tão fodida.

— Deveria. — Depois disso eu quase me levantei. Ninguém falou nada por uma porção de tempo.

É engraçado, sabe? Toda a vida lidei com palavras. As reais e inventadas, mas às vezes são as coisas que não precisam ser ditas que importam.

— Eu entendo agora. Obrigado, pai.

— Não me agradessça, Mauro. Eu ssei que vou viver o ssuficiente pra me arrepender disso.


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Notas finais do capítulo

Sei que todos que leram Meia Lua e fizeram as contas entenderam algumas coisas em aberto naquele último capítulo. Só se passou um ano desde o final da história anterior. Em outras palavras, se Mauro não fosse um lobo apaixonado sem um pingo de bom senso, Cássio continuaria morto desde aquela época e o final daquela história não teria sido a coisa feliz que foi.

* Até que o Cássio deixe de ser o avatar da Decadência ou magia celestial interfira, ele não vai permanecer morto. Mas nada na vida vem de graça, e agora vocês sabem o preço que ele pagou pela virtual imortalidade;

* O que aconteceu com Luca desde que foi capturado, e porque ele levou esse tempo pra voltar é assunto pra outra história. O que eu posso dizer é que de uma forma muito bizarra, Nero salvou a vida dele. Se Bianconero não tivesse feito o que fez, Luca teria chegado humano e agora seria parte dos restos no chão. A sorte de Odin é estranha;

* Na turma da Mônica clássica, os apelidos de Luca eram Paralaminha (em homenagem ao Hebert Viana) e Da roda. Óbvio que ninguém mais o chamava assim desde a adolescência.

* O fuzil anti-material Nemesis realmente existe, e é uma coisa para atacar helicópteros e carros blindados. Com qualquer outro mago, o plano de Maria teria funcionado, e partido o sujeito em pedaços;

* Quanto à pronúncia cheia de esses do Luca, não pude resistir.

Como o próprio Cássio afirmou, agora ele é apenas o avatar da Decadência. Se e como vão impedi-lo, vocês vão ter de esperar os próximos capítulos para saber. Obrigada por terem lido, e até lá.



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