Pokémon - Luz do Amanhecer escrita por Benihime


Capítulo 1
Prólogo




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As duas crianças saíram da floresta de mãos dadas. O garoto parecia bem, mas a menina tinha lágrimas nos olhos e mancava um pouco.

— Ash! — Uma jovem gritou, correndo na direção do menino de cabelos negros. — Onde diabos você estava?

— Na floresta. — Ash respondeu calmamente, com um leve tom de desafio na voz. — Caçando pokemon.

A garota mais velha, uma adolescente com longos cabelos negros presos em uma trança, pareceu não gostar daquela resposta. Seus olhos verdes brilharam e seu rosto ficou vermelho enquanto ela encarava o menino, furiosa.

— Idiota! — Exclamou, sua voz quase um rugido. — Você sabe que não pode sair sozinho desse jeito!

— Sou grande o bastante pra isso. — Ele replicou teimosamente.

— Se alguém descobrir, nós dois estamos encrencados. Você pensou nisso, mocinho?

Ash recuou, baixando a cabeça em um gesto de vergonha. A atitude pareceu amainar a raiva da morena, que no entanto não desviou dele aqueles penetrantes olhos verdes.

— Não pensei. — Ele admitiu em voz baixa. — Desculpe, Caly. Por favor, não fique braba!

Caly cedeu, sua expressão séria dando lugar a um leve sorriso. Não conseguia se zangar com aquele pestinha por muito tempo, por mais que quisesse.

— Ok. Prometo não ficar braba se você prometer nunca mais ser tão idiota de novo. Certo, maninho?

— Certo! Eu prometo.

A irmã mais velha de Ash estendeu uma das mãos, que o garoto apertou com vigor. Só então ela notou a garotinha loira, que tinha recuado até a margem da floresta, semi oculta atrás da árvore mais próxima.

— Hey, não precisa ter medo. — A morena disse, estendendo uma das mãos em convite. — Venha aqui.

— É. — Ash corroborou. — Minha irmã é feia, mas não vai te morder.

— Quieto, pirralho!

— Por que? É verdade.

Ash riu. A morena tentou continuar séria, mas acabou também cedendo a uma risada. Isso fez a garotinha loira relaxar e dar um passo hesitante na direção dos dois irmãos.

— Seu nome é ... Serena, não é? — A menina apenas assentiu, tímida demais para falar. — Como você se machucou?

— Eu ... — A voz de Serena mal era audível. — Me perdi na floresta ... E tropecei.

— E eu a encontrei. — Ash completou com satisfação, quase se gabando. — Então voltamos juntos.

— Nada mal, irmãozinho. Assim é que se faz. — A garota mais velha aprovou, sorrindo com orgulho enquanto estendia uma das mãos para bagunçar os cabelos rebeldes de seu irmão mais novo. — Venha cá, deixe eu ver esse arranhão.

Serena recuou mais uma vez, mas Ash estendeu uma das mãos e a segurou pelo pulso para impedi-la.

— Está tudo bem. — Ele garantiu. — Minha irmã é muito boa com machucados. Ela vai ser médica um dia.

— Não vou não. — Caly riu com gosto daquele comentário. — Mas o Ash tem razão. Pode confiar em mim, prometo que não vai doer nem um pouco.

A garotinha loira cedeu, permitindo que a morena a ajudasse a sentar em um galho que se estendia do tronco de um salgueiro. A irmã mais velha de Ash tirou um frasco da bolsa que trazia pendurada no ombro esquerdo e deu algumas borrifadas no joelho ralado de Serena.

— Pronto. Isso é para cicatrizar, deve fazer o truque. — Declarou. — Está melhor?

— Está! — A garotinha sorriu. — Obrigada!

— Disponha. — Então Caly se virou para Ash.  Você também se machucou, maninho?

— Nah, eu estou bem. — Ele respondeu casualmente. — Sou um garoto durão.

— Está bem, se você diz ... Ah, e a propósito ... Meu nome é Calista. — A jovem deu uma piscadela amigável. — Mas não ligo se preferir me chamar de Caly. Todo mundo chama, mesmo.

E, dizendo isso, Calista aninhou-se entre as raízes protuberantes do salgueiro. Ash se içou para sentar ao lado de sua nova amiga. A jovem morena tirou três bombons da bolsa, oferecendo um a cada criança e ficando com o terceiro para si. Serena sorriu em agradecimento, sua timidez completamente esquecida. Daquele dia em diante, os três se tornaram bons amigos, inseparáveis até o fim do acampamento de verão.

Mas, é claro, verões acabam, e amizades também. No último dia, quando se despediram, Calista abraçou rapidamente uma Serena que se desmanchava em lágrimas.

— Vamos nos ver no ano que vem. — A jovem morena prometeu. — Você vai ver, o tempo vai passar mais rápido do que você imagina.

— Promete?

Em resposta Calista se ajoelhou na frente da menina, desfazendo o laço da fita verde-água que prendia seus cabelos negros.

— Prometo. — Disse, tomando delicadamente o pulso direito de Serena e amarrando a fita ao seu redor como se fosse uma pulseira. — Nos vemos por aí, loirinha.

A garotinha esboçou um sorriso lacrimoso enquanto sua mãe a pegava pela mão livre. Ela acenou uma ultima vez antes de se afastar, deixando Calista e Ash a sós.

— Será que a mamãe vai nos deixar voltar no ano que vem?

— Com certeza. — A morena respondeu. — Você sempre consegue o que quer com ela.

Se não conhecesse tão bem sua irmã mais velha, o garoto nunca teria reparado na amargura na voz de Calista.

O relacionamento da morena com a mãe, Dehlia, nunca fora dos melhores. Calista era um espírito independente, uma garota teimosa. Tal personalidade jamais se daria bem com uma mãe que preferia mantê-la em casa, sempre sob sua atenta supervisão, proibindo até mesmo que tivesse seu próprio pokemon. Por isso, dois anos mais tarde, depois de seu décimo quinto aniversário, a jovem decidiu que estava farta. Era hora de partir.

Naquela noite, ao se esgueirar pelo carvalho abaixo da janela de seu quarto, uma garota veio em sua direção. Tinham praticamente a mesma idade, e Calista sorriu ao vê-la.

— Tem certeza disso, Caly? — A garota perguntou, preocupada.

— Tenho. — A irmã de Ash foi categórica. — Não dá pra continuar vivendo assim.

— Está bem. — Foi a resposta, dada em tom de derrota enquanto a garota lhe estendia uma pokebola — O vovô mandou isso para você. E desejou boa sorte.

— Obrigada. Agradeça ao professor por mim. Diga a ele que vou mandar notícias assim que puder.

— Pode deixar. Tome cuidado.

— Eu prometo. Nos vemos por aí, Daisy.

Daisy Carvalho tentou sorrir, acenando um adeus enquanto sua melhor amiga desaparecia na noite e deixava a cidade de Pallet. Quando já estava bem longe, a jovem parou e libertou o pokemon recém adquirido de sua pokebola, abrindo um largo sorriso ao ver Charmander, o Pokemon Lagarto. Aqueles profundos olhos azul-escuros a fitaram com intensidade, como se a analisassem.

 — Um tipo fogo. — Calista sorriu, satisfeita. — É, o professor Carvalho realmente me conhece bem.

A Charmander deixou sua cabeça pender para a esquerda, sem nunca desviar o olhar curioso de sua treinadora. A jovem estendeu uma das mãos e lhe acariciou o topo da cabeça, fazendo a pokemon deixar escapar uma exclamação de surpresa.

— Somos só nós duas agora. — A morena declarou. — Bom ... Por hora. Essa jornada vai ser uma aventura e tanto.

A Pokemon Lagarto sorriu, assentindo com convicção. Naquela noite as duas acamparam, com a Charmander dormindo enrodilhada ao lado de sua treinadora. Atingiram a cidade de Viridian no dia seguinte e, após um almoço tardio, a adolescente e sua nova pokemon se embrenharam na floresta.

— Nada mal. — Calista sorriu quando finalmente atingiram o final do labirinto de árvores, após terem enfrentado alguns treinadores e os muitos pokemon do tipo Inseto que povoavam o lugar. — Nada mal mesmo. Você pode ser pequena, mas tem muito potencial.

A Charmander fincou as mãos nos quadris, erguendo o queixo e abrindo um enorme sorriso cheio de satisfação. Sua cauda chicoteava no ar, a chama na ponta brilhando intensamente. Era a própria definição de "cheia de si."

— Sabe, você precisa de um nome. — A morena comentou pensativamente. — Blaze. O que acha?

A pokemon pensou por um segundo, depois negou com um gesto veemente, seu rosto se retorcendo em uma expressão de desgosto.

— Tem razão, esse nome é horrível. — Calista riu. — Que tal ... Flame? Light? Red? O que você acha?

A Charmander negou com a cabeça mais uma vez, parecendo não gostar de nenhum daqueles nomes.

 — É ... Sem graça demais. Volcan? Afinal, você é poderosa como um vulcão em erupção. Não? Fire, então? — Os olhos verdes da jovem então brilharam, seu rosto se iluminando com uma súbita inspiração. — Já sei! IceFire!

A Charmander ponderou por um segundo, então assentiu, satisfeita com seu novo nome.

— Certo, IceFire. — Calista disse. — Agora vamos nessa. Vamos acabar com todos eles!


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