Em Seu Lugar escrita por kicaBh


Capítulo 2
Capitulo 2




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Cap 2

Darcy acordou sentindo um cheiro familiar. Preferiu não abrir os olhos quando se lembrou do que houve. Ontem ele e Elisabeta mais uma vez “avançaram o sinal”. Logo após o vinho e de Darcy socorrer Susana eles subiram para o quarto dele. Ele estava bastante chateado com Charlote mas enquanto conversavam sobre parecermos ser aquilo que somos, sermos a soma de instintos e desejos, mais uma vez não resistiram e se beijaram além do recomendado para um casal de namorados. Se Elisabeta não o parasse teria feito amor com ela ali no sofá de seu quarto. Ele não saberia mais quanto tempo poderiam resistir, ele a respeitava, entendia o tempo dela, mas sentia que a própria Elisabeta possuía cada vez menos reservas.

Agora deitado aqui nessa cama ele lembrava da língua dele invadindo a boca dela, o corpo dela embaixo do seu, a puxando para um beijo apaixonado.

Ela se despediu e 30 segundos depois mudou de ideia e decidiu dormir aqui com ele. Não aconteceu nada demais, mas Darcy a manteve junto ao seu peito a noite toda. Eles conversaram, namoraram e aproveitaram a oportunidade de estarem juntinhos uma noite inteira.

Ele sentiu ela se mexendo ao seu lado, Elisabeta deveria estar acordando. Ele a surpreenderia com um beijo antes mesmo dela abrir os olhos.

Girou a si mesmo para ficar sobre ela e abriu os olhos.

Não conseguiu beija-la, pois ambos olharam e deram um berro.

*

Depois do grito ambos levantaram da cama o mais rápido que puderam e desde então tentavam entender o que havia acontecido.

Isso é um sonho, só pode ser um sonho. Darcy via seu corpo dizer as palavras, enquanto ele, no corpo de sua namorada, não entendia como era possível olhar a si mesmo de fora do próprio corpo.

Vamos ficar calmos. Ele falou ouvindo o som da voz de Elisabeta. Isso não era um sonho, era um pesadelo.

Isso mesmo, isso mesmo. Vamos ficar calmos. As vezes estamos presos num pesadelo partilhado e se fecharmos bem os olhos, e abrirmos, acordaremos nos corpos corretos.

Eles fecharam os olhos e cada um rezou a sua maneira.

Abriram os olhos.

Nada aconteceu. Espanto total.

Eles continuavam encarando a si mesmos, como um espelho truncado. Um golpe de muito mal gosto.

Pareceu uma eternidade para a respiração ser controlada, mas quando iriam pensar no que fazer, foram surpreendidos.

Darcy? Aconteceu alguma coisa? Eu ouvi gritos. Era Charlote que já entrava pelo quarto do irmão surpresa por encontrar Elisabeta também no local. Perdão, Elisa. Eu não sabia que você estava aqui. Pelo visto o meu irmão fala sobre um comportamento que não pratica.

Charlote, você está enganada. Darcy falou no corpo de Elisabeta, deixando Charlote intimidada. A cunhada não costuma ter rompantes de opressão em cima de outras pessoas. Vendo a cara de espanto do irmão e da cunhada, resolveu sair do quarto. O que quer que tenha acontecido com eles, não parecia nada que ela pudesse ajudar.

Darcy seguiu Charlote até o quarto dela, como um impulso, não queria deixar a irmã pensando mal dele. Mas ao chegar lá deu-se conta de que Charlote não veria o irmão e sim a cunhada. Deus o ajudasse porque em seu quarto uma Elisabeta confusa se olhava no espelho enxergando o corpo do namorado como se o mundo tivesse ficado de cabeça para baixo.

*

Me desculpe, Elisabeta, eu não quis invadir a intimidade de vocês, eu apenas estou surpresa que meu irmão abomine o comportamento do Uirapuru e no entanto... Ela não terminou a frase, Darcy entendeu o ponto.

Charlote, eu não —  ele consertou quando se lembrou que estava no corpo de Elisabeta – Darcy não é o Uirapuru.

Eu sei, ele é um homem honrado. E te ama acima da própria vida.

E não aconteceu nada entre nós. Diante da sobrancelha levantada da irmã, ele continuou falando. De verdade, nós namoramos um pouco mas nós não cruzamos nenhuma barreira. Apenas dormimos juntos. Só dormimos. Ele se lembrou das palavras de Elisabeta.

E você queria? Se entregar a ele? Charlote de repente quis saber, um olhar travesso. Sabe, Elisabeta, uma das coisas que eu nunca pude fazer meu pai e Darcy entenderem era o desejo que eu sentia por Diogo. Ele me incendiava quando colocava os lábios no meu pescoço. Eu me entreguei querendo me entregar, Elisa. Eu não imaginava que ele me deixaria por dinheiro, ele parecia sentir o mesmo que eu. Eu sentia o corpo dele endurecer ao estar perto de mim, nossas respirações ofegantes. Ela terminou com um sorriso triste no rosto ao lembrar do final desta história.

Darcy se levantou de repente, assustado e raivoso. E se perguntou o que estava fazendo ali.

Para além da raiva daquele desprezível tocar o corpo da sua irmã, aquela era uma conversa entre meninas, ele não teria como falar sobre isso. Desejo era algo masculino, soava quase inadmissível que sua irmãzinha pudesse desejar aquele crápula, conscientemente. E que Diogo pudesse ser tão despudorado com uma menina. Ele tirou a inocência de sua irmã.

Charlote ainda olhava para ele, ou para Elisabeta, aguardando a resposta. E ele também não sabia o que dizer neste sentido. Elisabeta queria se entregar a ele? Ele imaginava que sim, na forma como ela o beijava e permitia que ele tocasse o corpo dela. Ele também ficava duro próximo a Elisabeta, mas era diferente, ela já era uma adulta. Já sabia o que queria. E ele não era um crápula, ele se casaria com ela num piscar de olhos. Bastava ela dizer sim.

Charlote, nós namoramos. Há uma evolução nos beijos, nos toques, mas não há imposição, há descobertas. Ele tentava falar sem comprometer Elisabeta, mas estranhamente teve um flash. Talvez estar no corpo de Elisabeta o permitisse acessar algumas memórias dela e então ele recordou a noite em que voltaram do jantar de Lorde Wiliamson. Ela o seduziu e ele se entregou totalmente, deitando-a na cama e rolando com ela até chegarem ao chão, o que impediu que fizessem amor ali mesmo, quem sabe pro cortiço inteiro ficar sabendo. Darcy sentiu o corpo de Elisabeta aquecer a esta lembrança, um calor no ventre, uma umidade em seu centro e um arrepio em seu estomago. Era isso que ela sentia ao lembrar deles assim juntos? Foi Charlote quem o tirou do devaneio.

Elisabeta, meu irmão é um homem muito bonito. E eu já reparei nos beijos que vocês trocam. Ontem mesmo vocês estavam namorando na sala sem deixar espaço para a imaginação se há ou não vontades. Meu irmão deseja a você como nunca desejou a outra mulher na vida.

Sim, sim. Eu também desejo. Ele respondeu seguramente. Mas nós temos um acordo de tomarmos essa decisão em conjunto. Ele me respeita, Charlote.

— Eu sei. E sei que Diogo só queria o meu dinheiro, diferente de você com Darcy.

— Sim. E por isso seu irmão te ama e se preocupa com você. Ele sabe que o comportamento do Uirapuru não foi adequado, você era uma menina enquanto ele era um homem mais experiente. Ele deveria ter esperado o seu tempo. Ele respondeu a irmã, orgulhoso.

Não me parece que vocês conseguirão esperar muito. Charlote riu gostosamente. Diogo invadiu o meu quarto muitas vezes também, eu sei como funciona. Elisa, eu preciso de um tempo para resolver essa questão dentro de mim, de como pude me enganar tanto por apenas ouvir o meu corpo. E assim que eu estiver em paz eu vou procurar Darcy, porque o amo muito e não quero me afastar dele. Eu sei que as atitudes dele foram por amor.

Darcy olhou carinhosamente para a irmã e a sensação de que iria enfartar diminuiu um pouco. Ele nunca soube que aquele miserável invadia o quarto de Charlote, que sujeito repulsivo. Ele deve ter feito uma expressão muito estranha no rosto de Elisabeta pois sua irmã perguntou se estava tudo bem.

Sim, sim, está. Ele abraçou Charlote e saiu pisando firme.

*

De volta ao quarto ele encontrou seu corpo sentado na cama, um olhar perdido.

Como foi com Charlote? Elisabeta perguntou.

Ela vai me perdoar, mas eu realmente não precisava ouvir algumas coisas. Sobre o que vocês conversam? Ele de repente quis saber se falavam dele.

São conversas femininas, Darcy. Possivelmente você e Camilo e Ernesto falam de coisas parecidas. Mas nós não podemos discutir sobre isso agora, eu preciso ir ao banheiro. Quer dizer, você precisa ir ao banheiro. Darcy olhou e viu seu rosto vermelho e então pensou em outra magnitude da situação. Ele e Elisabeta avançavam os sinais mais ainda não conheciam o corpo um do outro sem roupa. Era a questão prática a ser resolvida agora.

Esqueça banho e trabalho, avisarei a Ludmila que não estou me sentindo bem e nós vamos tentar entender o que nos aconteceu. Darcy saiu do quarto em direção a sala para usar o telefone.

Elisabeta viu a si mesma fugir pela porta e encarou novamente o espelho. Não dava mais para esperar. Ela teria que esvaziar a bexiga de Darcy. Ela entrou no cômodo reconhecendo o local. Havia uma grande banheira e uma pia com os pertences dele. E lá estava, o vaso. Não era algo de outro mundo, ela conhecia a anatomia masculina dos livros de biologia que seu pai utilizava para ensina-las. E bem, ela e Darcy não eram tão inocentes. Ela já o havia sentido por sobre a calça.

E se fosse mais honesta ainda admitiria que não via a hora deles cruzarem a barreira final e ficarem juntos.

Mas agora era diferente. Ela iria tocá-lo.

Ela resolveu criar um mantra para resolver logo esta questão. “Apenas esvazie” ela se dizia seguidamente enquanto abria a calça e o sentia entre as mãos e ela não pode deixar de se deliciar com a sensação quente em suas mãos. Ela se lembrou do mantra e seguiu em frente, parecia fácil e estava tudo dando certo. Ela aliviou a bexiga e já ia guardar o membro quando se deu conta de que não era para ser algo erótico, mas o pegar oferecia a ela uma sensação boa de prazer. E o corpo de Darcy também parecia gostar muito porque ela sentia seu coração batendo cada mais acelerado. E como se deu com ele, ela também acessou alguma memória onde ele imaginava que ela fizesse isso, o tocasse com cuidado e determinação.

Ela estava aproveitando o prazer momentâneo de senti-lo quente em suas mãos, endurecendo, quando Darcy entrou vibrante no cômodo.

Meu Deus, deu tudo certo, Elisabeta ? Você não sai nunca deste banheiro e .... Então Darcy viu seu membro sendo segurado, ele diria até apalpado.

Oh meu Deus, Darcy, vire-se. Elisabeta também virou o corpo de Darcy e fechou a calça dele, recompondo-se.

Elisabeta, tecnicamente eu estou vendo a mim mesmo. Ele falou rindo, porque é claro que havia sido um momento de curiosidade. Ele mesmo teria aproveitado quando foi ao banheiro aliviar a bexiga dela, mas o excesso de roupa, somado ao desespero, não permitiu que ele aproveitasse o momento. Mas ele realmente entendia, principalmente porque ele já havia se tocado pensando nela. E se ela acessou alguma memória dele, como aconteceu a minutos atrás no quarto de Charlote quando ele sentiu o que ela havia vivido, podia apostar na boa sensação que ela estava vivendo. Por isso, e diante do absurdo da situação, Darcy caiu na gargalhada.

Posso saber qual a graça da situação? Eu estou envergonhada, eu não queria, eu não sei o que me deu. Elisabeta tentava explicar, mas não conseguia.

Elisabeta, não há o que se envergonhar. Meu corpo é seu. Ele aproximou, se dando conta de repente do quanto era alto. Era quase intimidador o tamanho que ele possuía e por um segundo ele abaixou a cabeça, como fazia para beijá-la sempre e viu somente o chão. Então se corrigiu e olhou para cima tocando o próprio rosto e vendo os olhos dela. Nessa maluquice toda os olhos permaneceram intocados. Ele viu o azul dos olhos dela em seu corpo e ela foi ao seu encontro e eles se beijaram de leve.

Que experiência curiosa. Beijar Elisabeta sempre foi maravilhoso, Darcy sabia. Mas beijar a si mesmo, no corpo dela dava a ele a dimensão do que ela sentia. O coração dela disparava e o estomago dela tinha as mesmas borboletas soltas que ele sentia. Aquele arrepio que ele havia acessado também aconteceu e quando ela sentiu as mãos deles buscaram o corpo do outro ele poderia jurar que estava derretendo.

Ele se permitiu beijá-la um pouco mais fundo, mas quando sentiu seu membro endurecido Elisabeta se afastou.

Me desculpe. Ela falou esbaforida, sem saber o que dizer. Foi involuntário. Quando ela viu Darcy se aproximar foi algo instintivo, ela pensou na experiência de beijar a si mesma e mesmo achando estranho, curtiu o momento. No entanto o corpo de Darcy era muito poderoso e ela não conseguiu controlar, quanto mais o beijo durava mais ela se sentia se rendendo. Foi incapaz de impedir a ereção dele e de novo, ele parecia não se importar.

Bom, pelo menos agora você sabe como eu me sinto cada vez que eu te beijo. Ele ainda tinha um sorrido no rosto.

Oh Deus! Sim. Acho que você também. Ela finalmente conseguiu sorrir.

Então finalmente se sentaram para tentar entender o que aconteceu.

*

Ambos refizeram os passos no dia anterior.

Elisabeta levantou cedo, tomou seu café com Jane e Ernesto no bar de Seu Manoel, foi trabalhar na fábrica e de lá foi para a casa de Darcy. Nada diferente neste dia, ninguém diferente cruzou seu caminho e nem mesmo ela comprou comida ou quitute diferente.

Darcy também refez seus passos, ele encontrou Camilo, ele e Charlote discutiram sobre o Uirapuru. Ele esteve no escritório da Williamson em São Paulo, resolveu questões da ferrovia e então retornou a mansão onde ele e Julieta tomaram um chá e conversaram sobre a vida e os filhos, já que ele via a irmã como sua filha. Nada fora do normal.

Então ele e Elisabeta se encontraram, ela jantou com eles e quando Julieta se recolheu eles ficaram no sofá com Susana fazendo papel de vela e falando bobagens. Claramente incomodando e sem se importar.

Então Petúlia chegou e pediu a Elisabeta para entregar uma carta a sua amiga no cortiço e quando ela retornou a sala.

Susana, aposto que ela tem algo a ver com isso! Elisabeta falou quando se lembrou dela na sala com eles ontem a noite.

Não era segredo para Elisabeta que Susana dissimulava e tentava a muito custo conquistar Darcy. Ele parecia fazer olhos de mercador e trata-la com o devido respeito em consideração a Camilo e Julieta e pela relação que ela tinha na família Bitencourt. Mas começou a fazer sentido para Darcy. Ele tinha quase certeza de que havia sido ela quem disse para seu pai do seu envolvimento com Elisabeta e do quanto ela era inadequada.

Susana estava sempre rodeando Archiebald, mesmo que ela escolhesse momentos onde Darcy não estava em casa, Charlote o advertira algumas vezes.

Oh meu Deus, será possível que ela tenha conseguido fazer isso ? Onde ela está agora ? Darcy perguntou.

Ora francamente, Darcy, você é muito condescendente com aquela cascavel. Eu, quando encontra-la vou estrangular o pescoço dela até ela confessar o que fez e ..... Elisabeta falava e se exaltava, sentindo o rosto vermelho.

Darcy se assustou. Elisabeta em seu corpo era quase um descontrole. Ele tinha esse jeito explosivo, mas sua educação inglesa o fazia ponderar as responsabilidades. Ele tinha noção do seu tamanho, inclusive físico, para não machucar as pessoas, literalmente falando. Mas ela não, ela era explosiva e seu corpo pequeno e magro não era tão ameaçador quanto o dele soava naquele momento.

Elisabeta, eu acho que meu corpo não está fazendo bem a você. Eu estou me sentindo assustado com as suas ameaças, você me parece pronta para perder o controle. Ele conseguiu dizer com uma calma e uma vontade de chorar desconhecida. Talvez fosse o corpo dela o influenciando, suas lágrimas começaram a cair descontroladamente.

Sinto muito, Darcy. Você tem sentimentos poderosos aqui dentro, eu não consegui me conter. Não queria assustá-lo. Ela sentou o corpo de Darcy e procurou se acalmar e também dar alguma calma a ele, passando a mão em seus ombros para acalmá-lo.

Vamos procurar Susana para que ela nos esclareça. Darcy conseguiu dizer com calma, por mais que ele estivesse nervoso, no corpo de Elisabeta os sentimentos se misturavam bastante e ele queria tanto bater em alguém como chorar sem parar, e isso era assustador para ele.

Sim, mas antes eu preciso comer. Esse seu corpo todo, somado as tensões do dia me deram fome. Eles riram da situação e foram para a cozinha.

*

Elisabeta não se saciava. Ela havia comido bolo, pão, tomado chá e café e mesmo assim ainda sobrava espaço para mais alguma coisa.

Darcy olhava espantado se perguntando se ele comia esta quantidade de alimentos. No prato que ele havia colocado muita coisa estava sobrando. Não admirava ela ter essa cinturinha, um pedaço de bolo e um copo de leite a satisfizeram.

Vai comer este resto? Ele se virou em direção ao seu corpo. Começava a ficar menos estranho olhar a si mesmo sabendo que era Elisabeta quem estava ali.  Diante da negativa, viu os pratos serem trocados e Elisabeta ainda comer o que havia sobrado.

Está tentando me engordar? Ele resolveu brincar.

Estou faminta, é esse seu tamanho todo. Poderia comer essa cozinha inteira e.... Elisabeta ia comentar mais alguma coisa quando ambos viram uma estabanada Petúlia entrar pela porta.

Petúlia ! Ambos disseram. A empregada de Susana até tentou dar meia volta e fugir, mas foi alcançada por eles, que a levaram para a dispensa e trancaram a porta.

*

Onde está Susana? Darcy falou, notando a face vermelha do seu corpo. Ele se conhecia, quando ficava assim era sinal que estava prestes a perder a compostura, então ele resolveu tentar controlar a situação, pulando na frente de Elisabeta. Não ajudava muito Petúlia ser menor do que Elisabeta, porque ele sentia vontade de pegá-la pelo pescoço e sacudi-la até ela confessar o que haviam feito a eles. O corpo de sua namorada também possuía uns rompantes que ele desconhecia, a mesma vontade de chorar surgia e disputava lugar com a vontade estapear Petúlia.

Madama... madama.... Madama está se sentindo indisposta esta manhã. Ela dizia trêmula.

Onde ela está? Darcy insistiu.

Petúlia respirava rapidamente, mas tentou se acalmar, deu uma respiração longa e falou que Susana estava no quarto, que desde ontem ela ficou sonolenta e até agora não havia conseguido acordá-la.

Elisabeta então não aguentou e pegou Petúlia pelo braço e a levou até o quarto de Susana.

*

Susana dormia pesadamente e mesmo diante das cócegas que Elisabeta insistiu em fazer nos pés dela, ela não acordou. Sequer se mexeu na cama, diante do olhar de espanto de Petúlia.

Vamos chamar um médico. Darcy falou decidido e se havia algo no corpo de Elisabeta era decisão, ele sentia o corpo dela inflar diante de decisões tomadas. Ela dizia que situações de desafio a faziam crescer e agora ele sentia ser verdade. E ver Susana ali praticamente desmaiada, e ele e Elisabeta trocados, parecia estranho o suficiente para justificar um médico. Mas Petúlia começou a chorar e disse que não, de jeito nenhum, o que fez com que as suspeitas deles se confirmassem.

Elisabeta por fim perdeu a compostura e literalmente pegou Petúlia pelo pescoço, a segurou na parede e disse que só a soltaria quando ela contasse o que estava acontecendo. Ela chorou, negou, fez um teatro digno de prêmio, mas Elisabeta não soltou o aperto. Ela percebeu a empregada de Susana ficar um pouco roxa, mas o corpo de Darcy era forte e dava a ela uma sensação boa demais ao intimidar os outros. Era uma maravilha. E ela não teria soltado Petúlia se não tivesse sentido Darcy colocar a mão sobre ela e pedir uma folga. Ela cedeu ao pedido dele, e aparentemente adiantou porque Petúlia olhou para eles e contou que Susana havia ingerido calmante por engano na noite passada. E que por isso agora ela dormia.

Petúlia ainda tentou contar que o calmante era porque Susana andava muito nervosa com Olegário e com Julieta, que eles não estavam dando folga a ela, mas Darcy e Elisabeta não caíram nesta desculpa. Quando Elisabeta ameaçou esganá-la novamente a criada falou:

Lorde Darcy, o senhor está fora de controle hoje. Até parece sua namorada quando fica nervosa. Ela olhou nos olhos do corpo de Darcy e Elisabeta entendeu, havia sido ela. Petúlia de alguma forma provocou isso. Então pegou a empregada pelo braço e foi dobrando o dedinho da mão dela, até começar a doer. Petúlia tentava se desvencilhar, mas não conseguia. Elisabeta sabia que Darcy era contra a violência, mas ela já não tinha tanta certeza.

Escute bem, Petúlia, você vai nos contar o que houve exatamente e porque eu e Darcy estamos aparentemente passando por uma situação inusitada. Que você sabe exatamente qual é. Ande, ou eu vou quebrar todos os ossos de suas mãos. E você sabe que eu faria isso, porque como você disse, o Lorde Williamson não está se sentindo ele mesmo hoje. Era realmente ameaçador, Darcy sentia, mas não podia deixar de se orgulhar da sua namorada. Ela era imperdível, mesmo usando seu corpo de uma forma que ele não achava adequado. Ele havia sido criado para nunca usar seu corpo como fator de intimidação. Ele sabia que ser maior do que a maioria das pessoas, por si só, já era aterrorizador muitas vezes. E ele era o patrão, o nobre, fatores que já garantiam certa obediência das pessoas. Mas Elisabeta parecia não ligar para nada disso, ela usava seu corpo com uma máquina de luta. No entanto estava dando certo, Petúlia contou a história, ou uma parte da história.

— .... e foi isso. Esse meu conhecido índio me contou a poção e madama e eu experimentaríamos viver no corpo uma da outra. Mas algo deu errado e me parece que vocês é que estão vivendo a experiência enquanto madama... madama dorme sem saber em que mundo está. Ela falava com Elisabeta ainda segurando seus braços.

Eu não sei, algo me parece errado. Elisabeta falou, tentando achar a falha.

Mas foi Darcy, que por não ter tantos hormônios explosivos agindo, conseguiu fazer as conexões. Talvez fosse isso, o corpo de Elisabeta com a mente dele conseguia equilibrar as ideias de forma mais clara.

O vinho do porto. Susana disse que queria brindar comigo a nossa boa fase. Ela chegou com duas taças, mas eu não bebi o vinho com ela. Na verdade, nós .... Ele não terminou, não era preciso. Ele e Elisabeta tomaram as taças e aí estava o resultado. Ele foi tomado por uma fúria desconhecida, o corpo de Elisabeta virou fogo quando ele simplesmente voou em Petúlia e a imprensou contra a parede.

Como desfazemos essa maluquice de vocês? Eu não posso viver assim para sempre. E se Petúlia teve medo quando o corpo de Darcy a ameaçou, agora ela entrou em pânico diante dos olhos em furiosos do corpo de Elisabeta.

Eu... eu... eu não sei. O meu affair disse que dura 24 horas, ele até queria testar uma maneira de durar mais, mas não deu certo, se é que vocês me entendem. Puçanga Moambue - Um dia em seu lugar, era o que dizia a poção na linguagem indígena, Petúlia contou. E jurou que não havia um modo de desfazer, aparentemente o corpo expulsava a poção e a magia era desfeita.

Veja bem, Petúlia, se amanhã isso tudo não estiver desfeito eu venho pessoalmente esfolar o seu couro. Elisabeta ameaçou seriamente.

Então ela e Darcy saíram do quarto.

E Petúlia arrumou as malas pensando em se mandar da casa de Julieta, mas ao olhar Susana adormecida na cama não teve coragem. Susana ficaria uma fera quando percebesse que não havia dado certo o plano. Mesmo assim, Petúlia voltou para cuidar de sua dona.

*

Darcy e Elisabeta resolveram sair. Charlote havia deixado um recado de que encontraria uma amiga e Julieta e Olegário já deveriam estar chegando ao Vale do Café. Ludmila havia dito que não teria problemas Elisabeta tirar o dia de folga e ele não poderia ir ao escritório da companhia no corpo dela.

Por isso, resolveram ir para o cortiço. Como já havia passado da hora do almoço Elisabeta disse que precisava se alimentar, Darcy ainda não sentia fome, já que havia comido o suficiente, mas aparentemente seu corpo precisava se alimentar constantemente, diferente do de Elisabeta. Optaram por evitar o bar do seu Manoel, a ideia era ficarem quietos no quarto de Elisabeta no cortiço e não serem incomodados. Jane estava casada com Camilo e Ema estava no Vale tentando reconciliar com sua família. Ninguém os incomodaria. Eles ficariam quietos por lá até o dia amanhecer.

Depois de almoçarem num restaurante tradicional do centro de São Paulo, Elisabeta se sentia pronta para seguir em frente. Darcy ainda brincou com ela que desse jeito ele estaria uns 5 quilos mais pesado, mas ela disse que não havia problema, ele ficaria ainda mais bonito com bochechas salientes. Mas ele fez com que caminhassem um pouco, para queimar a comida e também espairecer as ideias. Não havia nada a ser feito, estavam até amanhã presos no corpo um do outro.

Elisabeta sempre gostou muito de caminhar e, no corpo de Darcy, era diferente ver a cidade tão de cima. Um diferente bom. Ela entrava nos ambientes e não era hostilizada. O que incomodava era a quantidade de mulheres que olhavam e piscavam para ela. Ela não sabia que Darcy era tão paquerado nas ruas, isso nunca a preocupou, ele parecia só ter olhos para ela, mas agora percebeu que as mulheres sempre olhavam para ele. E como hoje em dia as mulheres eram atiradas, ela concluiu. Não que fosse algo ruim, ela gostava desse jeito feminino de correr atrás do que desejava, mas por Deus, ela e Darcy estavam juntos, era notório ao vê-los em qualquer situação. Mesmo assim algumas mulheres pareciam não se importar, fixando o olhar no corpo dele e fazendo charme. Ela resolveu trazer seu corpo mais para perto dele, para evitar qualquer dúvida de que eram um casal.

Darcy por seu lado achou São Paulo um tanto claustrofóbica. Elisabeta era magra e menor do que ele e ao entrar em qualquer ambiente vários olhares se voltavam para ela. Muitos admirando as belezas dela, que ele sabia que eram muitas, mas outros apenas com olhares desagradáveis, famintos. Não foi uma boa experiência. Ele sequer conseguiu comprar um simples café sem ouvir uma gracinha. Aparentemente qualquer pessoa achava que uma mulher deveria ser cortejada ou protegida. Por isso ele aceitou de bom grado a proteção que o corpo dele ofereceu ao se aproximar.

Elisabeta, como você consegue? Ele de repente quis saber. Perguntando a ela como ela lidava com esses olhares que pareciam querer despi-la, ou com o pouco caso que as vezes ela era tratada em estabelecimentos majoritariamente masculinos.

Eu não me deixo intimidar. Alguns homens não tem noção do quanto são inconvenientes, mas se tenho oportunidade eu mostro a eles. Ela ria diante da cara de espanto dele, explicando que não raramente se via em discussões com marmanjos por aí. E eles, por medo de um escândalo acabavam por saírem de fininho. Não era divertido, mas era necessário. Já eu, daqui de cima, estou tendo a comprovação do quanto o Senhor agrada a plateia feminina. Ela terminou e ele tinha as faces coradas.

Elisabeta, eu não... Você sabe, eu só tenho olhos para você. Ele respondeu sem graça. Não poucas vezes Darcy entrava num ambiente e era paquerado. Sua altura, seu porte e a fama de nobre inglês o tornavam um homem completamente elegível a marido. No entanto, mesmo na Europa ele sempre procurou ser discreto sobre este assunto. Era confortável e ele conheceu muitas mulheres interessantes, mas somente quando brigou por uma calça com essa brasileira espoleta viu que havia encontrado a mulher que nem sabia que procurava.

Eu sei, meu amor. Eu sei. Elisabeta respondeu. E sabia mesmo. Não que ela se desmerecesse, ela era uma mulher bonita, divertida, mas Darcy poderia ter qualquer outra mulher que quisesse. Algumas muito mais disponíveis ao matrimonio que ela estava no momento. Ainda assim ele aceitava ceder a sua própria convicção para agradá-la, e estar ao lado dela. E dizia sempre que nada disso o martirizava, ao contrário, o ensinava bastante.


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