Em Seu Lugar escrita por kicaBh


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo




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Cap 1

Madama, você tem certeza de que quer fazer isso?

— Claro, sua jumenta. É o plano perfeito. Você me garantiu que essa feitiçaria vai funcionar e eu espero que funcione mesmo.

Mas Madama, não traz bons agouros incomodar os espíritos, o meu affair me disse que ficou murchinho por uns bons tempos. Embora na época ele já estivesse na boa forma novamente, se é que a madama me entende.

Se os espíritos me trouxerem Darcy e sumirem com Elisabeta da vida dele, eu pago o que for preciso. Quer dizer, faço você pagar, já que você é quem está fazendo a poção.

*

E esse foi o dialogo ocorrido entre Susana e Petúlia enquanto preparavam uma poção mágica que Petúlia conhecia por ter se relacionado com índio paraguaio a uns anos atrás. O índio havia usado a poção para se vingar de sua mulher, que o havia trocado pelo pajé da tribo.

Consistia em troca de corpos durante 24 horas. O índio trocou de lugar com o pajé e humilhou sua ex mulher durante um dia inteiro. O muxoxo que ele amargou por uns meses compensou o prazer de xingar sua ex e vê-la se decepcionar com o escolhido.

O pajé descobriu o que ele havia feito e o expulsou da tribo, desde então ele perambulava pelas ruas de São Paulo e vivia de pequenos remédios e feitiçarias. Ele e Petúlia se encontraram numa noite de bebedeira e viveram ótimos momentos. Ele garantiu a Petúlia o sucesso da poção, mas disse que era preciso cuidado. Ele havia pago um preço muito alto por mexer na alma do pajé.

E desde que Petúlia contou essa aventura a Susana ela nunca mais deu sossego a empregada. O plano era Susana e Darcy trocarem de corpos, e ela, no corpo de Darcy terminaria com Elisabeta, dizendo que o amor deles não seria mais possível porque ele tinha outra mulher.

E então se casaria com ela, Susana, que teria Darcy no corpo. Pensando numa eventual recusa de Darcy , que estaria preso no corpo da “madama”, Petúlia daria um calmante leve ao corpo de Susana, para que o casamento não fosse questionado. Era o plano perfeito.

Até as passagens do navio já estavam compradas. Quando a troca fosse desfeita ela já seria a Senhora Williamson e estariam rumo a Inglaterra. E Elisabeta jamais duvidaria, já que casamento para Darcy era algo sério.

Era um plano ousado, Susana sabia. Mas era desespero. Todas as outras tentativas de Susana para ludibriar Darcy foram por água abaixo. Ele estava bastante envolvido com Elisabeta e o jantar na casa de Julieta, em São Paulo, para que o Lorde Williamson conhecesse e intimidasse Elisabeta foi um tiro pela culatra.

Ela não sabia o que havia acontecido com os namorados depois do jantar, mas Darcy voltou aquela noite com um sorriso diferente no rosto e os pombinhos ficaram ainda mais apaixonados. Darcy agora carregava sempre um olhar bobo no rosto e adiava seu retorno ao Vale do Café.

*

Petúlia mexia os ingredientes da poção e um cheiro insuportável invadia o ambiente. Elas estavam em São Paulo escondidas nos fundos da mansão de Julieta e sabiam que Darcy estava em casa conversando com a Rainha da Café sobre partir para o Vale, mas Charlote não estava querendo ir e Susana desconfiava que Darcy usaria isso para continuar babando a camponesa.

Susana sabia que Darcy gostava de um vinho do porto antes de dormir, ele geralmente tomava o cálice em uma única golada e então partia para seus aposentos. Ela o interpelaria para dividirem um brinde, comemorando o bom momento dele com a namorada. Petúlia chegaria com as taças já com a poção dentro e então estaria feito, no dia seguinte eles acordariam trocados.

Petúlia também aplicaria um calmante leve em Susana com uma agulha quando fosse buscar as taças, ela sentiria uma picada e se retiraria com a ajuda da empregada. No dia seguinte Darcy, em um corpo feminino, acordaria apalermado e ela procuraria Elisabeta para terminarem tudo. Não havia erros, se a poção funcionasse, é claro.

Madama, veja bem, eu não ouvirei a conversa de vocês, portanto garanta que você e Darcy tomem o vinho praticamente ao mesmo tempo.

Eu já tenho tudo planejado. Eu vou conversar animadamente com Darcy sobre a Benedito aproveitadora e proporei um brinde. Ele anda tão feliz com aquela esquelética branquela que sequer questionará o que estará bebendo.

Neste instante Petúlia avisou que a poção estava pronta e Susana disse que com esse cheio seria difícil o disfarce, mas ia dar certo.

Elas retornaram a casa com a poção entre os dedos de Petúlia e preparadas para jantar, e não ouvindo as vozes de Darcy, nem mesmo Charlote, foram para o quarto.

*

Elisabeta ficou para o jantar, aparentemente Julieta e a Benedito não estavam mais se estranhando. Susana não entendia como isso poderia acontecer, já que acreditava que não havia no mundo mulheres mais diferentes. O problema é que ela, Susana, teria que esperar Elisabeta ir embora, ou Darcy retornar, para que pudessem tomar o vinho.

E Elisabeta não parecia ter pressa, deixou Julieta se despedir, tentou conversar com Charlote, que tinha uma cara bem amarrada, mas nada de ir embora.

Susana já estava ficando incomodada e não saia da sala junto com o casal, mas ela não achava que Elisabeta seria tão descarada a ponto de dormir nesta casa. Ou seria?

Nossa, já está tão tarde. Elisabeta, querida, você não trabalha amanhã? Susana por fim disse depois de não ter mais assunto.

Darcy está quase de partida para o Vale, Susana, e nós queremos aproveitar cada minuto aqui em São Paulo. Elisabeta respondeu malcriada. Não iria contar a Susana que Darcy e Charlote não estavam se entendendo. A irmã havia descoberto que ele ajudara o pai a afastar Uirapuru dela. Darcy estava bastante chateado com as palavras duras que ela dirigiu a ele. Além do mais, Charlote ainda está se decidindo sobre voltar ou não.

Nossa, eu notei mesmo que a menina Charlotte passou o dia compenetrada. Ela é uma garota maravilhosa e uma amiga muito querida para mim, eu me preocupo com ela. Susana respondeu sorridente, sem a menor vontade de sair dali, mas sabendo que teria que alterar o plano com Petúlia. Elisabeta não iria embora tão cedo e a poção tinha prazo de validade.

Teria que ser hoje. Ela se levantou e disse que iria a cozinha preparar uma surpresa para os pombinhos.

*

Petúlia, a lambisgoia desidratada não foi embora. Você disse que o índio garantiu sucesso total, pois bem, deixe Elisabeta por aí que quem sabe hoje mesmo Darcy termina este envolvimento deles, se dizendo interessado em outra mulher. Eu posso dizer que por isso Charlote está chateada e eles andam brigando. Susana falava enquanto explicava a Petúlia a mudança. A empregada distrairia Elisabeta, pedindo ajuda a Benedito para entregar uma carta uma amiga que morava perto do cortiço, então neste tempo Susana chegaria com as taças e ela e Darcy tomariam.

Ela viu Petúlia pingar as gotas preciosas e preparar a injeção, preparou as taças e mandou que a empregada fosse na frente, para dar um jeito e retirar Elisabeta da sala.

Assim que Petúlia partiu ela deu uns minutos e foi com a bandeja de encontro a Darcy.

Só não esperava que, com a saída de Elisabeta, encontraria Charlote na sala conversando com o irmão.

Eles pararam a conversa e Charlote foi para o quarto. Por um momento ela pensou que Darcy seguiria a irmã, arruinando tudo, mas Darcy sentou-se desolado no sofá e ela viu a deixa perfeita.

Meu querido, eu trouxe o vinho que você tanto gosta. Para que você e Elisabeta brindem ao amor, mas acho que você precisa de um cálice contra algum outro problema. Venha, meu caro, eu faço o favor de beber com você. Susana ria internamente de sua própria esperteza. Ela pôs a bandeja na mesinha e foi até Darcy com uma taça de vinho do porto. O inglês olhava meio atônito, sem muita vontade de compartilhar aquele momento, mas Susana sorria e ele não queria fazer uma desfeita a ela. Ele falaria com Charlote mais tarde.

Darcy, eu ouvi a voz de Charlote, você conversou com ela? Elisabeta retornava esvoaçante e plantou-se entre Darcy e Susana, e quando a empregada de Julieta pegaria sua taça, Darcy foi mais rápido.

Sim, tivemos outra discussão e eu fiquei um pouco chateado. Susana chegou gentilmente com um vinho do porto para nos oferecer e acho que estou mesmo precisando. Darcy pegou a outra taça na bandeja e entregou a Elisabeta, para desespero de Susana.

Não houve tempo para Susana fazer nada, ela viu Darcy e Elisabeta bebendo os cálices e devolvendo as taças. Sem saber o que fazer ela pegou a bandeja nas mãos em absoluto espanto.

Neste instante Petúlia entrou correndo na sala, dizendo que havia perdido a correspondência que queria que Elisabeta entregasse a amiga do cortiço, mas percebendo a madama com a bandeja nas mãos se posicionou atrás de Susana e espetou-lhe a injeção do calmante.

Susana gritou e jogou a bandeja no chão, causando uma pequena confusão. Mas Darcy socorreu Susana, que já se sentia um pouco tonta e a levou para o quarto com Petúlia em seu encalço.

Eu não...eu .... Susana tentava dizer, mas as palavras não saiam. Petúlia olhava para ela sem entender muita coisa mas aproveitou para cobrir direito madama, amanhã a manteria quietinha, por mais estranha que ela parecesse.


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