Em Seu Lugar escrita por kicaBh


Capítulo 3
Capitulo 3




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Cap 3

*

Eles chegaram ao cortiço no começo da noite, com Elisabeta saciada depois de um bom café da tarde. Darcy pensou que estava na hora de perceber se ele comia sempre tanto e se ela comia sempre tão pouco. Ambos cansados da caminhada, eles visitaram alguns parques e aproveitaram para não pensar no que estavam vivendo.

O cortiço estava silencioso, uma calmaria que em breve seria interrompida pelas pessoas que chegavam do trabalho. Eles iriam subir as escadas o mais breve possível e se esconderem do mundo quando Camilo e Jane apareceram.

Jane queria tomar um café com Elisabeta enquanto sugeria que Camilo e Darcy tomassem uma cerveja, mas depois da conversa com Charlote, Darcy não teria humor para outra conversa feminina, por isso conseguiu dispensar Jane dizendo que tinha um assunto sério para resolver no quarto, que amanhã ela estaria totalmente disponível.

A irmã sorriu divertida para ela e Darcy agradeceu aos céus que Elisabeta era uma mulher cujas atitudes não eram questionadas por sua família.

*

Entretanto Camilo queria falar com Darcy e pediu ao amigo uns minutos. Era sobre Jane. O que seria por si só constrangedor se Darcy fosse Darcy, mas sendo Elisabeta a coisa ficou ainda pior. Quando Camilo contou a Darcy que nunca havia estado com uma mulher foi um momento divertido, mas agora que Elisabeta sabia dessa história e Camilo ainda dizia que ele e Jane estavam tendo alguns percalços nesta descoberta ela se sentia invadindo a privacidade de sua irmã. Pior, através do seu marido.

Jane sempre dizia a Elisabeta que suas noites com Camilo eram mágicas e doces e maravilhosas, ela não imaginava que o cunhado se sentia inseguro, querendo saber se estava agradando ou se sua inexperiência deixaria a esposa frustrada.

Elisabeta riria da situação, se pudesse. E diria ao cunhado para não se preocupar, que sua esposa o amava completamente. E era tão insegura e inexperiente quanto ele. No entanto ela pensou no que Darcy diria. Ele, Darcy, quando estava com ela, sempre parecia saber exatamente o que fazer para agradá-la e também a deixava a vontade para dizer o que ela gostava ou não. Diante da situação Elisabeta resolveu ser política:

Camilo, eu não posso te aconselhar sobre isso. Eu não vivo com Elisabeta como marido e mulher. Mas não tenha tantas dúvidas, Jane me parece bastante feliz e satisfeita.

Darcy, eu imagino que sim. Mas as vezes eu gostaria de fazer a Jane perder o fôlego, como eu vejo você com Elisabeta. E não me olhe assim, mesmo em Paris, durante algumas investidas das mulheres mais disponíveis da França eu jamais o vi tão empolgado. Você e Elisabeta parecem que vão pegar fogo a qualquer momento. Camilo falava contando que observava como eles eram um casal que mal conseguiam manter as mãos longe um do outro. E Elisabeta que se achava discreta. Era melhor ela e Darcy conversarem sobre isso, ao que parecia as pessoas andavam percebendo o desejo que ambos estavam vivendo.

Camilo, eu posso te garantir que você é tudo que Jane sonha. Não há nada para se preocupar. Elisabeta respondeu protetora, como via Darcy fazer com o amigo.

Mesmo assim, foi obrigada a tomar uma cerveja com Camilo no bar do seu Manoel, e ainda aproveitou para comer uma batata ao murro.

*

No quarto Darcy esperava por Elisabeta, mas ficou entediado diante da demora dela.

Então resolveu trocar de roupa.

Eles iriam dormir aqui e ele estava com aquelas roupas o dia todo. Viu a camisola dela pendurada atrás da porta e achou que não faria mal ficar mais confortável. Algo que ele descobriu no dia de hoje era que as roupas femininas exigiam muitas habilidades, principalmente para ir ao banheiro. Eram algumas saias, roupas de baixo, meias, sapatos. Não era fácil.

Por isso ele imaginava que a camisola seria um descanso para tantos panos.

Com a peça nas mãos ele não sabia por onde começar. E de repente se deu conta de que veria Elisabeta por inteiro. Ele poderia não olhar pelo espelho do quarto, mas qual seria a graça. Ele sorriu ao lembrar dela o segurando hoje pela manhã no banheiro do quarto, e mesmo durante o dia, ao ir no banheiro, ela sempre se demorava. Ela não ficaria brava com ele por ceder a esse desejo.

Então ele começou.

Primeiro tirou os sapatos e as meias, admirando os pezinhos lindo de Elisabeta. Estavam cansados da caminhada do dia, mas ainda assim continuam delicados e brancos.

Depois foi desabotoar as peças. A blusa de cima, os suspensórios, a blusa de baixo, a anágua e a saia. Era uma sensação boa passar as mãos pelo corpo de Elisabeta, era quase um auto strip-tease. Abrir os botões, ver os panos caindo pelo chão, desvendar as curvas por debaixo das roupas.

Manteve a lingerie, embora não quisesse. Mas não resistiu a vê-la pelo espelho, admirando o quanto ela era bonita. E o quanto a amava.

Curiosidade o venceu e ele resolveu retirar o sutiã, iria colocar uma camisola, não era necessário manter a peça.

E então ele contemplou os seios de Elisabeta e o que não era para ser algo erótico, ou tão erótico, se tornou uma descoberta maravilhosa.

Aqui estava ele, dentro do corpo de sua namorada, vendo como ela era desejável. Ele não resistiu a apalpar os seios dela, admirando e conhecendo.

Darcy estava se decidindo sobre retirar a calcinha quando Elisabeta bateu suavemente na porta. Ele vestiu a camisola rapidamente, colocou o robe, e a encontrou agitada na porta.

Elisabeta entrou falando que Camilo queria conselhos masculinos e que foi a conversa mais surreal que já teve na vida, mas que ela acha que conseguiu se sair bem.

Somente ao se sentar e começar a retirar os sapatos e meias do corpo de Darcy se deu conta de que ele estava de camisola. Envergonhado ele começou a se explicar.

Elisabeta, eu estava me sentindo com calor e resolvi colocar uma roupa mais confortável em você. Não sei como vocês conseguem ficar o dia todo debaixo de tantas camadas de pano. Ele falava gesticulando e ela estava achando graça do momento.

Está tudo bem, Darcy. Eu só não consigo entender como você conseguiu vestir minha camisola ao contrário. Ela sorriu por constatar que não se incomodava por ele estar se divertindo no corpo dela. Ela também aproveitou este dia, e as idas ao banheiro, para descobrir como ele era. Inclusive chegou a abrir o colete e a camisa, com a desculpa de que precisava lavar o rosto e não queria se molhar, para ver o peito descoberto dele.

*

Não havia mais barulho das famílias chegando, ou comendo. O cortiço estava na escuridão e no silencio, no entanto, nem Darcy nem Elisabeta conseguiam relaxar o suficiente para dormirem.

Eles estavam deitados na cama dela, lado a lado, mãos entrelaçadas, pensando no quanto todo este dia havia sido maluco.

Se alguém me perguntasse se algo como isso era possível eu negaria eternamente. Elisabeta falava olhando para o teto. Sua cama era realmente pequena para o corpo de Darcy, mas misteriosamente eles pareciam se acomodar bem ali juntos.

Eu ainda me espanto, porque Susana trocaria de lugar comigo? Darcy divagou, realmente não fazia sentido.

Sabe, Darcy, as mulheres das ruas te paqueram bastante, mas Susana, você sabe, ela quer você. Talvez a ideia dela fosse se tornar você e terminar comigo.

Faz sentido, Elisabeta, talvez por isso o calmante. Eu estaria no corpo dela e sedado não poderia fazer muita coisa. Então eles confabularam mais um pouco sobre este assunto. Pensando em como um plano surreal destes poderia fazer estragos.

Vamos deixar por isso mesmo? Elisabeta perguntou.

Não, mas ainda não sei bem o que podemos fazer para puni-las.

Mas Elisabeta sabia. E contou seu plano a Darcy.

*

A noite avançava e Darcy e Elisabeta e o sono ameaçava chegar, finalmente.

Espero que amanhã acordemos no lugar certo. Foi Elisabeta quem falou novamente. Darcy parecia mais sonolento. Mas e se não der certo? E se ficarmos assim para sempre?

Vamos ter fé, Elisabeta. Não há caso no mundo sobre isso, possivelmente amanhã estaremos normais. Ele, mesmo sendo muito menor, a abraçou para dar confiança. Sentir o cheiro deles juntos.

Sobre tudo isso, Darcy, a única coisa que posso dizer é que se fosse para outra pessoa possuir o meu corpo, só poderia ser você. Eu não gostaria de viver essa experiência com mais ninguém.

Essa é uma declaração, Elisabeta Benedito? De que seu corpo é meu, ou algo do tipo? Darcy ria gostosamente.

Algo do tipo. Eu não sei que estripulias você fez me trocando, Darcy, mas acho que você é a pessoa que eu realmente gostaria que conhecesse meu corpo.

E é lindo o seu corpo, Elisabeta. E agora que sei como sua mente trabalha, eu posso dizer que amo tudo em você. Sua visão de mundo, seu olhar pela vida, seu poder de decisão e seu corpo. Eu não deveria dizer, mas você tem seios lindos, Elisabeta. Não pude resistir a tocá-los. 

E eu quero que você me toque, Darcy. Inteira. Quando esta confusão estiver desfeita, eu quero ser sua. Eles se viraram um para o outro.

E eu quero ser seu. Um apaixonado beijo de boa noite os levou para o mundo dos sonhos.

*

O dia amanhece muito mais cedo no cortiço. A movimentação das pessoas para o trabalho, as conversas na fila do banheiro, o chorar das crianças, o xingamento das mães. Tudo isso acontece as vezes sem o dia sequer clarear.

Mas hoje não.

Hoje o dia clareou cedo e Darcy acordou, mas não teve coragem de abrir os olhos. Sentia um outro corpo próximo ao dele e teve medo de constatar que ainda estavam trocados.

No entanto sua bexiga estava cheia e ele precisava ir ao banheiro. O corpo ao seu lado se mexeu e ele sentiu um aperto, um endurecimento. Sem esperar mais levou sua mão para baixo da cintura. E lá estava, seu membro firme e duro ao pensar em Elisabeta. Ele tomou coragem para abrir os olhos.

Elisabeta, Elisa... acorde... Ele a balançava entusiasmadamente, beijando os cabelos de sua namorada. Estamos de volta...

Eu sei meu amor, eu já havia acordado mais cedo, mas aproveitei para curtir você mais um pouquinho. Ela se aconchegou de novo nele e fechou os olhos para um cochilo antes do dia começar.

Tudo estava de volta ao normal.

******

Bem, nem tudo. Susana ainda estava sonolenta. E Petúlia realmente começava a se preocupar com ela.

Elas haviam decidido que a dose do calmante deveria ser intermediária. Nem tão pouca para derrubar o corpo dela, nem tão grande para derrubar o corpo de Darcy. Mesmo assim, depois que Petúlia entendeu que sua madama não havia ingerido a poção, sabia que a quantidade calmante não havia sido correta.

Susana intercalava momentos despertada e de sonolência profunda. Mesmo assim, ao estar acordada não falava coisa com coisa.

Já com Petúlia se deu algo completamente inusitado, surpreendente. Não conseguia mentir.

A qualquer pergunta de Mercedes, coisas simples de como estava o sabor da comida, ela se via dizendo a verdade, contando que o sal estava demais, ou que preferia mais pimenta.

Somente quando Mercedes comentou sobre um uniforme apertado Petúlia entendeu o que acontecia. Ao invés dela dizer que os panos hoje em dia encolhem na primeira lavada disse apenas que se Mercedes continuasse a lamber as panelas o uniforme não serviria mais nela.

Era preocupante e Petúlia resolveu se esconder no quarto, não saindo de lá por nada, nem mesmo quando Susana pensou em jantar na sala pela primeira vez desde o ocorrido.

No entanto, uma batida na porta a assustou.

Ela abriu e Darcy apareceu em seu campo de visão. Ele havia sumido por uns dias, Petúlia havia notado. Será que a poção durou mais de 24 horas? Ela não tinha certeza, já que estava mais preocupada com o bem-estar de Susana.

Darcy parecia bem. E ele mesmo. No entanto a cara amarrada dele a assustou um pouco.

Preciso falar com você e com Susana. Ele falou sério.

Lorde Darcy, que prazer em vê-lo. Quer dizer, é você mesmo, não é? Petúlia respondeu solícita. E Susana ainda completou.

Meu querido, veio ver como eu estou? É muita bondade sua. Falava abobalhada.

E é mesmo, uma vez que eu e madama tentamos aplicar um golpe em você. Petúlia queria morrer pelo dito, mas Darcy parou e olhou para as duas. Ele deixaria isso tudo por si só, dizendo a Elisabeta que o maior castigo era o plano delas não ter dado certo, mas Elisabeta achava que ele deveria aparecer no quarto, ainda se fazendo de possuído do espirito dela e dar uma prensa nas duas.

No entanto, agora que estava aqui de frente para as duas, Darcy achou mais interessante ouvir o que a empregada tinha a dizer.

Como assim um golpe, Petúlia ?

Não é nada disso, meu querido. Susana tentava consertar, mas tomada por uma sonolência inexplicável ao tentar contar uma mentira, simplesmente se sentou e adormeceu.

Lorde Darcy, eu ...eu.... eu e madama... nós ... como eu disse.... Mas as palavras mentirosas não saíam. E então Darcy lembrou do que Elisabeta falou, sobre seu tamanho intimidador. Ele resolveu ceder ao apelo físico e encostou Petúlia na parede.

Como vocês fizeram isso? Ele estava perto e fosse em outra circunstância talvez a empregada até achasse erótico. Mas naquele momento era assustador e ela não conseguiu controlar. Tomada de assalto, Petúlia contou tudo. Desde o affair maluco com o índio, o que Darcy achou desnecessário, até a agulha com o calmante em Susana. Passando pela preparação da poção, da troca que aconteceria entre Susana e Darcy, e até as passagens compradas.

Darcy ouviu tudo estupefato.

Elisabeta sempre desconfiou de Susana, mas ele jamais colocaria fé que ela chegasse a esse ponto. Deu razão a namorada, mas achou que esse surto de verdade de Petúlia era castigo suficiente.

Então contratou um carro de aluguel e despachou ambas para o Vale do Café, dizendo a Julieta que Petúlia estava com um ataque de sinceridade.

E que a Rainha do Café poderia querer saber de algum negócio que as empregas fizeram.

*

Darcy chegou ao seu quarto e sorriu. No final das contas não se vingou de Petúlia e Susana, nem sentiu vontade.

Com essa confusão toda da troca de corpos, sua vida, ao final, entrou nos eixos. Sem saberem, Petúlia e Susana deram a ele a chance de se reconciliar com Charlote e ouvir o lado dela. Começar a pensar nela mais como mulher do que como uma menininha indefesa.

E bem, a experiência com Elisabeta foi reveladora sobre vários ângulos. E talvez por essa experiência, ontem à noite eles derrubaram todas as barreiras e se entregaram ao que sentiam.

Ter vivido no corpo dela, mesmo que por um dia, deu a ele a certeza de que ela era a mulher da sua vida.

E mesmo que Susana tentasse qualquer maluquice para conquista-lo, jamais teria sucesso.

Ele pertencia a Elisabeta.

FIM


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Notas finais do capítulo

Obrigada a quem leu !



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