Contos - Aventuras Mágicas escrita por Saaimee


Capítulo 7
Como medir força


Notas iniciais do capítulo

Tema: Missão.
Dupla: Kiyoko e Damn.

Boa Leitura!



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A espadachim estava lentamente sendo forçada a continuar recuando encurralada entre a criatura bestial a sua frente e a parede atrás, entretanto não estava com medo nem tinha qualquer intenção em se entregar.

Não podia desviar os olhos mantendo seus passos precisos enquanto sua mente trabalhava em velocidade buscando pontos a vista para acertar com a espada. Entre seus pensamentos a dúvida a fez, por curiosidade, desviar sua direção procurando a outra garota no canto conseguindo ver que, por conta do terror, estava prestes a pisar em uma armadilha enquanto se afastava dali.

Na intenção de ajuda-la, o braço de Kiyoko se moveu por instinto, porém foi tão brusco que fez a fera avançar em sua direção acreditando ser hora de atacar.

A jovem pulou em um desvio rápido, porém foi descuidada deixando, em seguida, somente os gritos ecoaram pela caverna.

• • •

Outro dia...

A feiticeira Damn estava observando suas armas e equipamentos guardados na sala ao lado de seu quarto quando notou que estava na hora de arrumar algumas partes e melhorar sua força. Já tinha passado algum tempo desde a última vez que os usou a fazendo notar que também fazia tempo que não saia de casa.

Começou a se questionar o quão caro ficaria para deixar tudo novo percebendo que precisaria de algumas moedas de ouro que sabia não ter deixando somente a opção que a levou a sair cedo dali e ir até a cidade mais próxima pegar algum pedido de missão que ninguém queria fazer.

Tinha partido sozinha — já que pretendia verificar as placas e ter certeza de que voltaria com um papel de permissão para casa antes de avisar os domesticados. Ao chegar ao local, pôde ver que havia somente quatro pedidos fixados que ainda não tinham sido escolhidos e apesar de incerta sobre os motivos para isso, ela se aproximou.

Estava interessada em começar a trabalhar logo, claro, porém ver o valor das recompensas tão baixos a desanimou quase instantaneamente.

Demorou até que, bem no canto da placa, viu de raspão um pedido esquecido com o valor ideal a fazendo rapidamente o pegar sem questionar o nível da missão ou os perigos que envolvia.

Leu ali mesmo as descrições padrões avisando sobre uma criatura que estava incomodando a cidade e que tinha que ser detida antes que causasse problemas maiores. Não era algo que a surpreenderia, porém os requisitos no canto inferior a fez rir. Era ordenado que a missão fosse feita no mínimo por duas pessoas.

— Eu e o Sigmo. Não preciso de ninguém.

Se gabando e já pensando no trabalho que daria ao domesticado para fazer sozinho, ela seguiu seu rumo em direção ao centro da cidade onde passaria pelo general responsável da área para pegar a autorização antes de partir.

 

Assim que teve acesso a sua sala foi surpreendida ao ver outra garota sentada ali. A jovem Kiyoko que vivia na mesma vila que ela parecia aguardar por alguma ordem que Damn não se importou em perguntar qual era.

— Qual o problema? – O homem de longos cabelos vermelhos questionou sentado à mesa de madeira sem ter tempo para introduções fazendo a feiticeira ajeitar a postura por instinto.

— Vim aceitar a missão. – Respondeu rapidamente entregando-lhe o papel.

O homem leu em silêncio as instruções fazendo o clima de tensão aumentar. Não havia nada de errado ali, era comum isso acontecer com todos os soldados já que ele precisava estar ciente do que eles faziam sempre que se colocavam em risco, porém sua presença confiante e de poder intimidava a todos que o olhavam.

— Você tem acompanhante?

— Meu domestica-

— Eu disse acompanhante. – Interrompeu como se essa não fosse a primeira vez que ouvia uma feiticeira dizendo isso a fazendo recuar engolindo seco antes de balançar a cabeça negativamente. — Certo, então... Kiyoko, né?

— Sim.

— Você queria uma missão em grupo? Então pode acompanhar ela.

— Sim, senhor.

Damn realmente não queria aquilo. Odiava ter que trabalhar com outros, ainda mais quando era alguém que não tinha qualquer proximidade, entretanto a única coisa que fez foi se calar vendo o papel ser carimbado aprovando sua saída.

 

Depois disso as duas saíram juntas da sala combinando de se encontrarem no local da missão mais tarde naquele dia. A feiticeira queria avisar o domesticado sobre o compromisso e poder se preparar para o que quer que a missão necessitasse enquanto Kiyoko queria mais um tempo treinando melhor os golpes.

Nenhuma das duas tinha motivos para discordar assim como também não tinham qualquer razão para ficarem juntas. Não eram amigas e só se conheciam pelas coisas que os outros falavam delas, porém, nesse momento, estavam indo em uma missão e Kiyoko sabia como era importante ter o parceiro conectado para que nada saísse fora de ordem, ela só não tinha certeza se Damn sabia disso.

À tarde, elas partiram para o destino sentindo a ansiedade questionando que tipo de monstro teriam de enfrentar. Kiyoko chegou rápido com ajuda do tele transporte enquanto Damn, apesar de também ter feito uso do serviço, demorou mais por ter decidido andar por uma parte do caminho resmungando ao lado do domesticado.

Logo que se encontraram trocaram olhares e acenos deixando mais uma vez óbvio o clima estranho entre elas. Kiyoko queria dizer algo para diminuir a tensão, entretanto a feiticeira não deixou qualquer brecha para isso. Era claro que a única coisa em sua mente era lutar sem precisar se comunicar tanto.

Sem querer insistir ela caminhou ao lado da jovem em direção a caverna e assim que passaram pela entrada o primeiro desafio deu início quando ouviram Sigmo, o domesticado, resmungar algo atrás. Ambas se viraram o vendo parado do lado de fora com uma expressão confusa.

— Mestre, eu... Não passo.

— Como é?

Vendo o olhar raivoso dela de quem não acreditava em suas palavras, ele deu um passo à frente sendo repelido por uma parede de energia. Damn assistiu à cena curta sendo o suficiente para fazer seu corpo tremer em pânico.

— Acho que foi por isso que o General te disse aquilo. – Ao lado, Kiyoko relembrou as palavras passando a mão pela entrada sem sentir nada.

A feiticeira ouviu, mas não conseguiu responder. Não queria acreditar que aquilo estava acontecendo. Damn tinha aceitado essa missão somente porque teria o rapaz ao lado, mas agora, sem ele, não conseguia nem dar um passo à frente com o medo a lembrando de suas fraquezas.

— Vai ficar tudo bem. – Percebendo o olhar assustado, Kiyoko se aproximou a assegurando de que não sairia de perto dela. — Faremos juntas. – Damn a olhou sem acreditar no que dizia, porém não tinha escolha e acabou assentindo.

Ela viu a jovem sair na frente pegando uma tocha no canto para iluminar a escuridão e só conseguiu suspirar. Antes de segui-la, se virou novamente vendo o homem atrás sorrindo em sua direção. A feiticeira sabia que aquilo era uma provocação inaceitável a fazendo parecer patética e apesar de querer sair dali e o castigar, ela ignorou adentrando furiosa o local de uma vez.

A caverna tinha passagens largas, porém não fornecia luz ou qualquer sentimento agradável de segurança. Era um ambiente úmido onde bolor e fungos se alastravam por todo canto trazendo um cheiro desagradável a suas narinas.

Mesmo com todo o sentimento de perigo Kiyoko parecia composta somente pela calma e concentração. Estava atenta aos seus arredores e pronta para desembainhar sua espada a qualquer mínimo perigo que cruzasse sua vista. Damn, por outro lado, parecia ter dificuldade para andar se agarrando ao cajado fissurada pela luz da tocha.

Apesar de parecer focada em somente aquilo que estava a sua frente, a jovem também conseguia notar com clareza o que estava ao seu redor podendo ouvir os passos vagarosos da outra chamarem sua atenção a fazendo olhar por cima do ombro.

— Essa missão – começou calmamente tentando diminuir a insegurança que rodeava a feiticeira — não está em um nível alto então não precisa se preocupar. – Não houve resposta, entretanto Kiyoko continuou falando da forma mais amigável que pôde. — Os monstros não devem ser tão perigosos.

Ela nem teve tempo de sorrir quando um barulho alto surgiu no meio do caminho interrompendo sua conversa. Automaticamente seus pés pararam e suas respirações se prenderam tentando encontrar de que caminho escuro o som estava as esperando.

Damn tinha os olhos arregalados paralisada pelo terror enquanto Kiyoko tentava não chamar a atenção colocando a tocha no chão liberando suas mãos para pegar a espada.

Estava escuro, mas o barulho era claro. A espadachim não se moveu permitindo que seus sentidos estivessem ligados ao som encontrando o caminho pelo qual a criatura se aproximava. Ela aguardou em silêncio pelo momento certo antes de poder dar o primeiro passo de encontro com o nada.

Em direção reta correu pegando impulso suficiente para pular contra a parede jogando seu corpo no ar poucos segundos antes da criatura surgir. A precisão em seu tempo a fez cair exatamente por cima do corpo grande da fera atravessando com a espada o cortando no meio.

Foi um único golpe poderoso antes de poder pousar firme no chão molhado vendo ter sido tão fácil quanto esperava daquele nível.

— Viu? – Falou contente limpando o sangue da lamina. — Não precisa ter-

Sua voz se interrompeu no momento em que seus olhos viram a jovem tremendo com os lábios entreabertos em choque encarando a enorme criatura de chifres caída bem a sua frente.

Kiyoko não sabia se essa era a reação que ela deveria ter para alguém que queria fazer a missão somente com a ajuda do domesticado. Sem querer se intrometer ou ofender, se calou por alguns instantes antes de deixar sua dúvida sair.

— Você... Já fez missão antes?

— Cla-Claro que já! – Respondeu rápido tentando se recompor.

— Então?

Damn não tinha uma resposta para aquilo. Não podia simplesmente dizer que todas as suas missões eram feitas por seus domesticados enquanto ela só dava ordens e menos ainda iria assumir que estava com medo.

O olhar da maior a cercou por todos os lados a fazendo estalar a língua mostrando o incomodo na tentativa de empurra-la para longe.

— Me deixa.

— Ah... Tá bem...

Pensou que talvez aquele fosse um assunto delicado no qual não deveria se aprofundar muito, por isso assentiu voltando para a tocha procurando novamente pelo caminho onde deveriam seguir.

Não demorou para notarem que o corredor por onde andavam não se dividia em outras saídas deixando mais fácil o acesso para a ala onde o monstro deveria estar nesse momento. Entretanto mesmo com essa segurança havia vários desafios cruzando seus caminhos. Fosse pequenas criaturas que vinham correndo em suas direções ou feras que coladas no teto se jogavam sobre elas a todo momento. Alguns ataques eram surpresa, outros bem previsíveis, entretanto Damn foi pega em todos eles.

Ela gritava, xingava, corria, se escondia, mas nunca atacava ou se defendia. Kiyoko não podia fazer nada além de lutar e acabar com eles sozinha a deixando em desvantagem e muito mais cansada do que era necessário.

— Eu vou te perguntar de novo. – Encostada na parede tentando retomar o fôlego depois de horas arrastando a espada para todos os lados, a jovem começou a falar chamando o olhar emburrado da outro. — Você já fez missão?

— Eu te disse que sim.

— É porque não parece. – Engolindo rispidamente explicou deixando claro sua falta de paciência na voz. — Eu não tô falando isso por você estar assustada, tô falando porque está correndo por aí sem pensar no que pode acontecer.

— Você quer o que? Que eu fique parada e morra? – Irritada sem ter razão, retrucou alto enquanto a maior a encarava com a mesma expressão séria.

— Não, quero que você entenda que tem outra pessoa correndo risco por sua causa.

— Por que? – Gritou mais uma vez antes de cruzar os braços e desviar o olhar. — Você sabe o que tá fazendo, eu não preciso ficar te vigiando.

— Ah... – Incrédula com a falta de empatia, ela suspirou buscando não perder o controle nesse momento. — Porque a gente é uma dupla! A gente se ajuda e acaba com isso. – Respondeu fazendo sua voz ecoar pelo corredor sem conseguir fazer a feiticeira a olhar. — Não tô pedindo pra ser minha amiga, tô pedindo pra mexer esse cajado.

Kiyoko não queria ter que discutir com a única criatura que deveria confiar nesse momento, entretanto não podia simplesmente fechar os olhos e fingir que isso não estava a incomodando. Ela tinha sentimentos e assim como Damn estava com medo, ela estava com raiva.

Depois dos gritos só restou o silêncio e os curtos uivos que o vento causava no corredor. A maior não se importava, era melhor que ficassem assim por um tempo até os nervos se acalmarem porém não falar nada a fez pensar em algo que não conseguiu guardar para si mesma.

— Era isso que você ia fazer com aquele caçador? – Perguntou com a voz muito mais estável do que antes vendo a outra mover a cabeça para o lado. — Por isso entrou em pânico, né? Porque em mim você não pode dar ordens.

Não receber uma resposta de alguém que queria parecer forte só deixou claro que suas dúvidas estavam corretas. Ela não tinha intenção de provocar ou humilha-la, apenas entender o motivo para tudo isso estar acontecendo. Entretanto Damn se sentiu ofendida o suficiente para pegar o cajado bruscamente e gritar mordendo os dentes:

— Quer saber, foda-se. Eu vou me virar sozinha.

Ela nem tinha terminado de falar quando começou a caminhar com passos duros em direção ao escuro. Kiyoko não disse nada e nem tentou a impedir de ir. A visão que teve naquele momento era de uma criança birrenta que precisava de alguns minutos sozinhas e ela também sabia que mesmo que Damn corresse não tinha como se separem naquele corredor único.

A feiticeira não precisava necessariamente da tocha já que sua visão felina ajudava a ver as coisas no escuro. Não havia qualquer motivo para a espadachim se preocupar, porém os pensamentos de monstros surgindo do nada e atacando aquela medrosa a fizeram se mover rápido correndo atrás dela.

 

Por minutos percorreu o caminho com a tocha na mão tentando iluminar a escuridão densa que a cercava. Precisava encontra-la, porém não se atreveu a chamar pelo nome, sabia que se fizesse outros iriam responder. Levou algum tempo, mas conseguiu chegar no que parecia ser a última sala da caverna. Ela sabia que a outra só podia estar ali, o que significava que o monstro também.

Com cuidado colocou a tocha no chão se aproximando da larga entrada e inclinando a cabeça olhou pelos cantos vendo a enorme criatura parada rosnando de frente para algo. Kiyoko teve dificuldades em se esticar em silêncio para ver o que era, mas assim que distinguiu a feiticeira apontando o trêmulo cajado ela sabia que tinha que correr.

Tomando um longo suspiro ela se preparou dando o primeiro passo que levou seu corpo com velocidade para dentro da sala. Seus pés firmes a guiaram em direção reta determinada a acertar as costas da criatura, porém assim que colocou a mão na cintura para pegar a espada a fera se virou a forçando a mudar o caminho da corrida.

Ele logo perdeu o interesse em Damn quando viu o rosto surpreso de Kiyoko. Aquilo devia ter quatro metros e mesmo com essa altura foi fácil seus pés se moverem correndo para a jovem.

A espadachim estava lentamente sendo forçada a continuar recuando encurralada entre a criatura bestial a sua frente e a parede atrás, entretanto não estava com medo nem tinha qualquer intenção em se entregar.

Não podia desviar os olhos mantendo seus passos precisos enquanto sua mente trabalhava em velocidade buscando pontos a vista para acertar com a espada. Entre seus pensamentos a dúvida a fez, por curiosidade, desviar sua direção procurando a outra garota no canto conseguindo ver que, por conta do terror, estava prestes a pisar em uma armadilha enquanto se afastava dali.

Na intenção de ajuda-la, o braço de Kiyoko se moveu por instinto, porém foi tão brusco que fez a fera avançar em sua direção acreditando ser hora de atacar.

A jovem pulou em um desvio rápido, porém foi descuidada deixando, em seguida, somente os gritos ecoaram pela caverna quando ambas caíram nas armadilhas nos canto da sala onde foram penduradas no teto como insetos na teia.

A fera não se moveu assistindo seus pequenos corpos serem jogados para cima. Por instantes ele ficou ali as vendo se debaterem e terem dificuldades para ficar em pé antes de se afastar saindo em direção ao corredor.

Kiyoko suspirou aliviada ao ver a criatura desaparecer, afinal agora poderia ter algum tempo para pensar no que faria para sair dali e como atacaria o inimigo.

— Não tinha que ter vindo. – A voz da feiticeira soou arrependida quebrando os pensamentos da outra que só conseguiu a encarar.

— Claro, você sabia o que tava fazendo. – Sarcástica e sem qualquer vontade de parecer gentil, respondeu sem ouvir respostas. — Eu já percebi que não adianta falar com você. Você não se importa. – Se agarrando aos buracos na rede ela tentou se levantar enquanto falava seriamente sabendo que estava sendo ouvida. — Mas se está com tanto medo de morrer, faça o mínimo para sobreviver. – Não haveria resposta novamente e por isso nem se deu o trabalho de esperar.

Se ajeitando na rede do melhor jeito que podia, buscou por espaços que facilitassem sua passagem.  As cordas eram grossas demais para cortar e os buracos não eram fáceis de atravessar. Também não tinha motivos para se balançar sem nada para apoiar e nem esperar que alguém viesse ajuda-las. Mesmo com todos os motivos Kiyoko não perdeu o ânimo.

Estava fazendo planos para tentar cortar a corda e evitar que sua queda fosse fatal quando ouviu um som alto vindo do lado. Automaticamente se virou esperando encontrar o monstro quando, na verdade, viu um gatinho caído no chão. De início não entendeu como aquele animal estava ali, mas assim que o viu brilhando e se transformando na silhueta já conhecida da garota ela entendeu do que se tratava. Os espaços na rede eram impossíveis para o corpo humano passar, mas não para um felino daquele porte.

Ela olhou para a feiticeira impressionada por ter tomado uma atitude pela primeira vez no dia quando percebeu que a jovem tinha machucado o braço. Era inacreditável que depois de tudo o que passaram a única coisa que a feriu foi essa queda desnecessária.

Nenhuma das duas disse nada, porém Damn teve consciência suficiente para dar um jeito de usar sua magia e fazer a armadilhar descer ajudando a libertar Kiyoko.

— Obrigada. – A espadachim disse se ajeitando vendo a outra assentir. Ela não sabia se essa ajuda foi porque a feiticeira se sentiu culpada ou porque precisava dela para sair dali, mas estava contente de não ter que fazer isso sozinha de novo. — É ele que a gente tem que matar. – Retirando a espada da bainha sem dar espaço para perderem tempo, continuou. — Você não precisa lutar se não quiser, mas me dá cobertura de longe. Agora tô preparada.

Apesar do tempo todo nenhuma das duas terem se entendido, aquela decisão foi tomada rapidamente permitindo que saíssem dali determinadas a fazer exatamente aquilo que estava planejado.

Havia medo em Damn e receio em Kiyoko, mas não foi o suficiente para fazer suas pernas pararem até encontrar a enorme besta no meio do caminho.

A criatura parecia ainda mais raivosa do que antes como se dessa vez o problema não fosse os intrusos, mas ter sido feito de bobo ao deixar as presas fugirem. Seus olhos se arregalaram ao mesmo tempo que a boca se abriu soltando um grito feroz que fez Damn se encolher. Ele ia atacar e dessa vez era para matar. Kiyoko sabia disso, porque já planejava fazer o mesmo.

Foram saltos, arranhões, rosnados e tentativas de abocanhar a jovem que Kiyoko conseguiu fazer da fúria descontrolada dele sua vantagem em manter a calma e a precisão dos ataques. Demorou alguns longos minutos de luta, mas sem a ajuda da magia prendendo a besta no chão isso demoraria ainda mais.

Quando tudo terminou e o sangue da fera estava mais em suas roupas do que em sua lamina, um ponto azul se abriu no chão indicando a passagem que as levaria para fora dali e reportaria a vitória ao general.

O sol já estava se pondo quando as duas passaram pelo portal encontrando Sigmo sentado na areia cutucando algumas flores no chão.

Ambas estavam com expressões cansadas no rosto e sujeira nos corpos deixando óbvio que a missão não tinha sido tão fácil quanto achavam que seria. Entretanto não foi isso que chamou a atenção do rapaz, mas o silêncio ensurdecedor entre elas.

— Eu só tenho um concelho para te dar, se você vai ouvir é problema seu. – Limpando o suor da testa, Kiyoko começou a falar seriamente vendo Damn parar atrás dela cabisbaixa enquanto o domesticado se levantava. — Quando se depende dos outros para te salvar, você depende deles para poder viver também. – Suspirando a viu cerrar os punhos como se suas palavras realmente tivesse a deixado com raiva. Não era essa sua intenção. Olhando para o lado viu a noite se aproximando e em um tom suave continuou a falar como se estivesse sozinha ali. — Acha que isso é certo? Você quer que sua vida seja miserável assim?

Ela ainda voltou sua visão para a feiticeira mais uma vez, entretanto a ver na mesma posição a fez perceber que isso não mudaria nada e balançando a cabeça se afastou dizendo adeus aos dois.

Damn não conseguia falar. O que quer que dissesse não iria apagar a humilhação que passou o dia todo sem conseguir mover um único músculo. Seu único desejo era gritar e dizer que Kiyoko estava errada, que todos estavam errados sobre ela.

Sigmo não sabia o que tinha acontecido ali, mas aquelas palavras o surpreenderam o fazendo procurar pelo rosto da Mestre e, para sua surpresa ainda maior, o que viu ali o fez abrir os lábios assustado.

Os olhos esverdeados da garota fitavam o chão furiosos deixando pequenas lágrimas escorrerem por suas bochechas. Ela odiava não ser capaz de algo, odiava se sentir inferior e odiava ainda mais saber que estava errada.

Naquela noite ela voltou para casa com o dinheiro que precisava, mas levou com ela a derrota que nem mesmo aquela besta tinha recebido.

— Fim. VI


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Notas finais do capítulo

Nesse final o Sigmo ficou rindo por dentro pensando em como ela mereceu ouvir isso até ele perceber que essa frase também se aplica a ele lol.
Eu tinha que colocar a Damn em algum lugar e não quis em momento algum pegar leve com ela, por isso pensei que a Kiyoko seria a melhor opção já que os tapas na cara dela são bem mais direcionados ao coração do que fisicamente. Sem falar que a Kiyo nem conhece muito a Damn então não ia deixar a raiva dominar a situação como Sigmo ou Yuzuke fariam.
Mas é, mais um pronto :D Espero que tenha gostado e até a próxima!

*Detalhe: Na última frase da Kiyoko ela quis dizer que se a Damn fica dependendo do Sigmo pra fazer missão então ela vai depender de alguém a vida toda até pra poder viver e tomar decisões. O que vai resultar em uma vida que não é dela.



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