Contos - Aventuras Mágicas escrita por Saaimee


Capítulo 6
Livramento


Notas iniciais do capítulo

Tema: Visitando a casa.
Dupla: Fuzhu e Blood.

Boa Leitura!



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Outro dia...

Fuzhu estava no quarto terminando de colocar os acessórios em suas orelhas quando ouviu batidas gentis na porta da frente. Seus olhos concentrados no espelho se desviaram por instantes vagando pelo corredor claro daquela casa vazia como se buscassem pela certeza de que esse momento havia chegado.

Com um longo suspiro ele alisou o yukata ajeitando a fita de cetim vermelha em seu braço esquerdo enquanto caminhava até a porta.

Foi com a expressão séria de sempre que puxou a maçaneta e com a mesma expressão cumprimentou com um aceno a garota de longos cabelos negros e olhos azuis parada ali a sua espera. Ela sorriu sem saber exatamente como reagir.

Os dois costumavam se ver com frequência já que ela era a namorada de seu Mestre e sempre visitava a casa, porém eles dificilmente se falavam. Fuzhu sabia disso quando a chamou ali e tinha certeza do constrangimento que viriam a encarar, porém não podia dar atenção a isso agora.

— Já está pronto? – Sua voz gentil o chamou fazendo acenar novamente com a cabeça.

O rapaz não podia falar diretamente. Tinha passado por um problema durante sua transformação de cervo para humano que acabou fazendo com que perdesse sua voz. Entretanto, graças a seus poderes, ainda podia se comunicar psiquicamente falando na mente dos outros. Nesse momento ele só achou que não era necessário fazer isso.

Dando um última olhada para o silêncio da casa, trancou a porta se afastando dali com a jovem ao lado.

Esse dia tinha sido programado algum tempo antes quando Fuzhu estava em casa pensando em estratégias e planos que pudessem o favorecer na batalha que estava por vir. Naquele dia se lembrou de possuir alguns artefatos mágicos guardados que deveriam ter forças para ajudá-lo. O problema era que para colocar as mãos nisso ele teria que voltar para o lar de seus pais. Só de pensar na possibilidade o deixava frustrado, mas não tinha opção. Acabou então decidindo que iria independente do constrangimento.

Agora, caminhando pelas trilhas, ele tinha outro problema para lidar: sair da vila sem chamar a atenção do inimigo.

O jovem dificilmente ficava longe da casa do Mestre então, obviamente, seria suspeito ele sair dali do nada. Foi pensando nisso que convidou a garota para o acompanhar.

Ela já visitava a casa então uma situação dessas poderia ser vista como um passeio até a cidade onde seu Mestre o pediu para fazer companhia ou qualquer outra coisa simples. Fuzhu deixou isso claro desde o início para ela. Não tinha motivos para mentir ou querer a colocar em problemas, mas precisava que aceitasse o convite.

Não foi tão difícil quanto esperava facilitando para que seguissem com o plano.

Agora, fora da vila, estavam caminhando lado a lado pisando em folhas e gravetos deixando todos os sons ao redor preencher o vazio entre eles. Apesar do silêncio ser estressante eles não se forçavam a conversar. Blood sabia que o rapaz era reservado e pelas expressões que fazia deveria estar refletindo sobre inúmeras coisas. Ele iria visitar seu antigo lar depois de anos longe. Mesmo sem saber de sua história lá ela sentia que isso podia ser problemático.

— Pegamos o tele transporte aqui.— A voz ecoou na mente da jovem a surpreendendo antes de o ver apontando a direção. — Isso vai nos deixar perto. De lá caminhamos até o local.

— Está bem.

— Não vai demorar muito.

E realmente não demorou. Em torno de 30 minutos eles haviam chegado e já estavam andando por uma floresta onde o gramado parecia um tapete de flores e os troncos tinham cogumelos coloridos.

Blood não conseguia evitar de olhar cada canto atenta ao som estranho de aves que nunca ouviu e o brilho incomum de um paraíso intocado. Fuzhu, por outro lado, parecia ainda mais incomodado que o normal.

Entre suas buscas pelo exótico a jovem percebeu o rosto rígido dele como se ainda pensasse nos problemas. Era normal que não fosse se encantar com nada disso já que viveu a vida toda por ali, mas a expressão a fez se questionar o que pensava.

— Você acha que alguém nos viu? – Questionou calmamente o tirando de suas reflexões. — Quando saímos da vila.

— Não tenho certeza. Você viu algo?

— Se estivermos falando do Malphas, não, não vi. – A resposta foi direta com palavras que soavam sérias demais o fazendo inclinar a cabeça para vê-la. Não sabia o que tinha por trás daquela pergunta, mas sentiu que estava incitando algo em seu tom.

— O Mestre não vai se envolver nisso.— A voz dele em sua cabeça sempre soava da mesma forma como uma miragem deveria parecer para aqueles alucinando, entretanto, dessa vez, parecia muito mais concreta a pegando de surpresa. — Isso é problema meu.

— Ah... Não, não foi isso que eu quis dizer. É que... É dele que você está se escondendo, certo?

— Eu... não estou me escondendo...— Ao notar a confusão que causou o jovem simplesmente mudou a direção de seu rosto como se estivesse envergonhado.

— Você falou para o Kalevi que vinha?

— Não. Nem para o Mestre.— Suspirou vendo pequenos animais correndo no escuros das árvores. — Disse que ia te acompanhar até a cidade.

— Por que? O Anthony não iria te impedir e acho que o Kalevi iria concordar que seu plano foi inteligente.

— Mas eles iriam denunciar.— Balançava a cabeça enquanto falava frustrado com a falta de noção que os dois tinham. — Kalevi ia me seguir e o Mestre ia ficar preocupado.— Ouvindo seus motivos Blood tinha que concordar. Eles se preocupavam demais e isso é um ponto fraco em batalhas. — Malphas ia perceber que tem algo errado.

Ela ouviu tudo o que tinha a dizer e o acompanhou até ali percebendo mais uma vez o cuidado que tomou com cada detalhe. Isso mostrava que o cervo estava determinado a seguir em frente com essa luta e que deveria estar ansiando vencer. Ele não ia ter medo de mentir ou esconder segredos durante esse tempo. Era preocupante saber disso, mas também a aliviava ver que se importava com os dois.

Eles continuaram por mais alguns minutos até Fuzhu parar em frente a uma parede de troncos grossos a fazendo o seguir olhando curiosa as árvores imaginando terem chegado.

— Blood, a partir daqui preciso que você fique atrás de mim e não faça nada que chame atenção.

— Claro.

— Ok...— respirou fundo olhando os troncos como se estivesse se preparando para algo. — Eu preciso de um minuto.

Tirando a fita de seu braço ele amarrou o cabelo em um rabo de cavalo que descia até sua nuca como mel escorrendo em uma colher revelando também os vários brincos nas orelhas. Em seguida com um toque gentil na testa uma luz se formou dando espaço para seu chifre branco de duas pontas aparecer.

Quando se virou para ela mostrou ter agora manchas vermelhas em baixo dos olhos e desenhos brancos ao redor do chifre. Essa era a forma imperial que o permitia voltar para casa.

— Me desculpa, mas preciso que segure minha mão.

— Ah... ok.

Ela ainda estava surpresa com a transformação que viu pela primeira vez acontecendo tão rápido. Fuzhu percebeu isso, porém não tinha tempo para explicar mais nada continuando a guiar seus passos para dentro da floresta.

— Não me solta.

Ao primeiro passo eles atravessaram a parede de troncos como se fosse uma simples barreira de energia tão pesada que fez a jovem apertar os olhos enquanto andavam. O segundo foi totalmente diferente como se andassem em qualquer outra floresta.

Ela olhou ao redor esperando encontrar fontes de magia e mais animais exóticos, porém não havia nada que diferenciasse aquele lugar de outros que já tinha visitado. Na verdade, era até escuro demais.

Foi entre o quarto e quinto passo que ouviram sons que chamaram sua atenção. Parado entre troncos no meio das sombras um cervo branco os encarava. Seu pelo reluzia o fazendo parecer um espírito e assim que seus olhos se cruzaram o animal correu dali sumindo no escuro.

— Pronto.— Fuzhu falou assentindo para si mesmo. — Agora só precisamos continuar caminhando e alguém vai aparecer.

 

Ela não questionou imaginando que aquilo era algum tipo de aviso sobre intrusos ou visitas.

Mais alguns passos e novos barulhos surgiram. Dessa vez era diferente de patas os fazendo parar no meio do caminho esperando pelo que vinha.

Em frente a eles um jovem alto de longos cabelos negros apareceu olhando para todos os cantos como se procurasse algo. Ele vestia as mesmas roupas que Fuzhu, porém suas cores roxas eram cobertas em flores.

Seu rosto tinha as marcas iguais e até o chifre parecido, mas as expressões deixavam claras que eram totalmente diferentes.

— Fuzhu?

— Tinha que ser ele...— Amargurado comentou quase bufando.

— Fuzhu!

Alegre correu em sua direção fazendo o menor dar um passo para trás avisando que não queria contato físico.

— Faz tanto tempo, o que faz aqui? – Continuou a falar até perceber a garota ao lado dele. — Ah, oi.

— Oi.

— Fuzhu?

— Cadê a mãe? – Ignorando tudo o que dizia, questionou sem paciência.

— Ah, claro. Me segue. – Ele saiu na frente rindo feito bobo como se a felicidade fosse a única coisa que sentia. — Não acredito que você veio.

O rapaz que estava ali era um dos irmãos mais velhos dele e provavelmente o que menos gostava, por isso fez o possível para se manter longe e evitar ao máximo os comentários animados dele.

Fuzhu era o filho mais novo dos cinco e o qual mais deu trabalho para todos. O nascimento do jovem foi considerado um erro e uma ameaça para os outros cervos que viviam ali. Por causa disso, seus irmãos sempre tiveram receio de se aproximar e seu pai sempre manteve os olhos em cima dele o tempo todo. Entretanto, Dhuzo, que veio ao seu encontro, sempre quis faze-lo se sentir parte dali mesmo Fuzhu não gostando dele.

Em pouco tempo chegaram a uma área afastada onde as árvores abriram o espaço revelando um castelo de troncos e flores sobre um céu límpido a frente de uma cachoeira. Pelo campo vários cervos e animais se juntavam brincando e correndo por todos os lados.

Aquela era uma visão de um santuário intocado que poucas criaturas puderam conhecer. Blood tinha sido privilegiada e não escondia o encanto com a paisagem.

Continuaram caminhando até chegar ao centro onde o resto dos familiares estavam os aguardando. Seu pai e mãe estavam bem na entrada do castelo enquanto o outro irmão e as duas irmãs estavam ao lado encarando o jovem se aproximando.

Fuzhu sabia que isso aconteceria, mas mesmo assim não conseguiu evitar a expressão de desgosto ao vê-los ali. Os outros cervos que estavam próximos o encaravam com receio o fazendo se lembrar do passado que nem parecia tão distante.

— Fuzhu, – seu pai bradou contente descendo as escadas ao lado da esposa — achou o caminho de casa. – Ele não respondeu, apenas permaneceu parado os assistindo. — Sentiu saudades?

Ele não suportava as graças do homem em tentar ser amigável o tempo todo e menos ainda tinha ânimo para responde-lo. Apenas continuou em silêncio sem querer ver seu rosto quando encontrou os irmãos próximos dali. Seu olhar se fixou no rapaz mais alto de músculos exagerados.

— Não vai me dizer oi, Chen?— Malicioso como sempre perguntou mostrando o sorriso de canto fazendo o rapaz cerrar os punhos.

Foi fácil para o pai perceber a mudança de expressão e saber exatamente o que a cabeça maligna do filho estava aprontando sem precisar ouvir sua voz.

— Não faz nem um minuto que chegou e já está incomodando seu irmão. – A acusação o fez ficar sério novamente mudando seu olhar para o chão.

Balançando a cabeça ao notar que o menor não tinha mudado nada ele se virou vendo a garota sem jeito parada ao lado dele e mesmo já a conhecendo não perdeu a chance de provocar o filho.

— Espera. Calma, você voltou pra casa de mãos dadas com uma garota. – Animado falou alto chamando a atenção de todos por ali. — Isso significa o que eu acho que significa?

Fuzhu o encarou sem acreditar no que estava prestes a ouvir. Blood não sabia se devia dizer algo ou esperar tudo se acalmar para explicarem a situação. Pensou até que eles talvez tivessem se esquecido dela já que tinham a visto somente uma vez ou duas, mas no final resolveu aguardar Fuzhu dizer algo.

— Finalmente uma namorada! Eu sabia que você ia conseguir!

Mãe...— ignorando as bobagens do homem ele se virou para a mulher sorridente ao lado mostrando a ela uma expressão derrotada. — Pede pra ele fazer logo e parar com isso.

— Claro. – Ela ainda estava sorrindo quando voltou-se para o marido chamado sua atenção. — Querido, você também não esperou nem um minuto para provocar ele.

— Ah... É, né...

— Dê a benção.

— Claro.

Mudando completamente seu tom brincalhão para a imagem de um rei ele se aproximou de Blood pedindo licença enquanto levantava a franja reta dela. Com o indicador desceu por sua testa iluminando sua pele com desenhos brancos parecidos com os de Fuzhu.

— Com isso... você está abençoada para ficar aqui hoje.

— Obrigada.

Assim que as luzes diminuíram o menor soltou as mãos dela sabendo que agora não corria mais risco de ser confundida por uma ameaça.

— Agora você.

A mãe se aproximou surpreendendo o mais novo. Ele não precisava disso, era filho da família real, entretanto ela não se deu ao trabalho de explicar e com delicadeza passou os dedos sobre o pescoço dele fazendo desenhos surgir em sua pele.

— Com isso, – se afastou o fitando — você vai poder falar enquanto estiver aqui.

Assim como ele foi agraciado com a magia psíquica, sua mãe era dominadora dos poderes de cura e com pouco esforço podia fazer esse tipo de coisa acontecer.

Fazia tempos que não ouvia a própria voz e estava receoso se ainda sabia como fazer os sons. Engolindo em seco ele olhava para sua mãe que mostrava um olhar gentil o encorajando a tentar.

— Ma... Mãe... – Para ele soou estranho, mas para o resto da família foi como reviver uma memória distante. — Isso... Ah, é estranho...

Ele parecia irritado e toda essas expressões que fazia era tão similar a quando estava brigando com Anthony que fez Blood sorrir. Ela sabia que nesse momento estava vendo coisas que talvez nem o alado tivesse visto ainda e acabou se sentindo culpada por tomar seu lugar.

— Ah... por que não trouxe o Anthony também? Gosto dele.

— Tá ocupado. Oh, mãe, – ainda engolindo a saliva rispidamente e sentindo-se estranho por falar tanto tentou explicar a situação — a gente não vai ficar muito tempo eu só vim pegar uma coisa no meu quarto e vou embora.

— Tudo bem, mas você sabe que não precisa ter pressa.

— Eu sei. – Tossindo se esgueirou entre eles subindo as escadas. — Blood.

— Sim?

— Quer vir comigo? Pode esperar aqui também se quiser, eu não vou demorar.

— Então eu te espero.

— Tá.

Assentindo se virou indo rápido em direção a entrada ignorando os diversos olhares que o acompanhava. Os outros ficaram em silêncio por instantes até ter certeza que ele já tinha sumido dali para poderem se virar para a garota mostrando seus rostos surpresos.

— Como fez isso? – A pergunta veio direto da irmã mais velha no topo da escada.

— O que?

— Tem certeza que ele não gosta de você? – Chen questionou, mas logo balançou a cabeça ainda mais confuso. — Ah, não, não... O Fuzhu não gosta de ninguém.

— Eu disse pra vocês! – Dhuzo estava próximo aos pais quando gritou com os outros três seriamente. — Ele não é insensível.

— Só você acredita nisso.

— Parem. – Falando alto, porém sem extravasar a mãe chamou suas atenções os calando. — Vocês vão assustar a jovem.

O aviso os silenciaram automaticamente procurando pelo rosto confuso da garota. Eles não tinham a intenção de fazer isso se desculpando logo em seguida.

— O Fuzhu não deixa ninguém entrar no quarto dele além de mim. – Sorrindo a mais velha explicou o motivo da agitação com calma fazendo Blood entender.

— Ah, mas eu não acho que isso seja motivo por gostar de mim ou não. Ele me trouxe aqui então deve achar que sou responsabilidade dele. – Novamente os olhos surpresos a encararam.

— Responsabilidade? – Chen perguntou incrédulo.

— Você tá brincando, né? – A mais jovem das moças gargalhou vendo Blood sorrir sem entender novamente o que estava acontecendo. — Você tá brincando? – Ao ver a reação da menor ela engoliu o riso piscando rápido.

— Dhuzo. – O pai falou fazendo sinal ao moreno que rapidamente moveu as mãos fazendo galhos saírem do chão formando bancos por ali. — Sente querida, vamos conversar sobre isso.

— Ah... Mas eu não tenho muito o que falar.

— O pouco já vai ser suficiente.

Todos se sentaram a encarando fazendo seu sorriso se prolongar nervosamente desejando que Fuzhu voltasse logo.

 

Ele, entretanto, estava no quarto revirando as caixas com calma feliz de saber que ninguém mexeu em nada desde que foi embora assim não ia demorar para encontrar o que queria.

Foi depois de longos minutos de reconhecimento e esquecimento que achou embaixo da cama dois colares de pedras reluzentes que com um único toque já era possível sentir sua força.

— Fuzhu? – A voz da mãe vindo da porta o surpreendeu. — Achou?

— Sim... – amarrando rápido os cordões nos pulsos escondeu os dois embaixo da manga sendo observado de longe por ela. — Eu vou arrumar tudo.

Sem questionar nada ela se apoiou na porta o assistindo se levantar e juntar suas preciosidades de volta nas caixas. Era como se lembrar de quando ele ainda morava ali e sempre voltava para casa com algo nas mãos que não deixava ninguém ver. O pequeno sempre foi cheio de segredos e sempre a preocupou.

Fuzhu normalmente se sentiria incomodado por ser observado com tanta insistência, mas nesse momento não foi o que sentiu. De alguma forma o olhar carinhoso dela o fazia se sentir bem.

— Você sabe que pode falar comigo se tiver problemas.

Ele ouviu, mas não respondeu. Não queria machuca-la. Afinal, contar o que estava acontecendo depois dos avisos que deram seria ridículo.

— Eu estou bem.

— Certo.

A última caixa foi colocada em seu armário e fechando a porta se afastou a vendo ainda na mesma posição. Eles se olharam por alguns instantes sem dizer nada imaginando coisas diferentes.

— Vem cá.

— Mãe.

— Só venha, Fuzhu.

Relutante como um adolescente envergonhado se aproximou deixando seu corpo ser envolvido pelos braços quentes dela. O jovem nunca gostou de toques ou afeto, mas nunca negava a mãe. Embora não tenha a abraçado de volta ele ainda apoiou a cabeça em seu peito ouvindo as batidas calmas do coração.

— Eu não vou morrer, mãe. – Falou alto e seco a ouvindo rir abafado.

— Não parece confiante sobre isso.

— Ah... coisas malignas não morrem fácil. – Sua voz continuava no mesmo tom, mas suas palavras, nesse momento, não eram somente sobre ele. Ela, entretanto, não entendeu e logo o afastou olhando séria em seu rosto.

— Você não é maligno, Fuzhu! Eu já te disse isso.

Não era a primeira vez que falavam sobre o assunto e, como das outras vezes, ele também não respondeu. Não por ser teimoso ou não acreditar nela, mas por realmente não poder confirmar sua resposta.

Em silêncio ela o abraçou novamente e ainda mais forte o ouviu suspirar. Com cuidado suas pequenas mãos se seguraram aos cotovelos dela e pela primeira vez ele soube o que dizer.

— Eu preciso ser.

Depois de conseguir tudo, Fuzhu voltou para se encontrar novamente na entrada com a jovem e sem perder tempo a chamou para partir o mais rápido possível dali. Eles de ainda ouviram as mesmas brincadeiras do pai e os pedidos para voltar de Dhuzo enquanto seguiam o rumo pela estrada.

— Fuzhu, cuida bem da Blood. – O homem comentou mais sorridente do que antes o deixando desconfiado da situação enquanto ela se despedia deles.

— Diga olá para o Anthony.

— Tá...

— A gente vai te visitar. – Dhuzo comentou acenando para ele de longe.

— Eu prefiro que não faça isso.

Foram longos os gritos de uma despedida que parecia não querer o deixar ir. Blood ainda ganhou amuletos mágicos das irmãs dele na saída e foi convidada a voltar se fosse trazer o garoto de novo. Todos ali tinham várias histórias para contar sobre Fuzhu e mesmo que a maioria fosse ruim eles ainda o amavam.

Assim que passaram pela entrada as marcas em suas peles sumiram e Fuzhu pode soltar o cabelo e esconder o chifre aliviado. Foi um dia pesado que um único suspiro não seria o suficiente para retirar toda a fadiga em seu corpo.

— É tão estressante vir aqui.

— Eles são cheios de vida.

— É...— coçando a nuca respondeu antes de se virar para olha-la direito e ter certeza que estava bem. — Eles te irritaram?

— Não. – Respondeu pensando que era engraçado vê-lo se preocupando tanto com ela o dia todo. — Foi divertido.

Essa não era a resposta que ele esperava e sem nenhuma cautela a encarou por alguns instantes em silêncio. Ela até se sentiria desconfortável, mas isso já tinha acontecido tantas vezes no dia que não sabia se ligava mais.

— Desculpa se isso for um insulto, mas você e o mestre combinam.

— Não é um insulto. – O comentário foi sério, mas ela acabou rindo.

Depois de tudo o que fizeram não tinham mais o que procurar ali a não ser retomar o caminho de antes pelos tapetes flores e poder finalmente voltar para casa.

— Sobre o que você disse antes. – Estavam aproveitando o frescor das árvores quando ela começou a falar o fazendo se virar ainda caminhando. — O Anthony vai se envolver. Ele sempre faz isso.

— É...

— Então... – havia determinação em seu olhar junto a uma súplica que dizia estar preocupada. Normalmente ele não se importaria, mas dessa vez parou para ouvi-la atentamente. — Se esse dia chegar, eu espero que você possa ser capaz de confiar nele.

— Ah... Eu já confio.

— Fim. V


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Notas finais do capítulo

Eu sei que sou suspeita pra falar aqui, mas eu amei muito ver esses dois juntos. Eu sempre pensei que eles se dariam bem na casa do Anthony, não como melhores amigos, mas como pessoas que podem ficar juntas sem problemas.
Uma coisa interessante no Fuzhu é que ele é muito apegado a pronomes de tratamento então eu pensei que quando ele fosse falar com a Blood ia chamar ela de Mestra porque é a namorada do Anthony e ela ia ficar sem jeito e pedir pra ele chamar pelo nome. Ele ia achar isso tão errado lol mas respeitaria o desejo.

Fuzhu cuidando dela e ela cuidando dele foi algo novo e eu tô muito feliz que aconteceu. Also, eu amo a família dele e quero poder escrever mais ainda sobre todos :D
Obrigada por ler e espero que tenha gostado!



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