Outro dia...

Isabelly estava aproveitando seu tempo em um café se deliciando com o sabor adocicado do chocolate quando ouviu algumas criaturas na recepção conversando sobre a inauguração de um parque de diversões na cidade vizinha. Ela não era o tipo de pessoa que se entusiasmava com notícias como esta, gostava da calmaria, mas também não recusaria o convite se alguém a chamasse para ir.

As moças falavam animadas sobre as atrações e apresentações que já estava acontecendo desde o início da semana. Havia alegria em suas vozes tanto quanto em seus olhares que imploravam por um dia de folga só para poder ver de perto tudo o que tinham ouvido falar.

Ambas estavam impregnadas por ilusões magicas que fez prender a atenção da mulher por mais tempo enquanto imaginava as coisas da forma que eram descritas. As ideais acabaram a fazendo sorrir quando pensou que Alcione talvez fosse adorar participar de algo assim. Conhecia a garota por muito tempo para ter certeza que se fossem juntas a esse lugar, perderiam o tempo todo passando pela fila de brinquedos aquáticos.

Pensou que poderia convida-la se não tivessem nada programado para o final de semana, mas acabou mudando de ideia quando ouviu a jovem no fundo falar sobre as barracas de brinquedos e as atrações mais calmas automaticamente trazendo a imagem de Fuyuki a sua mente.

Assim como Isabelly, Fuyuki também não gostava de lugares como esse, mas por motivos diferentes. Era tímido e não sabia lidar com multidões ou agitações. Entretanto a possibilidade de passarem tempo juntos e o ajudar a fazer novas memórias além do ambiente comum da vila a interessou mais do que as limitações. Ela sabia que ele provavelmente iria recusar se falasse dos brinquedos assustadores, mas precisava tentar pelo menos pelos brindes de bichinhos de pelúcia que ele adorava.

Foi pensando sobre cada detalhe que terminou sua bebida com calma e logo saiu do local. A jovem ainda tinha alguns planos para realizar pela cidade antes de poder finalmente voltar para casa então aproveitar esse tempo para pensar no que diria ao jovem quando chegasse. Estava determinada a convence-lo e não iria desistir sem lutar.

—

Chegou um pouco antes das duas horas com algumas sacolas em mãos e olhares curiosos vasculhando os cômodos em busca do rapaz. O encontrou sentado no sofá aconchegado a almofadas relendo um de seus livros favoritos como se estivesse distante dali. A moça o olhou por cima tentando não alarma-lo com os barulhos fitando a capa conhecida e o olhar atento preso em cada palavra.

A sala estava vazia com os móveis afastados e o silêncio de uma casa abandonada, entretanto estar ali não passava qualquer sentimento de solidão. Na verdade, a única sensação que se sentia era a paz absoluta apenas com a presença tímida do jovem que parecia perdido no mundo dentro de sua cabeça. Ela sorriu ao notar que, apesar de não mudar a expressão, dava para saber quão contente estava por ter esse momento com seu livro.

Não querendo atrapalhar, se afastou levando as compras para o quarto. Como não era muita coisa não teve dificuldades em se virar sozinha colocando tudo sobre a cama antes de checar se estava em ordem.

Havia várias sacolas com roupas e alguns acessórios básicos para quando precisasse sair. Também tinha alguns presentes simples que sempre trazia para os dois amigos quando quer que fosse a cidade. Gostava de mima-los quando conseguia e adorava ainda mais a sensação ao ver seus sorrisos honestos.

— Oi...

A voz baixa e quase culpada do rapaz a chamou de trás na porta de entrada do cômodo. Ela se virou surpresa pensando que talvez tivesse feito barulho demais chamando a atenção dele.

— Oi. Te atrapalhei?

— Não.

— Que bom. – Sorriu o vendo assentir tímido sem olhar em seus olhos. — Eu não quis te chamar quando passei pela sala porque – se virando para a cama começou a separar as coisas enquanto falava — achei que estava concentrado.

— Está tudo bem.

Ela continuou com a organização assentindo as palavras. Sabia que ele não era de falar muito, por isso não o forçava deixando que se sentisse a vontade mesmo que isso só permitisse que o silêncio ficasse entre eles.

Fuyuki se aproximou com cuidado olhando com receio as roupas que a moça esticava pelo lençol. Havia várias saias que pareciam justas e algumas camisas pomposas que ele nem sabia como se vestiam, mas só de olhar tinha certeza que ficariam boas nela.

— Encontrou... tudo o que queria? – Envergonhado como sempre, perguntou chamando o olhar gentil dela.

— Sim e até mais, para falar a verdade. – Explicou rindo culpada, o fazendo sorrir de cabeça baixa. — E você? O que fez hoje?

— Terminei o livro que a Alcione me deu. – Erguendo os olhos, respondeu um pouco mais sério. — E agora fui reler um antigo.

O jovem agia diferente quando falava de seus livros com ela, Isabelly sabia disso. Dava para sentir a agitação e a vontade que tinha em compartilhar suas aventuras imaginarias quando mencionava algum deles. Normalmente seu rosto sempre ficava vermelho quando se dirigia a alguém, mas nesses momentos era mais atento e falava com menos restrições. Deixava sua guarda baixa e, para ela, era gratificante vê-lo assim.

— E o que vai fazer amanhã?

— Não planejei... Por que?

— Quer sair comigo? – A pergunta foi calma, mas o fez engolir em seco surpreso. — Hoje fiquei sabendo sobre um parque de diversões que foi inaugurado em outra cidade. – Sabendo do nervosismo dele, Isabelly se virou terminando de dobrar as roupas falando ainda mais gentil. — E pensei que poderíamos ir conhecer.

— Ah... Você... Não prefere ir com a Alcione?

— Preferir? Eu prefiro vocês dois. – Riu, achando a pergunta inesperada e logo se aproximou o vendo abaixar novamente a cabeça envergonhado. — Vou chamar ela depois, mas dessa vez quero ir conhecer o lugar e gostaria de ter você comigo. Depois nós chamamos ela e vamos os três. O que acha? – A sugestão não era ruim só o deixava inseguro sobre tomar o lugar de alguém que merecesse mais, porém ouvir a empolgação dela e saber que pensou nele quando ficou sabendo do assunto o fez ponderar em silêncio. — Você sabe que não vou te forçar a ir.

— Eu sei... – Suspirou olhando para os lados pensando no que faria amanhã tendo certeza que não tinha nenhum plano. Não queria dar desculpas para evita-la, mas também, precisava garantir que não tinha combinado nada com outra pessoa. — Tudo bem. Mas... Eu prefiro não ir à noite. – Ela ainda estava tentando entender se ele havia aceitado o convite quando ouviu a condição a fazendo sorrir.

— Eu também! Que tal à tarde? – O sorriso brilhante dela o contagiou enquanto assentia lentamente. — Então perfeito!

Ela realmente não esperava que ele fosse aceitar tão rapidamente e menos ainda acreditou quando disse aquilo. Por isso não conseguiu esconder sua felicidade enquanto conversava com ele o resto da tarde fazendo o rapaz ficar em uma mistura de vergonha e contentamento.

No dia seguinte, ambos passaram a manhã como sempre faziam, Isabelly aproveitou para fazer seus treinos e manter a forma enquanto Fuyuki ajudou na cozinha com alguns preparos para a sobremesa depois do almoço. Tiveram o dia comum de sempre, porém um pouco mais ansiados do que o normal.

À tarde, depois de se arrumarem, Isabelly avisou Alcione sobre os planos enquanto ouvia a jovem implicar com eles fingindo estar magoada por ter sido deixada de fora da diversão que acabou preocupando Fuyuki fazendo ela revelar a brincadeira bagunçando o cabelo azulado dele.

— Se divirtam por mim! E vê se não voltam tarde!

— Claro. Não chore muito por nós. – Isabelly brincou fazendo o outro rir timidamente.

— Ah... Aí eu não posso prometer nada. – Falou séria e depois acabou rindo acenando mais uma vez os deixando partir.

A tarde estava revigorante com o sol fraco onde nuvens brancas como algodão se espalhavam pelos cantos dando formas a imaginação de quem as assistia passar. Eles tiveram sorte de poder aproveitar um tempo tão gentil para agraciar seus planos sem excessos de ventos frios ou ondas de calor no chão.

Foi depois de alguns minutos usando os serviços de tele transporte de uma cidade para outra que chegaram ao destino. Diferente das outras cidades, o parque estava localizado no centro desta que era conhecida por ser uma das mais belas e por essa razão movimento não parava nem mesmo à noite. Fosse pela visita de curiosos ou de criaturas procurando por uma chance de emprego. Por isso era natural que um local como este se esforçasse tanto para fazer cada pequeno canto parecer enorme com suas magias.

Para uma cidade assim, parques de diversão eram quase como as lojas comuns das outras cidades. Havia vários por cada canto afastado com atrações diferentes para todas as criaturas aproveitarem do seu jeito.

Mesmo com tantas coisas para ver eles conseguiram se manter no caminho. Isabelly sabia que Fuyuki talvez ficasse nervoso com tudo isso então quis se apressar com ele ao seu lado sem parar em lugar nenhum. E logo chegaram ao tão esperado parque. E que local maravilhoso era aquele!

A fila era enorme na entrada, porém caminhava rapidamente levando seus visitantes ao encontro direto de suas belezas. Ao passar pelo portão foram recebidos por cores vibrantes que faziam roupas claras se transformarem em arco-íris e olhos encantados brilharem como joias. Nesse momento, eles só conseguiram pensar que este parecia ser um dos lugares mais felizes do mundo.

O primeiro passo fez ambos arregalarem os olhos e separar os lábios encantados pelos enormes brinquedos. Puderam se sentir pequenos como camundongos, mas não amedrontados. Estavam hipnotizados pela beleza e contagiados pelos risos que cantavam por todos os cantos.

Dava para notar que todas as criaturas corriam ali em busca de momentos de descontração e memórias pintadas em rosa e amarelo tentando afastar para longe todo o vermelho diário.

Ela então percebeu as conversas altas e rapidamente se virou para ele vendo seu rosto vermelho olhando para cima.

— Você está bem?

Ele se virou bruscamente como se tivesse sido retirado de um feitiço tomando novamente conhecimento de onde estavam. Aquele lugar era tão magico quanto as fantasias em seus contos de fadas e por instantes ele se perdeu. Porém, ao ver a expressão preocupada dela notou seu descuido e acenou positivamente com a cabeça tentando a aliviar.

Nenhum dos dois tinha feito planos para onde ir ou o que fazer já que nem conheciam o lugar, então decidiram aproveitar o que podiam durante a tarde toda.

Começaram andando pelo parque lado a lado vendo tudo o que os encantava tirando deles alguns comentários felizes ou suspiros surpresos. Isabelly sempre olhava para Fuyuki quando notava estarem em áreas muito cheias para ter certeza que não iria se perder olhando demais para alguma coisa ou começar a se sentir mal.

Seus pés caminhando devagar enquanto a jovem pensava que já estava na hora de experimentarem alguns dos brinquedos. Ela olhava de um lado a outro pensando o que seria menos assustador para ele enquanto imaginava que Alcione sem dúvidas vai enlouquecer ao chegar ali na próxima vez que voltarem. Eles não saíram do parque com as roupas secas.

Estavam parados em uma área mais afastada das multidões tomando uma pausa do passeio quando ela percebeu o olhar dele preso em um único ponto. Curiosa, o seguiu vendo o enorme carrossel que fez até mesmo ela suspirar maravilhada com o brinquedo.

Era enorme, cheio de joias e cores claras que fazia parecer que os grandes cervos andavam em nuvens junto das várias montarias exóticas como em um desfile real.

Seus olhos calmamente se voltaram para ele e sem qualquer cerimônia, perguntou:

— Quer ir? – Ele rapidamente se virou e ao entender do que se tratava balançou a cabeça rápido dizendo que não. — Por que?

Era óbvio que ele tinha vergonha de ficar sendo exposto assim na frente dos outros, mas tinha ainda mais receio da mulher se sentir mal por estar em um brinquedo como aquele. As montarias era de pelúcia e ele queria toca-las, mas não faria isso se fosse ruim para ela.

— Não é... muito legal...

— Como não? – Surpresa questionou alto demais o assustando sem querer. — Eu adorei!

— Você... Quer ir?

— Claro que sim!

O jovem nem disfarçou a expressão surpresa ao ouvir as palavras empolgadas dela. Não parecia que estava fazendo isso por ele, mas porque realmente queria experimentar o passeio. Ele a olhou ainda confuso e depois para o carrossel sabendo que não tinha motivos para recusar a oportunidade.

— Então podemos ir?

Ela sabia que ele queria, mas a forma insegura como perguntou ainda apertou seu coração. Ele era muito mais gentil do que se podia esperar.

— Por favor!

Sorrindo Isabelly alcançou o pulso dele e rápidos caminharam até a curta fila. Ele estava ansioso, mas não tirava os olhos dos cervos como se estivesse prestes a realizar um sonho. Assim que chegou sua vez, correram para lá escolhendo ficar nas fileiras próximas um ao outro.

Fuyuki estava sorrindo como ela dificilmente o via e aquilo certamente derreteu seu coração. Ele se sentou com tanto cuidado como se não quisesse machucar o animal de seus sonhos enquanto acariciava carinhosamente o longo pescoço sentindo a pelúcia aquecer suas palmas. Ele estava feliz e só isso importava.

O passeio demorou poucos minutos, mas foi o suficiente para saírem dali como se tivessem acabado de acordar do mais lindo sonho.

Depois disso, aproveitaram para passar por algumas barracas e tentar a sorte com as atrações onde perderam algumas partidas, mas ganharam enormes felicidades. Assistiram atrações de atores fazendo magias em palanques improvisados e andaram em outros brinquedos mais calmos. Tudo isso até Fuyuki começar a se sentir sufocado com a situação e pararem em uma lanchonete.

Isabelly ficou ao seu lado o tempo todo garantindo que sua respiração voltasse ao normal. Claro, que não foi nada grave graças a percepção rápida dela, mas ainda era melhor garantir a segurança do que ariscar tudo. E por conta disso ainda tiraram um momento para descansar e aproveitar os doces fantásticos ali.

Não demorou até ele se sentir melhor e conseguir assistir a multidão de longe sem desviar o olhar, entretanto ainda parecia exausto depois de tanta agitação incomum o que deixou claro para ela que estava na hora de terminar o passeio.

— Tem mais um lugar que quero ir. – Disse o chamando para ela mais uma vez. — Eu vi essa loja quando estávamos passando. Fica perto da praça.

— Tá bem.

— Você pode me esperar na praça. Eu não vou demorar. – Concordou, se levantando com ela e partindo para o local ao lado.

O rapaz não sabia o que ela pretendia, mas também não desconfiou de nada, apenas fez como foi pedido e se sentou no banco da praça vazia assistindo o céu mudando de cor.

Era ótimo estar naquele local magico cheio de fantasias para explorar, entretanto, naquele momento, olhar as nuvens pacificas limpando o ar da tarde o fez se sentir muito mais leve trazendo o conforto que faltava.

Em meio aos pensamentos ele sentiu o banco se mover e logo encontrou o rosto contente da mulher ao seu lado. Sua reação foi sorrir e ver que tinha algo curioso em suas mãos.

— Aqui. Pra você.

Esticando os braços ela entregou um livro pesado nas mãos dele que confuso observou a capa sem entender o motivo.

— É um presente.  Pode aceitar.

— Ah... Mas e você?

Estava tão preocupado que nem conseguiu prestar atenção no título ou do que se tratava a estória ali. Ela por outro lado só conseguiu sorri contente por saber que se importava tanto quanto ela por ele.

— Você ter vindo comigo já é um presente. – Explicou o fazendo ficar vermelho. — A gente se divertiu muito, não foi?

— Sim... – sorriu ainda sem jeito e por fim se virou vendo a capa grossa revelando um título de contos mágicos. — Obrigado.

Aliviada, Isabelly sorriu de volta acariciando sutilmente o cabelo dele enquanto o rapaz virava as primeiras páginas em busca da nova aventura que viveria.

Não havia mais o que dizer ali e por minutos eles só permaneceram sentados ouvindo as conversas ao redor aproveitando o final de tarde naquela praça pacifica. No final, essa era a maior diversão que puderam ter: estar juntos.

—Fim. XXI