Contos - Aventuras Mágicas escrita por Saaimee


Capítulo 21
Corações nunca são iguais


Notas iniciais do capítulo

Tema: Dia dos namorados.
Dupla: Jyrki e Sigmo.

Boa Leitura!



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Outro dia...

Desde manhã até aquele momento o dia todo podia ser resumido em correria e bagunça. Hoje era mais uma data especial em que as criaturas da vila resolveram aproveitar para comemorar com muita festa e sorrisos. Era um dia feito para celebrar o amor e a gratidão em ter as pessoas importantes sempre ao seu lado.

Para a maioria dos habitantes essa data não tinha nada a ver só com relacionamento amorosos, mas para dizer que estava feliz por compartilhar momentos com os outros.

O tempo todo se via alguém correndo em meio a uma brincadeira ou criaturas sentadas debaixo de árvores conversando sobre coisas bobas. Era um dia que naturalmente trazia sorrisos e afastava o mal de seus corações. Isso até mesmo para aqueles que não entendiam muito bem sobre o assunto.

Com tantas coisas acontecendo, o caçador Sigmo não conseguia evitar de deixar sua atenção ser tomada a cada minuto vendo que tudo parecia muito mais divertido do que aquilo que ele tinha escolhido fazer.

Sentado em uma longa mesa de madeira o rapaz segurava em mãos uma folha de papel se questionando o que deveria fazer. Não estava sozinho ali, havia várias outros trabalhando em pequenos cartões, desenhos e até dobraduras. Entretanto sua posição o fazia se sentir deixado de lado junto ao outro caçador Jyrki que encarava o papel rosado nas mãos como se vidas dependessem daquilo.

Ele nem conseguia entender o porquê do mais velho estar ali e olhar para ele o deixava com dor de cabeça.

— Eu não sei o que estamos fazendo aqui. – Resmungou rindo da situação boba chamando o olhar negro do homem. Depois de ver tantas outras criaturas ali trabalhando arduamente já estava se considerando ser o problema.

— Você não sabe desenhar?

— Não é isso! – A voz do outro era séria e até parecia critica-lo, porém as palavras eram tão sem sentido que fizeram Sigmo coçar os olhos sem saber como se explicar. — Você não está deslocado?

A pergunta foi direta e fez o caçador rapidamente se virar olhando ao redor. A primeira coisa que notou foi a diferença de cores, enquanto todos ali pareciam usar rosa, amarelo e azul, os dois vestiam preto. Depois notou os rostos de sorrisos tímidos e bochechas vermelhas enquanto seu próprio rosto parecia enfurecido sem razão aparente. E por último percebeu que todos estavam fazendo algo enquanto eles só encaravam o papel como se fosse um mistério.

Era mais do que óbvio que o lugar dele não era ali, entretanto isso não o fez mudar de expressão e menos ainda sair de seu assento. Jyrki já estava acostumado a estar de fora de tudo, onde quer que fosse nenhum lugar o fazia se sentir como parte. Afinal, era assim que deveria ser.

Depois de refletir sobre a questão ele se virou novamente para Sigmo notando algo diferente. O rapaz parecia confuso e curioso para ouvir sua resposta, porém ao invés disso Jyrki lhe abordou com outra pergunta.

— Você não quer fazer isso?

— Ah... O problema é que eu não sei como fazer. – Coçou o rosto apoiando o queixo sobre a mão desistindo de ouvir a resposta do mais velho.

Estava acostumado com Jyrki o ignorando o tempo todo, mas por alguma razão não achava ruim o ouvir questionando. Seus olhos correram sobre a mesa vendo diversos desenhos coloridos, cada um com algo único, mas sempre com um pequeno coração em algum lugar.

— Meu coração não é como o deles.

O comentário soou vazio fazendo o mais velho se virar vendo os desenhos na mesa.

— O coração de ninguém é assim. – Sua voz grave parecia furiosa com a explicação do rapaz fazendo suas palavras parecerem uma bronca. — Você deveria saber disso.

— É... Eu sei. – Sigmo nem precisava respirar e mesmo assim a colocação o fez soltar um suspiro cansado.

Ele não quis discutir e menos ainda persistir no assunto. Jyrki sempre foi muito técnico e tinha a cabeça dura como uma pedra quando se tratava de entender além do óbvio. Não o culpava, viver sem sentimentos os fazia se apegar somente aquilo que conseguiam ver.

— E mesmo que fosse, você ainda seria diferente. – A voz dele estava mais baixa e muito mais calma, mas foram as palavras inesperadas que fizeram o rapaz levantar a cabeça encarando assustado o homem. — Quer saber o que eu acho desses cartões? – Assentiu, o vendo colocar o papel na mesa. — Nada. Eu ouvi o Hades dizendo para a Raposa que iria fazer algo assim e por isso vim até aqui fazer para ele.

— Sério...

— Ele vai sorrir se eu fizer isso. – As palavras eram gentis, mas o rosto estava tão estável e frio como uma parede.

Era estranho conversar com Jyrki. Ele sempre parecia nulo e cheio de grosserias, mas era surpreendente como podia ser sensível sem nem entender. Sigmo gostava disso.

— Por que... você quer isso?

— Porque não quero ver ele triste.

O olhar que o mais velho mostrou estava determinado, mas carregava algo que o jovem não compreendia. A forma como falava era diferente. Era óbvio que estava confuso consigo mesmo, mas estava pronto para descobrir o que suas próprias palavras significavam.

Sigmo não sabia se deveria questionar mais e causar uma avalanche de perguntas que não queria ouvir. Sempre teve medo quando estava com Jyrki, sabia disso, conhecia esse sentimento. Não conseguia explorar o mundo como o mais velho, mas sempre quis tentar. Quis estar ao lado dele e agora sentia que realmente tinha alcançado isso. Naquele momento, podia se ver no olhar dele sem ser empurrado para longe.

— Você veio aqui, por que?

Quebrando o silêncio e assustando a gritaria na cabeça do rapaz, Jyrki falou o chamando de volta.

— Kura e Night disseram que viriam então vim para acompanhar, mas... – olhando ao redor suspirou de novo. — Cadê eles?

Jyrki não disse nada, preferiu ficar parado assistindo o olhar curioso do jovem verificar a área como se quisesse ler seus pensamentos e ouvir o que corriam em seu corpo.

— Raphael. – O mais velho falou chamando os olhos negros em sua direção.

— O que tem?

— Não deveria incluir ele nisso? – A pergunta era para Sigmo, mas parecia que o próprio Jyrki estava se questionando.

— É... Eu sei... – ele não percebeu a dúvida, apenas respondeu com o sorriso de sempre antes de abaixar a cabeça derrotado. — Só que é difícil.

Não era a primeira vez que o velho o via desse jeito. Sigmo sempre foi frágil a questionamentos e facilmente se deixava levar quando não sabia o que fazer. Jyrki sabia de suas mentiras, mas também sabia melhor do que ele quando estava sendo honesto.

— Eu normalmente encontro resposta quando me pedem algo, mas pra ele... Eu nunca sei o que dizer.

Sua voz era triste como se tivesse sido jogado para fora dos portões Mundanos contra sua vontade. Estava fraco e não queria lutar. O outro assistiu à cena se perguntando se era para isso estar acontecer. Tinha ouvido falar sobre o relacionamento de Anthony com Blood diversas vezes sem nem pedir por isso — o alado adorava contar sobre a jovem e sobre como seus passeios de finais de semana aconteciam. Jyrki nunca se importou, mas com o tempo passou a parar para ouvir. Graças a isso conseguiu distinguir a felicidade do alado com a tristeza do caçador.

Sigmo não parecia prestes a chorar como as criaturas fazem quando veem alguém morrendo, parecia mais como aquelas em luto depois de ter se acostumado com a perda meses depois. Era mórbido algo que deveria ser feliz.

— Desde que ouvi sobre isso, fiquei curioso para perguntar. – Falando com a mesma expressão séria ele chamou Sigmo de volta. — Por que aceitou ficar com ele?

— Curiosidade? – Respondeu vagamente sem conseguir fazer o caçador aceitar. — Eu quis seguir o plano e ver a situação. Você tem as suas experiências, eu tenho as minhas.

— E adiantou?

— Em que sentido?

— Tudo o que você faz é para conseguir sentir, conseguiu? – A pergunta o fez jogar a cabeça para o lado como se quisesse responder, mas não tivesse palavras para isso. — A mesma coisa de novo? Nunca sentiu nada...

— É... – respondeu cabisbaixo, porém tinha algo em seu rosto que parecia se comparar a raiva que fez o mais velho se aproximar. — Não, eu sinto algo! – Gritou inesperadamente como se estivesse brigando consigo mesmo cerrando os punhos.

— E o que é?

— Como eu vou saber?! – Gritou mais uma vez erguendo os braços. Eles conversavam tão focados que nem notaram a atenção que estavam chamando na mesa deixando todos ali com medo do que poderiam fazer. — Mas... Tem dia que eu vou atrás dele porque quero conversar, quero ver ele... Quando ele segura minha mão... É estranho? Eu me sinto estranho.

Jyrki se calou. Ele não tinha resposta para isso, não era possível saber exatamente o que dizer, mas ouvir aquelas palavras o fez pensar em Hades. Tudo o que ele fazia era protege-lo e garantir que estivesse ao seu lado todos os dias. Fazia isso porque Morteus o pediu, era o que dizia, mas depois de tanto tempo não sabia se esse era o único motivo.

— Faça o cartão. – Falou ao ver o rapaz coçando a cabeça como se fosse cutucar o próprio cérebro. Sigmo o olhou lembrando qual era o objetivo deles ali e então cerrou os olhos confuso.

— Espera! Era tudo só pra isso? Você só queria que eu fizesse o cartão?!

— Você não sabia seus motivos, eu te ajudei a encontrar a resposta.

— Você só me deixou mais confuso.

— Você não acabou de dizer que quer conversar com ele, que quer ver ele, que quer? – Sua voz não aumentou conforme as palavras aumentavam, mas passou o sentimento impulsivo que surpreendeu o rapaz tentando absorver tudo. — Esse é o motivo para você estar aqui.

— Ah... É um saco como você sempre sabe de tudo. – Respondeu sorrindo mais calmo.

— Mas não era só isso. – Falou vendo seu olhar o encarar sem curiosidade e antes de prosseguir, suspirou. — Eu queria te ouvir.

Aquelas palavras foram o suficiente para fazê-lo arregalar os olhos sentindo como se algo dentro dele fosse estourar mesmo que Jyrki ainda estivesse com a mesma face gélida. Sigmo balançou a cabeça, tentou dizer algo, mas nada funcionava em seu cérebro como ele queria.

Jyrki não se importou com aqueles exageros e apenas voltou para seu papel pegando um lápis preto.

— Além disso. – Voltou a falar mais uma vez enquanto rabiscava o canto da folha. — Você está indo bem, Sigmo. – O jovem nem tinha se recuperado da surpresa quando as palavras gentis atingiram seus ouvidos. — Eu estive te vendo desde que estávamos morando juntos na casa anterior e sempre pensei que uma hora ou outra você iria se entregar a loucura e matar todos, mas você não fez isso. – Ergueu a cabeça vendo o olhar de sobrancelhas curvadas e lábios entreabertos. — Você não é como eu sou, mas não tem problema. Está indo bem do seu jeito.

Ele realmente não sabia o que dizer. Estava levando golpes atrás de golpes de coisas que não entendia e menos ainda sabia como resolver. Vendo Jyrki voltar ao trabalho, ele apoiou as mãos na mesa e soltou um riso desajeitado de quem não acredita no que está ouvindo.

— O que que o Anthony fez com você, hein?

O mais velho não respondeu, achou ser retórica, já Sigmo ficou o observando esperando que um dia pudesse ouvir mais dele.

Talvez fosse por causa da data ou quem sabe tinham finalmente encontrando algum balanço entre suas existências. Sabiam que seus corações certamente não estavam alinhados e nunca seriam iguais, mas nesse dia, quem sabe, tivessem batido contra sua natureza em um mesmo propósito de felicidade.

—Fim. XX


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Notas finais do capítulo

Eu amo meus meninos fortes de corações frágeis. Eu amo muito mesmo!
Aa, adoro quando o Jyrki aparece nas minhas fics. Ele é tão cético, mas ao mesmo tempo tem uma sensibilidade incomum. Ouve os outros e se ouve, questiona e pensa sempre antes de falar qualquer coisa. Amo o cuidado dele e mais ainda os descuidos. Ele é tudo pra mim ♥
Já o Sigmo é um anjo que eu quero proteger excessivamente. Quero que ele fique bem e cresça muito mais, por isso ando trabalhando nele com todo o amor do mundo.
Eu realmente espero que vocês tenham gostado dessa conversa porque, sério, eu me dedico a eles demais ^^
Obrigada por ler e até amanhã!



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