Joia de Família escrita por Denise Reis


Capítulo 15
Capítulo 14




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Decorrido uma semana, a situação entre Richard Castle e Katherine Beckett perdurava. Eles ainda não tinham se reencontrado ou mesmo se falado pelo telefone. Castle não se sentia confortável em procura-la e Kate, por sua vez, não tentou mais falar com ele. Naquela noite ela deixou mais três mensagens de voz, mas não teve retorno e depois não telefonou mais.

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Após dar alta em um bebezinho no seu plantão administrativo, Kate foi para a saleta de descanso e se jogou em um sofá confortável e foi seguida pela sua Orientadora que se sentou ao seu lado e deu um toque camarada na mão direita dela.

— Hey, querida, que carinha triste é essa, eihm? – Lanie sondou, preocupada.

Ao sentir a preocupação da amiga, Kate franziu o nariz e entortou a boca demonstrando cansaço — Tá tão na cara assim, é, Lanie?

— Adivinha! – Lanie ironizou.

Kate deu de ombros, indicando descaso — Logo passa!

A Residente já tinha contado para Lanie sobre o encontro que não acontecera e também que ele não atendera aos telefonemas dela e nem retornara as ligações— Por que você não procura no sistema a ficha cadastral da Alexia? Lá você vai encontrar os telefones e até o endereço do pai dela. Se ele é o responsável pela garota e foi ele quem pagou a conta do hospital, deve ter lá todos os dados. – ao receber um olhar de censura de Kate, Lanie continuou falando — Nem me olhe assim de modo tão reprovador! A gente sabe que é um documento privativo e coisa e tal, mas este é o único meio de você saber onde ele mora e também se ele tem outros números de telefone.

Com uma expressão aturdida, Kate olhou meio de lado para sua Orientadora — Se isso foi um teste de lealdade à instituição, Lanie, saiba que jamais eu vou invadir a privacidade de um paciente ou de um familiar dele!

— Nem que este familiar seja o homem por quem você está apaixonada, ou, pelo menos, muito interessada?

— Jamais!

— Foi isso que eu imaginei... Você nunca faria isso. – Lanie fez uma careta.

— Com certeza, Lanie, ainda mais depois que eu autorizei a imobilização do braço da filha dele, mesmo sem necessidade. Uma repreensão já foi suficiente na minha ficha de Residente!

 — Aliás, eu também nunca usaria deste artifício para localizar alguém por conta de um problema particular. A propósito, isso não foi um teste, viu, mocinha? Eu estou mesmo muito preocupada com você.

— Daqui a pouco eu nem vou mais me lembrar dele.

— Será mesmo? Ah, estou achando difícil disto acontecer, viu, Kate. Você está apaixonada!

Ao ouvir o comentário de Lanie, Kate se recostou na lateral do sofá e fechou os olhos como se quisesse dormir — Obrigada por me lembrar disso!

— Hey, garota! Só acho...

— Mas o pior que é verdade, Lanie... Não consigo parar de pensar nele. Não sei porque minhas ligações caíram na caixa postal... ele não me retornou as ligações... – de repente ela se senta e demonstra estar tensa — Hey, será que ele me bloqueou?

— Por que ele faria isso, Kate?

— Sei lá! Não faço a mínima ideia. – Kate deu de ombros, desta vez, expressando que desconhecia mesmo o motivo  É que eu já estou pensando em hipóteses pra lá de remotas, Lanie.

— É esperar para ver...

— Ou não, né? Vida que segue.

Pela janela de vidro da saleta, as duas viram um grande movimento, indicando que devia ter chegado novos pacientes e isso foi confirmado pelo telefone de Lanie, cujo toque de mensagem soou.

— Ah, meu Deus! – Lanie se levantou e se dirigiu à porta da saleta, mas antes avisou a Kate o motivo do movimento na Emergência Pediátrica – Um brinquedo do parque de diversão quebrou, ferindo quinze crianças. As ambulâncias estão chegando. Vamos, querida! Vamos trabalhar e ajudar a salvar todas estas crianças.

— Vamos!

— Trabalho vai te fazer bem.

— Vamos salvar estas crianças!

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Depois de um exaustivo dia de plantão administrativo, Kate tomou um revigorante banho no vestiário do hospital e se arrumou para sair. Estava exausta e ansiosa para se jogar no sofá de sua casa, relaxar e assistir a um episódio de sua série favorita que, infelizmente, fora cancelada depois de oito anos, deixando todos os fãs entristecidos, inclusive ela.

Quando passava pelo amplo saguão de entrada do hospital, onde havia muitas pessoas entrando e saído, ela encontrou seu amigo Samuel e enquanto caminhavam na direção da porta, eles conversavam.

— Oh, que bom te ver, amigo!

— Ah, que dia! – Samuel desabafou – Estou cansado! Meu plantão foi estafante e estou ansioso para relaxar!

Passaram pela porta, em frente ao imenso estacionamento do hospital e pararam para conversar um pouco.

— E aí, Samuel...Tudo bem entre você e o John!

— Sim, amiga, graças a Deus estamos bem. Ah, como o amor é lindo! Vivemos em uma eterna lua de mel. – o moço falou ao dar um suspiro apaixonado.

— Que maravilha! Hey, você disse que houve muito sufoco na Emergência Ortopédica...

— Infelizmente, sim. Atendi um homem que fraturou o fêmur. Ele perdeu o equilíbrio ao tropeçar no batente da casa. E o pior que na queda ele ainda machucou os dois braços, o punho da mão direita, teve também uma contusão na região do olho direito e um corte profundo na testa que levou cinco pontos. Fiquei com o coração partido ao vê-lo sofrer com tanta dor.

— Cirurgia no fêmur? – Kate indago.

— Sim. 

— E... – Kate queria saber o resultado.

— Sucesso total, graças a Deus! Ele vai ficar internado e, mesmo com todos esses machucados, a expectativa é que tudo vai ficar bem.

Kate vibrou com a notícia — Uauu! Que maravilha!

— Com todo esse sufoco, ele ainda teve que ouvir piadinhas dos amigos que foram visita-lo, acredita nisso?

— Ah, sim... O povo não perdoa. – Kate comentou— Eu sempre ouço aquela piadinha sem graça de que é melhor perder um amigo, mas o que não pode é perder a piada.

— Lamentável!

— Pois é. Eu não concordo... enfim...

— E as suas criancinhas, eihm, Kate, tudo bem?

— Hoje tivemos muitas crianças doentes e acidentadas, mas, felizmente, nada de tão grave... Pneumonia, otite, infecção intestinal, cortes, quedas de escada, braço quebrado, prego no pé... Todas medicadas e fora de perigo. Foi um dia normal, mas graças a Deus, nenhum óbito. Todas as criancinhas estão ótimas!

— Mudando de assunto, Kate, você está particularmente linda, garota! Está indo para casa ou vai a algum encontro amoroso? – Samuel piscou o olho, divertido, de forma maliciosa.

— Ah, antes fosse um encontro, viu... Aliás, ainda bem que não tenho um encontro, porque estou exausta. Vou para casa. E você?

— Estou esperando o John. O plantão dele também termina agora. Vamos jantar naquele restaurante que você adora. Quer ir com a gente?

— Ah, não, amigo. Mas obrigada pelo convite.

Neste momento John se aproximou deles com um sorriso lindo no rosto e cumprimentou Kate com um beijo na testa.

Ao olhar para Samuel, a expressão no rosto de John já era outra.

— Oi, amor! – John saudou Samuel com um selinho demorado nos lábios, fazendo um carinho na face dele.

Samuel se afastou um pouco e mediu o marido dos pés à cabeça — Nossa Senhora! Você está maravilhoso! Mas esse meu marido é lindo demais! Jesus! – Samuel sorriu, apaixonado – Onde é que você vai, assim, tão... Tão lindo, eihm?

— Para o nosso jantar, amor. – John explicou e deu um novo beijo no marido — Vamos com a gente, Kate. É aquele restaurante que você adora.

— Eu acabei de falar isso mesmo com ela e a convidei, John, mas ela está cansada e não quer ir.

— Vamos, Kate! – John repetiu o convite.

— Não, amigos, mas obrigada por me chamarem. Fica para outra vez, ok? – Kate sorriu e demonstrou estar mesmo grata pelo convite.

Após os cumprimentos e despedidas, o casal e Kate se afastaram e foram para seus respectivos carros.

 

.......................................

 

Cinco minutos antes

No estacionamento em frente à porta de saída principal do Hospital do Sagrado Coração de Jesus, Richard Castle estava dentro do seu carro observando as pessoas na porta da saída principal do hospital no horário em que Kate deveria deixar o plantão, pois estava morrendo de vontade de vê-la e, se possível, queria conversar com ela.

Só que presenciou o que nunca imaginava.

Ele viu Kate passar pelo portão ao lado do tal médico que estivera com ela na cafeteria há um pouco mais de uma semana.

Só que desta vez, Castle decidiu assistir toda a cena. Não iria deixar pela metade, mesmo que isso maltratasse o seu coração.

Kate e o tal médico conversavam com entusiasmo. Não se tocavam, mas o assunto devia ser muito interessante, pois gesticulavam bastante. Faziam caras e bocas e em alguns momentos Kate demonstrava desânimo, mas em outros momentos, os dois sorriam.

O coração do Castle deu um salto ao vê-la, mas ao mesmo tempo, ficou angustiado e chateado por saber que aquelas dois estavam realmente juntos.

— Que droga! – ele ficou muito irritado porque aquela cena era a comprovação de que perdera Kate de vez.

Castle resolvera ir espera-la neste dia, pois queria conversar com ela. Ainda nutria uma esperança de que tudo não passasse de um mal-entendido, como Martha previra. No entanto, pelo visto, sua mãe estava errada, pois Kate e o médico estavam juntos.

— Droga! Droga! Droga! – aflito, ele passou as mãos nos cabelos, despenteando-os – É, já chega! Perdi! É o ponto final de uma história que terminou antes mesmo de começar. Só teve um prólogo e um capítulo. – ele pensou alto, inconformado.

Ele até pensou em ligar o carro e ir embora para não mais olhar aquele casal, mas decidiu esperar mais um pouco. De repente, ele foi surpreendido por algo inusitado. Um outro homem sai do hospital e vai na direção de Kate e do médico e ao cumprimentá-los, Rick fica boquiaberto e muito satisfeito, pois ao cumprimentar a Kate o moço apenas dá um sorriso e um beijinho fraternal na testa dela e ao cumprimentar o outro médico, ele o faz com um selinho demorado nos lábios e um carinho no rosto e logo depois eles se apreciaram e trocam um carinho na face e um novo selinho, sinal de que os dois tinham um relacionamento amoroso e isso deixou o Castle muito feliz.

— Meu Deus! Quer dizer que o médico que estava com a Kate na cafeteria não é paquera ou namorado dela... Ao que parece ele é namorado deste outro que chegou depois e isto é maravilhoso! Ou seja, Kate, realmente, não tem namorado, como ela falara lá no consultório, no dia da consulta da Alexis. – Castle analisava os fatos e falava sozinho, rindo muito, mas logo sua expressão mudou, pois percebeu a burrada que fez. Ele não só não telefonara mais para Kate como também bloqueara o número do telefone dela, impedindo-a de ligar para ele.

Desistindo, momentaneamente de ir embora, ele pegou seu aparelho de celular e rapidamente faz o desbloqueio do número de Kate e manuseando os aplicativos, percebe que havia algumas mensagens dela que ele nem tinha percebido ainda e essa falta de noção o deixou chateado consigo mesmo.

— Que droga! Porque eu não vi isso antes?

No entanto, ele refletiu e viu que mesmo se tivesse visto as mensagens, não iria adiantar muito, pois, como estava chateado com Kate, talvez nem mesmo as ouvisse... Ou pior, talvez até as tivesse deletado.

Ele acionou a primeira mensagem deixada por Kate, gravada no dia em que marcaram de sair à noite, ou seja, dois dias depois em que ela cuidou de Alexis no hospital.

 

 

“- Oi, Castle, sou eu, a Kate.

Saí agora do hospital e

estou indo para casa.

Depois eu te ligo novamente,

mas, se você puder,

telefone para mim, ok, para

marcarmos nossa saída.

Quer dizer... ainda tá de pé, não é?”

  

 

Um pouco depois, ela deixou outra mensagem entusiasmada:

 

 

“- Oi, Castle, já estou pronta,

só esperando sua ligação...

Quando você estiver vindo,

é só me avisar, ok?”

 

 

 

Em seguida, ele ouviu a terceira mensagem deixada por ela, no mesmo dia, só que às vinte e uma horas e, facilmente, percebeu um tom de tristeza e desânimo na voz dela, ao invés da alegria e ansiedade das duas primeiras mensagens.

 

 

“- Oi, Castle, fiquei esperando

sua ligação... Tentei falar contigo

nem sei quantas vezes,

mas a ligação não completa...

Tomara que você e a Alexis

estejam bem. Se puder,

telefone para mim.

 

 

 

Ao ouvir o tom de desolação de Kate e sentir na voz dela a preocupação com ele e com Alexis, mesmo depois dele não ter comparecido ao encontro sem dar qualquer justificativa, seu coração apertou.

Sentiu-se culpado. Portou-se como um babaca por ter deixado o ciúme tomar conta de sua mente. Ele teve um comportamento infantil, pois o certo seria se aproximar da mesa dela ou então, ir ao encontro marcado onde conversariam e ele tiraria todas as dúvidas.

E assim, decepcionado com sua própria atitude de ter pensado besteiras sobre a Kate, ouviu as outras mensagens que ela gravara, sempre com o mesmo timbre firme, mas com um tom de esperança e tristeza misturados.

Ao terminar aquela tarefa, Castle sentiu-se ainda mais desapontado consigo mesmo, no entanto, sabia que não poderia continuar agindo como um adolescente imaturo. Teria que tomar uma atitude o mais rápido possível, caso tivesse interesse em conquistar Kate.

Resolvido a não cometer mais erros com relação a Kate, Castle olhou na direção em que a vira na última vez, andando pelo estacionamento, com certeza, para pegar seu carro. Só que ele não a encontrou.

Castle saiu do carro para ter uma melhor visão do entorno, mas, infelizmente, ela já tinha ido embora, então retornou para dentro do seu veículo e fixou as vistas no seu aparelho celular. Depois de refletir sobre o próximo passo, começou a teclar o número dela, mas logo desistiu, pois ela estava em trânsito. Mesmo que o carro dela tivesse o sistema bluetooth, ele preferiria conversar sem a interferência do trânsito.

— Vou telefonar em meia hora... Imagino que seja tempo suficiente para ela chegar em algum lugar. – ele pensou alto.

......................................

Castle usou este tempo para voltar para o loft e assim que chegou encontrou sua mãe e a cumprimentou, dando um beijo na face dela.

— Oi, mãe, onde está a Alexis?

— Ela está no quarto dela assistindo desenhos animados, filho. Acabei de ir lá levar um suco de frutas e ela está bem.

— Ótimo!

— Hey, Richard, está tudo bom com você? Estou te achando ansioso... Ou é impressão minha?

Ele deu um longo suspiro e logo respondeu — Você está certa, mamãe, como sempre, né? – ele sorriu resignado e ao mesmo tempo feliz.

— Ah, e o que foi assim, eihm? – Martha ficou feliz e curiosa — No que foi que eu acertei desta vez? – ela brincou.

— A senhora nem vai acreditar, mamãe... – ele começou a falar e a puxou pela mão para que ela se sentasse no sofá ao seu lado e ali. Contou sobre a cena que presenciara na cafeteria há um pouco mais de uma semana e, em seguida, narrou a cena na porta do hospital naquele final de tarde. Contou detalhe por detalhe, e, por fim, também acessou a caixa postal do seu celular para que sua mãe ouvisse as mensagens deixadas por Kate.

Ao final da narrativa, Martha estava pasma, contudo, com uma aparência muito feliz, mas um tanto quanto preocupada.

— Filho, será que fica chato eu te dizer: “Eu bem que te avisei!”?

Achando graça do jeito espirituoso de sua mãe, Richard Castle ficou na mesma sintonia leve e divertida dela — Ah, mãe, não tripudia da minha situação! – ele riu, zombando da própria situação e deu um beijo estalado no rosto de Martha.

— Ainda bem que o seu anjo da guarda mandou você ir hoje ao hospital, né, filho? – Martha estava muito alegre com a novidade que o filho contara e o acariciou no rosto.

— Pois é. Ainda bem mesmo, mamãe.

— Você vai telefonar para ela ou...

Ele a interrompeu e foi logo informando — Vou telefonar para ela, sim, mãe. Aliás, eu comecei a telefonar ainda na porta do hospital, mas, como ela estava dirigindo eu desisti, pois eu a quero viva. Todo mundo sabe que a combinação de ‘direção + celular’ não termina bem.

— Você está certíssimo, filho.

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Continua...

 


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