Escola Cristano escrita por Sanyago


Capítulo 3
Uma proposta para Pedro!


Notas iniciais do capítulo

Pedro chega atrasado no curso e acaba recebendo uma proposta irrecusável!



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 Enquanto isso, Pedro entrara já na sala do seu cursinho. Se destacara na aula com notas excepcionais, sempre foi muito bom em eletrônica, física e eletricidade. Na verdade, boa parte deles não estudavam em Cristano, as vagas para esse curso eram abertas em processo seletivo, Pedro foi um dos poucos de escola pública que passara. O ambiente era de certa forma hostil a ele, não por todos, mas pela maioria. Eram de bolhas sociais distintas.  

    Nunca foi de julgar as pessoas pela sua condição social quer seja privilegiada ou não, no entanto, fato é que não conseguia se entrosar. Era como um interiorano em meio a cidade grande: enquanto estudava para fazer faculdade, os outros discutiam que faculdade eram melhores para pagar. Enquanto guardava dinheiro no final do mês dos serviços, eles usavam a mesada do pai pra sair com os amigos depois da aula.

A sala em si já era diferente de toda Cristano: Cadeiras azuis, levemente mais aconchegantes que as do fundamental, e principalmente se comparadas com as do ensino médio; quadro branco com tv led na parede para assistir aulas em slides. Janelas limpas sem riscos ou arranhões, chão com piso brilhante de tão limpo, tal qual se a faxineira houvesse passado a menos de um minuto na sala.

Este era um curso externo a toda escola estadual, parte da diretoria tentava incentivar os alunos do ensino secundário a tirarem notas melhores, mas era difícil! Tanto a negligência da maioria dos estudantes que não se interessavam e a falta de recursos financeiros ou mesmo falta de tempo dos professores, só desanimavam mais e mais os docentes. Chegou uma hora em que poucos ligavam, "Estude quem quiser" - Era uma das falas uma vez proferidas pelo professor Nicholas. Era quase como não jogar "pérolas aos poucos".  

A barulhada da turma era tremenda, principalmente de um grupo no centro, mais atrás na sala, eram quatro: sentados três não em cima da cadeira, mas em cima da mesa. Enquanto o outro ficava desenhando no caderno, e os demais admirando seus dotes em fazer traços, tal como um mangaka. Verdadeiramente, Alessandro era acima da média com desenhos japoneses, conseguia fazer de Akira a um Kenshiro. Um Ash a um Luffy. Mesmo traços mais sérios como o de seinen, tinha certa destreza.

— Pois bem, silêncio! E, por favor, sentem-se nos seus lugares. – Disse o Professor Murilo. Tinha uma aparência um tanto quanto mais nova que os outros professores. Barba a fazer, cabelo liso bem cortado com máquina nos lados e tesoura em cima. Seu tom de pele era claro, tendendo mais para uma cor de um latino europeu. De relance aparentava uns vinte e sete anos, mas já tinha os seus trinta. – Gostaria que fizessem silêncio, pois irei dar as notas do último semestre. Mas já adiantando, a maioria, infelizmente, ficou a baixo da média. Na próxima semana haverá uma reunião para falarmos sobre isso.

— Professor – Interrompeu o aluno sentado à mesa, logo se levantara para dirigir-se a sentar adequadamente, seu nome era Fernando. -, você também deu uma prova muito complicada pra gente.

— Não quero parecer chato, mas acho que a prova não estava tão difícil... Vocês têm é que estudar mais! – Afirmou o professor, de maneira que mostrara sua profunda preocupação com a turma. – Eu diminuí o número das expressões a se simplificar e deixei que usassem calculadora..., mas enfim, conversaremos melhor depois, ok? Que comecemos:

    Allan Ferdinando: 3,8 Ariana Bastos de Souza: 2,1 Bruno Carlos Almeida: 3,3! Diana Lorenzo: 1,9 Edineia Carvalho da Cruz: 4,5 Francielle Amado: 6,1 Fernando Henrique: 4,9 Francina Queiroz 0,8...

    A turma se calara. Até ali apenas Francielle, a garota morena de cabelos castanho claro que sentara no meio da fileira à direita, conseguiu ficar na média. Quando o professor falou o nome de um aluno, que dentre os outros, era um dos que mais se esforçava e sofria certa zoeira devido a sua aparência deveras esquisita: cabelo molhado, cacheado, quase ralo; era gordo e um pouco espinhento, tinha aparelho de cor verde nos dentes; ainda por cima tinha óculos grandes e redondos, parecendo os do Harry Potter. Ele ouviu o seu nome e levantou da carteira na hora com um impulso. Todos olharam pra ele e o professor se assustou, mas continuou sua fala: 

— Ah... calma, sua nota foi 7,0

Pietro, o menininho gordo, deu um grito: “Uhuuul!” e logo sentou, pois percebera que estava passando por um momento embaraçoso.  Continuara o professor a falar as notas, e a cada uma, os alunos perdiam o pouco das esperanças que lhes restara.

— Gordo é foda! – Disse o garoto atrás dele, reprimindo o menino. Denominar “garoto”, talvez não fosse muito adequado, soando relativamente eufêmico. Bruno era magricela e parecia ter uns vinte dois anos, com uma barba toda falhada, mas cheia; e olhos profundos. Nariz fino e fisionomia não muito saudável. Dava a entender que era um repetente.

     Os nomes com a letra ‘P’ estavam passando, mas Pedro não ouvira seu nome e então logo após o último, perguntou ao professor:

— EI, um segundo, professor! – Advertiu Pedro.  

— Oi Pedro, algum problema? - Pedro estava com medo de falar algo depois do esporro tomado na outra aula, mas se deu conta que não havia nada demais dessa vez - É que o senhor falou os nomes e o meu o senhor não citou!

    Murilo olhou para lista de presenças, vasculhava cada nome da lista usando os dedos para não se perder, até que finalmente achara o nome de Pedro:

— Ah... sim, desculpe! – Ajeitou-se na cadeira um pouco mais limpa e menos desgastada que a dos alunos; coçou sua barba serrilhada, loira e sem nenhuma falha. - É que seu nome não estava constando em algumas matérias, aí está aqui em último no meu caderno... Nossa, você ficou com uma nota excelente, Pedro! Parabéns. Aliás, a melhor nota da sala: 9,5 pontos, só que como você fez aquela atividade extra, que eu já ia me esquecendo, eu acrescentei junto a nota final e o senhor ficou com 10,0.

    A turma olhava com certo desprezo, pois não entendiam como um aluno que estudou toda vida naquela instituição tinha uma nota tão alta, comparada com eles que “estudaram” a vida inteira em escolas particulares. Alguns o viam com antipatia devido sempre chegar atrasado e nunca falar com ninguém, porém, não pensavam que ele já tinha tentado se comunicar, no começo do ano, mas acabara ignorado pelos demais.

    Pensavam que era de certa forma sem sentido: Um garoto de uma escola tão antiga e com tão pouco orçamento tirar uma nota tão alta, em contraste a todos os jovens com uma base primária sólida e recursos financeiros. Talvez fosse um nerd superdotado ou mesmo os demais alunos deixavam a desejar nos seus estudos, mesmo contando com todos os recursos sociais e financeiros. O que será, afinal?

    O professor de física terminara de falar as notas, com 80% da turma reprovada na matéria, e então o sinal bateu. - Podem sair! - No mesmo momento, ele viu que Pedro já tinha arrumado a mochila e estava para voltar para o corredor do ensino médio. Logo o chamou – Pedro, poderia vir aqui para conversarmos? 

   - Ah, sim, professor! - E então se aproximou do professor que esperara toda turma sair para falar com ele a sós. 

— Então, Pedro! - Continuou ele - queria te felicitar pela nota, sempre notei que você sempre está aplicado e prestando atenção nas aulas. Veja bem, como um todo, essa turma não é ruim, mas... Sei lá, noto que a maioria de vocês não se acostuma com a matéria e meio que nem me perguntam quando tem dúvida!

— Sim, eu também tinha notado, só que eu geralmente separo as minhas horas de estudo! Eu fico uma parte lendo a teoria e depois assisto a um vídeo para assimilar melhor! - Prosseguiu Pedro explicando - Depois eu fico, mais ou menos, meia hora descansando a mente e faço uns exercícios na internet, de vez em quando alguns de vestibular para acostumar minha mente e ver se fixei bem a matéria! - Embora, eles sejam de tempos diferentes, seus métodos de estudo eram de certa forma, parecidos; Isso chamara a atenção do professor em relação a ele, pois, poucos alunos se interessavam em física, levando em conta que era uma matéria específica do curso.

— Então, eu admiro muito a sua dedicação - Nesse momento, Pedro sorrira para o professor. Ele ficava lisonjeado de receber esse tipo de elogio, não era muito comum os professores elogiarem qualquer aluno da escola, pelo seu conhecimento ou dedicação.

— Obrigado, Professor! - continuou falando - fico feliz em ouvir isso, mas eu também tenho vários defeitos! Eu não sou um bom exemplo pra ninguém...  - Nesse momento o professor o interrompeu!

— Então, era sobre isso que queria falar - Ele pegou os formulários e enquanto falava, guardava os documentos dentro da mochila, pelo fato de ter que dar outra aula a seguir - Eu tenho certeza do seu potencial, mas o que me preocupa são os seus atrasos recorrentes, está na hora de você levar a sério a pontualidade! Você é um ótimo aluno, só que não importa o quão bom você é, se você acabar atrasando para uma prova de vestibular, você ficará de fora. Pode até ser o melhor aluno do mundo, contudo, se não tem o compromisso para chegar cedo numa prova, qual é a sua preparação para o mercado de trabalho?

Pedro via que as palavras do professor, mesmo soando de certa forma duras, eram as mais sinceras. Ele não precisara gritar ou tirar pontos para poder repreendê-lo. Uma atitude muito difícil de aparecer naquele lugar.

— Entendo perfeitamente! - E então colocou a mochila no chão e começara a falar - Mas, eu não escolho isso! Eu adoraria, adoraria mesmo, chegar cedo; Só que não é bem assim que as coisas funcionam comigo...

— Por quê?

— Eu tenho muitas aulas no ensino médio, tenho que estudar para o vestibular no final do ano e tenho muita dificuldade para dormir. - Disse Pedro em uma fala centrada, agora segurando a mochila só com um braço. – É que... Eu não sei! Fico estudando tanto, estou me sentindo muito, mais muito cansado. É tanta coisa e... É claro, eu sei, eu sei que você é um professor, tem várias aulas para dar, palestras para apresentar, só que a pressão na minha cabeça está tão grande que nem dormir consigo mais.  

— Entendo, será que poderia lhe ajudar com um incentivo? – Respondeu o Professor.

— Que tipo de incentivo? – Rapidamente Murilo o respondeu - Bom, a escola não pode fazer muita coisa, só que eu tenho um amigo que trabalha como professor em uma universidade muito boa. Ele sempre me disse que não gostava muito da forma como era conduzida as provas para entrar naquele curso, e a escola tem consciência disso. É uma faculdade particular muito boa, e com uma ótima base para pesquisa, mas ela precisa de alguns bolsistas. E eu acho que posso te indicar com uma bolsa de estudos, sem pagar nada! - Pedro quase caiu pra trás, um sorriso gigante de orelha a orelha manifestou-se em seu rosto amarelado, suado e com parte dos cachos em sua sobrancelha. - Espera, espera, você está falando de entrar na faculdade?

    Pedro olhou pra cima, e em segundos pensou: “É óbvio que ele está falando de faculdade, seu retórico burro”!

— No site deles, estão pedindo para que alunos deixem suas notas e identificações para tentar entrar em vagas de turmas deficitárias com poucos alunos. Só que é um processo muito burocrático e chato, eu posso conseguir uma vaga para você por indicação. Tem vaga em licenciatura em física. Ela é uma universidade particular, então você pode entrar por minha indicação, se você ir numa entrevista com o professor, ele pode conseguir uma bolsa pra você!

— Pedro analisou a proposta, colocou a mão na cabeça, passou pelo seu cabelo enrolado, não tão oleoso como estava a meia hora; Fato é que não tinha dúvidas que fosse uma proposta muito boa, no entanto, ele nunca tinha imaginado cursar física. Mas ao mesmo tempo, pensou novamente – “Idiota, porque está pensando?” “Talvez seja uma oportunidade única, ahhhh”!

— Eu tenho que pensar, professor! Eu sei que é uma proposta muito boa e praticamente, irrecusável, só que eu nunca me imaginei nessa área, até por... - O professor fez um gesto para que ele secasse a argumentação e disse:

— Vamos fazer o seguinte, mantenha sua nota alta, na margem do que mais ou menos você tem tido agora, com o CR de 8,0 pra cima. Pense bem, não é porque você nunca se imaginou nessa área que você não deve abrir portas pra ela! - Ele gostou do que o professor falou e disse que iria pensar.

    Logo após, os dois saíram juntamente da sala, o professor para dar aula para o primeiro ano, e Pedro para esperar até o pessoal da turma do ensino médio acabar a prova, já que ele tinha combinado com a professora de fazer a prova outro dia!

    Passava pelo corredor cinzento, um pátio a frente, garotos e garotas jogando bola ou sentados estudando. Ele passava pelas pessoas olhando para baixo, sentia-se em outro mundo, numa mistura de êxtase com incompreensão. Já era um garoto desligado, agora então, os olhos passavam pelo chão, esbarrava em pessoas ao corredor, enquanto imaginava tudo aquilo... Será que valeria a pena mesmo? Uma oportunidade quase que utópica, mas era isso que ele queria realmente? O ano todo esperando a prova da federal, parar de estudar agora? Ele pensava: “Isso é desistência?”.

“NÃO!” “Era o que eu queria, por que pensar mais?”. Na parte estreita do corredor, enquanto passava pelo pátio, esbarra em uma garota, nem se ligou, simplesmente continuou andando como se pertencesse a outro mundo.

— Devo aceitar? – Pensou. – Física, é? Este conflito estaria longe de acabar.

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Notas finais do capítulo

Obrigado pela leitura, pessoal!



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